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Felicidade de corpo e alma

  • 0:01 - 0:03
    Aposto que estão preocupados
  • 0:04 - 0:05
    (Risos)
  • 0:05 - 0:09
    Eu estava preocupada.
    Foi por isso que comecei esta peça.
  • 0:09 - 0:12
    Tinha preocupações sobre as vaginas.
  • 0:13 - 0:16
    Preocupava-me o que pensamos
    sobre as vaginas
  • 0:16 - 0:19
    e preocupava-me ainda mais com o facto
    de não pensarmos nelas.
  • 0:19 - 0:21
    Estava preocupada com a minha vagina.
  • 0:21 - 0:26
    Precisava de um contexto, de uma cultura,
    de uma comunidade de outras vaginas.
  • 0:26 - 0:30
    Há tanta escuridão e secretismo
    à volta das vaginas.
  • 0:30 - 0:34
    É como o Triângulo das Bermudas,
    ninguém nos dá notícias desse lugar.
  • 0:35 - 0:36
    (Risos)
  • 0:36 - 0:40
    Em primeiro lugar, não é lá muito fácil
    encontrar a vossa vagina.
  • 0:40 - 0:43
    Passam-se dias, semanas, meses
    sem que as mulheres olhem para ela.
  • 0:43 - 0:45
    Entrevistei uma poderosa
    mulher de negócios;
  • 0:45 - 0:48
    ela disse-me que não tinha tempo.
  • 0:48 - 0:51
    "Olhar para a vagina" disse-me,
    "é trabalho para um dia inteiro".
  • 0:51 - 0:52
    (Risos)
  • 0:52 - 0:56
    "Temos de nos deitar de costas
    em frente dum espelho de corpo inteiro.,
  • 0:57 - 0:59
    Temos de encontrar
    a posição e a luz perfeitas
  • 0:59 - 1:02
    e depois fica na sombra
    dado o ângulo em que estamos.
  • 1:02 - 1:05
    Temos de virar a cabeça,
    arquear as costas, é cansativo".
  • 1:05 - 1:08
    Ela era muito ocupada, não tinha tempo.
  • 1:08 - 1:11
    Por isso, decidi falar com as mulheres
    sobre as suas vaginas.
  • 1:11 - 1:14
    Começaram por ser
    entrevistas informais sobre a vagina
  • 1:14 - 1:17
    e tornaram-se nos "Monólogos da vagina".
  • 1:17 - 1:19
    Conversei com mais de 200 mulheres.
  • 1:19 - 1:22
    Falei com mulheres mais velhas,
    mulheres mais jovens,
  • 1:22 - 1:24
    mulheres casadas,
    lésbicas, mulheres solteiras
  • 1:24 - 1:27
    Falei com empresárias,
    professoras universitárias,
  • 1:27 - 1:29
    actrizes, profissionais do sexo.
  • 1:29 - 1:33
    Falei com mulheres afro-americanas,
    mulheres asiático-americanas,
  • 1:33 - 1:37
    mulheres nativo-americanas,
    mulheres caucasianas, mulheres judias.
  • 1:37 - 1:40
    A princípio as mulheres
    estavam um pouco tímidas,
  • 1:40 - 1:42
    um pouco relutantes em falar.
  • 1:42 - 1:45
    Depois de começarem a falar,
    não conseguias pará-las.
  • 1:45 - 1:49
    As mulheres adoram falar
    das suas vaginas — gostam mesmo.
  • 1:49 - 1:52
    Principalmente porque nunca
    ninguém lhes pediu isso.
  • 1:52 - 1:53
    (Risos)
  • 1:53 - 1:57
    Comecemos pela palavra "vagina".
  • 1:58 - 2:01
    Soa a uma infecção,
    na melhor das hipóteses.
  • 2:01 - 2:03
    Talvez um instrumento médico.
  • 2:03 - 2:05
    "Depressa, enfermeira, traga a vagina."
  • 2:05 - 2:06
    (Risos)
  • 2:06 - 2:08
    Vagina, vagina, vagina.
  • 2:08 - 2:10
    Por mais que digamos esta palavra,
  • 2:10 - 2:12
    ela nunca soa a uma palavra
    que queiramos dizer.
  • 2:13 - 2:17
    É uma palavra totalmente ridícula,
    nada sensual.
  • 2:17 - 2:20
    Se a usarmos no acto sexual,
    tentando ser politicamente correcta,
  • 2:20 - 2:24
    "Querido, podias acariciar
    a minha vagina?",
  • 2:24 - 2:26
    pomos fim ao acto imediatamente.
  • 2:26 - 2:27
    (Risos)
  • 2:27 - 2:31
    Preocupo-me com o que lhe chamamos
    e com o que não lhe chamamos.
