< Return to Video

Setenta e sete anos de praia | Jorge Paulo Lemann | TEDxRio

  • 0:28 - 0:31
    Primeiro, eu vou dar
    umas boas notícias pra vocês.
  • 0:31 - 0:35
    Eu passei os últimos dois dias
    entrevistando jovens
  • 0:35 - 0:39
    para o sistema de bolsas
    da Fundação Estudar.
  • 0:39 - 0:44
    E eu fico impressionando todo ano
    com como os jovens estão melhorando,
  • 0:44 - 0:48
    quer dizer, a qualidade
    das pessoas é um espetáculo.
  • 0:48 - 0:53
    Tem jovem de 17 anos, aceito nas melhores
    faculdades dos Estados Unidos.
  • 0:55 - 0:57
    Espetaculares, realmente.
  • 0:57 - 1:01
    E a melhor notícia é que, hoje em dia,
  • 1:01 - 1:07
    muitos desses jovens estão interessados
    em política ou ir para o setor público.
  • 1:07 - 1:10
    Na minha época, ninguém queria
    ir para o governo.
  • 1:10 - 1:13
    Agora, eu estive em Harvard,
    três semanas atrás,
  • 1:13 - 1:16
    também num seminário pra brasileiros,
  • 1:16 - 1:20
    e, no final, uns jovens lá
  • 1:20 - 1:24
    convidaram aqueles que queriam ir
    para o setor público,
  • 1:24 - 1:28
    pra subirem no palco pra tirar um retrato,
    pra, daqui a dez anos,
  • 1:28 - 1:32
    olhar quem tinha realmente feito
    alguma coisa no setor público,
  • 1:32 - 1:38
    e subiram uns 40 jovens brasileiros,
    das melhores escolas americanas.
  • 1:38 - 1:43
    Então, eu acho que o Brasil vai melhorar
    quando esse pessoal voltar
  • 1:43 - 1:47
    e esse pessoal tiver cargos importantes
  • 1:47 - 1:52
    e, assim, substituem o pessoal
    que está aí agora.
  • 1:52 - 1:55
    Bom, vamos lá, à minha palestra.
  • 1:55 - 1:58
    Bom, como eu invisto muito em educação,
  • 1:58 - 2:00
    acreditando que esta
    é a melhor forma de gerar
  • 2:00 - 2:04
    maior igualdade
    de oportunidades para todos,
  • 2:04 - 2:07
    acho que vocês imaginam
    que a minha própria educação
  • 2:07 - 2:13
    tenha sido formal,
    estruturada e bem planejada.
  • 2:13 - 2:17
    Como vocês verão, não foi bem assim,
    mas vamos à minha história.
  • 2:17 - 2:24
    Eu nasci no Rio e, dos meus 76 anos,
    morei uns 50 anos aqui no Rio.
  • 2:24 - 2:28
    Então, eu sou realmente carioca.
  • 2:28 - 2:32
    Eu vou falar um pouco da grande
    influência do Rio, positiva e negativa,
  • 2:32 - 2:34
    na minha formação.
  • 2:34 - 2:39
    Espero que vocês na plateia tirem
    algum proveito de meu aprendizado
  • 2:39 - 2:43
    e que sirva para os que têm filhos
    e para a futura Escola Eleva
  • 2:43 - 2:48
    incorporar algo do meu aprendizado
    na sua filosofia de ensino.
  • 2:49 - 2:56
    Basicamente, fui educado com muita
    liberdade, autonomia, praticando espotes,
  • 2:56 - 3:01
    com a necessidade de me adaptar
    à convivência com gente diversa,
  • 3:01 - 3:07
    assumindo riscos e a constante
    necessidade de tomar decisões.
  • 3:07 - 3:11
    Ou seja, tive um grau
    de liberdade e independência
  • 3:11 - 3:18
    e situações de me virar por conta própria
    maior do que a maioria dos meus colegas.
  • 3:18 - 3:23
    Acho que essa liberdade
    foi um fator positivo na minha vida.
  • 3:23 - 3:29
    Do lado negativo, faltou disciplina,
    melhor conhecimento das ciências exatas
  • 3:29 - 3:31
    e uma visão de longo prazo,
  • 3:31 - 3:35
    fatores que só pude
    tentar corrigir mais tarde.
  • 3:36 - 3:38
    Menciono, a seguir, algumas memórias.
