Lições de jornalismo de investigação | Carol Marin | TEDxMidwest
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0:08 - 0:10Muito obrigada.
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0:11 - 0:15Eu aprendi muitas lições
enquanto repórter de investigação -
0:15 - 0:18e penso que é melhor
ir direta ao assunto. -
0:18 - 0:22Lição número um:
podemos matar alguém. -
0:22 - 0:23(Risos)
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0:24 - 0:27Fiz reportagens sobre crime organizado
durante muito tempo, ao longo dos anos -
0:27 - 0:32e, especialmente em 1980,
cobri o crime organizado em Chicago, -
0:32 - 0:34sobre as agências de apostas mafiosas,
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0:34 - 0:38e um multimilionário,
chamado William "B .J." Jahoda -
0:38 - 0:41que trabalhava para o grupo de Cícero.
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0:41 - 0:46Nós, em Chicago, sabemos que antigamente
aquele era o território de Al Capone. -
0:46 - 0:48Ele trabalhava para a máfia.
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0:49 - 0:51O que é que nós dizemos de Rocky Infelice?
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0:51 - 0:53Um tipo mesmo mau.
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0:53 - 0:57Era um dos grupos mais cruéis,
mais duros, mais ferozes -
0:57 - 1:01e sabia-se que Rocky Infelice
era alguém a ter em conta. -
1:01 - 1:04Chamávamos "B" a Jahoda,
toda a gente o tratava assim. -
1:04 - 1:08Era um antigo jornalista,
brilhante com as palavras. -
1:09 - 1:13Era um computador,
fazia contas de cabeça. -
1:13 - 1:17Memorizava números,
calculava probabilidades, -
1:17 - 1:19não se esquecia de nada.
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1:19 - 1:22Mas, no fundo, no seu coração,
era um homem decente. -
1:22 - 1:26Ao fim de muitos anos proveitosos,
Rocky tornou-se muito irritado -
1:26 - 1:28porque havia agentes de apostas
renegados em Chicago. -
1:28 - 1:31Eram tipos independentes,
que não se encaixavam no sistema -
1:31 - 1:33e isso era uma coisa muito má.
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1:33 - 1:35Rocky ordenou a Jahoda
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1:35 - 1:39para apanhar alguns desses tipos
nalguma vigarice -
1:39 - 1:41e depois livrar-se deles.
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1:41 - 1:45"Dá cabo deles", disse a Rocky
"e não olhes para trás!" -
1:45 - 1:50Um desses agentes de apostas
foi assassinado na cozinha de B.J. -
1:50 - 1:52Foi uma coisa sanguinária.
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1:52 - 1:55Ele não aguentou mais e, em 1989,
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1:55 - 1:58aceitou que os federais
lhe pusessem uma escuta -
1:58 - 2:00para apanharem Rocky e o seu grupo
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2:00 - 2:03e, acreditem, era a primeira vez
que isso acontecia em Chicago. -
2:03 - 2:07Ninguém penetrava no Grupo de Chicago
e em todo o gangue de rua -
2:07 - 2:10mas Bill Jahoda fê-lo,
correndo grandes riscos. -
2:11 - 2:14A primeira vez que ele pôs
um microfone ligado, -
2:14 - 2:17pensou que seria
um pequeno rádio transístor, -
2:17 - 2:22mas era do tamanho de um maço de cigarros
e puseram-no nas costas dele. -
2:22 - 2:24Ele disse que parecia um tijolo.
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2:24 - 2:27Quando foi à primeira reunião
sob disfarce, -
2:27 - 2:30disse que se sentia como um defunto
no dia do enterro, -
2:30 - 2:32achava que toda a gente percebia.
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2:33 - 2:37Ao fim de seis semanas de testemunhos
incríveis, no tribunal federal, -
2:37 - 2:41incluindo aquele momento memorável
a que eu assisti, -
2:41 - 2:43quando até o juiz se riu,
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2:43 - 2:47com a descrição que B fez de Rosa Laws
uma conhecida madama de Chicago -
2:47 - 2:52e como ela fornecia as "meninas"
para os rapazes do gangue de Rocky. -
2:52 - 2:55Jahoda chamou-lhe
"revigoração horizontal". -
2:55 - 2:57(Risos)
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2:57 - 3:00B.J. Jahoda apanhou
todo o gangue da rua. -
3:00 - 3:05Rocky foi para a prisão, B escondeu-se
sob proteção de testemunhas. -
3:06 - 3:09E decidiu dar-me a primeira
entrevista na TV. -
3:09 - 3:11Ficámos aterrorizados.
