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O que é uma "tuba no traseiro" e porque é que aparece na arte medieval? — Michelle Brown

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    Um coelho tenta tocar órgão
    numa igreja,
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    enquanto um cavaleiro luta
    com um caracol gigante
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    e um homem nu sopra
    numa trompete com o traseiro.
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    Pintadas com pincel de pelo de esquilo
    sobre velo ou pergaminho,
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    por monges, freiras e artesãos urbanos,
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    estas imagens bizarras povoam as margens
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    dos livros mais apreciados da Idade Média.
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    Estas ilustrações contam, muitas vezes,
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    uma segunda história
    tão rica como o texto.
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    Algumas destas iluminuras aparecem
    em muitos manuscritos diferentes,
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    e reforçam o conteúdo religioso
    dos livros que ornamentam.
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    Por exemplo, um porco-espinho
    a apanhar frutos com os seus espinhos
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    podia representar o demónio
    a roubar os frutos da fé
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    ou Cristo a carregar
    os pecados da Humanidade.
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    A tradição medieval afirmava
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    que um caçador
    só podia capturar um unicórnio
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    quando ele poisasse o seu corno
    no colo de uma virgem,
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    por isso, um unicórnio podia simbolizar
    tanto a tentação sexual
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    como Cristo a ser capturado
    pelos seus inimigos.
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    Entretanto, os coelhos podiam representar
    a natureza lasciva dos seres humanos
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    e podiam redimir-se através
    de tentativas para fazer música sacra,
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    apesar dos seus pecados.
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    Todas estas referências seriam
    conhecidas dos europeus medievais
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    de outras formas de arte e tradição oral,
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    embora algumas se tenham tornado
    mais misteriosas,
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    com o passar dos séculos.
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    Hoje, ninguém sabe ao certo
    o que pode significar
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    o vulgar motivo de um cavaleiro a lutar
    com um caracol gigante
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    ou porque é que, tantas vezes,
    parece que o cavaleiro está a ser vencido.
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    O caracol pode ser um símbolo
    da inevitabilidade da morte
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    que derrota até os cavaleiros mais fortes.
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    Ou podia representar a humildade
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    de que um cavaleiro precisa
    para vencer o seu orgulho.
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    Muitos dos manuscritos com iluminuras
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    eram cópias de textos
    religiosos ou clássicos
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    e os livreiros incorporavam as suas ideias
    e opiniões nas ilustrações.
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    A tuba no traseiro, por exemplo,
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    era provavelmente uma abreviatura
    para exprimir a reprovação
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    — ou adicionar um toque irónico —
    quanto à ação no texto.
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    As iluminuras também podiam ser usadas
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    para fazer comentários
    políticos subversivos.
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    O texto dos "Decretos Smithfield"
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    pormenoriza as leis da Igreja
    e as punições para os prevaricadores.
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    Mas as margens mostram
    uma raposa a ser enforcada pelos gansos,
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    uma possível alusão ao povo comum
    a castigar os seus poderosos opressores.
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    Na "Chronica Majora",
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    Matthew Paris resumiu
    um escândalo da sua época
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    em que o príncipe galês Griffin
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    morreu ao cair da Torre de Londres.
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    "Uns acreditavam que o príncipe
    tinha caído", escreveu Paris,
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    "enquanto outros pensavam
    que ele tinha sido empurrado".
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    E acrescentou a sua opinião nas margens
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    que mostram o príncipe
    na sua queda mortal
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    ao tentar fugir
    por uma corda feita com lençóis.
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    Algumas margens contam histórias
    duma natureza mais pessoal.
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    "O Livro de Salmos de Luttrell",
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    um livro de salmos e orações
    encomendado por Sir Geoffrey Luttrell,
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    mostra uma rapariga a pentear o cabelo,
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    enquanto um jovem apanha
    um pássaro numa rede.
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    O cabelo rapado no alto
    da cabeça, que vai crescendo,
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    indica que ele é um clérigo
    que negligencia os seus deveres.
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    Isto alude a um escândalo familiar
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    em que um jovem clérigo fugira
    com Elizabeth, a filha de Sir Geoffrey.
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    O diretor espiritual pessoal da família
    deve tê-lo pintado nesse livro
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    para lembrar aos seus clientes
    os seus erros
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    e encorajar a sua evolução espiritual.
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    Alguns artistas pintaram-se
    nos manuscritos.
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    A imagem de abertura das obras
    escolhidas de Christine de Pisan
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    mostra de Pisan a apresentar o livro
    à Rainha de França.
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    A rainha ficara tão impressionada
    com a obra anterior de Christine
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    que encomendara uma cópia para si.
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    Este patrocínio real
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    permitiu-lhe abrir a sua editora em Paris.
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    A tradição dos manuscritos com iluminuras
    durou mais de 1000 anos.
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    Os livros eram criados por indivíduos
    ou equipas para usos alargados,
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    como auxiliares de oração privados,
    livros de serviço em igrejas, manuais
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    e talismãs protetores
    para levar para as batalhas.
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    Por entre todas estas variantes,
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    estes desenhos intrincados nas margens
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    são uma janela única
    para os espíritos dos artistas medievais.
Title:
O que é uma "tuba no traseiro" e porque é que aparece na arte medieval? — Michelle Brown
Speaker:
Michelle Brown
Description:

Vejam a lição completa em: https://ed.ted.com/lessons/what-is-a-butt-tuba-and-why-is-it-in-medieval-art-michelle-brown

Um coelho tenta tocar órgão numa igreja, enquanto um cavaleiro luta com um caracol gigante e um homem nu sopra numa trompete com o traseiro. Estas imagens bizarras, pintadas com pincel de pelo de esquilo sobre velo ou pergaminho, por monges, freiras e artesãos urbanos, povoam as margens dos livros mais apreciados da Idade Média. Michelle Brown explora a rica história e tradição dos manuscritos com iluminuras.

Lição de Michelle Brown, realização de WOW-HOW Studio.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TED-Ed
Duration:
04:22

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