  • 2:31 - 2:34
    Em Great Neck, Nova Iorque,
    chamam-lhe "pussy-cat"
  • 2:34 - 2:36
    Uma mulher de lá disse-me
    que a mãe lhe dizia:
  • 2:36 - 2:38
    "Querida, não uses cuecas
    debaixo do pijama.
  • 2:38 - 2:40
    precisas de arejar a tua 'pussy-cat'".
  • 2:41 - 2:43
    (Risos)
  • 2:44 - 2:49
    Em Westchester chamam-lhe "pooky"
    e em Nova Jérsia "twat".
  • 2:49 - 2:54
    Também se usa poder-box, derriere,
    pooky, poochy, poopy
  • 2:54 - 2:58
    poopaloo, pooninana,
    padepachetchki, pow e pêssego.
  • 2:58 - 3:00
    (Risos)
  • 3:00 - 3:06
    Há também os nomes toadie, dee dee,
    nishi, dignity, coochie, snorcher, cooter
  • 3:06 - 3:11
    labi, gladis siegelman, va, wee-wee,
  • 3:11 - 3:14
    whore-spot, nappy dugout,
  • 3:14 - 3:20
    mungo, ghoulie, powder-box,
    uma "mimi" em Miami,
  • 3:20 - 3:25
    uma "split knish" em Filadélfia
    e uma "schmende" no Bronx
  • 3:26 - 3:27
    (Risos)
  • 3:27 - 3:29
    Preocupo-me com as vaginas.
  • 3:29 - 3:33
    É assim que começam
    "Os Monólogos da Vagina"
  • 3:33 - 3:35
    Mas não foi exactamente aí que começaram.
  • 3:35 - 3:38
    Tudo começou numa conversa com uma mulher.
  • 3:38 - 3:41
    Estávamos a falar sobre a menopausa,
  • 3:41 - 3:43
    e chegámos ao tópico da vagina,
  • 3:43 - 3:46
    — o que acontece quando se fala
    sobre a menopausa.
  • 3:46 - 3:48
    Ela disse coisas sobre a sua vagina
    que me chocaram
  • 3:48 - 3:52
    — que ela estava seca, acabada, morta —
    e eu fiquei em choque.
  • 3:52 - 3:55
    Uma vez disse a uma amiga:
    "O que é que pensas da tua vagina?"
  • 3:56 - 3:58
    Essa mulher disse algo
    mais extraordinário,
  • 3:58 - 4:00
    e outra depois disse algo
    ainda mais extraordinário.
  • 4:00 - 4:02
    Num repente, todas as mulheres me diziam
  • 4:02 - 4:06
    que eu tinha de falar com outra mulher
    que tinha uma história fantástica,
  • 4:06 - 4:08
    e assim fui empurrada
    para o trilho da vagina.
  • 4:08 - 4:10
    (Risos)
  • 4:10 - 4:12
    E não consegui sair mais de lá.
  • 4:12 - 4:14
    Se me tivessem dito,
    quando eu era mais nova,
  • 4:14 - 4:17
    que quando fosse grande
    e entrasse numa sapataria,
  • 4:17 - 4:19
    as pessoas iam gritar:
    "Olha, é a senhora da Vagina",
  • 4:19 - 4:22
    eu não saberia se essa iria ser
    a ambição da minha vida.
  • 4:22 - 4:24
    (Risos)
  • 4:23 - 4:25
    Mas eu quero falar um pouco
    sobre felicidade
  • 4:25 - 4:28
    e a relação com esta viagem da vagina,
  • 4:28 - 4:31
    porque tem sido uma viagem extraordinária
    que começou há oito anos.
  • 4:31 - 4:34
    Acho que, antes de ter feito
    "Os Monólogos da Vagina",
  • 4:34 - 4:37
    eu não acreditava na felicidade.
  • 4:37 - 4:40
    Para ser honesta, pensava
    que apenas os idiotas eram felizes.
  • 4:40 - 4:43
    Lembro-me que, quando comecei
    a praticar budismo há 14 anos,
  • 4:43 - 4:46
    e me disseram que esta prática
    tinha como objectivo
  • 4:46 - 4:48
    alcançar a felicidade, eu disse:
  • 4:48 - 4:50
    "Como posso ser feliz
    e viver neste mundo de sofrimento
  • 4:50 - 4:52
    e viver neste mundo de dor?"
  • 4:52 - 4:56
    Confundi felicidade
    com muitas outras coisas,
  • 4:56 - 5:00
    como entorpecimento,
    decadência ou egoísmo.
