< Return to Video

Lições de jornalismo de investigação | Carol Marin | TEDxMidwest

  • 0:08 - 0:10
    Muito obrigada.
  • 0:11 - 0:15
    Eu aprendi muitas lições
    enquanto repórter de investigação
  • 0:15 - 0:18
    e penso que é melhor
    ir direta ao assunto.
  • 0:18 - 0:22
    Lição número um:
    podemos matar alguém.
  • 0:22 - 0:23
    (Risos)
  • 0:24 - 0:27
    Fiz reportagens sobre crime organizado
    durante muito tempo, ao longo dos anos
  • 0:27 - 0:32
    e, especialmente em 1980,
    cobri o crime organizado em Chicago,
  • 0:32 - 0:34
    sobre as agências de apostas mafiosas,
  • 0:34 - 0:38
    e um multimilionário,
    chamado William "B .J." Jahoda
  • 0:38 - 0:41
    que trabalhava para o grupo de Cícero.
  • 0:41 - 0:46
    Nós, em Chicago, sabemos que antigamente
    aquele era o território de Al Capone.
  • 0:46 - 0:48
    Ele trabalhava para a máfia.
  • 0:49 - 0:51
    O que é que nós dizemos de Rocky Infelice?
  • 0:51 - 0:53
    Um tipo mesmo mau.
  • 0:53 - 0:57
    Era um dos grupos mais cruéis,
    mais duros, mais ferozes
  • 0:57 - 1:01
    e sabia-se que Rocky Infelice
    era alguém a ter em conta.
  • 1:01 - 1:04
    Chamávamos "B" a Jahoda,
    toda a gente o tratava assim.
  • 1:04 - 1:08
    Era um antigo jornalista,
    brilhante com as palavras.
  • 1:09 - 1:13
    Era um computador,
    fazia contas de cabeça.
  • 1:13 - 1:17
    Memorizava números,
    calculava probabilidades,
  • 1:17 - 1:19
    não se esquecia de nada.
  • 1:19 - 1:22
    Mas, no fundo, no seu coração,
    era um homem decente.
  • 1:22 - 1:26
    Ao fim de muitos anos proveitosos,
    Rocky tornou-se muito irritado
  • 1:26 - 1:28
    porque havia agentes de apostas
    renegados em Chicago.
  • 1:28 - 1:31
    Eram tipos independentes,
    que não se encaixavam no sistema
  • 1:31 - 1:33
    e isso era uma coisa muito má.
  • 1:33 - 1:35
    Rocky ordenou a Jahoda
  • 1:35 - 1:39
    para apanhar alguns desses tipos
    nalguma vigarice
  • 1:39 - 1:41
    e depois livrar-se deles.
  • 1:41 - 1:45
    "Dá cabo deles", disse a Rocky
    "e não olhes para trás!"
  • 1:45 - 1:50
    Um desses agentes de apostas
    foi assassinado na cozinha de B.J.
  • 1:50 - 1:52
    Foi uma coisa sanguinária.
  • 1:52 - 1:55
    Ele não aguentou mais e, em 1989,
  • 1:55 - 1:58
    aceitou que os federais
    lhe pusessem uma escuta
  • 1:58 - 2:00
    para apanharem Rocky e o seu grupo
  • 2:00 - 2:03
    e, acreditem, era a primeira vez
    que isso acontecia em Chicago.
  • 2:03 - 2:07
    Ninguém penetrava no Grupo de Chicago
    e em todo o gangue de rua
  • 2:07 - 2:10
    mas Bill Jahoda fê-lo,
    correndo grandes riscos.
  • 2:11 - 2:14
    A primeira vez que ele pôs
    um microfone ligado,
  • 2:14 - 2:17
    pensou que seria
    um pequeno rádio transístor,
  • 2:17 - 2:22
    mas era do tamanho de um maço de cigarros
    e puseram-no nas costas dele.
  • 2:22 - 2:24
    Ele disse que parecia um tijolo.
  • 2:24 - 2:27
    Quando foi à primeira reunião
    sob disfarce,
  • 2:27 - 2:30
    disse que se sentia como um defunto
    no dia do enterro,
  • 2:30 - 2:32
    achava que toda a gente percebia.
