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Estromatólitos e a origem da vida | María Eugenia Farías | TEDxRíodelaPlata

  • 0:18 - 0:23
    Sou cientista e vou contar
    a história de uma descoberta.
  • 0:24 - 0:26
    Esta descoberta começou
    com muitas perguntas
  • 0:26 - 0:28
    que me fazia desde miúda.
  • 0:28 - 0:30
    Por exemplo, quando acabei o catecismo
  • 0:30 - 0:32
    e ia fazer a Primeira Comunhão,
  • 0:32 - 0:34
    não fiquei muito convencida
  • 0:34 - 0:37
    porque não encontrei,
    depois de ter lido todo o Génesis
  • 0:37 - 0:39
    o Antigo Testamento
    e o Novo Testamento,
  • 0:39 - 0:41
    onde estavam os dinossauros!
  • 0:42 - 0:45
    O meu pai, que era cientista,
    mandou-me falar com um padre.
  • 0:45 - 0:50
    Depois, aos 10 anos, apaixonei-me
    pelos tubarões brancos,
  • 0:50 - 0:53
    nessa altura na revista
    National Geographic.
  • 0:53 - 0:57
    Mas a minha primeira
    grande crise existencialista
  • 0:57 - 0:59
    foi a ler Carl Sagan.
  • 0:59 - 1:02
    Ao ler Carl Sagan, dei-me conta
  • 1:03 - 1:09
    de que somos um ponto diminuto
    no tempo e no espaço, que é infinito.
  • 1:10 - 1:15
    Como fazer para deixar rasto
    da nossa existência, enquanto pessoas,
  • 1:15 - 1:18
    enquanto comunidade,
    enquanto sociedade, enquanto espécie
  • 1:18 - 1:21
    num tempo e num espaço tão infinito?
  • 1:21 - 1:25
    Fechem os olhos e imaginem-se no infinito.
  • 1:25 - 1:30
    Uma coisa que não acaba, não acaba,
    não acaba... - por favor, um calmante! -
  • 1:30 - 1:34
    porque ficava cheia de ansiedade
    desde criança.
  • 1:34 - 1:36
    Se a isso somarmos o tempo,
  • 1:36 - 1:40
    a ideia de que há 13 000
    a 15 000 milhões de anos,
  • 1:40 - 1:42
    foi a origem do Universo,
  • 1:42 - 1:46
    que a Via Láctea tem
    cerca de 13 200 milhões de anos,
  • 1:46 - 1:51
    que o planeta Terra tem
    cerca de 4500 milhões de anos
  • 1:51 - 1:55
    e que o primeiro registo de vida
    no planeta Terra
  • 1:55 - 1:58
    tem 3800 milhões de anos.
  • 1:58 - 2:04
    Mas a vida não começou
    necessariamente no planeta Terra.
  • 2:04 - 2:09
    Quando se estuda o Universo,
    descobre-se que este universo infinito
  • 2:09 - 2:11
    está cheio de moléculas orgânicas.
  • 2:11 - 2:15
    Essas moléculas orgânicas
    são os tijolos da vida.
  • 2:15 - 2:20
    A vida podia estar a viajar
    de planeta em planeta.
  • 2:20 - 2:24
    Basta uma só célula,
    uma só molécula,
  • 2:24 - 2:28
    uma só bactéria, para infetar
    de vida um planeta.
  • 2:28 - 2:32
    Essa molécula, essa bactéria,
    esse esporo de vida
  • 2:33 - 2:36
    podia estar a viajar
    de planeta em planeta.
  • 2:37 - 2:39
    Isso podia passar-se em todo o Universo.
  • 2:39 - 2:42
    Mas vejamos o que se passa
    no nosso sistema solar.
  • 2:42 - 2:44
    No nosso sistema solar,
  • 2:44 - 2:47
    o planeta mais perto da Terra
    é o planeta Marte.
  • 2:47 - 2:50
    A vida podia ter vindo de Marte.
  • 2:50 - 2:53
    Porque podemos dizer isso
    ou pôr essa hipótese?
  • 2:53 - 2:55
    Porque Marte, há milhares
    de milhões de anos,
  • 2:55 - 2:58
    não era um planeta vermelho,
    sem oxigénio
  • 2:58 - 3:01
    e, sobretudo, com água,
    como a que tem neste momento,
  • 3:01 - 3:05
    com água só no estado de gelo
    nas zonas polares.
