A mentira que inventou o racismo
-
0:02 - 0:05O que se passa connosco, os brancos?
-
0:05 - 0:07(Risos)
-
0:08 - 0:10Eu tenho pensado bastante nisso
nos últimos anos -
0:10 - 0:12e sei que não estou sozinho.
-
0:12 - 0:14Eu percebo,
-
0:14 - 0:17as pessoas de cor há séculos
que fazem essa pergunta. -
0:17 - 0:22Mas eu acho que também
cada vez mais brancos a têm feito, -
0:22 - 0:25tendo em conta o que se passa por aí,
-
0:25 - 0:26no nosso país.
-
0:28 - 0:31E reparem que eu disse:
"O que se passa connosco, os brancos?" -
0:31 - 0:35porque, neste momento,
não estou a falar daqueles brancos -
0:35 - 0:39que têm as suásticas,
os capuzes e as tochas "tiki". -
0:39 - 0:42Esses são um problema e uma ameaça.
-
0:43 - 0:45São responsáveis pela maior parte
do terrorismo no nosso país, -
0:46 - 0:49como vocês todos em Charlottesville
sabem melhor que ninguém. -
0:49 - 0:53Mas eu estou a falar de algo maior
e mais disseminado. -
0:53 - 0:55Estou a falar de nós todos,
-
0:55 - 0:58pessoas brancas de forma geral.
-
0:58 - 1:01E talvez, em especial,
do tipo de pessoas como eu, -
1:01 - 1:03um autodenominado progressista,
-
1:03 - 1:05que não quero ser racista.
-
1:06 - 1:08Pessoas brancas boas.
-
1:08 - 1:09(Risos)
-
1:09 - 1:11Há pessoas brancas boas na sala?
-
1:11 - 1:12(Risos)
-
1:12 - 1:16Eu fui educado a ser
esse tipo de pessoa. -
1:16 - 1:18Eu era uma criança nos anos 60 e 70
-
1:18 - 1:21e vou-vos dar uma ideia
de como eram os meus pais: -
1:21 - 1:24as sondagens de opinião pública na época
-
1:24 - 1:26mostravam que apenas
uma pequena minoria, -
1:26 - 1:29cerca de 20% dos americanos brancos
-
1:29 - 1:31aceitavam e apoiavam
-
1:31 - 1:35Martin Luther King e o seu trabalho
com o movimento dos direitos civis -
1:35 - 1:37enquanto o Dr. King ainda era vivo.
-
1:38 - 1:41Tenho orgulho em dizer que os meus pais
faziam parte desse grupo. -
1:41 - 1:44Em nossa casa falava-se de raça.
-
1:45 - 1:49E quando começavam a dar na televisão
os programas que tratavam de raça. -
1:49 - 1:52eles sentavam-nos, às crianças,
e faziam questão que assistíssemos: -
1:52 - 1:55os filmes de Sidney Poitier, "Raízes"...
-
1:56 - 1:58A mensagem era dita alto e bom som
-
1:58 - 2:00e eu entendi-a:
-
2:00 - 2:04o racismo é errado
e os racistas são más pessoas. -
2:05 - 2:06Ao mesmo tempo,
-
2:06 - 2:10nós vivíamos num local
predominantemente branco, no Minnesota. -
2:10 - 2:12E eu vou falar por mim.
-
2:12 - 2:17Eu penso que isso me permitiu acreditar
que aqueles racistas no ecrã da televisão -
2:17 - 2:20eram teletransportados
de um outro sítio qualquer. -
2:21 - 2:23Não era sobre nós.
-
2:24 - 2:26Eu não me sentia envolvido.
-
2:27 - 2:32Eu posso dizer que ainda estou a recuperar
dessa primeira impressão. -
2:32 - 2:34Eu segui jornalismo
-
2:34 - 2:39em parte porque me importava
com coisas como a igualdade e a justiça. -
2:41 - 2:44Durante muito tempo, o racismo
para mim foi um quebra-cabeças. -
2:45 - 2:49Porque é que ainda existe,
se é claramente errado? -
2:49 - 2:53Porque é que é uma força tão persistente?
-
2:54 - 2:57Eu talvez estivesse baralhado
porque não olhava para o sítio certo -
2:57 - 2:59ou não fazia as perguntas certas.