  • 5:00 - 5:03
    Durante os "Monólogos da Vagina"
    e desta viagem
  • 5:03 - 5:07
    é que eu comecei a compreender
    um pouco mais a felicidade.
  • 5:08 - 5:10
    Há três qualidades de que eu quero falar.
  • 5:10 - 5:14
    Uma é ver aquilo
    que está mesmo à nossa frente,
  • 5:14 - 5:16
    falar sobre isso e afirmá-lo.
  • 5:16 - 5:19
    Penso que aquilo que aprendi
    ao conversar sobre a vagina,
  • 5:19 - 5:22
    e ao falar sobre a vagina,
    é que esta era a coisa mais óbvia
  • 5:22 - 5:25
    — estava localizada no centro do meu corpo
    e no centro do mundo —
  • 5:25 - 5:28
    e, apesar disso, ninguém falava dela.
  • 5:28 - 5:32
    A segunda coisa, é que o que aconteceu
    por eu falar na vagina
  • 5:32 - 5:35
    foi abrir-se uma porta que me permitiu ver
  • 5:35 - 5:38
    que havia uma forma
    de servir o mundo e torná-lo melhor.
  • 5:38 - 5:42
    E é daí que brota
    a mais profunda felicidade.
  • 5:42 - 5:46
    E o terceiro princípio da felicidade,
    de que só recentemente me apercebi.
  • 5:46 - 5:50
    Há oito anos este ímpeto,
    esta energia, esta "Onda-V"...
  • 5:50 - 5:53
    — e apenas posso descrevê-la como "Onda-V"
    porque, sinceramente,
  • 5:53 - 5:57
    eu não a compreendo plenamente,
    sinto-me ao serviço dela —
  • 5:57 - 6:00
    ... esta onda começou
    e, se eu a questionar,
  • 6:00 - 6:03
    ou tentar pará-la ou olhar para ela,
  • 6:03 - 6:06
    tenho frequentemente
    a sensação duma chicotada
  • 6:06 - 6:09
    ou sinto que posso partir o pescoço.
  • 6:09 - 6:12
    Mas se me deixar ir com a onda,
    confiar nela e me mover com ela,
  • 6:12 - 6:14
    eu chego a um novo lugar.
  • 6:14 - 6:17
    e tudo acontece de forma lógica,
    orgânica e verdadeira.
  • 6:18 - 6:22
    Comecei esta peça, especialmente
    a partir de histórias e narrativas,
  • 6:22 - 6:25
    falando com uma mulher,
    fui levada a outra mulher
  • 6:25 - 6:27
    que a seguir me dirigiu para outra mulher.
  • 6:27 - 6:31
    Depois escrevi essas histórias
    e confrontei-as com outras pessoas.
  • 6:31 - 6:34
    No início, de todas as vezes
    que fiz o espectáculo,
  • 6:34 - 6:36
    as mulheres faziam fila à saída
  • 6:36 - 6:39
    porque queriam
    contar-me as suas histórias.
  • 6:39 - 6:40
    A princípio pensei:
  • 6:40 - 6:43
    "Óptimo, vou ouvir histórias
    de orgasmos incríveis,
  • 6:43 - 6:46
    óptimas vidas sexuais, como as mulheres
    gostam das suas vaginas."
  • 6:46 - 6:48
    Mas não era isso que as mulheres
    me queriam contar.
  • 6:48 - 6:54
    Queriam contar-me como tinham sido
    violadas, maltratadas, espancadas,
  • 6:54 - 6:57
    violadas por grupos de homens
    em parques de estacionamento
  • 6:57 - 6:59
    e abusadas incestuosamente por tios.
  • 6:59 - 7:01
    Desejei deixar de fazer
    "Os Monólogos da Vagina"
  • 7:01 - 7:03
    porque era muito desconcertante.
  • 7:03 - 7:05
    Sentia-me como uma fotógrafa de guerra
  • 7:05 - 7:08
    que fotografa coisas terríveis,
    mas não intervém em sua defesa.
  • 7:08 - 7:11
    Então, em 1997, disse:
  • 7:11 - 7:13
    "Vamos reunir as mulheres.
  • 7:13 - 7:15
    "O que podemos fazer com esta informação
  • 7:15 - 7:18
    "de que todas estas mulheres
    estão a ser violadas?"
  • 7:18 - 7:22
    Aconteceu que, depois de pensar
    e de investigar, descobri
  • 7:22 - 7:24
    — e as Nações Unidas
    disseram o mesmo recentemente —
  • 7:24 - 7:27
    que 1 em cada 3 mulheres, neste planeta,
  • 7:27 - 7:30
    são espancadas ou violadas
    durante a sua vida.