  • 3:05 - 3:08
    Há milhares de milhões de anos
    Marte tinha água líquida
  • 3:08 - 3:12
    e Marte podia ter sido um local
    onde se originou a vida.
  • 3:12 - 3:15
    A vida em Marte podia
    ter viajado para a Terra.
  • 3:15 - 3:17
    Podia ter viajado num meteorito.
  • 3:17 - 3:20
    Há meteoritos que vêm de Marte,
    que caíram na Terra,
  • 3:20 - 3:23
    que têm registos de atividade orgânica.
  • 3:23 - 3:27
    Então, se eu for uma célula
    ou um esporo ou uma molécula
  • 3:27 - 3:30
    que vai viajar pelo espaço,
  • 3:30 - 3:34
    tenho de ser muito resistente,
    tenho de ser um extremófilo.
  • 3:34 - 3:39
    Um extremófilo é uma bactéria
    que se adapta a condições extremas.
  • 3:39 - 3:41
    Mas como não podemos
    viajar para Marte
  • 3:41 - 3:44
    porque ainda não existe
    a tecnologia necessária,
  • 3:44 - 3:47
    - mas creio que estamos
    muito perto de fazê-lo -
  • 3:47 - 3:50
    por agora, vamos estudar
    como seria essa vida
  • 3:50 - 3:56
    no ambiente mais parecido com Marte
    que temos na Terra, que é la Puna.
  • 3:56 - 3:58
    Nós somos microbiólogos.
  • 3:58 - 4:02
    Há 10 anos que estamos
    a trabalhar em la Puna.
  • 4:02 - 4:06
    Estamos a estudar as bactérias,
    os micro-organismos,
  • 4:06 - 4:08
    as formas de vida que, em la Puna,
  • 4:08 - 4:11
    aguentam uma série de condições extremas,
  • 4:11 - 4:14
    como a alta radiação ultravioleta,
    dada a sua altitude,
  • 4:14 - 4:20
    a baixa pressão de oxigénio,
    o grande conteúdo de arsénico,
  • 4:20 - 4:25
    um ambiente muito salino na água,
    com mudanças drásticas de temperatura,
  • 4:26 - 4:27
    ventos fortes.
  • 4:27 - 4:31
    Todas estas condições são parecidas
    com as que haverá, neste momento,
  • 4:31 - 4:33
    em planetas como Marte,
  • 4:33 - 4:36
    ou que podia ter havido
    nesta Terra primitiva.
  • 4:36 - 4:41
    Neste ambiente, há dois anos,
    encontrámos estromatólitos.
  • 4:42 - 4:46
    Foi de tal impacto esta notícia
    que chegou à revista Nature.
  • 4:47 - 4:50
    Porquê? Porque esses estromatólitos
    estavam vivos.
  • 4:50 - 4:53
    Vamos ver o que é um estromatólito.
  • 4:53 - 4:55
    Para isso, vamos fazer
    uma viagem no tempo.
  • 4:55 - 5:00
    Vamos recuar 3800 milhões de anos,
    a esse planeta primitivo.
  • 5:00 - 5:04
    Nesse planeta primitivo, que era a Terra,
    não havia uma camada de ozono.
  • 5:04 - 5:08
    Portanto, a radiação ultravioleta
    arruinava qualquer forma de vida.
  • 5:08 - 5:12
    A vida tinha de crescer escondida
    no fundo dos oceanos,
  • 5:12 - 5:14
    ou escondida por baixo das rochas.
  • 5:14 - 5:16
    Nessa altura, não havia oxigénio,
  • 5:16 - 5:19
    e a vida tinha de respirar
    outro tipo de moléculas
  • 5:19 - 5:22
    e crescia muito lentamente.
  • 5:22 - 5:26
    Nesse ambiente primitivo,
    havia uma enorme atividade vulcânica,
  • 5:26 - 5:29
    mudanças drásticas de temperatura,
  • 5:29 - 5:32
    águas muito salinas, cheias de metais.
  • 5:32 - 5:33
    Acham parecido?
  • 5:34 - 5:37
    Estas são condições muito parecidas
    com a que temos em la Puna.
  • 5:38 - 5:42
    Nesse ambiente primitivo,
    surgiu a primeira molécula de ARN,
  • 5:42 - 5:46
    que conseguiu autoduplicar-se
    e dar lugar a uma molécula de ADN,
  • 5:46 - 5:50
    que se envolveu numa membrana,
    como uma gota de óleo
  • 5:50 - 5:53
    e começou a separar
    o que entrava e o que saía.