  • 3:38 - 3:43
    Eu morava no Leblon. Aos cinco anos,
    me botaram na escola americana.
  • 3:43 - 3:46
    Usualmente, teria ido
    para uma escola alemã.
  • 3:46 - 3:49
    Meu pai era suíço
    e minha mãe, filha de suíços.
  • 3:49 - 3:54
    Mas, como a Segunda Guerra tinha acabado
    e com a derrota dos alemães,
  • 3:54 - 3:56
    fui para uma escola americana.
  • 3:56 - 4:01
    Entre os meus colegas de rua e esporte,
    eu me sentia diferente.
  • 4:01 - 4:06
    Todos estudavam em escolas brasileiras
    e eu, numa estrangeira.
  • 4:06 - 4:11
    Aprendi inglês cedo, o que se tornou
    uma grande vantagem mais tarde.
  • 4:11 - 4:15
    Tive muito mais acesso no mundo
    por falar inglês bem.
  • 4:15 - 4:19
    A escola americana
    não era conhecida por sua disciplina,
  • 4:19 - 4:26
    mas, em compensação, o quadro
    de professores era diverso e divertido.
  • 4:26 - 4:31
    Meu professor de matemática e física
    era um húngaro fugido do comunismo.
  • 4:31 - 4:36
    O de educação física, que dobrava
    como professor de biologia,
  • 4:36 - 4:41
    era um russo, o galã da escola,
    também fugido do comunismo.
  • 4:41 - 4:45
    A professora de história
    fugiu dos nazistas.
  • 4:45 - 4:48
    Minha professora
    do primeiro ano, mais tarde,
  • 4:48 - 4:53
    fundou o Chapeuzinho Vermelho,
    escola que ficou famosa no Rio.
  • 4:53 - 4:58
    A professora de francês veio para o Brasil
    perseguindo sua paixão.
  • 4:58 - 5:01
    Nunca casou, mas viveu até 106 anos, poxa.
  • 5:02 - 5:04
    E havia os americanos.
  • 5:04 - 5:07
    Em geral, eram americanos
    de passagem pelo Rio de Janeiro,
  • 5:07 - 5:12
    que iam lá ensinar na escola,
    fazendo um bico.
  • 5:13 - 5:17
    Então, era uma escola
    cheia de professores amadores,
  • 5:17 - 5:20
    mas uma diversidade incrível de pessoas.
  • 5:20 - 5:25
    Entre os alunos, a variedade
    de nacionalidades era grande também,
  • 5:25 - 5:27
    que, somados aos professores,
  • 5:27 - 5:31
    permitiam uma interação
    com culturas diversas.
  • 5:32 - 5:35
    Havia pouca rigidez
    e disciplina na escola.
  • 5:35 - 5:40
    O ambiente livre gerava
    a oportunidade de ser criativo,
  • 5:40 - 5:42
    de se virar por conta própria,
  • 5:42 - 5:45
    qualidades que certamente
    foram fundamentais
  • 5:45 - 5:48
    no meu futuro como empreendedor.
  • 5:48 - 5:51
    A interação com diversas culturas
  • 5:51 - 5:56
    tornou mais fácil a minha expansão
    para o exterior, nos negócios,
  • 5:56 - 5:58
    anos mais tarde.
  • 6:01 - 6:04
    Lembro-me com saudades
    dessa época do Rio de Janeiro.
  • 6:04 - 6:09
    Com oito anos, eu podia ir para a escola
    sozinho, a pé ou de bicicleta.
  • 6:09 - 6:12
    Que aprendizado maravilhoso,
    para um jovem dessa idade,
  • 6:12 - 6:15
    poder andar sozinho na rua.
  • 6:15 - 6:19
    Risco de sequestro ou roubo
    nem passava pela minha cabeça.
  • 6:19 - 6:23
    O perigo maior eram os meninos
    de territórios diferentes,
  • 6:23 - 6:29
    que ameaçavam, caso cruzássemos
    áreas que eles considerassem deles.
  • 6:29 - 6:34
    A solução era mudar a rotina,
    ou ir de bicicleta.
  • 6:34 - 6:38
    Na minha infância,
    o esporte era um foco importante.