  • 7:30 - 7:35
    É essencialmente um dos sexos;
    um dos recursos do planeta, as mulheres.
  • 7:35 - 7:39
    Por isso, em 1997 reunimos
    estas mulheres incríveis e dissemos:
  • 7:39 - 7:41
    "Como usar esta peça, esta energia,
  • 7:41 - 7:43
    para pôr termo à violência
    contra as mulheres?"
  • 7:43 - 7:46
    Criámos um evento num teatro
    na cidade de Nova Iorque.
  • 7:46 - 7:47
    Vieram todas estas grandes actrizes,
  • 7:47 - 7:50
    desde a Susan Sarandon
    à Glenn Close, à Whoopi Goldberg,
  • 7:50 - 7:54
    fizemos uma só representação
    numa só noite.
  • 7:54 - 7:57
    Isso foi o catalisador
    desta onda, desta energia.
  • 7:57 - 8:01
    Cinco anos depois, começou a acontecer
    uma coisa extraordinária.
  • 8:01 - 8:04
    Uma mulher captou essa energia e disse:
  • 8:04 - 8:08
    "Quero levar esta onda, esta energia,
    para as universidades,"
  • 8:08 - 8:10
    Assim, agarrou na peça e disse:
  • 8:10 - 8:13
    "Vamos representar a peça
    uma vez por ano,
  • 8:13 - 8:16
    para angariar dinheiro para pôr fim
    à violência contra as mulheres,
  • 8:16 - 8:18
    nas comunidades locais de todo o mundo."
  • 8:18 - 8:21
    Num ano, fomos a 50 universidades e
    depois expandimo-nos.
  • 8:21 - 8:24
    Nos últimos 6 anos, espalhou-se
  • 8:24 - 8:27
    espalhou-se, e espalhou-se
    e espalhou-se por todo o globo.
  • 8:28 - 8:31
    Eu aprendi duas coisas.
  • 8:31 - 8:36
    Uma: a epidemia da violência
    contra as mulheres é chocante.
  • 8:36 - 8:39
    É tão global, profunda e devastadora
  • 8:39 - 8:43
    — em cada recanto de cada pequena cratera,
    de cada pequena sociedade —
  • 8:43 - 8:47
    que nós nem a reconhecemos
    porque se tornou uma coisa vulgar.
  • 8:47 - 8:50
    Esta viagem levou-me ao Afeganistão,
  • 8:50 - 8:53
    onde tive a honra
    e o privilégio extraordinários
  • 8:53 - 8:57
    de visitar partes do Afeganistão
    sob domínio Talibã.
  • 8:57 - 9:01
    Vesti-me com uma burca
    e visitei um grupo extraordinário
  • 9:01 - 9:04
    chamado Associação Revolucionária
    das Mulheres do Afeganistão
  • 9:04 - 9:07
    e observei em primeira mão
    como as mulheres foram espoliadas
  • 9:07 - 9:11
    de todos os direitos
    que é possível roubar a um mulher
  • 9:11 - 9:17
    desde o direito ao ensino, ao emprego,
    até ao direito de comer gelados.
  • 9:17 - 9:21
    Para quem não sabe, era ilegal
    comer gelados no regime dos Talibãs.
  • 9:21 - 9:24
    Vi e conheci mulheres
    que foram chicoteadas
  • 9:24 - 9:27
    por serem apanhadas
    a comer gelados de baunilha.
  • 9:27 - 9:30
    Levaram-me a um local secreto,
    numa pequena cidade,
  • 9:30 - 9:32
    onde se podia comer gelados,
  • 9:32 - 9:34
    Fomos para uma sala das traseiras,
    onde as mulheres
  • 9:34 - 9:38
    estavam rodeadas por uma cortina,
    enquanto serviam gelado de baunilha.
  • 9:38 - 9:41
    As mulheres levantavam as burcas
    e comiam o gelado.
  • 9:41 - 9:45
    Acho que nunca tinha sentido
    o que era o prazer até aí,
  • 9:45 - 9:48
    mas as mulheres encontraram uma forma
    de manter vivo o seu prazer.
  • 9:48 - 9:51
    Esta viagem levou-me também a Islamabad,
  • 9:51 - 9:54
    onde testemunhei e conheci
    mulheres desfiguradas.
  • 9:54 - 9:58
    Levou-me a Juaréz, no México,
    onde estive na semana passada.
  • 9:58 - 10:01
    Estive em parques de estacionamento
  • 10:01 - 10:04
    onde tinham sido lavados
    e despejados ossos de mulheres
  • 10:04 - 10:07
    lado a lado com latas de Coca-Cola.