  • 5:53 - 5:57
    Assim surgiu a primeira célula,
    a primeira protocélula.
  • 5:57 - 6:00
    Essa primeira protocélula
    foi-se unindo a outras células
  • 6:00 - 6:02
    e inventaram a fotossíntese.
  • 6:02 - 6:05
    Como era muito complicado
    sobreviver nessas condições,
  • 6:05 - 6:07
    associaram-se.
  • 6:07 - 6:11
    Essa atividade biológica
    foi precipitando minerais,
  • 6:11 - 6:14
    foi captando dióxido de carbono
    que transformou em carbonato de cálcio,
  • 6:14 - 6:16
    ou seja, numa pedra,
  • 6:16 - 6:20
    numa coisa que, quando morre
    a parte viva, forma um fóssil.
  • 6:21 - 6:28
    Essa colónia de algas e bactérias
    captou dióxido de carbono,
  • 6:28 - 6:31
    libertou oxigénio, ao longo
    de milhares de milhões de anos,
  • 6:31 - 6:33
    criou a camada de ozono.
  • 6:33 - 6:37
    Libertou oxigénio para a atmosfera
    e a vida deixou de ser anaeróbica
  • 6:37 - 6:39
    e começou a ser aeróbica.
  • 6:39 - 6:43
    Sendo aeróbica, cresceu
    mais depressa, pôde evoluir,
  • 6:43 - 6:46
    deu lugar aos primeiros
    organismos multicelulares,
  • 6:46 - 6:50
    aos invertebrados, aos primeiros peixes,
    aos anfíbios, aos répteis,
  • 6:50 - 6:52
    que puderam conquistar a terra,
  • 6:52 - 6:56
    aos mamíferos que criaram os telescópios,
  • 6:56 - 6:59
    que viram o Universo
    e começaram a perguntar:
  • 6:59 - 7:01
    "O que é que eu estou a fazer aqui?"
  • 7:02 - 7:06
    Os estromatólitos tiveram
    um papel fundamental
  • 7:06 - 7:09
    em transformar
    esse planeta hostil na Terra,
  • 7:09 - 7:12
    neste planeta azul que hoje conhecemos.
  • 7:12 - 7:15
    Há outros locais do mundo
    onde se encontram estromatólitos vivos.
  • 7:16 - 7:18
    Nas Bahamas, em Cuatro Ciénagas no México,
  • 7:18 - 7:21
    um local que está a perder-se,
    neste momento
  • 7:21 - 7:23
    por causa do uso intensivo
    da água na agricultura,
  • 7:23 - 7:26
    na Baía Tiburón, na Austrália,
    em Yellowstone.
  • 7:26 - 7:29
    Mas todos os descritos
    até este momento
  • 7:29 - 7:32
    estavam ao nível do mar
    e em climas quentes.
  • 7:33 - 7:36
    Os que encontrámos em la Puna,
    são os primeiros que se encontram
  • 7:36 - 7:39
    nas condições
    de alta radiação ultravioleta,
  • 7:39 - 7:42
    baixa pressão de oxigénio,
  • 7:42 - 7:46
    nas condições mais parecidas
    com o que foi essa Terra primitiva.
  • 7:47 - 7:49
    A descoberta dos estromatólitos em la Puna
  • 7:49 - 7:53
    não é mais do que um olhar
    para o nosso passado,
  • 7:53 - 7:55
    como era a vida na Terra.
  • 7:56 - 7:57
    Esta é a Lagoa Socompa.
  • 7:57 - 8:00
    Estas pedras que ali estão,
    são os estromatólitos.
  • 8:00 - 8:05
    Se cortarmos essas pedras,
    que podiam passar desapercebidas,
  • 8:05 - 8:08
    encontramos estas camadas.
  • 8:08 - 8:12
    Cada uma destas camadas
    já esteve na parte superior.
  • 8:12 - 8:15
    Cada uma destas camadas
    é uma linha de crescimento
  • 8:15 - 8:18
    destas pedras vivas
    que são os estromatólitos.
  • 8:18 - 8:21
    Vamos ver ao microscópio eletrónico
    o que é que encontramos
  • 8:21 - 8:23
    dentro de um estromatólito.
  • 8:23 - 8:25
    Assim, já acreditam que estão vivos.