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3:11 - 3:13A Máfia queria matá-lo.
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3:13 - 3:16Tínhamos de ser cuidadosos
quanto ao local do encontro. -
3:16 - 3:20Decidimos ser num hotel no Wisconsin,
fora do bairro norte de Illinois. -
3:20 - 3:22Mas como sabem, não viajamos
à velocidade da luz. -
3:22 - 3:26Por isso tínhamos dois operadores
de imagem, três produtores e eu. -
3:26 - 3:31Se alguém via as notícias
do Canal 5, podiam reconhecer-me. -
3:31 - 3:35Estávamos preocupados, com medo
de o levarmos para a morte -
3:35 - 3:38e penso que B também estava
muito preocupado com isso. -
3:38 - 3:40Felizmente, ele não foi assassinado.
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3:40 - 3:43A entrevista, tenho de confessar,
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3:43 - 3:45foi um espanto!
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3:45 - 3:47Como as pessoas lhe chamavam uma ratazana,
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3:47 - 3:50nós chamámos-lhe o "Diário duma Ratazana".
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3:50 - 3:53B.J. Jahoda fez o seu dever cívico
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3:53 - 3:56e deixou de consentir
que matassem pessoas -
3:56 - 3:57mas foi uma coisa muito difícil.
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3:57 - 4:00Quando a entrevista estava
quase no fim, eu disse: -
4:01 - 4:04"Ainda hoje receias pela tua vida?"
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4:04 - 4:07E ele disse: "Vou pôr
as coisas deste modo. -
4:07 - 4:11"Eles começariam por arrancar-me
os olhos com uma colher de chá". -
4:12 - 4:16Lição dois:
alguém pode querer matar-nos. -
4:17 - 4:21A minha vizinha do lado chamou-me
uma manhã, histérica e disse: -
4:21 - 4:25"Quem são aqueles tipos nas traseiras
com armas debaixo dos braços?" -
4:25 - 4:26(Risos)
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4:27 - 4:31Foi uma longa história que começa
com um tipo chamado Jeff Fort -
4:31 - 4:34Fort está agora numa prisão federal,
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4:34 - 4:36tem entrado e saído durante muitos anos.
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4:36 - 4:39Mas até hoje é recordado
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4:39 - 4:43como um dos líderes do gangue
mais temido e mais célebre de Chicago. -
4:43 - 4:45Era filho da Grande Migração.
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4:45 - 4:48Foi de Abderdeen, Mississippi
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4:49 - 4:53nos anos 50, para Woodlawn
no lado sul de Chicago. -
4:53 - 4:55Foi estranho, porque era magrizela,
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4:55 - 4:58semianalfabeto, quando muito,
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4:58 - 5:00mas era mágico.
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5:00 - 5:01Era um líder.
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5:01 - 5:05Arrastou milhares de seguidores
nos anos 60 e 70. -
5:05 - 5:07Chamavam-lhe o "Anjo".
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5:07 - 5:10Nos anos da Guerra contra a Pobreza,
de Lyndon Johnson, -
5:10 - 5:14Jeff Fort obteve parte desse dinheiro
federal, cerca de um milhão de dólares, -
5:14 - 5:19destinado a organizações comunitárias
e a pessoas com liderança natural. -
5:19 - 5:23Enganou o governo, roubou o dinheiro,
foi para a prisão federal. -
5:24 - 5:28Mas tinha a esperteza suficiente
para perceber, na prisão federal, -
5:28 - 5:34que as organizações religiosas
gozavam de certa proteção constitucional. -
5:34 - 5:37Assim, pensou: "Ah! Vou formar
uma religião, não um gangue!" -
5:38 - 5:43Veio a ser conhecido por El Rukns,
uma organização religiosa muçulmana. -
5:43 - 5:47Quando saiu da prisão,
Jeff voltou às ruas de Chicago -
5:47 - 5:49com o seu El Rukns.
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5:49 - 5:55Os Rukns não eram só pequenos grupos
mortíferos, também eram secretos. -
5:55 - 6:00E o governo teve a maior dificuldade,
durante anos, em se infiltrar neles, -
6:01 - 6:04Jeff rapidamente voltou para a prisão
com uma acusação diferente, -
6:04 - 6:06foi uma acusação de drogas.