-
3:01 - 3:02Alguma vez repararam
-
3:02 - 3:07que, nos nossos "media"
maioritariamente brancos, -
3:07 - 3:11quando as pessoas dão o seu parecer
no que consideram ser questões de raça, -
3:11 - 3:13o que nós consideramos
ser questões de raça, -
3:13 - 3:15o que isso habitualmente significa
-
3:15 - 3:18é que estamos a dirigir as câmaras,
os microfones e o nosso olhar -
3:18 - 3:20para as pessoas de cor,
-
3:20 - 3:21a fazer perguntas como:
-
3:22 - 3:27"Como é que estão os negros,
os nativos americanos, os latinos -
3:27 - 3:29"ou os asiático-americanos?"
-
3:29 - 3:32numa certa comunidade
ou a respeito de alguma questão, -
3:32 - 3:35como a economia ou o ensino.
-
3:36 - 3:39Eu já fiz a minha parte
nesse tipo de jornalismo, -
3:39 - 3:41durante muitos anos.
-
3:43 - 3:45Mas depois George Zimmerman
matou Trayvon Martin -
3:47 - 3:51e seguiu-se esta cadeia infindável
de tiroteios por parte da polícia -
3:51 - 3:53sobre pessoas negras desarmadas,
-
3:53 - 3:56o surgimento do movimento
"Black Lives Matter", -
3:56 - 3:59Dylann Roof e o massacre de Charleston,
-
3:59 - 4:01#OscarsSoWhite,
-
4:01 - 4:06todos os incidentes
do dia a dia da vida americana, -
4:06 - 4:08esses incidentes
manifestamente racistas -
4:08 - 4:11que nós agora vemos,
porque são filmados em "smartphones" -
4:11 - 4:13e partilhados na Internet.
-
4:14 - 4:17Por detrás desses casos visíveis,
-
4:17 - 4:19surgem os insistentes dados,
-
4:19 - 4:23os estudos que mostram racismo sistémico
em todas as nossas instituições: -
4:24 - 4:27segregação habitacional,
discriminação laboral, -
4:27 - 4:30as desigualdades profundamente raciais
nas nossas escolas -
4:30 - 4:32e o sistema de justiça criminal.
-
4:33 - 4:34E o que, para mim, piorou tudo
-
4:34 - 4:37e sei que também não estou sozinho nisto:
-
4:37 - 4:39a ascensão de Donald Trump
-
4:39 - 4:44e a descoberta que uma maioria sólida
dos americanos brancos -
4:45 - 4:48apoiam ou, pelo menos, aceitam
-
4:48 - 4:53uma política de identidade branca
tão bruta e amarga. -
4:55 - 4:58Isto era bastante perturbante
para mim, como ser humano. -
4:59 - 5:04Como jornalista, eu vi-me forçado
a virar a lente ao contrário, -
5:04 - 5:06enquanto pensava:
-
5:06 - 5:09"Uau, as pessoas brancas são a narrativa.
-
5:09 - 5:11"A brancura é uma narrativa".
-
5:13 - 5:16E também a pensar: "Eu posso fazer isso?
-
5:16 - 5:19"Como é que seria um 'podcast'
sobre a brancura?" -
5:19 - 5:21(Risos)
-
5:21 - 5:24"Ah, por falar nisso,
isto pode-se tornar desconfortável." -
5:26 - 5:30Eu não tinha visto quase nenhum
trabalho jornalístico -
5:30 - 5:32que olhasse em profundidade
para a brancura, -
5:32 - 5:36mas, é claro, as pessoas de cor
e especialmente os intelectuais negros -
5:36 - 5:39há séculos que fazem duras críticas
da cultura da supremacia branca -
5:39 - 5:42e eu sabia que,
nas últimas duas ou três décadas, -
5:42 - 5:45os académicos tinham realizado
trabalhos interessantes -
5:45 - 5:48que olhavam para questões de raça
através da lente da brancura, -
5:48 - 5:52sobre o que é, como a tivemos,
como funciona no mundo. -
5:53 - 5:55Eu comecei a ler
-
5:55 - 6:00e contactei alguns peritos de renome
em questões de raça e da história da raça. -
6:02 - 6:04Uma das primeiras questões
que eu coloquei foi: -
6:04 - 6:09"Afinal, de onde é que surgiu
esta ideia de ser uma pessoa branca ?" -
6:11 - 6:13A ciência é clarinha.