  • 8:25 - 8:28
    Estas são diatomáceas.
  • 8:28 - 8:30
    Estes são minerais.
  • 8:30 - 8:33
    Isto é um mineral com bactérias.
  • 8:33 - 8:35
    Aquele redondinho é uma bactéria.
  • 8:36 - 8:38
    Mas não é só isso.
  • 8:38 - 8:42
    Em Socompa, para além de encontrarmos
    estromatólitos vivos,
  • 8:42 - 8:45
    encontramos estromatólitos fósseis.
  • 8:45 - 8:48
    Por isso, chamamos-lhe o Parque Jurássico
    microbiano, como no filme.
  • 8:49 - 8:52
    O paleontólogo,
    com um crânio de dinossauro,
  • 8:52 - 8:57
    pensava como seria a socialização
    dos velociraptor.
  • 8:58 - 9:00
    Depois encontrou o velociraptor vivo.
  • 9:00 - 9:01
    Aqui é a mesma coisa.
  • 9:01 - 9:05
    Fazemos uma pergunta aos fósseis,
    podemos compará-los com os modernos.
  • 9:05 - 9:08
    É um dos poucos locais,
    ou mesmo o único local no mundo,
  • 9:08 - 9:11
    onde há coexistência
    de estromatólitos fósseis e modernos.
  • 9:11 - 9:14
    Se observarmos ao microscópio eletrónico,
    não encontramos diferenças
  • 9:15 - 9:17
    entre o que está fossilizado
    e o que é moderno.
  • 9:17 - 9:21
    A parte fóssil está tão bem conservada
    que não há diferença.
  • 9:21 - 9:24
    Porquê? Porque estamos
    ao pé de um vulcão ativo,
  • 9:24 - 9:28
    um vulcão que elimina o silício
    nas suas cinzas.
  • 9:28 - 9:30
    Isto faz-nos recordar,
    por exemplo, Pompeia.
  • 9:30 - 9:34
    Como sabem, uma cidade
    que ficou totalmente mumificada
  • 9:34 - 9:35
    com as cinzas de um vulcão.
  • 9:35 - 9:37
    Aqui passa-se o mesmo.
  • 9:37 - 9:40
    Temos bactérias modernas
    dum estromatólito moderno
  • 9:41 - 9:43
    e de um estromatólito fóssil.
  • 9:43 - 9:45
    Mas vamos mais longe.
  • 9:45 - 9:49
    Já contei que Marte
    passou por ciclos evolutivos,
  • 9:49 - 9:52
    em que poderá ter tido condições
    para albergar vida.
  • 9:52 - 9:57
    A sonda Rover tirou fotos de Marte
  • 9:57 - 10:00
    muito intrigantes
  • 10:00 - 10:04
    que dão estas estruturas muito parecidas
    com as que encontramos em Socompa,
  • 10:04 - 10:07
    estas montanhas estratificadas fósseis,
  • 10:07 - 10:10
    muito parecidas
    com as partes estratificadas
  • 10:10 - 10:12
    de estromatólitos fósseis de Socompa.
  • 10:12 - 10:16
    Se observarmos ao microscópio eletrónico,
    também nos chama a atenção
  • 10:16 - 10:19
    o que se encontra em Marte
    com o que se encontra em Socompa.
  • 10:19 - 10:21
    Estes são estromatólitos vivos.
  • 10:21 - 10:26
    Estamos a criá-los,
    como mascotes, no laboratório.
  • 10:26 - 10:30
    Cada estromatólito tem o nome
    de um dos meus filhos.
  • 10:30 - 10:34
    Os estromatólitos estão vivos
    desde há 3800 anos
  • 10:34 - 10:38
    - não estes, mas os estromatólitos
    como forma de vida -
  • 10:38 - 10:41
    estão vivos desde há 3800 milhões de anos.
  • 10:41 - 10:43
    Houve três extinções em massa na Terra.
  • 10:43 - 10:47
    E eles conseguiram,
    depois de um efeito de estufa,
  • 10:47 - 10:50
    voltar a captar o dióxido de carbono,
    libertar oxigénio
  • 10:50 - 10:54
    e preparar a Terra
    para uma nova forma de vida.
  • 10:55 - 10:59
    Os estromatólitos têm
    muitas aplicações biotecnológicas
  • 10:59 - 11:02
    como, por exemplo, os biocombustíveis,
    a medicamentação biológica.