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6:06 - 6:10Para além de ser um líder religioso
era muito bom ao telefone. -
6:10 - 6:13Assim, a partir duma cabina telefónica,
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6:14 - 6:18durante 3500 horas de escutas,
os federais ouviram-no -
6:18 - 6:22a instruir os seus seguidores
a fazerem um acordo com Muammar Gaddafi. -
6:22 - 6:24E foram à Líbia,
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6:24 - 6:27porque, como eram muçulmanos,
queriam conhecer Gaddafi. -
6:27 - 6:31Por 2,5 milhões de dólares,
o grupo de Jeff compromete-se -
6:31 - 6:35a praticar atos de terrorismo interno
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6:35 - 6:37e abater aviões no céu.
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6:38 - 6:40Os federais apanharam-no
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6:40 - 6:44e ele teve problemas terríveis
naquele julgamento. -
6:44 - 6:46Entretanto, eu estava a fazer
um documentário sobre ele, -
6:46 - 6:48intitulado "O anjo do medo".
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6:48 - 6:49O telefone tocou lá em casa.
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6:49 - 6:52Era o homem de mão do El Rukn,
chamado Billy Doyle, -
6:52 - 6:54uma pessoa que não liga
para casa de jornalistas, -
6:54 - 6:56por isso eu percebi
que eu estava em apuros. -
6:57 - 7:00Liguei à NBC, liguei aos federais
e liguei à polícia. -
7:00 - 7:03Eu não queria ligar a ninguém,
porque, enquanto repórter, -
7:03 - 7:04não pertencemos a nenhum clube.
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7:04 - 7:06A NBC enviou-me proteção,
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7:06 - 7:09os federais e a polícia
estavam a vigiar a casa. -
7:09 - 7:12O sistema de segurança que instalaram
tinha um botão de alarme -
7:13 - 7:15parecido com o interruptor
da porta duma garagem. -
7:15 - 7:17Se o pressionarmos com o dedo,
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7:17 - 7:20cria um sinal de emergência
e a polícia aparece em nossa casa. -
7:20 - 7:23Uma manhã, estou na banheira
com o meu filho de seis meses -
7:24 - 7:27e o mais velho, de dois anos, entra
na casa de banho e diz: "Olha, mamã!" -
7:27 - 7:28(Risos)
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7:28 - 7:31Eu sabia que tinha 30 segundos
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7:31 - 7:35para tirar a máscara dos olhos
ou para vestir um roupão, -
7:35 - 7:37porque, daí a 30 segundos,
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7:37 - 7:39a polícia estaria à porta,
a tocar à campainha. -
7:40 - 7:43Quando abri a porta,
havia dois homens em posição de tiro. -
7:44 - 7:49Tinham corrido pelo cimento húmido
do vizinho do lado, -
7:49 - 7:52onde estavam a reparar os passeios,
tinham cimento nos sapatos. -
7:52 - 7:55E eu disse: "Desculpem!
Lamento muito! Lamento muito!" -
7:56 - 7:58No dia seguinte, liguei ao advogado
de Jeff e disse-lhe: -
7:58 - 8:01"Diga-lhe que ele fez um erro tremendo".
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8:01 - 8:03O advogado disse:
"Jeff diz que lamenta". -
8:03 - 8:06Mas eu sabia que tinha
de pedir desculpa a mais alguém. -
8:06 - 8:07No dia seguinte de manhã,
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8:07 - 8:12agarrei nos miúdos, o bebé às costas,
o Josh ao pé de mim. -
8:12 - 8:14Metemo-nos num táxi, fomos
ao Dunkin' Donuts, -
8:14 - 8:15arranjámos 12 dúzias de dónutes,
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8:15 - 8:18metemo-nos num táxi,
fomos até ao posto do 18.º bairro. -
8:18 - 8:22Uma prostituta e um bêbado
mantinham a porta aberta. -
8:22 - 8:26Entrámos no posto do 18.º bairro,
pus Josh em cima da secretária -
8:26 - 8:29e disse: "Josh, diz ao sargento
que lamentamos muito". -
8:29 - 8:30(Risos)
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8:30 - 8:33O polícia, que tinha sotaque
irlandês, claro, diz: -
8:33 - 8:35"Minha senhora, não seja
tão ríspida com o rapaz!" -
8:35 - 8:36(Risos)
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8:36 - 8:39Lição número três:
preparem-se para serem pouco populares. -
8:39 - 8:43Com os anos, publicámos histórias
sobre pessoas muito famosas. -
8:43 - 8:46Isso incluiu Michael Jordan
no auge da sua carreira, -
8:46 - 8:49e Barack Obama no início da sua histórica
ascensão para a presidência. -
8:50 - 8:53Atualmente, no The Sun-Times
trabalhamos numa história -
8:53 - 8:55sobre o sobrinho do clã Daley
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8:55 - 8:57e se ele obteve tratamento especial
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8:57 - 9:01numa altercação que resultou
na morte de um jovem em 2004 -
9:01 - 9:03da qual ele não foi acusado.