  • 2:33 - 2:37
    Ao fim de seis semanas de testemunhos
    incríveis, no tribunal federal,
  • 2:37 - 2:41
    incluindo aquele momento memorável
    a que eu assisti,
  • 2:41 - 2:43
    quando até o juiz se riu,
  • 2:43 - 2:47
    com a descrição que B fez de Rosa Laws
    uma conhecida madama de Chicago
  • 2:47 - 2:52
    e como ela fornecia as "meninas"
    para os rapazes do gangue de Rocky.
  • 2:52 - 2:55
    Jahoda chamou-lhe
    "revigoração horizontal".
  • 2:55 - 2:57
    (Risos)
  • 2:57 - 3:00
    B.J. Jahoda apanhou
    todo o gangue da rua.
  • 3:00 - 3:05
    Rocky foi para a prisão, B escondeu-se
    sob proteção de testemunhas.
  • 3:06 - 3:09
    E decidiu dar-me a primeira
    entrevista na TV.
  • 3:09 - 3:11
    Ficámos aterrorizados.
  • 3:11 - 3:13
    A Máfia queria matá-lo.
  • 3:13 - 3:16
    Tínhamos de ser cuidadosos
    quanto ao local do encontro.
  • 3:16 - 3:20
    Decidimos ser num hotel no Wisconsin,
    fora do bairro norte de Illinois.
  • 3:20 - 3:22
    Mas como sabem, não viajamos
    à velocidade da luz.
  • 3:22 - 3:26
    Por isso tínhamos dois operadores
    de imagem, três produtores e eu.
  • 3:26 - 3:31
    Se alguém via as notícias
    do Canal 5, podiam reconhecer-me.
  • 3:31 - 3:35
    Estávamos preocupados, com medo
    de o levarmos para a morte
  • 3:35 - 3:38
    e penso que B também estava
    muito preocupado com isso.
  • 3:38 - 3:40
    Felizmente, ele não foi assassinado.
  • 3:40 - 3:43
    A entrevista, tenho de confessar,
  • 3:43 - 3:45
    foi um espanto!
  • 3:45 - 3:47
    Como as pessoas lhe chamavam uma ratazana,
  • 3:47 - 3:50
    nós chamámos-lhe o "Diário duma Ratazana".
  • 3:50 - 3:53
    B.J. Jahoda fez o seu dever cívico
  • 3:53 - 3:56
    e deixou de consentir
    que matassem pessoas
  • 3:56 - 3:57
    mas foi uma coisa muito difícil.
  • 3:57 - 4:00
    Quando a entrevista estava
    quase no fim, eu disse:
  • 4:01 - 4:04
    "Ainda hoje receias pela tua vida?"
  • 4:04 - 4:07
    E ele disse: "Vou pôr
    as coisas deste modo.
  • 4:07 - 4:11
    "Eles começariam por arrancar-me
    os olhos com uma colher de chá".
  • 4:12 - 4:16
    Lição dois:
    alguém pode querer matar-nos.
  • 4:17 - 4:21
    A minha vizinha do lado chamou-me
    uma manhã, histérica e disse:
  • 4:21 - 4:25
    "Quem são aqueles tipos nas traseiras
    com armas debaixo dos braços?"
  • 4:25 - 4:26
    (Risos)
  • 4:27 - 4:31
    Foi uma longa história que começa
    com um tipo chamado Jeff Fort
  • 4:31 - 4:34
    Fort está agora numa prisão federal,
  • 4:34 - 4:36
    tem entrado e saído durante muitos anos.
  • 4:36 - 4:39
    Mas até hoje é recordado
  • 4:39 - 4:43
    como um dos líderes do gangue
    mais temido e mais célebre de Chicago.
  • 4:43 - 4:45
    Era filho da Grande Migração.
  • 4:45 - 4:48
    Foi de Abderdeen, Mississippi
  • 4:49 - 4:53
    nos anos 50, para Woodlawn
    no lado sul de Chicago.
  • 4:53 - 4:55
    Foi estranho, porque era magrizela,
  • 4:55 - 4:58
    semianalfabeto, quando muito,
  • 4:58 - 5:00
    mas era mágico.
  • 5:00 - 5:01
    Era um líder.
  • 5:01 - 5:05
    Arrastou milhares de seguidores
    nos anos 60 e 70.
  • 5:05 - 5:07
    Chamavam-lhe o "Anjo".
