Um dia na vida de um ateniense da Antiguidade — Robert Garland

Vejam a lição completa em: https://ed.ted.com/lessons/a-day-in-the-life-of-an-ancient-athenian-robert-garland

Em 427 a.C., o pior conflito interno que ocorreu no mundo grego da Antiguidade já vai no quarto ano. Atenas está perante uma decisão importante: que fazer com o povo de Mitilene, uma cidade na ilha de Lesbos onde acaba de ser dominada uma revolta contra o domínio ateniense. Como são tomadas estas decisões? Robert Garland descreve um dia na vida da democracia ateniense.

Lição de Robert Garland, animação de Zedem Media.

Em 427 a.C., o pior conflito interno

que ocorreu no mundo grego da Antiguidade

já vai no quarto ano.

Trava-se a Guerra do Peloponeso

entre as cidades-estado
de Atenas e Esparta,

assim como dos seus aliados.

Os atenienses não conseguem competir

com o tremendo exército
de Esparta, no terreno.

Por isso, abandonaram os campos

e passaram para o interior das muralhas
que rodeiam a cidade e o porto,

que dispõe de uma frota superior
e um extenso império marítimo.

As condições de superlotação
fazem-se sentir

e uma peste recente eliminou
um terço da população.

Mas a vida na cidade continua.

Archias e Dexileia vivem
no centro de Atenas.

Enquanto pintor de cerâmica
de alta qualidade,

Archias vive relativamente bem

e interessa-se muito
pelos assuntos da cidade.

Dexileia, por outro lado, não pode
participar na política nem possuir bens.

O casal sente-se grato aos deuses
porque três dos seus quatro filhos,

um rapaz e duas raparigas,

sobreviveram à infância.

Muitos pais consideram
que as filhas são um inconveniente,

porque precisam de dotes
para arranjar um marido.

Mas Archias tem fé
que a sua riqueza

lhe permitirá arranjar bons partidos
para elas, sem entrar na falência.

Tal como muitos atenienses,
a família possui escravos.

Originários da Trácia,
foram capturados na guerra.

Thratta faz a maior parte
do trabalho doméstico

e ajuda a criar as crianças.

Philon é paidagôgos,

que supervisiona a educação do rapaz,
ensinando-o a ler e a escrever.

Archias levanta-se cedo porque
há uma reunião da Ekklêsia,

a assembleia de cidadãos,

que começa ao alvorecer.

Antes de partir, queima incenso

e faz uma libação
no pequeno santuário no pátio

em nome de toda a família.

Dexileia fica em casa todo o dia,
ensinando às filhas as artes domésticas.

Depois, vai até ao pátio interior
para apanhar ar fresco.

Quando Archias chega à ágora,

o centro cívico e comercial da cidade,

encontra a praça cheia
dos seus concidadãos,

homens adultos nascidos na cidade
que já completaram o serviço militar.

Encostado ao monumento central,
está um cartaz com a agenda da reunião.

Hoje, só há um tema para discussão:

o que fazer com o povo de Mitilene,

uma cidade na ilha de Lesbos,

onde acaba de ser dominada
uma revolta contra o domínio ateniense.

A reunião realiza-se numa colina
a ocidente da acrópole, chamada Pnyx.

A palavra significa
"densamente apinhada"

e a multidão de 5000 cidadãos
explica a razão de tal nome.

Os arautos purificam a colina
aspergindo sangue de porco no perímetro

e pedem ordem.

Depois de todos sentados
nos bancos em frente da plataforma,

o funcionário que preside abre
a reunião com as palavras:

"Tis agoreuein bouleutai?”

"Quem deseja falar à assembleia?"

Um por um, os cidadãos falam,

uns aconselham piedade,
outros inclinam-se para a vingança.

É proposta uma moção
para executar todos os mitilenos

e escravizar as mulheres e as crianças

porque eles traíram os seus aliados
atenienses, em tempo de guerra.

A maioria levanta a mão direita
a favor da moção.

Acabada a reunião, Archias
volta para a ágora

para comprar alimentos e vinho.

Ali, juntaram-se centenas
a discutir os resultados,

muitos deles descontentes
com a decisão.

Quando Archias regressa a casa,
conta o debate a Dexileia.

Ela acha que matar os inocentes
para além dos culpados

é duro e contraproducente

e diz isso ao marido.

Ao crepúsculo, Archias vai
a casa de um amigo para um colóquio.

Os nove homens bebem vinho
e discutem a reunião até altas horas.

Archias partilha da opinião da mulher
para o perdão

e os amigos acabam por concordar com ele.

Antes do alvorecer, acontece
uma coisa sem precedentes.

Arautos circulam por Atenas

anunciando que o conselho
convocou outra reunião.

O segundo debate é igualmente acalorado,

mas é aprovada, por escassa maioria,

uma nova decisão para executar
apenas os líderes da revolta.

Mas há um problema.

Um barco com ordem de executar
a primeira resolução

partiu no dia anterior.

Assim, parte outro barco
rapidamente para contrariar a ordem,

numa corrida da democracia contra o tempo.