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9:03 - 9:06Todas estas três histórias geraram
grande controvérsia para nós. -
9:06 - 9:11A caridade de Jordan era uma espécie
de relações públicas para ele; -
9:11 - 9:16só uma minúscula percentagem
era destinada aos necessitados. -
9:16 - 9:19Obama tinha um angariador de fundos
bem relacionado, chamado Tony Rezko -
9:19 - 9:22de quem não queria falar
durante aquela primeira campanha, -
9:22 - 9:24mas nós queríamos.
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9:24 - 9:28Levámos 18 meses a convencê-lo
a ir à nossa redação e explicar isso. -
9:29 - 9:34Houve um promotor especial
nomeado no processo do sobrinho Daley -
9:34 - 9:37e do jovem que morreu,
David Koschman. -
9:37 - 9:40Sofremos pressões
em todas estas notícias -
9:40 - 9:43de todo o tipo de pessoas,
mas fizemos as histórias na mesma -
9:44 - 9:48porque é um privilégio
ser repórter. -
9:48 - 9:52Em troca desse privilégio, digo sempre
aos estudantes de jornalismo, -
9:52 - 9:55que têm de abdicar de alguns
dos direitos normais enquanto cidadãos. -
9:55 - 9:57Ou seja, não pertencemos
a nenhum partido político, -
9:57 - 10:00nem a nenhum
grupo especial de interesses -
10:00 - 10:03e, por vezes, não somos convidados
para jantar em muitos lugares -
10:03 - 10:05porque as pessoas
não querem falar connosco. -
10:05 - 10:06E sabem uma coisa?
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10:06 - 10:08Tudo bem.
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10:08 - 10:10Lição número quatro:
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10:10 - 10:13preparem-se para vos darem
mais crédito do que merecem. -
10:13 - 10:16Em 1997, deixei o meu emprego na NBC
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10:16 - 10:19e o apresentador meu colega,
Ron Magers, fez o mesmo. -
10:19 - 10:23Naquela época, a NBC tinha uma gestão
muito diferente, agora já não é a mesma. -
10:23 - 10:26Mas tinham decidido
animar mais os noticiários -
10:26 - 10:30e achavam que isso seria mais bem feito
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10:31 - 10:33contratando Jerry Springer
como comentador -
10:33 - 10:35que nós apresentaríamos
no noticiário das 10 horas. -
10:35 - 10:40Ron e eu sentimos que isso iria
dar cabo da integridade e da credibilidade -
10:40 - 10:42que tínhamos criado.
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10:43 - 10:46Protestámos que seria um erro.
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10:46 - 10:48Perdemos, eles ganharam.
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10:49 - 10:50Fomo-nos embora.
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10:50 - 10:52O nosso público revoltou-se,
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10:52 - 10:54ligaram tantas vezes
que derreteram a central telefónica, -
10:54 - 10:56entraram dez mil chamadas e, bum!
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10:56 - 10:58Ron e eu atraímos muitas atenções.
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10:58 - 11:00Publicaram histórias sobre nós
nos jornais nacionais, -
11:01 - 11:03fizeram-nos elogios e todas essas coisas.
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11:03 - 11:05A realidade é que, todos os dias,
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11:05 - 11:09há pessoas que abandonam
os seus empregos, por princípios. -
11:09 - 11:12Eu recebi 2000 cartas, no mínimo.
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11:12 - 11:15Uma delas era da mulher
de um funcionário -
11:15 - 11:18do Departamento dos Serviços
de Crianças e Família, -
11:18 - 11:23um tipo que se recusara a alojar
crianças agredidas num abrigo em Chicago -
11:23 - 11:26porque achava que elas iriam ser
assediadas sexualmente nesse abrigo. -
11:26 - 11:28Foi despedido.
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11:28 - 11:32Fui um dia à mercearia
e o talhante lá, chamado Bruno, -
11:32 - 11:35contou-me como ele, o único apoio
da mulher e dos filhos, -
11:35 - 11:39recusara, numa outra loja onde trabalhara,
a roubar no peso da carne, -
11:39 - 11:41a pôr o dedo na balança.