  • 5:07 - 5:10
    Nos anos da Guerra contra a Pobreza,
    de Lyndon Johnson,
  • 5:10 - 5:14
    Jeff Fort obteve parte desse dinheiro
    federal, cerca de um milhão de dólares,
  • 5:14 - 5:19
    destinado a organizações comunitárias
    e a pessoas com liderança natural.
  • 5:19 - 5:23
    Enganou o governo, roubou o dinheiro,
    foi para a prisão federal.
  • 5:24 - 5:28
    Mas tinha a esperteza suficiente
    para perceber, na prisão federal,
  • 5:28 - 5:34
    que as organizações religiosas
    gozavam de certa proteção constitucional.
  • 5:34 - 5:37
    Assim, pensou: "Ah! Vou formar
    uma religião, não um gangue!"
  • 5:38 - 5:43
    Veio a ser conhecido por El Rukns,
    uma organização religiosa muçulmana.
  • 5:43 - 5:47
    Quando saiu da prisão,
    Jeff voltou às ruas de Chicago
  • 5:47 - 5:49
    com o seu El Rukns.
  • 5:49 - 5:55
    Os Rukns não eram só pequenos grupos
    mortíferos, também eram secretos.
  • 5:55 - 6:00
    E o governo teve a maior dificuldade,
    durante anos, em se infiltrar neles,
  • 6:01 - 6:04
    Jeff rapidamente voltou para a prisão
    com uma acusação diferente,
  • 6:04 - 6:06
    foi uma acusação de drogas.
  • 6:06 - 6:10
    Para além de ser um líder religioso
    era muito bom ao telefone.
  • 6:10 - 6:13
    Assim, a partir duma cabina telefónica,
  • 6:14 - 6:18
    durante 3500 horas de escutas,
    os federais ouviram-no
  • 6:18 - 6:22
    a instruir os seus seguidores
    a fazerem um acordo com Muammar Gaddafi.
  • 6:22 - 6:24
    E foram à Líbia,
  • 6:24 - 6:27
    porque, como eram muçulmanos,
    queriam conhecer Gaddafi.
  • 6:27 - 6:31
    Por 2,5 milhões de dólares,
    o grupo de Jeff compromete-se
  • 6:31 - 6:35
    a praticar atos de terrorismo interno
  • 6:35 - 6:37
    e abater aviões no céu.
  • 6:38 - 6:40
    Os federais apanharam-no
  • 6:40 - 6:44
    e ele teve problemas terríveis
    naquele julgamento.
  • 6:44 - 6:46
    Entretanto, eu estava a fazer
    um documentário sobre ele,
  • 6:46 - 6:48
    intitulado "O anjo do medo".
  • 6:48 - 6:49
    O telefone tocou lá em casa.
  • 6:49 - 6:52
    Era o homem de mão do El Rukn,
    chamado Billy Doyle,
  • 6:52 - 6:54
    uma pessoa que não liga
    para casa de jornalistas,
  • 6:54 - 6:56
    por isso eu percebi
    que eu estava em apuros.
  • 6:57 - 7:00
    Liguei à NBC, liguei aos federais
    e liguei à polícia.
  • 7:00 - 7:03
    Eu não queria ligar a ninguém,
    porque, enquanto repórter,
  • 7:03 - 7:04
    não pertencemos a nenhum clube.
  • 7:04 - 7:06
    A NBC enviou-me proteção,
  • 7:06 - 7:09
    os federais e a polícia
    estavam a vigiar a casa.
  • 7:09 - 7:12
    O sistema de segurança que instalaram
    tinha um botão de alarme
  • 7:13 - 7:15
    parecido com o interruptor
    da porta duma garagem.
  • 7:15 - 7:17
    Se o pressionarmos com o dedo,
  • 7:17 - 7:20
    cria um sinal de emergência
    e a polícia aparece em nossa casa.
  • 7:20 - 7:23
    Uma manhã, estou na banheira
    com o meu filho de seis meses
  • 7:24 - 7:27
    e o mais velho, de dois anos, entra
    na casa de banho e diz: "Olha, mamã!"
  • 7:27 - 7:28
    (Risos)
  • 7:28 - 7:31
    Eu sabia que tinha 30 segundos
  • 7:31 - 7:35
    para tirar a máscara dos olhos
    ou para vestir um roupão,
  • 7:35 - 7:37
    porque, daí a 30 segundos,
  • 7:37 - 7:39
    a polícia estaria à porta,
    a tocar à campainha.