  • 11:02 - 11:06
    Foram captadores perfeitos
    do dióxido de carbono.
  • 11:06 - 11:09
    Isto faz-nos recordar
    o aquecimento global.
  • 11:09 - 11:13
    Podíamos usá-los para poder
    inverter os danos
  • 11:13 - 11:15
    que estamos a fazer ao meio ambiente.
  • 11:15 - 11:19
    Depois de descobrirmos
    os estromatólitos em Socompa,
  • 11:19 - 11:22
    fomos, com uma sensação de contrarrelógio,
    procurar outros ambientes.
  • 11:22 - 11:25
    Quando mudamos a forma de ver,
    tudo se torna diferente.
  • 11:25 - 11:28
    Encontrámos estromatólitos
    também em Tolar Grande.
  • 11:29 - 11:31
    Os Ojos de Mar de Tolar Grande.
  • 11:31 - 11:33
    Isto não é Caribe, isto é la Puna
  • 11:33 - 11:35
    e estes são recifes de estromatólitos.
  • 11:35 - 11:38
    Na Lagoa Diamante, dentro
    da cratera do vulcão Galán,
  • 11:38 - 11:42
    a 4700 metros de altitude
    está a Lagoa Diamante,
  • 11:42 - 11:44
    onde temos um pH muito alto,
  • 11:44 - 11:47
    uma salinidade que é oito vezes
    a salinidade do mar
  • 11:47 - 11:51
    e uma concentração de arsénico
    nunca antes registada: 230 mg/l.
  • 11:52 - 11:53
    Nessas condições, há vida,
  • 11:53 - 11:56
    há bactérias a formar
    esta espécie de estruturas
  • 11:56 - 11:58
    muito parecidas com as da Terra primitiva.
  • 11:58 - 12:02
    Também os encontramos em Jujuy,
    em Salta, em Llullaillaco,
  • 12:02 - 12:04
    no Salar de Antofalla.
  • 12:04 - 12:07
    Esta cor é natural, são bactérias.
  • 12:07 - 12:11
    A partir deste momento,
    espero ter-vos convencido
  • 12:11 - 12:13
    e que tenham percebido
    o que é um estromatólito.
  • 12:13 - 12:16
    Agora vou contar-vos
    a minha experiência pessoal,
  • 12:16 - 12:19
    o que significou ter feito
    esta descoberta.
  • 12:19 - 12:20
    Eu tinha dois caminhos:
  • 12:20 - 12:23
    fazer o caminho típico
    do cientista, que é publicar.
  • 12:23 - 12:26
    Primeiro estudá-la
    - o que leva muito tempo -
  • 12:26 - 12:29
    e depois publicá-la e contá-la
    a outros cientistas.
  • 12:30 - 12:32
    Mas, paralelamente,
    dei-me conta que, em la Puna,
  • 12:32 - 12:34
    nos locais onde estavam
    estas descobertas
  • 12:34 - 12:36
    havia problemas e eram graves.
  • 12:36 - 12:38
    Um dos problemas era, por exemplo,
  • 12:38 - 12:41
    a contaminação que havia
    em Ojos de Mar de Tolar Grande.
  • 12:41 - 12:43
    Uma contaminação que estava a matar
  • 12:43 - 12:49
    os estromatólitos em Ojos de Mar.
  • 12:50 - 12:53
    Outro problema é a iminente
    exportação de água
  • 12:54 - 12:58
    de la Puna para o Chile,
  • 12:58 - 13:01
    para ser usada na exploração mineira.
  • 13:01 - 13:05
    Levar água do Pacífico a 500 km,
    dessalinizá-la e usá-la
  • 13:05 - 13:07
    é muito mais caro do que
    levar a água a 45 km
  • 13:07 - 13:10
    que é água doce do lado de la Puna.
  • 13:10 - 13:13
    Ou seja, estes ambientes
    correm grandes riscos.
  • 13:13 - 13:14
    A exploração mineira.
  • 13:14 - 13:18
    A Argentina tem a terceira reserva
    mundial de lítio.
  • 13:18 - 13:20
    Não há um milímetro quadrado de la Puna
  • 13:20 - 13:23
    que não esteja concessionado ou explorado
  • 13:23 - 13:25
    para a exploração mineira,
    sobretudo, nos Salares.
  • 13:25 - 13:27
    Todos estes ambientes
    precisam de água
  • 13:27 - 13:31
    e estão associados
    aos Salares de la Puna.