  • 6:38 - 6:43
    Eu jogava tênis, onde aprendi a competir,
    perder aprendendo,
  • 6:43 - 6:48
    a treinar, a ter a disciplina
    que me faltava na escola,
  • 6:48 - 6:53
    ter mais autocontrole
    e também a avaliar adversários.
  • 6:53 - 6:58
    Desde cedo, participava
    de torneios pelo Brasil afora.
  • 6:58 - 7:00
    Viajava sozinho e tinha de me virar,
  • 7:00 - 7:05
    uma riqueza de experiências
    na formação de um jovem.
  • 7:05 - 7:08
    Aos 12 anos, comecei
    a frequentar o Arpoador.
  • 7:08 - 7:14
    Como já havia dois outros Jorges na praia,
    o Jorge "francês" e o Jorge "grande",
  • 7:14 - 7:19
    eu passei a ser o Jorge "americano"
    porque estudava na escola americana.
  • 7:19 - 7:23
    Comecei a surfar e a pescar de mergulho.
  • 7:23 - 7:27
    Na época, o Arpoador era o centro
    da juventude avançada,
  • 7:27 - 7:31
    mas drogas ainda não tinham
    aparecido por lá.
  • 7:31 - 7:34
    Chegaram ao Arpoador anos mais tarde.
  • 7:34 - 7:37
    Eu, como era atleta
    e competia muito no tênis,
  • 7:37 - 7:42
    sempre estive imune às bebedeiras,
    festanças ou drogas.
  • 7:42 - 7:46
    As viagens de pesca para Búzios
    eram uma aventura.
  • 7:46 - 7:51
    Pegávamos uma barca para Niterói,
    um ônibus para Cabo Frio
  • 7:51 - 7:54
    e outro ônibus para Búzios.
  • 7:54 - 7:57
    Raramente a logística funcionava bem
  • 7:57 - 8:02
    e, muitas vezes, sobrávamos
    em lugares inesperados.
  • 8:02 - 8:08
    Surfar no Arpoador e viagens para pescar
    de mergulho em Cabo Frio e Angra
  • 8:08 - 8:12
    eram oportunidades excelentes de aprender.
  • 8:12 - 8:16
    A liberdade que meus pais me davam
    me obrigava a tomar decisões
  • 8:16 - 8:20
    e solucionar problemas,
    mesmo que fossem pequenos.
  • 8:20 - 8:26
    Estudar eu estudava, ler também eu lia,
    mas gostava mesmo era de ação:
  • 8:26 - 8:29
    tênis, surfe e aventuras.
  • 8:30 - 8:34
    Fico triste quando penso que, hoje em dia,
    é difícil ou impossível, no Rio,
  • 8:34 - 8:36
    para qualquer criança de oito anos,
  • 8:36 - 8:41
    ir a pé sozinha à escola
    ou frequentar o Arpoador aos 12 anos.
  • 8:41 - 8:47
    Essa necessidade de adaptação e de lidar
    com experiências e pessoas variadas
  • 8:47 - 8:50
    na minha infância
  • 8:50 - 8:54
    foi um fator muito construtivo
    no meu aprendizado.
  • 8:54 - 8:56
    Minha educação carioca
  • 8:56 - 9:01
    contribuiu para que eu me tornasse
    um eterno otimista.
  • 9:01 - 9:07
    Aliás, conheço mais otimistas
    bem-sucedidos do que pessimistas.
  • 9:07 - 9:13
    Para mim, o mundo tinha problemas,
    mas era lindo, estava sempre melhorando,
  • 9:13 - 9:16
    gerava oportunidades excepcionais
  • 9:16 - 9:21
    e as meninas do Arpoador
    e do Colégio São Paulo eram maravilhosas.
  • 9:21 - 9:22
    (Risos)
  • 9:26 - 9:30
    Bom, se essas minhas
    experiências de liberdade
  • 9:30 - 9:34
    não são aplicáveis no mesmo formato,
  • 9:34 - 9:38
    como as que eu pude ter,
  • 9:38 - 9:42
    recomendo muitos aos pais na plateia
    que encontrem outras formas
  • 9:42 - 9:47
    de proporcionar liberdade
    e opções de escolha aos filhos.
  • 9:47 - 9:50
    O mundo está mudando cada vez mais rápido
  • 9:50 - 9:55
    e crianças sem a possibilidade
    de experimentar e resolver
  • 9:55 - 9:58
    estarão em desvantagem.