  • 10:07 - 10:10
    Levou-me a universidades, em todo o país,
  • 10:10 - 10:13
    onde há raparigas violadas
    e drogadas durante encontros.
  • 10:13 - 10:16
    Eu vi uma violência terrível,
    terrível, terrível.
  • 10:16 - 10:20
    Mas também compreendi,
    enquanto assistia a tanta violência,
  • 10:20 - 10:26
    que viver as coisas e presenciar
    o que está mesmo à nossa frente
  • 10:26 - 10:28
    é o antídoto para a depressão
  • 10:28 - 10:32
    e para os sentimentos
    de falta de préstimo e de objectivo.
  • 10:32 - 10:34
    Posso dizer que,
    antes dos "Monólogos da Vagina",
  • 10:34 - 10:36
    80% da minha consciência estava fechada
  • 10:36 - 10:40
    àquilo que estava
    a acontecer na realidade.
  • 10:40 - 10:43
    Esse isolamento também impedia
    a vitalidade e a energia da minha vida.
  • 10:44 - 10:47
    O que também aconteceu
    no decorrer destas viagens
  • 10:47 - 10:49
    — e tem sido uma coisa extraordinária —
  • 10:49 - 10:54
    é que em cada lugar a que fui no mundo,
    conheci uma nova espécie.
  • 10:54 - 10:57
    Eu adoro ouvir falar de todas as espécies
    que vivem no fundo do mar.
  • 10:57 - 11:00
    E estava aqui a pensar nas pessoas
    extraordinárias deste painel,
  • 11:00 - 11:05
    quer abaixo, para além dele, e no meio
  • 11:05 - 11:08
    e em como a vagina se adequa
    a todas essas categorias.
  • 11:08 - 11:09
    (Risos)
  • 11:09 - 11:12
    Mas uma das coisas que vi é esta espécie.
  • 11:12 - 11:15
    É uma espécie e é um novo paradigma,
  • 11:15 - 11:18
    que não é noticiado na imprensa
    nem nos media
  • 11:18 - 11:21
    porque, segundo parece,
    as boas notícias nunca são notícias,
  • 11:21 - 11:24
    e não me parece que as pessoas
    que estão a transformar o planeta
  • 11:24 - 11:26
    sejam as que dão audiências
    aos programas de TV.
  • 11:26 - 11:29
    Mas em cada país que visitei
  • 11:29 - 11:31
    — e nos últimos seis anos estive
    em cerca de 45 países,
  • 11:31 - 11:34
    em muitas pequenas aldeias,
    vilas e cidades —
  • 11:34 - 11:38
    vi uma coisa que comecei a denominar
    de "Guerreiras da Vagina".
  • 11:38 - 11:43
    Uma "Guerreira da Vagina" é uma mulher,
    — ou um homem amigo da vagina —
  • 11:43 - 11:46
    que testemunhou ou sofreu
    uma violência tremenda
  • 11:46 - 11:50
    e que, em vez de pegar numa AK-47,
    ou em armas de destruição maciça,
  • 11:50 - 11:56
    ou numa catana,
    conteve a violência do seu corpo
  • 11:56 - 12:00
    fez o seu luto, experimentou-a
    e depois saiu e dedicou a vida
  • 12:00 - 12:04
    a assegurar que esse tipo de violência
    não atinja mais ninguém.
  • 12:04 - 12:07
    Conheci essas mulheres
    em todos os lugares do planeta.
  • 12:07 - 12:09
    E quero contar algumas histórias
    porque acredito
  • 12:09 - 12:12
    que as histórias são a forma
    de transmitir informação,
  • 12:12 - 12:15
    de forma a que ela entre no nosso corpo.
  • 12:15 - 12:18
    Penso que uma das coisas muito interessante
    quanto a eu estar aqui no TED
  • 12:18 - 12:22
    é que eu vivo muito no meu corpo,
    já não vivo muito na minha cabeça.
  • 12:22 - 12:25
    E este é um lugar muito dedicado à cabeça.
  • 12:25 - 12:28
    Tem sido muito interessante
    estar na minha cabeça
  • 12:28 - 12:30
    nos dois últimos dias
    — tenho estado muito desorientada —
  • 12:30 - 12:33
    porque penso que o mundo
    e a palavra começada por V,
  • 12:33 - 12:35
    estão muito mais no nosso corpo.
  • 12:35 - 12:38
    Este é um mundo corpóreo
    e a espécie existe no corpo.
  • 12:38 - 12:40
    Penso que é uma coisa muito significativa
  • 12:40 - 12:43
    termos os corpos ligados às cabeças.
  • 12:43 - 12:49
    Esta separação criou uma divisão que,
    por vezes, separa o propósito da intenção.