-
6:13 - 6:16Nós somos uma única raça humana.
-
6:16 - 6:18Estamos todos ligados,
-
6:18 - 6:21somos todos descendentes
de um antepassado comum em África. -
6:21 - 6:25Algumas pessoas saíram de África
para sítios mais frios e mais sombrios -
6:25 - 6:27e alguns deles perderam
muita da sua melanina, -
6:27 - 6:29alguns de nós mais que outros.
-
6:30 - 6:31(Risos)
-
6:31 - 6:36Mas, a nível genético,
somos todos 99,9% o mesmo. -
6:36 - 6:42Existe mais diversidade genética
dentro do que chamamos "grupos raciais" -
6:42 - 6:44do que existe
entre esses "grupos raciais". -
6:44 - 6:48Não existe um gene para os brancos,
para s negros, para os asiáticos, -
6:48 - 6:50ou para seja o que for.
-
6:51 - 6:53Portanto, como é que isto aconteceu?
-
6:53 - 6:55Como é que chegámos a isto?
-
6:55 - 6:57Como é que começou o racismo?
-
6:58 - 7:02Eu acho que, se me tivessem pedido
para especular sobre isso, -
7:02 - 7:04na minha ignorância, há uns anos,
-
7:04 - 7:06eu provavelmente teria dito:
-
7:06 - 7:11"Bem, eu acho que
algures, há muito tempo, -
7:11 - 7:13"os povos encontraram-se uns aos outros
-
7:13 - 7:16"e acharam-se diferentes uns dos outros.
-
7:16 - 7:19"A vossa pele é de uma cor diferente,
o vosso cabelo é diferente, -
7:19 - 7:20"vocês vestem-se de forma curiosa.
-
7:21 - 7:23"Por isso, acho que vou concluir que,
-
7:23 - 7:25"já que são diferentes,
-
7:25 - 7:27"por alguma razão são inferiores a mim
-
7:27 - 7:29"e talvez isso legitime
que eu vos maltrate." -
7:29 - 7:30Certo?
-
7:30 - 7:34É isto o que vocês imaginam
ou pressupõem? -
7:35 - 7:37E, por detrás desse cenário,
-
7:37 - 7:40é tudo um mal-entendido enorme e terrível.
-
7:41 - 7:44Mas, pelo que parece, isso está errado.
-
7:44 - 7:47Primeiro de tudo,
a raça é uma invenção recente. -
7:47 - 7:50Só tem poucas centenas de anos.
-
7:50 - 7:53Sim, antes disso, as pessoas dividiam-se
-
7:54 - 7:58por religião, por grupo tribal,
por linguagem e coisas do género. -
7:58 - 8:01Mas, durante a maior parte
da história humana, -
8:01 - 8:03as pessoas não tinham
nenhuma ideia de raça. -
8:04 - 8:05Na Grécia antiga, por exemplo
-
8:05 - 8:09— eu aprendi isto
com o historiador Nell Irvin Painter — -
8:09 - 8:13os gregos pensavam ser melhores
que os outros povos que conheciam, -
8:14 - 8:17mas não por causa de qualquer ideia
de que eram superiores por natureza. -
8:18 - 8:21Eles apenas pensavam que tinham criado
a cultura mais elevada. -
8:22 - 8:26Portanto, eles olhavam para os etíopes,
-
8:26 - 8:28mas também para os persas
e para os celtas, e diziam: -
8:28 - 8:31"Eles são todos bárbaros
quando comparados connosco. -
8:31 - 8:35"Culturalmente, não são gregos."
-
8:36 - 8:39E sim, na Antiguidade,
existia muita escravidão, -
8:40 - 8:43mas tanto escravizavam pessoas
que não se pareciam com eles -
8:43 - 8:45como pessoas que se pareciam com eles.
-
8:46 - 8:51Sabiam que a palavra inglesa "slave"
(escravo) deriva da palavra "slav"? -
8:52 - 8:55Porque os povos eslavos
foram povos escravizados -
8:55 - 8:57por todo o tipo de gente,
-
8:57 - 8:59incluindo os europeus do ocidente,
-
8:59 - 9:00durante séculos.
-
9:01 - 9:04A escravidão também
não tinha a ver com raça, -
9:04 - 9:07porque ainda ninguém
tinha criado o conceito de raça. -
9:08 - 9:09Então quem o fez?