  • 9:58 - 10:03
    Eu tenho muita preocupação com os pais
    que sempre estão muito preocupados
  • 10:03 - 10:06
    com a educação formal
    dos filhos e as notas...
  • 10:08 - 10:14
    Eu acho que tem muito mais numa boa
    educação do que o estudo formal.
  • 10:14 - 10:18
    Então, eu acho que a criança
    tem que correr uns riscos,
  • 10:18 - 10:22
    tem que fazer bobagens, tem que errar,
    e é assim que ela aprende.
  • 10:23 - 10:26
    Aos 17 anos, fui pra Harvard.
  • 10:26 - 10:29
    Deixei meu Arpoador querido para sempre.
  • 10:29 - 10:32
    Harvard foi uma dureza
    para um carioca da praia
  • 10:32 - 10:34
    que nunca havia estado nos Estados Unidos,
  • 10:34 - 10:37
    apesar de ter estudado
    na escola americana,
  • 10:37 - 10:41
    mas tinha aprendido
    a me virar e me adaptar.
  • 10:41 - 10:46
    Me virei e me formei,
    sem brilho, aos 20 anos.
  • 10:46 - 10:50
    Como me formei antes da minha classe,
    nunca peguei o meu diploma.
  • 10:50 - 10:54
    Em 2014, num evento em Harvard,
  • 10:54 - 10:57
    decidiram me entregar o diploma
    que eu nunca tinha pego.
  • 10:57 - 10:59
    (Risos)
  • 11:00 - 11:03
    A Duda estava lá, eu acho.
  • 11:04 - 11:11
    Bom, até que eu gostei de recebê-lo,
    com 53 anos de atraso.
  • 11:11 - 11:13
    Por que eu não peguei antes?
  • 11:13 - 11:17
    Não sei direito, mas talvez
    por uma certa implicância
  • 11:17 - 11:19
    com a educação formal demais.
  • 11:25 - 11:29
    Não que Harvard seja muito rígida,
    cada um estuda o que quer por lá,
  • 11:29 - 11:32
    mas, para um carioca criado
    com pouca disciplina,
  • 11:32 - 11:36
    todo aquele aparato universitário
    e burocrático era irritante.
  • 11:36 - 11:41
    Acredito muito em educação e em aprender,
    mas, em linhas gerais,
  • 11:41 - 11:46
    me preocupa a burocratização e rigidez
    dos sistemas existentes.
  • 11:46 - 11:50
    Como descrevi anteriormente,
    dou muito valor a experiências,
  • 11:50 - 11:55
    a oportunidades de tomar decisões
    e a errar para aprender.
  • 11:55 - 11:58
    Quanto a Harvard, vale a pena mencionar
  • 11:58 - 12:04
    que duas das maiores estrelas recentes,
    pessoas inovadoras no ramo de negócios,
  • 12:04 - 12:08
    chegaram a frequentar a faculdade,
    mas não se formaram:
  • 12:08 - 12:10
    o Bill Gates e o Mark Zuckerberg.
  • 12:10 - 12:15
    Resolveram que tinham coisas mais
    importantes para fazer ou aprender,
  • 12:15 - 12:18
    em vez de se formarem em Harvard.
  • 12:18 - 12:21
    Depois de Harvard, passei um ano
    jogando tênis na Europa,
  • 12:21 - 12:26
    o suficiente pra saber que não era
    aquilo que eu queria fazer,
  • 12:26 - 12:29
    apesar de gostar de jogar até hoje,
  • 12:29 - 12:32
    mas, pelo menos, joguei em alguns
    dos torneios mais conhecidos,
  • 12:32 - 12:35
    como Wimbledon,
    Roland-Garros e a Taça Davis
  • 12:36 - 12:40
    Retornando ao Rio, me juntei
    a um grupo de "Ivy Leaguers"
  • 12:40 - 12:42
    que havia fundado uma financeira.
  • 12:42 - 12:47
    Mais um baita aprendizado:
    falimos depois de quatro anos.
  • 12:47 - 12:50
    Gostava da dinâmica do mercado financeiro.
  • 12:50 - 12:53
    Continuei no mercado e me juntei
    a um novo empreendimento:
  • 12:53 - 12:56
    uma distribuidora de valores.
  • 12:56 - 12:59
    Não foi um fracasso,
    mas a sociedade não prosperou.