  • 12:49 - 12:54
    E a ligação entre a cabeça e o corpo
    volta a unir essas duas coisas.
  • 12:55 - 12:58
    Quero falar sobre três pessoas que conheci,
  • 12:58 - 13:01
    guerreiras da vagina, que transformaram
    a minha compreensão
  • 13:01 - 13:03
    deste princípio e espécie.
  • 13:03 - 13:06
    Uma delas é uma mulher
    chamada Marsha Lopez.
  • 13:06 - 13:09
    Marsha Lopez é uma mulher
    que conheci na Guatemala.
  • 13:09 - 13:15
    Tinha 14 anos, era casada
    e o marido batia-lhe regularmente.
  • 13:15 - 13:20
    Ela não conseguia deixá-lo
    porque estava viciada na relação
  • 13:20 - 13:21
    e não tinha dinheiro.
  • 13:21 - 13:26
    Há uns anos fizemos um concurso
    em Nova Iorque para "parar com a violação"
  • 13:26 - 13:30
    e a irmã mais nova candidatou-se,
    na esperança de vir a ser finalista
  • 13:30 - 13:32
    e, dessa forma, poder trazer a irmã.
  • 13:32 - 13:36
    Veio a ser uma das finalistas
    e trouxe a Marsha para Nova Iorque.
  • 13:36 - 13:38
    Nessa altura organizámos
    um extraordinário Dia-V
  • 13:38 - 13:41
    no Madison Square Garden
    onde esgotámos este edifício
  • 13:41 - 13:43
    totalmente impregnado de testosterona.
  • 13:43 - 13:47
    Ergueram-se 18 000 pessoas
    para dizer "sim" às vaginas,
  • 13:47 - 13:49
    o que foi uma transformação incrível.
  • 13:49 - 13:52
    Ela veio, assistiu a isso e então decidiu
  • 13:52 - 13:54
    que iria regressar e deixar o marido,
  • 13:54 - 13:57
    e que iria levar o Dia-V para a Guatemala.
  • 13:57 - 13:58
    Tinha 21 anos.
  • 13:58 - 14:01
    Eu fui à Guatemala e ela tinha conseguido
    esgotar a lotação
  • 14:01 - 14:03
    do Teatro Nacional da Guatemala.
  • 14:03 - 14:08
    Eu vi-a caminhar para o palco
    de vestido vermelho, de saltos altos,
  • 14:08 - 14:10
    e ali no palco ela disse:
  • 14:10 - 14:14
    "Chamo-me Marsha. Durante 5 anos
    fui espancada pelo meu marido.
  • 14:14 - 14:17
    Ele quase me matou. Eu deixei-o
    e tu podes fazer o mesmo."
  • 14:17 - 14:21
    As 2000 pessoas ficaram
    em completa euforia.
  • 14:21 - 14:23
    Há uma mulher chamada Esther Chavez
  • 14:23 - 14:25
    que conheci em Juárez, México.
  • 14:25 - 14:29
    Esther Chavez era uma contabilista
    brilhante no México.
  • 14:29 - 14:31
    Tinha 72 anos e estava
    a pensar reformar-se.
  • 14:32 - 14:36
    Foi a Juaréz para tomar conta de uma tia
    e, no decorrer dessa visita,
  • 14:36 - 14:39
    começou a descobrir
    o que estava a acontecer
  • 14:39 - 14:41
    com mulheres assassinadas
    e desaparecidas em Juaréz.
  • 14:42 - 14:44
    Abandonou a sua vida, mudou-se para Juarez
  • 14:44 - 14:46
    e começou a escrever as histórias
  • 14:46 - 14:49
    que documentavam
    a vida das mulheres desaparecidas.
  • 14:49 - 14:51
    Numa cidade fronteiriça.
    desapareceram 300 mulheres.
  • 14:51 - 14:52
    Como eram escuras e pobres
  • 14:52 - 14:55
    não houve qualquer resposta pública
    ao seu desaparecimento
  • 14:55 - 14:57
    e nenhuma pessoa foi criminalizada.
  • 14:57 - 14:59
    Ela começou a documentar o caso.
  • 14:59 - 15:01
    Abriu um centro chamado Casa Amiga
  • 15:01 - 15:04
    e, ao fim de 6 anos,
    conseguiu trazer esta história
  • 15:04 - 15:05
    para a consciência global.
  • 15:05 - 15:09
    Estivemos lá há uma semana, numa altura
    em que havia 7000 pessoas na rua,
  • 15:09 - 15:11
    foi verdadeiramente um milagre.