-
9:10 - 9:13Eu fiz essa pergunta
a outro historiador de renome, -
9:13 - 9:15Ibram Kendi.
-
9:15 - 9:17Não estava à espera
que ele me respondesse à pergunta -
9:17 - 9:20com o nome de uma pessoa e uma data,
-
9:20 - 9:22como se estivéssemos
a falar da lâmpada elétrica. -
9:22 - 9:24(Risos)
-
9:24 - 9:25Mas foi o que ele fez!
-
9:25 - 9:27(Risos)
-
9:27 - 9:29Ele disse que, na sua pesquisa extensiva,
-
9:30 - 9:34encontrara o que considerava ser
a primeira articulação de ideias racistas. -
9:34 - 9:36E designou o culpado.
-
9:36 - 9:39Esse tipo devia ser mais famoso
ou mais famigerado. -
9:39 - 9:42O nome dele era Gomes de Azurara,
-
9:42 - 9:44um homem português.
-
9:44 - 9:46Escreveu um livro por volta de 1450,
-
9:46 - 9:49no qual ele fez algo
que nunca ninguém antes tinha feito, -
9:49 - 9:51segundo o Dr. Kendi.
-
9:51 - 9:54Ele juntou todos os povos de África
-
9:54 - 9:57— um continente vasto e diverso —
-
9:57 - 10:00e descreveu-os como um grupo distinto,
-
10:01 - 10:03inferiores e animalescos.
-
10:04 - 10:07Não importava que,
naquela época pré-colonial, -
10:07 - 10:10algumas das culturas
mais sofisticadas do mundo -
10:10 - 10:12estivessem em África.
-
10:12 - 10:16Porque é que este homem afirmaria isto?
-
10:17 - 10:20Acontece que ajuda-nos
seguirmos o rasto do dinheiro. -
10:20 - 10:23Primeiro, Azurara tinha sido contratado
para escrever aquele livro -
10:23 - 10:25pelo rei de Portugal
-
10:26 - 10:27e, apenas uns anos antes,
-
10:27 - 10:29os comerciantes de escravos
-
10:29 - 10:31— cá vamos nós —
-
10:31 - 10:34os comerciantes de escravos
vinculados à Coroa portuguesa -
10:34 - 10:38tinham sido os pioneiros
do tráfico de escravos no Atlântico. -
10:38 - 10:42Eles foram os primeiros europeus
a navegar até à África subsaariana -
10:42 - 10:45para raptar e escravizar africanos.
-
10:45 - 10:48Portanto, de súbito, era bastante útil
-
10:48 - 10:52que existisse uma história
sobre a inferioridade das gentes africanas -
10:52 - 10:55que justificasse este novo tráfico
-
10:55 - 10:57às outras pessoas, à Igreja
-
10:57 - 10:59e a eles mesmos.
-
11:00 - 11:02Duma penada,
-
11:03 - 11:06Azurara inventou, ao mesmo tempo,
a negritude e a brancura, -
11:06 - 11:10porque basicamente foi ele que criou
a noção de negritude -
11:10 - 11:13com a sua descrição dos africanos.
-
11:13 - 11:15Tal como diz o Dr. Kendi,
-
11:15 - 11:18a negritude nada significa
sem a existência da brancura. -
11:19 - 11:23Outros países europeus
seguiram a iniciativa portuguesa -
11:24 - 11:27de olhar para África
à procura de propriedade humana -
11:27 - 11:29e de mão de obra gratuita
-
11:29 - 11:33e adotaram esta narrativa
da inferioridade do povo africano. -
11:36 - 11:38Isto foi esclarecedor para mim.
-
11:39 - 11:42O racismo não começou
com um mal-entendido, -
11:42 - 11:44começou com uma mentira.
-
11:45 - 11:48Entretanto, aqui na América colonial,
-
11:48 - 11:53as pessoas que se denominavam brancas
começaram a pegar nestas ideias racistas -
11:54 - 11:56e a transformá-las em leis,
-
11:57 - 12:03leis que despojavam de quaisquer direitos
aqueles a que chamavam negros -
12:03 - 12:07e a prendê-los na nossa própria versão
cruel de escravidão, -
12:07 - 12:12e leis que davam benefícios
até às pessoas brancas mais pobres, -
12:12 - 12:15não grandes benefícios a nível material,
-
12:16 - 12:18mas o direito de não serem
escravizados a vida inteira, -
12:19 - 12:23o direito de não terem os seus familiares
retirados dos seus braços e vendidos -
12:23 - 12:25e, por vezes, até mesmo bens materiais.