  • 7:40 - 7:43
    Quando abri a porta,
    havia dois homens em posição de tiro.
  • 7:44 - 7:49
    Tinham corrido pelo cimento húmido
    do vizinho do lado,
  • 7:49 - 7:52
    onde estavam a reparar os passeios,
    tinham cimento nos sapatos.
  • 7:52 - 7:55
    E eu disse: "Desculpem!
    Lamento muito! Lamento muito!"
  • 7:56 - 7:58
    No dia seguinte, liguei ao advogado
    de Jeff e disse-lhe:
  • 7:58 - 8:01
    "Diga-lhe que ele fez um erro tremendo".
  • 8:01 - 8:03
    O advogado disse:
    "Jeff diz que lamenta".
  • 8:03 - 8:06
    Mas eu sabia que tinha
    de pedir desculpa a mais alguém.
  • 8:06 - 8:07
    No dia seguinte de manhã,
  • 8:07 - 8:12
    agarrei nos miúdos, o bebé às costas,
    o Josh ao pé de mim.
  • 8:12 - 8:14
    Metemo-nos num táxi, fomos
    ao Dunkin' Donuts,
  • 8:14 - 8:15
    arranjámos 12 dúzias de dónutes,
  • 8:15 - 8:18
    metemo-nos num táxi,
    fomos até ao posto do 18.º bairro.
  • 8:18 - 8:22
    Uma prostituta e um bêbado
    mantinham a porta aberta.
  • 8:22 - 8:26
    Entrámos no posto do 18.º bairro,
    pus Josh em cima da secretária
  • 8:26 - 8:29
    e disse: "Josh, diz ao sargento
    que lamentamos muito".
  • 8:29 - 8:30
    (Risos)
  • 8:30 - 8:33
    O polícia, que tinha sotaque
    irlandês, claro, diz:
  • 8:33 - 8:35
    "Minha senhora, não seja
    tão ríspida com o rapaz!"
  • 8:35 - 8:36
    (Risos)
  • 8:36 - 8:39
    Lição número três:
    preparem-se para serem pouco populares.
  • 8:39 - 8:43
    Com os anos, publicámos histórias
    sobre pessoas muito famosas.
  • 8:43 - 8:46
    Isso incluiu Michael Jordan
    no auge da sua carreira,
  • 8:46 - 8:49
    e Barack Obama no início da sua histórica
    ascensão para a presidência.
  • 8:50 - 8:53
    Atualmente, no The Sun-Times
    trabalhamos numa história
  • 8:53 - 8:55
    sobre o sobrinho do clã Daley
  • 8:55 - 8:57
    e se ele obteve tratamento especial
  • 8:57 - 9:01
    numa altercação que resultou
    na morte de um jovem em 2004
  • 9:01 - 9:03
    da qual ele não foi acusado.
  • 9:03 - 9:06
    Todas estas três histórias geraram
    grande controvérsia para nós.
  • 9:06 - 9:11
    A caridade de Jordan era uma espécie
    de relações públicas para ele;
  • 9:11 - 9:16
    só uma minúscula percentagem
    era destinada aos necessitados.
  • 9:16 - 9:19
    Obama tinha um angariador de fundos
    bem relacionado, chamado Tony Rezko
  • 9:19 - 9:22
    de quem não queria falar
    durante aquela primeira campanha,
  • 9:22 - 9:24
    mas nós queríamos.
  • 9:24 - 9:28
    Levámos 18 meses a convencê-lo
    a ir à nossa redação e explicar isso.
  • 9:29 - 9:34
    Houve um promotor especial
    nomeado no processo do sobrinho Daley
  • 9:34 - 9:37
    e do jovem que morreu,
    David Koschman.
  • 9:37 - 9:40
    Sofremos pressões
    em todas estas notícias
  • 9:40 - 9:43
    de todo o tipo de pessoas,
    mas fizemos as histórias na mesma
  • 9:44 - 9:48
    porque é um privilégio
    ser repórter.
  • 9:48 - 9:52
    Em troca desse privilégio, digo sempre
    aos estudantes de jornalismo,
  • 9:52 - 9:55
    que têm de abdicar de alguns
    dos direitos normais enquanto cidadãos.