  • 15:11 - 15:13
    À medida que andávamos pelas ruas,
    as pessoas de Juárez,
  • 15:13 - 15:17
    que normalmente nem saem à rua
    porque as ruas são perigosas,
  • 15:17 - 15:20
    saíram e choraram ao ver
    que tinham aparecido pessoas
  • 15:20 - 15:23
    de outras partes do mundo,
    para apoiar a sua comunidade.
  • 15:24 - 15:26
    Há outra mulher chamada Agnes.
  • 15:26 - 15:30
    Para mim a Agnes resume
    o que é uma guerreira da vagina.
  • 15:30 - 15:33
    Conheci-a há três anos no Quénia.
  • 15:33 - 15:39
    A Agnes foi mutilada quando era menina,
    foi circuncidada contra a sua vontade,
  • 15:39 - 15:41
    quando tinha 10 anos,
  • 15:41 - 15:47
    e decidiu que não queria que esta prática
    continuasse a existir na sua comunidade.
  • 15:47 - 15:49
    Por isso, já mais velha,
    criou uma coisa incrível.
  • 15:49 - 15:53
    É uma escultura anatómica
    do corpo duma mulher,
  • 15:53 - 15:55
    é metade do corpo duma mulher.
  • 15:55 - 15:57
    Passeou pelo Grande Vale do Rift.
  • 15:57 - 16:00
    Tinha uma vagina
    e "peças sobressalentes" da vagina
  • 16:00 - 16:04
    com que ensinava raparigas, pais e rapazes,
    qual o aspecto duma vagina saudável,
  • 16:04 - 16:07
    e qual o aspecto duma vagina mutilada.
  • 16:07 - 16:12
    No decorrer da sua viagem,
    passou 8 anos no Grande Vale do Rift,
  • 16:12 - 16:14
    no meio da poeira, dormindo no chão.
  • 16:14 - 16:17
    Como os Massais são nómadas,
    ela tinha de os procurar,
  • 16:17 - 16:21
    depois eles mudavam de local
    e ela tinha de os encontrar novamente.
  • 16:21 - 16:24
    Salvou 1500 raparigas de serem mutiladas.
  • 16:24 - 16:27
    Foi nessa altura que ela criou
    um ritual alternativo
  • 16:27 - 16:30
    que permitia às raparigas atingirem
    a maioridade sem serem mutiladas.
  • 16:30 - 16:32
    Quando a conhecemos
    há três anos, dissemos-lhe:
  • 16:32 - 16:35
    "O que é que o Dia-V pode fazer?"
    e ela disse:
  • 16:35 - 16:38
    "Se me arranjassem um jipe,
    eu deslocava-me muito mais depressa."
  • 16:38 - 16:39
    (Risos)
  • 16:39 - 16:40
    Comprámos-lhe um jipe.
  • 16:40 - 16:44
    No ano em que ela teve o jipe, salvou
    4500 raparigas de serem mutiladas.
  • 16:45 - 16:47
    Então dissemos:
    "Agnes, que mais podemos fazer por ti?"
  • 16:48 - 16:50
    E ela: "Eve, se me desses algum dinheiro,
  • 16:50 - 16:53
    eu podia abrir uma casa,
    as raparigas podiam fugir e salvar-se."
  • 16:54 - 16:57
    Eu quero contar a história
    dos meus começos
  • 16:57 - 17:00
    porque está muito relacionada
    com a felicidade e com a Agnes.
  • 17:01 - 17:02
    Quando eu era pequena
  • 17:02 - 17:07
    cresci numa comunidade abastada,
    de brancos de classe média-alta,
  • 17:07 - 17:10
    que tinha todas as tentações e o aspecto
  • 17:10 - 17:14
    do que seria uma vida boa,
    fantástica, excelente.
  • 17:14 - 17:17
    Era suposto que todos fossem felizes
    nessa comunidade
  • 17:17 - 17:19
    mas a minha vida era um inferno.
  • 17:19 - 17:21
    Vivia com um pai alcoólico
    que me batia e molestava,
  • 17:21 - 17:24
    e esta realidade estava
    dentro dessa fachada.
  • 17:24 - 17:28
    Durante toda a minha infância
    eu sonhava que alguém viria salvar-me.
  • 17:28 - 17:32
    Eu até criei uma personagem
    cujo nome era Sr. Jacaré
  • 17:32 - 17:34
    e eu ligava-lhe quando as coisas
    ficavam feias
  • 17:34 - 17:36
    e dizia-lhe que era altura
    de me vir buscar.
  • 17:36 - 17:40
    Eu preparava a mochila com a minha bagagem
    e ia esperar a chegada do Sr. Jacaré.