-
12:25 - 12:29A oferta de terras livres
em lugares como a Virgínia -
12:30 - 12:32apenas a pessoas brancas
-
12:33 - 12:36começou bem antes
da Revolução Americana -
12:36 - 12:38e continuou muito depois.
-
12:40 - 12:42Agora, eu consigo imaginar
-
12:42 - 12:46que há pessoas a ouvirem-me falar
— se ainda estiverem a ouvir-me — -
12:47 - 12:49que poderão estar a pensar:
-
12:49 - 12:52"Vamos lá, toda esta história antiga.
O que é que isso importa? -
12:52 - 12:55"As coisas mudaram.
-
12:55 - 12:57"Não podemos superar isso
e passar à frente?" -
12:58 - 13:03Mas eu afirmaria que,
inquestionavelmente, para mim, -
13:03 - 13:05aprender esta história
mudou verdadeiramente -
13:05 - 13:08a forma como eu hoje concebo o racismo.
-
13:09 - 13:12Como revisão, dois pontos importantes
do que eu já disse até aqui: -
13:13 - 13:16um, a raça não é algo biológico,
-
13:16 - 13:19é uma história que algumas pessoas
decidiram contar; -
13:20 - 13:22e dois, as pessoas contaram essa história
-
13:22 - 13:27para justificar o aproveitamento cruel
de outros seres humanos para ter lucro. -
13:28 - 13:31Não aprendi estes dois factos na escola.
-
13:31 - 13:33Suspeito que a maioria de nós também não.
-
13:33 - 13:35Se aprenderam, é porque tiveram
um professor especial. -
13:36 - 13:41Mas, quando percebemos isso,
torna-se claro -
13:41 - 13:46que o racismo não é primordialmente
um problema de atitudes, -
13:46 - 13:48de intolerância individual.
-
13:49 - 13:50É uma ferramenta.
-
13:51 - 13:55É uma ferramenta para nos dividir
e para sustentar sistemas -
13:55 - 13:58— sistemas económicos,
políticos e sociais — -
13:58 - 14:01que beneficiam algumas pessoas
e prejudicam outras. -
14:02 - 14:04Uma ferramenta para convencer
muitas pessoas brancas, -
14:04 - 14:07que podem estar ou não estar
a sair beneficiadas -
14:07 - 14:10da nossa sociedade
altamente estratificada, -
14:10 - 14:13a apoiar o estado vigente.
-
14:13 - 14:16"Podia ser pior. Pelo menos sou branco."
-
14:17 - 14:21Quando eu percebi
as origens do racismo, -
14:21 - 14:25eu deixei de ficar perplexo
com o facto de ele ainda existir. -
14:25 - 14:28Se calhar, olhando em retrospetiva,
-
14:28 - 14:32eu pensava no racismo
como sendo como o terraplanismo, -
14:32 - 14:35algo mau, um pensamento antiquado
que, em breve, desaparecerá por si mesmo. -
14:38 - 14:41Mas não, esta ferramenta da brancura
-
14:41 - 14:43ainda está a fazer a tarefa
para a qual foi inventada. -
14:44 - 14:46Pessoas com poder
vão para o trabalho todos os dias -
14:46 - 14:50e impulsionam e reforçam
esta ferramenta antiga -
14:50 - 14:52nos corredores do poder,
-
14:52 - 14:55em alguns estúdios de transmissão
que podíamos mencionar... -
14:56 - 14:58E não precisamos de nos incomodar
-
14:58 - 15:00a pensar se estas pessoas
acreditam no que dizem -
15:00 - 15:02ou se são realmente racistas.
-
15:02 - 15:04Não é disso que se trata.
-
15:05 - 15:07Trata-se de dinheiro e poder.