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11:43 - 11:45E fora despedido.
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11:45 - 11:50O assistente social e o talhante
não tiveram a publicidade que nós tivemos, -
11:50 - 11:53não atraíram a atenção,
ninguém escreveu uma notícia sobre eles. -
11:53 - 11:58E correram riscos
muito maiores do que nós, -
11:58 - 12:02por recompensas muito menores
do que as de Ron e as minhas. -
12:03 - 12:07Um dia depois de eu deixar a NBC,
deixaram-me uma carta lá em casa. -
12:08 - 12:11Sem selo, sem endereço do remetente.
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12:11 - 12:14Era de B.J. Jahoda,
que tinha sabido pelos noticiários. -
12:14 - 12:18Estava sob proteção de testemunhas
e a carta dizia assim: -
12:19 - 12:24"Cara Doll, por vezes, temos
de deixar passar. Saudades, B." -
12:26 - 12:27Lição cinco.
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12:29 - 12:33Estejam preparados para
aquilo que não estão preparados. -
12:34 - 12:37Há um sentimento de missão
para muitos de nós -
12:37 - 12:40na minha profissão,
um sentimento de objetivo. -
12:40 - 12:42Tal como uma enfermeira das urgências,
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12:42 - 12:45que corre sempre
que acontece qualquer coisa, -
12:45 - 12:49ou um bombeiro que ouve
a sirene de incêndio e acorre, -
12:50 - 12:53não é só porque devemos fazê-lo,
-
12:53 - 12:55ou porque fomos treinados para isso.
-
12:55 - 12:58É porque queremos fazê-lo,
porque acreditamos em fazer isso. -
12:58 - 13:01A 11 de setembro, eu estava
em Nova Iorque, -
13:01 - 13:04a trabalhar para "60 Minutes"
e para "60 Minutes II". -
13:04 - 13:06Como americana do Meio Oeste,
fui das primeiras a chegar, -
13:06 - 13:08— os nova-iorquinos chegaram depois.
-
13:08 - 13:12Havia televisores por todos os lados,
-
13:12 - 13:14e só havia ali meia dúzia de pessoas.
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13:14 - 13:16Alguém gritou: "Oh, meu Deus!"
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13:16 - 13:21quando vimos na TV o primeiro avião
a atingir a primeira torre. -
13:21 - 13:25Eu já era jornalista há tempo
suficiente para saber que, -
13:25 - 13:27quando acontece uma coisa em grande,
-
13:27 - 13:30temos de lá chegar
o mais depressa possível, -
13:30 - 13:33porque a polícia fecha o perímetro à volta
-
13:33 - 13:37e não podemos aproximar-nos
para ver tudo o que precisamos de ver. -
13:37 - 13:42Dirigi-me às Torres Gémeas
armada com o meu fiel telemóvel. -
13:42 - 13:45Nessa altura, a segunda torre
já tinha sido atingida. -
13:45 - 13:51Eu estava na via rápida de West Side
com milhares de pessoas a afastarem-se. -
13:51 - 13:53Lembro-me de uma me ter dito:
"Pare, volte para trás". -
13:53 - 13:56Com aquele estúpido sentimento
de invencibilidade que temos -
13:56 - 13:58quando fazemos o trabalho
que fazemos, eu disse: -
13:58 - 14:00"Sou jornalista da CBS, não se preocupe".
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14:00 - 14:02(Risos)
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14:02 - 14:03E continuei.
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14:04 - 14:06Pensava que o meu telemóvel funcionaria,
-
14:06 - 14:10mas milhares de telemóveis
a ligarem freneticamente -
14:10 - 14:13deram cabo de todos os sistemas.
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14:13 - 14:18Eu estava na via rápida de West Side
quando vi a primeira torre -
14:18 - 14:20a desabar.
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14:21 - 14:23E continuei.
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14:23 - 14:28Cheguei mais perto pela rua Oeste
e havia cinzas no chão -
14:28 - 14:31havia bombeiros, mostrei-lhes
a minha carteira de repórter -
14:31 - 14:33e um dos bombeiros disse:
-
14:33 - 14:37"Ande pelo meio da rua
porque há coisas a cair". -
14:37 - 14:39Havia macas, mas não tinham ninguém
-
14:39 - 14:41e os paramédicos estavam à espera.