  • 13:00 - 13:04
    Compraram a minha participação
    e me retirei da sociedade.
  • 13:04 - 13:07
    Em 1971, com 31 anos,
  • 13:07 - 13:11
    juntei todas as minhas poupanças
    e montei o Garantia.
  • 13:11 - 13:14
    Já fazia dez anos que eu tinha me formado.
  • 13:14 - 13:18
    Já havia passado por duas
    experiências frustrantes,
  • 13:18 - 13:22
    mas, finalmente,
    as coisas começavam a andar.
  • 13:22 - 13:25
    Será que se eu tivesse tido
    mais disciplina,
  • 13:25 - 13:31
    mais planejamento de longo prazo,
    eu teria escapado dos fracassos?
  • 13:31 - 13:34
    É possível que sim, mas, por outro lado,
  • 13:34 - 13:38
    o meu desejo de liberdade
    e disposição para correr riscos
  • 13:38 - 13:43
    me mantinha na rota
    de tentar inovar, sonhar grande,
  • 13:43 - 13:47
    em vez de me contentar
    com um bom salário e segurança.
  • 13:55 - 13:58
    Em 1971, tive uma grande sorte.
  • 13:58 - 14:02
    Havia montado a corretora Garantia
    para operar em bolsa,
  • 14:02 - 14:07
    mas mal comprei a corretora
    e a bolsa despencou uns 70%.
  • 14:07 - 14:10
    O meu negócio previsto evaporou.
  • 14:10 - 14:16
    Na mesma época, o Banco Central decidiu
    criar o mercado de títulos governamentais,
  • 14:16 - 14:21
    um novo negócio que abriu a oportunidade
    para muitos jovens do mercado financeiro
  • 14:21 - 14:22
    de se provarem.
  • 14:23 - 14:25
    Até então, a sorte tinha sorrido pra mim,
  • 14:25 - 14:29
    em termos das ondas suicidas
    que eu havia surfado,
  • 14:29 - 14:32
    dos ataques de tubarão
    de que eu havia escapado
  • 14:32 - 14:35
    e dos assaltantes
    a que eu havia sobrevivido.
  • 14:35 - 14:38
    Agora, a sorte estava me dando
    uma oportunidade excepcional
  • 14:38 - 14:40
    no mundo dos negócios.
  • 14:40 - 14:44
    Eu, pessoalmente, acho que a sorte
    é o resultado de muito suor,
  • 14:44 - 14:50
    mas tenho um bom amigo que sempre diz que
    a sorte passa pela frente de todo mundo;
  • 14:50 - 14:52
    alguns a agarram, outros não.
  • 14:52 - 14:57
    Foi o que fiz: agarrei o "open market",
    que virou um negócio excepcional
  • 14:57 - 15:00
    para a construção de outros negócios.
  • 15:00 - 15:03
    Os negócios do Garantia iam bem,
  • 15:03 - 15:06
    mas a sociedade começou
    novamente a fraquejar.
  • 15:06 - 15:10
    Meus sócios originários
    queriam ser sócios,
  • 15:10 - 15:12
    mas não queriam trabalhar.
  • 15:12 - 15:17
    Tive de comprá-los e substituí-los
    por jovens promissores.
  • 15:17 - 15:20
    Depois de apanhar
    nas primeiras sociedades,
  • 15:20 - 15:24
    comecei a melhorar em termos
    de sociedade e associados,
  • 15:24 - 15:28
    mas sempre tendo de aprender
    através das dificuldades
  • 15:28 - 15:32
    e com a disposição para mudar
    ou tentar novamente.
  • 15:32 - 15:35
    Se tivesse tido uma educação
    muito rígida e formal,
  • 15:35 - 15:38
    dificilmente teria me ajustado
  • 15:38 - 15:43
    às necessidades constantes
    de mudança e adaptação.
  • 15:43 - 15:46
    Nessa época, minha vida,
  • 15:46 - 15:51
    com infância de muita liberdade
    e disposição para coisas novas e riscos,
  • 15:51 - 15:53
    começou a dar certo.
  • 15:53 - 15:57
    Em 1983, compramos o controle
    das Lojas Americanas.
  • 15:57 - 16:00
    Meus colegas do mercado financeiro,
  • 16:01 - 16:03
    que ganhavam rios de dinheiro
    com os juros altos,
  • 16:03 - 16:06
    achavam que estávamos loucos:
  • 16:06 - 16:10
    "Pra que comprar uma empresa,
    quando os juros são tão bons?"