  • 13:31 - 13:33
    Outro problema era a pilhagem.
  • 13:33 - 13:36
    A pilhagem para empresas biotecnológicas.
  • 13:36 - 13:37
    Ninguém dá por isso.
  • 13:37 - 13:40
    Um pedaço de estromatólito é pequenino,
    qualquer um pode levá-lo,
  • 13:40 - 13:42
    ou um turista leva-o como recordação.
  • 13:42 - 13:47
    Era necessário legislar,
    era necessário vigiar o local,
  • 13:47 - 13:52
    era necessário determinar
    áreas restritas
  • 13:52 - 13:54
    e era necessário arranjar dinheiro
    para a investigação.
  • 13:55 - 13:56
    Como fazer?
  • 13:56 - 14:00
    Somos cientistas, pouco conhecidos,
    estamos em Tucumán.
  • 14:01 - 14:05
    Uma pessoa que me inspirou muito
    foi a Dra. Teresa Manera de Bianco,
  • 14:05 - 14:08
    que. há 20 anos, descobriu
    umas pegadas em Pehuencó,
  • 14:08 - 14:11
    umas pegadas de fósseis extintos.
  • 14:11 - 14:14
    Passou 20 anos e teve de ganhar
    o prémio Rolex
  • 14:14 - 14:16
    para esse local ser reconhecido,
  • 14:16 - 14:22
    ser declarado reserva e ser preservado
    dos camiões 4x4.
  • 14:22 - 14:26
    Passou 20 anos a ver como a sua descoberta
  • 14:26 - 14:27
    se ia destruindo pouco a pouco.
  • 14:27 - 14:30
    Tinha a minha idade quando as descobriu.
  • 14:30 - 14:34
    Ao fim de 20 anos, pôde passar
    o primeiro verão com a zona vedada.
  • 14:34 - 14:39
    Ao falar com ela, disse-me que
    o cientista que descobre qualquer coisa
  • 14:39 - 14:41
    deve assumir a responsabilidade
    pela sua descoberta.
  • 14:42 - 14:43
    Como fazer isso?
  • 14:43 - 14:46
    A forma que encontrei
    foi a divulgação científica.
  • 14:46 - 14:52
    A divulgação científica
    requer três coisas.
  • 14:52 - 14:55
    Primeiro, que o cientista
    saiba falar de uma forma clara
  • 14:55 - 14:59
    para toda a gente entender o que é,
    por exemplo, um estromatólito.
  • 14:59 - 15:02
    Também requer uma sociedade
  • 15:02 - 15:05
    que se interesse pelo que é
    um estromatólito,
  • 15:05 - 15:08
    uma sociedade que não se se interesse
    apenas por ver o Tinelli na TV.
  • 15:08 - 15:10
    Uma sociedade que creio
    que existe agora
  • 15:10 - 15:13
    que se interesse pelo canal Encuentro,
    pelo canal Discovery Channel,
  • 15:13 - 15:15
    que tenha outros interesses.
  • 15:15 - 15:18
    Creio que a nossa sociedade
    estava preparada para isto.
  • 15:18 - 15:21
    Por outro lado, são precisos
    jornalistas científicos
  • 15:21 - 15:25
    que saibam divulgar as coisas
    de uma forma correta.
  • 15:25 - 15:26
    Isso aconteceu.
  • 15:27 - 15:29
    Os primeiros a inteirarem-se
    da descoberta,
  • 15:29 - 15:34
    por uma questão de total respeito,
    foram os habitantes de Tolar Grande.
  • 15:34 - 15:38
    Numa assembleia, contámos-lhes
    o que tínhamos encontrado.
  • 15:38 - 15:40
    Pedimos autorização a Pacha Mama,
  • 15:40 - 15:42
    antes de fazermos as investigações.
  • 15:43 - 15:47
    Depois, saiu o diário El Tribuno,
    de Salta, no dia 26 e 27 de agosto,
  • 15:47 - 15:51
    sucessivamente, foi capa
    do diário El Tribuno.
  • 15:51 - 15:56
    Nessa mesma tarde, ligaram-me
    da Medio Ambiente, da província de Salta
  • 15:56 - 15:58
    para me perguntarem o que se passava.
  • 15:58 - 16:00
    A tudo isso, disse muitas vezes:
  • 16:00 - 16:03
    "Cuidado, é uma coisa
    muito especial, podemos perdê-la".