-
14:41 - 14:46Foi enquanto eu avançava
que senti o chão a tremer. -
14:46 - 14:51O bombeiro à minha frente
vira-se e grita: "Fuja!" -
14:51 - 14:55Vi uma bola de fogo a sair
da base do edifício, -
14:55 - 14:57provavelmente da explosão
do combustível do avião, -
14:57 - 15:00enquanto o edifício começou a desabar.
-
15:00 - 15:02Não há tempo para
observar coisas daquelas, -
15:02 - 15:04dei meia volta, caí,
-
15:04 - 15:09ele agarrou-me pela cintura,
pôs-me de pé e corremos. -
15:09 - 15:12Ele teve o sangue frio
-
15:12 - 15:16de procurar outro edifício
que tinha uma saliência de mármore -
15:16 - 15:21empurrou-me contra ele
e cobriu o meu corpo com o dele. -
15:21 - 15:26Eu sentia o coração dele a bater
contra a minha coluna -
15:26 - 15:29porque estava a bater desalmadamente.
-
15:30 - 15:34A luz da manhã tornara-se
totalmente escura num segundo. -
15:34 - 15:37Havia partículas por toda a parte.
-
15:37 - 15:40Eram partículas de pessoas,
-
15:40 - 15:44de secretárias, de edifícios,
-
15:44 - 15:47de canetas e de coisas
e não conseguíamos ver nada. -
15:47 - 15:51Não víamos a mão em frente dos olhos
porque estava tudo negro. -
15:51 - 15:54Pensei para mim: "É assim
que os bombeiros morrem. -
15:55 - 15:59"Não são as chamas, é o fumo,
porque não se pode respirar". -
15:59 - 16:03O bombeiro, quando percebemos
que o edifício tinha ruído, -
16:03 - 16:07entregou-me a um polícia de Nova Iorque
-
16:07 - 16:11que, literalmente, agarrou na minha mão,
e tapámos a cara -
16:12 - 16:16tentando avançar na direção da luz,
encontrar uma saída. -
16:17 - 16:22Nem pensei perguntar
ao bombeiro como se chamava, -
16:22 - 16:26não pedi ao bombeiro
que me dissesse quem era. -
16:26 - 16:30Isso persegue-me até hoje.
-
16:30 - 16:34Que tipo de repórter eu era
que nem perguntara o nome dele! -
16:34 - 16:36Depois, pergunto sempre a toda a gente,
-
16:36 - 16:37perguntei ao agente da polícia,
-
16:37 - 16:40perguntei às pessoas
que me deram oxigénio. -
16:40 - 16:44Perguntei aos paramédicos
que me acompanharam na rua, -
16:45 - 16:47perguntei o nome do condutor do autocarro
-
16:47 - 16:53que me deixou desviar o autocarro dele
para ir ao centro de radiodifusão da CBS. -
16:54 - 16:56Só não sei o nome do bombeiro.
-
16:57 - 16:58Não sei se ele sobreviveu.
-
16:58 - 17:03Ele voltou para trás,
para o local do segundo desabamento. -
17:04 - 17:06Procurei-o, escrevi cartas às autoridades,
-
17:06 - 17:10contei esta história muitas vezes
na esperança de que um dia, algures, -
17:10 - 17:12alguém soubesse quem ele é.
-
17:13 - 17:16Cheguei à CBS,
sentei-me ao lado de Dan Rather, -
17:16 - 17:21coberta de pó,
e contei o que tinha visto. -
17:22 - 17:25A lição maior que aprendi,
-
17:25 - 17:30de todas as notícias, de todos os dias,
de todos os anos que eu faço isto, -
17:30 - 17:34é que é um privilégio ser jornalista,
-
17:35 - 17:36fazer este trabalho.
-
17:37 - 17:38Muito obrigada.
-
17:38 - 17:40(Aplausos)
- Title:
- Lições de jornalismo de investigação | Carol Marin | TEDxMidwest
- Description:
-
Carol Marin, jornalista veterana de investigação, explora o interesse profundamente enraizado na sua audiência quanto a criminosos e acontecimentos catastróficos. É cativante quando conta histórias incríveis de crime organizado e corrupção política em Chicago, assim como o medo e o caos do dia em que correu para as Torres Gémeas na cidade de Nova Iorque.
Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 17:47
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Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for Lessons in Investigative Journalism | Carol Marin | TEDxMidwest | |
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Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Lessons in Investigative Journalism | Carol Marin | TEDxMidwest | |
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