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Não tenha vergonha de cuidar da sua saúde mental

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    O ano passado...
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    foi um inferno.
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    (Risos)
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    Foi a primeira vez
    que comi "jollof" nigeriano.
  • 0:12 - 0:14
    (Risos)
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    Na verdade, falando sério,
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    eu passei por muitas
    turbulências pessoais.
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    Enfrentando um estresse enorme,
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    tive um ataque de ansiedade.
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    Em alguns dias,
    eu não conseguia trabalhar.
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    Em outros,
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    eu só queria deitar na cama e chorar.
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    Meu médico me perguntou
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    se eu gostaria de falar
    com um profissional de saúde mental
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    sobre meu estresse e ansiedade.
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    Saúde mental?
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    Eu me fechei e violentamente
    sacudi a cabeça em protesto.
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    Eu senti uma vergonha profunda.
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    Senti o peso do estigma.
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    Tenho uma família amorosa e apoiadora
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    e amigos incrivelmente leais,
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    mas ainda assim não conseguia considerar
    a ideia de falar com qualquer pessoa
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    sobre minha dor.
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    Eu me senti sufocado
    pela arquitetura rígida
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    de nossa masculinidade africana.
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    "As pessoas tem problemas reais, Sangu.
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    Controle-se!"
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    A primeira vez em que ouvi
    o termo "saúde mental",
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    eu era aluno interno,
    recém-chegado de Gana,
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    na Peddie School em New Jersey.
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    Eu tinha acabado de passar
    pela experiência brutal
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    de perder muitos entes queridos
    em um único mês.
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    A enfermeira da escola,
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    que Deus a abençoe, preocupada
    com o que eu tinha passado,
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    me perguntou sobre minha saúde mental.
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    "Ela é louca?", eu pensei.
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    "Ela sabe que sou um homem africano?"
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    (Risos)
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    Como Okonkwo em "O Mundo se despedaça",
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    nós, homens africanos, não processamos
    nem expressamos nossas emoções.
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    Nós lidamos com nossos problemas.
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    (Aplausos)
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    Nós lidamos com nossos problemas.
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    Liguei para meu irmão e ri
    sobre os "oyibo", pessoas brancas,
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    e suas estranhas doenças,
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    depressão, TDA
    e outras "coisas estranhas".
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    Tendo crescido na África Ocidental,
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    quando as pessoas
    falavam em "doente mental",
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    o que me vinha à mente era um homem louco
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    com cabelos sujos e desgrenhados,
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    andando seminu pelas ruas.
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    Todos nós conhecemos esse homem.
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    Nossos pais nos alertaram sobre ele.
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    "Mãe, mãe, por que ele é louco?"
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    "Drogas!
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    Se você sequer olhar pras drogas,
    vai acabar como ele."
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    (Risos)
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    Pegue uma pneumonia,
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    e sua mãe vai correr com você
    para o hospital mais próximo
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    para tratamento médico.
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    Mas ouse falar em depressão,
  • 3:01 - 3:05
    e o pastor local
    irá expulsar seus demônios
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    e culpar as bruxas da sua aldeia.
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    Conforme a Organização Mundial da Saúde,
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    saúde mental diz respeito
    a conseguir lidar
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    com os fatores de estresse
    normais da vida;
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    trabalhar produtiva e lucrativamente;
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    e contribuir para sua comunidade.
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    A saúde mental inclui nosso bem-estar
    emocional, psicológico e social.
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    Mundialmente, 75% dos casos
    de doença mental
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    se encontram em países de baixa renda.
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    Ainda assim, a maioria
    dos governos africanos
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    investe menos de 1% do orçamento da saúde
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    em saúde mental.
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    E, ainda pior, temos escassez
    de psiquiatras na África.
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    Na Nigéria, por exemplo,
    estima-se haver 200 psiquiatras,
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    em um país com quase
    200 milhões de habitantes.
  • 4:02 - 4:04
    Em toda a África,
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    90% das pessoas não têm
    acesso a tratamento.
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    Como resultado disso,
  • 4:10 - 4:13
    sofremos na solidão,
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    silenciados pelo estigma.
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    Nós, africanos, costumamos reagir
    à saúde mental com distância,