  • 16:03 - 16:05
    Saiu no diário, nessa mesma tarde,
  • 16:05 - 16:08
    estava eu a ir a Salta para me reunir
    com as pessoas da Medio Ambiente.
  • 16:08 - 16:10
    Daí passou para o diário Clarín.
  • 16:10 - 16:13
    Foi uma explosão, num dia
    dei cerca de 40 entrevistas,
  • 16:13 - 16:15
    toda a gente queria saber
    dos estromatólitos.
  • 16:15 - 16:17
    Daí passou para La Nación,
  • 16:17 - 16:21
    e comecei a ter uma ideia do poder
    que tinham os meios de comunicação
  • 16:21 - 16:26
    e animei-me a pedir
    que era preciso mudar as leis
  • 16:26 - 16:29
    para que os estromatólitos
    fossem declarados património nacional.
  • 16:29 - 16:32
    Nessa mesma tarde ligaram-me
    do Senado da Nação.
  • 16:32 - 16:34
    Saiu na Wikipedia, e chegou à Nature.
  • 16:35 - 16:36
    Nature! Nós somos de Tucumán.
  • 16:36 - 16:40
    Estão a ver a emoção de ler a palavra
    Tucunán na revista Nature?
  • 16:40 - 16:44
    De toda esta história,
    restou-me um conceito.
  • 16:45 - 16:49
    Uma descoberta científica,
    quando é divulgada pelos "media",
  • 16:49 - 16:51
    tem um impacto turístico.
  • 16:51 - 16:54
    Começou a aparecer muita gente
    porque isto saiu em todo o mundo.
  • 16:55 - 16:59
    Depois de aparecer na Nature,
    divulgou-se em todos os diários
  • 16:59 - 17:01
    na parte científica do mundo.
  • 17:01 - 17:02
    Tem um impacto turístico.
  • 17:02 - 17:04
    Começou a haver muito mais turismo,
  • 17:04 - 17:07
    para conhecer os estromatólitos
    de Tolar Grande, de Socompa.
  • 17:07 - 17:15
    Teve um impacto na comunidade
    porque traz muitos recursos económicos.
  • 17:15 - 17:19
    Tem um impacto no meio ambiente
    e requer uma resposta do governo.
  • 17:19 - 17:23
    Que resposta se conseguiu
    nestes dois anos, até agora?
  • 17:24 - 17:27
    Quanto às infraestruturas,
    conseguimos que Tolar,
  • 17:27 - 17:30
    uma aldeia de 100 habitantes
    que está a oito horas de Salta
  • 17:30 - 17:32
    e a três horas do Chile,
    no meio do nada,
  • 17:32 - 17:35
    tenha uma rede de esgotos.
  • 17:35 - 17:38
    Isso ocorreu há um ano e meio.
  • 17:38 - 17:42
    Estamos na Argentina, estamos em la Puna,
    estamos na província de Salta.
  • 17:42 - 17:47
    Conseguiu-se que se fizesse uma vedação
    da zona de Ojos de Mar, de Tolar Grande.
  • 17:47 - 17:49
    Agora, está a fazer-se um percurso
  • 17:49 - 17:52
    para os turistas que o vão visitar
    não pisarem o local.
  • 17:53 - 17:58
    Quanto ao turismo,
    isto é um conceito muito claro,
  • 17:58 - 18:01
    nada se pode preservar
    se não der dinheiro.
  • 18:02 - 18:05
    Então, a forma de preservar isto
    é que dê dinheiro.
  • 18:05 - 18:08
    De que forma pode dar dinheiro?
  • 18:08 - 18:11
    Com o turismo extremo,
    com o turismo alternativo.
  • 18:12 - 18:15
    O conceito que quero introduzir
    é o turismo científico.
  • 18:15 - 18:19
    Primeiro, preparar
    as pessoas de Tolar Grande
  • 18:19 - 18:23
    para poderem ser os guias
    e contar o que é um estromatólito.
  • 18:23 - 18:28
    Depois, fazer uma rota de turismo,
    de turismo científico.
  • 18:28 - 18:30
    A rota da origem da vida,
  • 18:31 - 18:35
    em que o turista tem de ir num camião 4x4,
  • 18:36 - 18:38
    sai de Jujuy e chega a La Rioja.