  • 9:55 - 9:57
    Ou seja, não pertencemos
    a nenhum partido político,
  • 9:57 - 10:00
    nem a nenhum
    grupo especial de interesses
  • 10:00 - 10:03
    e, por vezes, não somos convidados
    para jantar em muitos lugares
  • 10:03 - 10:05
    porque as pessoas
    não querem falar connosco.
  • 10:05 - 10:06
    E sabem uma coisa?
  • 10:06 - 10:08
    Tudo bem.
  • 10:08 - 10:10
    Lição número quatro:
  • 10:10 - 10:13
    preparem-se para vos darem
    mais crédito do que merecem.
  • 10:13 - 10:16
    Em 1997, deixei o meu emprego na NBC
  • 10:16 - 10:19
    e o apresentador meu colega,
    Ron Magers, fez o mesmo.
  • 10:19 - 10:23
    Naquela época, a NBC tinha uma gestão
    muito diferente, agora já não é a mesma.
  • 10:23 - 10:26
    Mas tinham decidido
    animar mais os noticiários
  • 10:26 - 10:30
    e achavam que isso seria mais bem feito
  • 10:31 - 10:33
    contratando Jerry Springer
    como comentador
  • 10:33 - 10:35
    que nós apresentaríamos
    no noticiário das 10 horas.
  • 10:35 - 10:40
    Ron e eu sentimos que isso iria
    dar cabo da integridade e da credibilidade
  • 10:40 - 10:42
    que tínhamos criado.
  • 10:43 - 10:46
    Protestámos que seria um erro.
  • 10:46 - 10:48
    Perdemos, eles ganharam.
  • 10:49 - 10:50
    Fomo-nos embora.
  • 10:50 - 10:52
    O nosso público revoltou-se,
  • 10:52 - 10:54
    ligaram tantas vezes
    que derreteram a central telefónica,
  • 10:54 - 10:56
    entraram dez mil chamadas e, bum!
  • 10:56 - 10:58
    Ron e eu atraímos muitas atenções.
  • 10:58 - 11:00
    Publicaram histórias sobre nós
    nos jornais nacionais,
  • 11:01 - 11:03
    fizeram-nos elogios e todas essas coisas.
  • 11:03 - 11:05
    A realidade é que, todos os dias,
  • 11:05 - 11:09
    há pessoas que abandonam
    os seus empregos, por princípios.
  • 11:09 - 11:12
    Eu recebi 2000 cartas, no mínimo.
  • 11:12 - 11:15
    Uma delas era da mulher
    de um funcionário
  • 11:15 - 11:18
    do Departamento dos Serviços
    de Crianças e Família,
  • 11:18 - 11:23
    um tipo que se recusara a alojar
    crianças agredidas num abrigo em Chicago
  • 11:23 - 11:26
    porque achava que elas iriam ser
    assediadas sexualmente nesse abrigo.
  • 11:26 - 11:28
    Foi despedido.
  • 11:28 - 11:32
    Fui um dia à mercearia
    e o talhante lá, chamado Bruno,
  • 11:32 - 11:35
    contou-me como ele, o único apoio
    da mulher e dos filhos,
  • 11:35 - 11:39
    recusara, numa outra loja onde trabalhara,
    a roubar no peso da carne,
  • 11:39 - 11:41
    a pôr o dedo na balança.
  • 11:43 - 11:45
    E fora despedido.
  • 11:45 - 11:50
    O assistente social e o talhante
    não tiveram a publicidade que nós tivemos,
  • 11:50 - 11:53
    não atraíram a atenção,
    ninguém escreveu uma notícia sobre eles.
  • 11:53 - 11:58
    E correram riscos
    muito maiores do que nós,
  • 11:58 - 12:02
    por recompensas muito menores
    do que as de Ron e as minhas.
  • 12:03 - 12:07
    Um dia depois de eu deixar a NBC,
    deixaram-me uma carta lá em casa.
  • 12:08 - 12:11
    Sem selo, sem endereço do remetente.
  • 12:11 - 12:14
    Era de B.J. Jahoda,
    que tinha sabido pelos noticiários.
  • 12:14 - 12:18
    Estava sob proteção de testemunhas
    e a carta dizia assim:
  • 12:19 - 12:24
    "Cara Doll, por vezes, temos
    de deixar passar. Saudades, B."
  • 12:26 - 12:27
    Lição cinco.