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    ignorância,
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    culpa,
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    medo
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    e raiva.
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    Em um estudo conduzido
    por Arboleda-Flórez,
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    que pergunta diretamente:
    "Qual a causa da doença mental?",
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    34% dos nigerianos que responderam
    citaram o uso indevido de drogas;
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    19% citaram a ira e a vontade divina,
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    (Risos)
  • 4:53 - 4:55
    e 12%,
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    feitiçaria e possessão espiritual.
  • 5:00 - 5:04
    Mas poucos citaram outras causas
    conhecidas da doença mental,
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    como genética,
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    situação socioeconômica,
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    guerras,
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    conflitos
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    ou a perda de entes queridos.
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    O estigma contra a doença mental
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    costuma resultar no ostracismo
    e demonização dos portadores.
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    O fotojornalista Robin Hammond
    documentou alguns desses abusos...
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    na Uganda,
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    na Somália,
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    e aqui na Nigéria.
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    Para mim,
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    o estigma é pessoal.
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    Em 2009,
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    recebi uma ligação frenética
    no meio da noite.
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    Meu melhor amigo do mundo,
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    um jovem brilhante, filosófico,
    charmoso, descolado,
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    foi diagnosticado com esquizofrenia.
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    Presenciei alguns amigos,
    com os quais crescemos, se afastarem.
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    Eu ouvi os risos sarcásticos.
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    Eu ouvi os sussurros.
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    "Você soube que ele ficou louco?"
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    (Inglês kru) "Ele pirou!"
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    Comentários depreciativos
    e humilhantes sobre sua condição,
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    palavras que nunca diríamos
    sobre alguém com câncer
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    ou com malária.
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    De alguma forma,
    quando se trata de doença mental,
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    nossa ignorância acaba com toda a empatia.
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    Fiquei ao seu lado enquanto
    a comunidade dele o isolou,
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    mas nosso amor nunca fraquejou.
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    Implicitamente, me tornei
    um apaixonado por saúde mental.
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    Inspirado por seu sofrimento,
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    ajudei a fundar o grupo de interesse
    em saúde mental com ex-alunos
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    da minha faculdade.
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    E enquanto fui tutor na pós-graduação,
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    apoiei muitos estudantes
    com seus desafios de saúde mental.
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    Vi estudantes africanos sofrendo,
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    incapazes de conversar com alguém.
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    Mesmo com esse conhecimento
    e sabendo das histórias deles,
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    eu, por minha vez, relutei
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    e não consegui falar com ninguém
    quando enfrentei minha própria ansiedade,
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    tão grande é o medo
    de sermos o homem louco.
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    Todos nós,
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    mas os africanos em especial,
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    precisamos perceber
    que nossas batalhas mentais
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    não afetam nossa virilidade,
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    e nosso trauma não macula nossa força.
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    Precisamos ver que a saúde mental
    é tão importante quanto a saúde física.
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    Precisamos parar de sofrer em silêncio.
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    Precisamos parar de estigmatizar a doença
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    e traumatizar os afligidos.
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    Fale com seus amigos.
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    Fale com seus entes queridos.
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    Fale com profissionais da saúde.
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    Seja vulnerável.
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    Faça isso com a certeza
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    de que você não está sozinho.
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    Fale, se estiver sofrendo.
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    Ser honesto sobre como nos sentimos
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    não nos torna fracos;
  • 8:29 - 8:30
    nos torna humanos.
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    Está na hora de acabar com o estigma
    associado à doença mental.
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    Então, da próxima vez
    em que ouvir o termo "doente mental",
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    não pense apenas no homem louco.
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    Pense em mim.
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    (Aplausos)
  • 8:48 - 8:49
    Obrigado.
  • 8:49 - 8:53
    (Aplausos)
Title:
Não tenha vergonha de cuidar da sua saúde mental
Speaker:
Sangu Delle
Description:

Quando o estresse foi forte demais para o empreendedor Sangu Delle, ele teve que confrontar seu próprio preconceito de que os homens não devem cuidar de sua saúde mental. Em uma palestra pessoal, Delle compartilha como ele aprendeu a lidar com a ansiedade em uma sociedade que se sente desconfortável com emoções. Como ele disse: "Ser honesto sobre como nos sentimos não nos torna fracos; nos torna humanos".

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English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
08:53

Portuguese, Brazilian subtitles

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