  • 18:38 - 18:39
    Tudo por la Puna,
  • 18:40 - 18:43
    fazendo uso de todas as infraestruturas
    das comunidades originais,
  • 18:43 - 18:48
    promovendo o desenvolvimento económico
    nas comunidades originais.
  • 18:49 - 18:52
    Também se vai fazer
    um centro de interpretação
  • 18:52 - 18:55
    que vai desde
    a origem da vida no Universo,
  • 18:55 - 18:58
    em conjunto com a Universidade de Córdova.
  • 18:58 - 19:00
    É um projeto do Ministério Nacional
    da Ciência e da Técnica.
  • 19:01 - 19:03
    Também conseguimos resultados científicos,
  • 19:03 - 19:06
    como o orgulho de termos sequenciado
    o primeiro genoma na Argentina.
  • 19:06 - 19:09
    Até há um ano,
    isto era feito no estrangeiro.
  • 19:09 - 19:13
    As informações genéticas
    e as aplicações biotecnológicas
  • 19:13 - 19:15
    não eram feitas no país.
  • 19:15 - 19:19
    Fez-se o primeiro metagenoma
    também de estromatólitos em Socompa,
  • 19:19 - 19:22
    e conseguiu-se
    um financiamento por concurso
  • 19:22 - 19:25
    para fazer investigação científica
  • 19:25 - 19:29
    que possa sustentar
    a preservação deste local.
  • 19:29 - 19:35
    Na parte da conservação, o projeto
    em que estamos envolvidos,
  • 19:35 - 19:37
    é a Arca de Noé dos micro-organismos.
  • 19:37 - 19:41
    Oxalá que todos estes locais
    possam ser preservados.
  • 19:41 - 19:44
    Oxalá que cheguemos a tempo
    com o tema da exportação da água,
  • 19:44 - 19:46
    com os interesses mineiros.
  • 19:46 - 19:48
    Mas, no caso de não poderem
    ser preservados,
  • 19:48 - 19:51
    pelo menos, recuperar, guardar,
  • 19:51 - 19:54
    ter em laboratório a coleção dos genes,
  • 19:54 - 19:58
    que podem dar-nos um montão de respostas
    sobre a origem da vida
  • 19:58 - 20:01
    e sobre problemas biotecnológicos
    da humanidade.
  • 20:01 - 20:04
    Outra das grandes coisas
    que se conseguiram
  • 20:04 - 20:07
    e que creio é o maior orgulho
    que tenho até agora,
  • 20:07 - 20:10
    depois dos meus três filhos,
  • 20:10 - 20:17
    é que foi declarada a área protegida
    na Lagoa Socompa
  • 20:17 - 20:19
    e nos Ojos de Mar de Tolar Grande.
  • 20:20 - 20:22
    Há que pensar que se declarou
    uma área protegida
  • 20:22 - 20:25
    numa zona de muito interesse
    para a indústria mineira
  • 20:25 - 20:28
    e declarou-se uma área protegida
  • 20:28 - 20:32
    por bactérias que só se veem
    num microscópio,
  • 20:32 - 20:35
    não são flamingos, nem ursos polares,
    são bactérias.
  • 20:35 - 20:38
    Conseguiu-se isso em março deste ano.
  • 20:38 - 20:40
    O projeto em que estou envolvida
  • 20:41 - 20:44
    e estou em contacto com cientistas
    que têm projetos com a NASA,
  • 20:44 - 20:48
    é declarar que os estromatólitos
    de todo o mundo
  • 20:48 - 20:50
    são património científico da humanidade,
  • 20:50 - 20:55
    porque têm muitas coisas para contar
    sobre a origem da vida na Terra.
  • 20:55 - 20:59
    Finalmente, quero deixar-vos
    uma mensagem: salvem as bactérias.
  • 20:59 - 21:00
    Muito obrigada.
  • 21:00 - 21:04
    (Aplausos)
Title:
Estromatólitos e a origem da vida | María Eugenia Farías | TEDxRíodelaPlata
Description:

A Dra. María Eugenia Farías conta-nos o seu estudo da microbiologia dos salares e lagoas de la Puna andina e, em especial, a sua descoberta dos estromatólitos em la Puna, em Salta. Sublinha o papel que os cientistas têm de comunicar as suas descobertas, protegê-las e difundi-las, o que, neste caso, levou a uma melhoria considerável das condições da comunidade onde se realizou a sua investigação.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
Spanish
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
21:10

Portuguese subtitles

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