  • 12:29 - 12:33
    Estejam preparados para
    aquilo que não estão preparados.
  • 12:34 - 12:37
    Há um sentimento de missão
    para muitos de nós
  • 12:37 - 12:40
    na minha profissão,
    um sentimento de objetivo.
  • 12:40 - 12:42
    Tal como uma enfermeira das urgências,
  • 12:42 - 12:45
    que corre sempre
    que acontece qualquer coisa,
  • 12:45 - 12:49
    ou um bombeiro que ouve
    a sirene de incêndio e acorre,
  • 12:50 - 12:53
    não é só porque devemos fazê-lo,
  • 12:53 - 12:55
    ou porque fomos treinados para isso.
  • 12:55 - 12:58
    É porque queremos fazê-lo,
    porque acreditamos em fazer isso.
  • 12:58 - 13:01
    A 11 de setembro, eu estava
    em Nova Iorque,
  • 13:01 - 13:04
    a trabalhar para "60 Minutes"
    e para "60 Minutes II".
  • 13:04 - 13:06
    Como americana do Meio Oeste,
    fui das primeiras a chegar,
  • 13:06 - 13:08
    — os nova-iorquinos chegaram depois.
  • 13:08 - 13:12
    Havia televisores por todos os lados,
  • 13:12 - 13:14
    e só havia ali meia dúzia de pessoas.
  • 13:14 - 13:16
    Alguém gritou: "Oh, meu Deus!"
  • 13:16 - 13:21
    quando vimos na TV o primeiro avião
    a atingir a primeira torre.
  • 13:21 - 13:25
    Eu já era jornalista há tempo
    suficiente para saber que,
  • 13:25 - 13:27
    quando acontece uma coisa em grande,
  • 13:27 - 13:30
    temos de lá chegar
    o mais depressa possível,
  • 13:30 - 13:33
    porque a polícia fecha o perímetro à volta
  • 13:33 - 13:37
    e não podemos aproximar-nos
    para ver tudo o que precisamos de ver.
  • 13:37 - 13:42
    Dirigi-me às Torres Gémeas
    armada com o meu fiel telemóvel.
  • 13:42 - 13:45
    Nessa altura, a segunda torre
    já tinha sido atingida.
  • 13:45 - 13:51
    Eu estava na via rápida de West Side
    com milhares de pessoas a afastarem-se.
  • 13:51 - 13:53
    Lembro-me de uma me ter dito:
    "Pare, volte para trás".
  • 13:53 - 13:56
    Com aquele estúpido sentimento
    de invencibilidade que temos
  • 13:56 - 13:58
    quando fazemos o trabalho
    que fazemos, eu disse:
  • 13:58 - 14:00
    "Sou jornalista da CBS, não se preocupe".
  • 14:00 - 14:02
    (Risos)
  • 14:02 - 14:03
    E continuei.
  • 14:04 - 14:06
    Pensava que o meu telemóvel funcionaria,
  • 14:06 - 14:10
    mas milhares de telemóveis
    a ligarem freneticamente
  • 14:10 - 14:13
    deram cabo de todos os sistemas.
  • 14:13 - 14:18
    Eu estava na via rápida de West Side
    quando vi a primeira torre
  • 14:18 - 14:20
    a desabar.
  • 14:21 - 14:23
    E continuei.
  • 14:23 - 14:28
    Cheguei mais perto pela rua Oeste
    e havia cinzas no chão
  • 14:28 - 14:31
    havia bombeiros, mostrei-lhes
    a minha carteira de repórter
  • 14:31 - 14:33
    e um dos bombeiros disse:
  • 14:33 - 14:37
    "Ande pelo meio da rua
    porque há coisas a cair".
  • 14:37 - 14:39
    Havia macas, mas não tinham ninguém
  • 14:39 - 14:41
    e os paramédicos estavam à espera.
  • 14:41 - 14:46
    Foi enquanto eu avançava
    que senti o chão a tremer.
  • 14:46 - 14:51
    O bombeiro à minha frente
    vira-se e grita: "Fuja!"
  • 14:51 - 14:55
    Vi uma bola de fogo a sair
    da base do edifício,
  • 14:55 - 14:57
    provavelmente da explosão
    do combustível do avião,
  • 14:57 - 15:00
    enquanto o edifício começou a desabar.