  • 16:10 - 16:13
    Em 1989, compramos a Brahma.
  • 16:13 - 16:17
    Ela era tão maior do que nós
    que nos acusaram de sermos testa de ferro
  • 16:17 - 16:20
    de grupos internacionais.
  • 16:20 - 16:27
    A maioria dos meus colegas do mercado
    financeiro e suas empresas desapareceram.
  • 16:27 - 16:32
    Nós, com ativos mais sólidos,
    mais tarde, continuamos por aqui,
  • 16:32 - 16:37
    sempre prontos para melhorar, inovar
    e tentar fazer de maneira diferente.
  • 16:38 - 16:41
    Minha educação carioca
    teve algumas falhas.
  • 16:41 - 16:46
    Como estudei em escola americana,
    nunca fui muito bom em ciências exatas.
  • 16:46 - 16:51
    Faltou disciplina em geral no início
    da carreira, e visão de longo prazo.
  • 16:51 - 16:55
    O carioca não é um adepto de muita
    disciplina ou visão de longo prazo.
  • 16:55 - 16:59
    Fui tentando corrigir isso
    ao longo dos anos.
  • 16:59 - 17:04
    Em resumo, acredito
    numa boa educação formal,
  • 17:04 - 17:10
    mas não a deixe matar
    o aprendizado da rua ou praia,
  • 17:10 - 17:14
    a disposição de errar,
    de decidir, de inovar
  • 17:14 - 17:18
    e de tentar de novo,
    se houver uma derrota pelo caminho.
  • 17:18 - 17:22
    O meu aprendizado carioca teve falhas,
  • 17:22 - 17:27
    mas, felizmente, gerou oportunidades
    que foram agarradas,
  • 17:27 - 17:34
    e continuo um carioca otimista,
    bem-humorado e querendo sempre melhorar.
  • 17:34 - 17:35
    Obrigado.
  • 17:35 - 17:38
    (Aplausos)
Title:
Setenta e sete anos de praia | Jorge Paulo Lemann | TEDxRio
Description:

O empresário e investidor Jorge Paulo Lemann tinha tudo para ser suíço como seus pais, mas nasceu no Rio e herdou a carioquice da gema. Graças aos muitos anos, ou melhor, décadas de praia, no Arpoador, tornou-se um empresário globalmente bem-sucedido e otimista, que investe pesado em educação. Cresceu num Rio de Janeiro muito diferente do de hoje. Especialmente para crianças: aos oito anos, já ia a pé para a escola, sozinho. O foco em esportes, como tênis, surfe, mergulho e pesca submarina, e nas respectivas competições, potencializou a liberdade da vida ao ar livre, a autonomia e a adaptação a diversos ambientes, pessoas, culturas e desafios. Aos 17 anos, ingressava em Harvard, mas como bom carioca, só buscou o diploma 52 anos depois. Passou pelo mercado financeiro, mas preferia sonhar grande em vez de se contentar com um bom salário e segurança. Olhando para trás, Jorge Paulo sabe que agarrou todas as oportunidades, mas ainda acha que faltou disciplina e visão de longo prazo. Imagina se…

Jorge Paulo Lemann é um empreendedor brasileiro que busca ser uma inspiração para jovens talentos do Brasil e do mundo. Participa de iniciativas como o programa Lemann Fellowship, que possibilita o ingresso de jovens brasileiros em universidades e que reúnem avançados centros de referência em produção de conhecimento, como Columbia, Harvard, Yale, Oxford, Illinois e Universidade da Califórnia (EUA); o Lemann Center for Educational Entrepreneurship and Innovation in Brazil, um centro de apoio ao treinamento de profissionais responsáveis pela formação de educadores brasileiros dentro da Universidade de Stanford (EUA); além de integrar o conselho da Fundação Estudar, instituição que viabiliza a qualificação de universitários de alto potencial transformador; entre outras.

Sempre com a persistente crença na qualificação e no desenvolvimento do potencial das pessoas, ajuda a inserir o Brasil em um cenário de referência entre os países que levam para o mundo a gestão executiva de excelência.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

more » « less
Video Language:
Portuguese, Brazilian
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
17:49

Portuguese, Brazilian subtitles

Revisions