-
15:09 - 15:13Por fim, eu acho
que a maior lição de todas -
15:13 - 15:18— e deixem-me falar em particular
para as pessoas brancas por instantes: -
15:19 - 15:22quando entendermos
que as pessoas que se parecem connosco -
15:22 - 15:25inventaram o conceito de raça
-
15:26 - 15:30de forma a se beneficiarem e a nós também,
-
15:30 - 15:34não é fácil de entender que é um problema
que nós temos de resolver? -
15:35 - 15:37É um problema dos brancos.
-
15:37 - 15:40Eu tenho vergonha em dizer
que, durante muito tempo, -
15:40 - 15:44pensei no racismo, sobretudo,
como uma luta das pessoas de cor, -
15:45 - 15:47tal como para as pessoas
na minha televisão -
15:47 - 15:48quando eu era criança.
-
15:49 - 15:53Como se eu estivesse nas bancadas laterais
duma competição desportiva, -
15:53 - 15:55de um lado pessoas de cor,
-
15:55 - 15:57do outro lado
aqueles racistas verdadeiros, -
15:58 - 15:59o xerife do Sul,
-
15:59 - 16:01as pessoas com capuzes.
-
16:01 - 16:05E eu estava a torcer sinceramente
para que as pessoas de cor ganhassem. -
16:06 - 16:07Mas não.
-
16:07 - 16:10Não há bancadas laterais.
-
16:10 - 16:12Estamos todos lá dentro.
-
16:12 - 16:14Estamos todos envolvidos.
-
16:14 - 16:17E se eu não me juntar à luta
para desmantelar um sistema -
16:17 - 16:19que me beneficia,
-
16:19 - 16:21eu sou cúmplice.
-
16:23 - 16:25Isto não tem a ver com vergonha ou culpa.
-
16:26 - 16:28A culpa branca não resolve nada
-
16:28 - 16:31e, sinceramente, não sinto muita culpa.
-
16:31 - 16:34A história não é culpa minha ou vossa.
-
16:34 - 16:39Mas o que eu sinto
é um forte sentido de responsabilidade -
16:39 - 16:41para fazer algo.
-
16:43 - 16:47Tudo isto modificou a forma
como eu penso e abordo o meu trabalho -
16:47 - 16:50como narrador documental
-
16:50 - 16:51e como professor.
-
16:52 - 16:54Mas, para além disso,
o que é que isso significa? -
16:54 - 16:56O que é que significa
para qualquer um de nós? -
16:57 - 17:00Significará que apoiamos líderes
-
17:00 - 17:03que querem estabelecer
uma conversa sobre reparações? -
17:04 - 17:06Estaremos a encontrar,
nas nossas comunidades, -
17:06 - 17:09pessoas que trabalham
para alterar estas instituições injustas -
17:10 - 17:12e apoiar esse processo?
-
17:12 - 17:14No meu emprego,
-
17:14 - 17:17serei eu a pessoa branca
que aparece de má vontade -
17:17 - 17:19na reunião sobre diversidade e igualdade?
-
17:19 - 17:22Ou estarei a tentar perceber
como é que posso ajudar -
17:22 - 17:23os meus colegas de cor?
-
17:25 - 17:28O que me parece é que,
onde quer que vamos, -
17:28 - 17:31precisamos de ir com a humildade,
-
17:31 - 17:37a vulnerabilidade e a disposição
para largar esse poder que não ganhámos. -
17:41 - 17:44Eu acho que também beneficiaríamos
-
17:44 - 17:47da criação de uma sociedade
que não for criada -
17:47 - 17:50com base no aproveitamento
e na opressão de ninguém. -
17:51 - 17:54Mas, no fim, devemos fazer isto,
-
17:54 - 17:56devemos aparecer
-
17:56 - 17:58e imaginar como intervir.
-
17:58 - 18:00porque é o que está certo.
-
18:02 - 18:03Obrigado.
-
18:04 - 18:07(Aplausos)
- Title:
- A mentira que inventou o racismo
- Speaker:
- John Biewen
- Description:
-
Para entender e erradicar o pensamento racista, comecem do começo. Isso é o que o jornalista e documentarista John Biewen fez, guiando uma descoberta de informações surpreendentes e instigantes sobre as "origens" da raça. Ele partilha as suas descobertas, fornecendo respostas para questões fundamentais sobre o racismo — e expõe um caminho exemplar para praticar efetivamente a aliança.
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 18:21
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Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for The lie that invented racism | |
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Tiago Ventura Alves edited Portuguese subtitles for The lie that invented racism | |
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