  • 15:00 - 15:02
    Não há tempo para
    observar coisas daquelas,
  • 15:02 - 15:04
    dei meia volta, caí,
  • 15:04 - 15:09
    ele agarrou-me pela cintura,
    pôs-me de pé e corremos.
  • 15:09 - 15:12
    Ele teve o sangue frio
  • 15:12 - 15:16
    de procurar outro edifício
    que tinha uma saliência de mármore
  • 15:16 - 15:21
    empurrou-me contra ele
    e cobriu o meu corpo com o dele.
  • 15:21 - 15:26
    Eu sentia o coração dele a bater
    contra a minha coluna
  • 15:26 - 15:29
    porque estava a bater desalmadamente.
  • 15:30 - 15:34
    A luz da manhã tornara-se
    totalmente escura num segundo.
  • 15:34 - 15:37
    Havia partículas por toda a parte.
  • 15:37 - 15:40
    Eram partículas de pessoas,
  • 15:40 - 15:44
    de secretárias, de edifícios,
  • 15:44 - 15:47
    de canetas e de coisas
    e não conseguíamos ver nada.
  • 15:47 - 15:51
    Não víamos a mão em frente dos olhos
    porque estava tudo negro.
  • 15:51 - 15:54
    Pensei para mim: "É assim
    que os bombeiros morrem.
  • 15:55 - 15:59
    "Não são as chamas, é o fumo,
    porque não se pode respirar".
  • 15:59 - 16:03
    O bombeiro, quando percebemos
    que o edifício tinha ruído,
  • 16:03 - 16:07
    entregou-me a um polícia de Nova Iorque
  • 16:07 - 16:11
    que, literalmente, agarrou na minha mão,
    e tapámos a cara
  • 16:12 - 16:16
    tentando avançar na direção da luz,
    encontrar uma saída.
  • 16:17 - 16:22
    Nem pensei perguntar
    ao bombeiro como se chamava,
  • 16:22 - 16:26
    não pedi ao bombeiro
    que me dissesse quem era.
  • 16:26 - 16:30
    Isso persegue-me até hoje.
  • 16:30 - 16:34
    Que tipo de repórter eu era
    que nem perguntara o nome dele!
  • 16:34 - 16:36
    Depois, pergunto sempre a toda a gente,
  • 16:36 - 16:37
    perguntei ao agente da polícia,
  • 16:37 - 16:40
    perguntei às pessoas
    que me deram oxigénio.
  • 16:40 - 16:44
    Perguntei aos paramédicos
    que me acompanharam na rua,
  • 16:45 - 16:47
    perguntei o nome do condutor do autocarro
  • 16:47 - 16:53
    que me deixou desviar o autocarro dele
    para ir ao centro de radiodifusão da CBS.
  • 16:54 - 16:56
    Só não sei o nome do bombeiro.
  • 16:57 - 16:58
    Não sei se ele sobreviveu.
  • 16:58 - 17:03
    Ele voltou para trás,
    para o local do segundo desabamento.
  • 17:04 - 17:06
    Procurei-o, escrevi cartas às autoridades,
  • 17:06 - 17:10
    contei esta história muitas vezes
    na esperança de que um dia, algures,
  • 17:10 - 17:12
    alguém soubesse quem ele é.
  • 17:13 - 17:16
    Cheguei à CBS,
    sentei-me ao lado de Dan Rather,
  • 17:16 - 17:21
    coberta de pó,
    e contei o que tinha visto.
  • 17:22 - 17:25
    A lição maior que aprendi,
  • 17:25 - 17:30
    de todas as notícias, de todos os dias,
    de todos os anos que eu faço isto,
  • 17:30 - 17:34
    é que é um privilégio ser jornalista,
  • 17:35 - 17:36
    fazer este trabalho.
  • 17:37 - 17:38
    Muito obrigada.
  • 17:38 - 17:40
    (Aplausos)
Title:
Lições de jornalismo de investigação | Carol Marin | TEDxMidwest
Description:

Carol Marin, jornalista veterana de investigação, explora o interesse profundamente enraizado na sua audiência quanto a criminosos e acontecimentos catastróficos. É cativante quando conta histórias incríveis de crime organizado e corrupção política em Chicago, assim como o medo e o caos do dia em que correu para as Torres Gémeas na cidade de Nova Iorque.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

more » « less
Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
17:47

Portuguese subtitles

Revisions