  • 17:40 - 17:43
    O Sr. Jacaré nunca apareceu,
  • 17:43 - 17:47
    mas a ideia da chegada do Sr. Jacaré
    salvou a minha saúde mental
  • 17:47 - 17:49
    e permitiu-me continuar a viver
  • 17:49 - 17:53
    porque eu achava que, num futuro distante
    alguém apareceria para me salvar.
  • 17:53 - 17:57
    Avançando 40 anos, vamos ao Quénia,
  • 17:57 - 18:02
    chegamos para a inauguração dessa casa.
  • 18:02 - 18:04
    A Agnes não me deixara
    entrar na casa durante dias
  • 18:04 - 18:06
    porque estavam a preparar um ritual.
  • 18:06 - 18:08
    Vou contar-vos uma grande história.
  • 18:08 - 18:09
    Quando a Agnes começou a sua luta
  • 18:09 - 18:12
    para acabar com a mutilação genital
    feminina na sua comunidade,
  • 18:12 - 18:15
    tornou-se numa marginal,
    estava exilada, tinha sido difamada
  • 18:15 - 18:17
    e tinha toda a comunidade contra ela.
  • 18:17 - 18:20
    Mas, como guerreira da vagina,
    ela continuou
  • 18:20 - 18:23
    e manteve o seu compromisso
    de transformar as consciências.
  • 18:23 - 18:28
    Na comunidade Massai, as cabras e as vacas
    são as posses mais valiosas.
  • 18:28 - 18:32
    São como os Mercedes-Benz
    do Grande Vale do Rift.
  • 18:32 - 18:36
    Ora, dois dias antes de abrir a casa,
    duas pessoas diferentes
  • 18:36 - 18:39
    foram até lá para lhe oferecer uma cabra,
    e ela disse-me:
  • 18:39 - 18:42
    "Eu soube nesse momento
    que a mutilação genital feminina em África
  • 18:42 - 18:44
    iria terminar um dia."
  • 18:44 - 18:47
    De qualquer forma, quando lá chegámos,
  • 18:47 - 18:51
    havia centenas de raparigas
    com vestidos artesanais vermelhos,
  • 18:51 - 18:54
    que é a cor dos Massai e a cor do V-Day.
  • 18:54 - 18:57
    Cumprimentaram-nos
    e tinham preparado canções
  • 18:57 - 19:00
    sobre o fim do sofrimento
    e o fim da mutilação,
  • 19:00 - 19:03
    cantaram-nas para nós
    e conduziram-nos ao longo do caminho.
  • 19:03 - 19:05
    Foi um belo dia debaixo do sol africano.
  • 19:05 - 19:07
    O pó a voar e as raparigas a dançar.
  • 19:07 - 19:12
    Havia aquela casa, onde estava escrito:
    " Casa Segura para as Raparigas V-Day."
  • 19:12 - 19:17
    Naquele momento percebi
    que tinha demorado 47 anos,
  • 19:17 - 19:20
    mas o Sr. Jacaré finalmente aparecera.
  • 19:20 - 19:22
    E tinha aparecido, obviamente,
  • 19:22 - 19:27
    numa forma que me levaria imenso tempo
    a compreender, ou seja,
  • 19:27 - 19:31
    quando damos ao mundo
    aquilo que mais queremos,
  • 19:31 - 19:34
    conseguimos curar a parte ferida
    que se encontra dentro de cada um de nós.
  • 19:35 - 19:37
    Eu sinto, nos últimos oito anos,
  • 19:37 - 19:40
    que esta viagem,
    esta milagrosa viagem da vagina,
  • 19:40 - 19:44
    me ensinou esta coisa realmente simples:
  • 19:44 - 19:47
    A felicidade existe na acção,
  • 19:47 - 19:51
    existe ao dizemos a verdade
    e quando dizemos qual é a nossa verdade
  • 19:51 - 19:55
    e existe quando damos
    aquilo que mais queremos.
  • 19:55 - 19:59
    Eu sinto que o conhecimento e essa viagem
  • 19:59 - 20:02
    foram um privilégio extraordinário,
  • 20:02 - 20:05
    e sinto-me verdadeiramente abençoada
    por estar aqui hoje a comunicá-la a vocês.
  • 20:05 - 20:07
    Muito obrigada.
  • 20:07 - 20:09
    (Aplausos)
Title:
Felicidade de corpo e alma
Speaker:
Eve Ensler
Description:

Eve Ensler, criadora dos "Monólogos da Vagina", partilha nesta conversa, como uma discussão com as suas amigas sobre a menopausa a levou a falar sobre todo o tipo de actos sexuais em palco, dando início a uma campanha global para pôr fim à violência contra as mulheres, e lhe permitiu encontrar a sua própria felicidade.

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English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
20:09
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