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Respostas estranhas ao teste do psicopata

  • 0:01 - 0:05
    A história começa assim:
    eu estava em casa de uma amiga
  • 0:05 - 0:08
    e vi que ela tinha
    um exemplar do manual DSM,
  • 0:08 - 0:11
    que é o manual das perturbações mentais.
  • 0:11 - 0:14
    Estão lá catalogadas todas
    as perturbações mentais conhecidas.
  • 0:14 - 0:17
    Nos anos 50 costumava ser
    um panfleto muito pequeno.
  • 0:17 - 0:20
    Depois foi crescendo
    e crescendo e crescendo,
  • 0:20 - 0:23
    e agora tem 886 páginas.
  • 0:23 - 0:27
    Cataloga neste momento
    cerca de 374 distúrbios mentais.
  • 0:27 - 0:29
    Então comecei a folheá-lo.
  • 0:29 - 0:32
    interrogando-me se teria
    algum distúrbio mental.
  • 0:32 - 0:34
    Ao que parece tenho 12.
  • 0:34 - 0:35
    (Risos)
  • 0:35 - 0:37
    Tenho Perturbação
    de Ansiedade Generalizada,
  • 0:37 - 0:39
    o que é um dado adquirido.
  • 0:39 - 0:41
    Tenho pesadelos,
  • 0:41 - 0:42
    que estão na categoria
  • 0:42 - 0:46
    de sonhos recorrentes de perseguição
    ou fracasso nalguma coisa
  • 0:46 - 0:50
    — todos os meus sonhos envolvem pessoas
    a perseguirem-me pela rua, a dizerem:
  • 0:50 - 0:52
    "És um falhado".
  • 0:52 - 0:54
    (Risos)
  • 0:54 - 0:56
    Tenho problemas relacionais pais-filhos
  • 0:56 - 0:59
    pelos quais culpo os meus pais.
  • 0:59 - 1:00
    (Risos)
  • 1:00 - 1:03
    Estou a brincar. Não estou a brincar.
  • 1:03 - 1:05
    Estou a brincar.
  • 1:05 - 1:06
    Costumo fingir que estou doente.
  • 1:06 - 1:08
    Até acho que é bastante raro
  • 1:08 - 1:11
    ter essa tendência em simultâneo
    com a ansiedade generalizada
  • 1:11 - 1:14
    porque, quando me finjo doente,
    sinto-me muito ansioso.
  • 1:14 - 1:15
    Enfim, estava a ler o livro
  • 1:15 - 1:18
    e a pensar se era mais maluco
    do que pensava,
  • 1:18 - 1:22
    se não era boa ideia fazermos o nosso
    diagnóstico de perturbações mentais
  • 1:22 - 1:24
    se não formos profissionais treinados,
  • 1:24 - 1:28
    ou se a psiquiatria tinha um desejo estranho
  • 1:28 - 1:33
    de classificar comportamentos humanos
    essenciais como perturbações mentais.
  • 1:33 - 1:37
    Não sei quais delas é verdadeira,
    mas achei que era uma coisa interessante.
  • 1:37 - 1:40
    Então pensei que era melhor
    falar com um crítico da psiquiatria
  • 1:40 - 1:42
    para saber a sua opinião .
  • 1:42 - 1:45
    Foi assim que acabei por almoçar
    com um cientologista.
  • 1:46 - 1:48
    Era um homem chamado Brian,
  • 1:48 - 1:51
    líder duma equipa
    dos melhores cientologistas,
  • 1:51 - 1:55
    que estão apostados em destruir
    a psiquiatria onde quer que ela exista.
  • 1:55 - 1:57
    Intitulam-se CCHR.
  • 1:57 - 1:59
    E eu disse-lhe: "Consegue-me provar
  • 1:59 - 2:04
    que a psiquiatria é uma pseudociência
    na qual não podemos confiar?"
  • 2:04 - 2:06
    E ele respondeu: "Sim, podemos prová-lo".
  • 2:06 - 2:07
    E eu perguntei: "Como?"
  • 2:07 - 2:10
    E ele disse: "Vamos-te apresentar o Tony".
  • 2:11 - 2:13
    E eu disse: "Quem é o Tony?"
  • 2:13 - 2:16
    E ele respondeu:
    "O Tony está em Broadmoor."
  • 2:16 - 2:19
    Broadmoor é o Hospital de Broadmoor.
  • 2:19 - 2:24
    Era conhecido por "Asilo de Broadmoor
    para os Criminalmente Insanos".
  • 2:24 - 2:28
    É para onde enviam os assassinos em série
    e as pessoas inaptas.
  • 2:28 - 2:31
    Então perguntei ao Brian:
    "O que é que o Tony fez?"
  • 2:31 - 2:35
    e ele disse: "Pouca coisa.
  • 2:35 - 2:37
    "Espancou alguém ou algo do género,
  • 2:37 - 2:42
    "e decidiu fingir que era louco
    para se livrar de uma sentença na prisão.
  • 2:42 - 2:47
    "Mas fingiu bem demais e agora
    está enfiado em Broadmoor
  • 2:47 - 2:49
    e ninguém acredita que ele não é maluco.
  • 2:49 - 2:53
    Quer que tentemos levá-lo a Broadmoor
    para conhecer o Tony?"
  • 2:53 - 2:55
    E eu disse: "Sim, por favor".
  • 2:55 - 2:57
    Então apanhei o comboio para Broadmoor.
  • 2:57 - 3:01
    Comecei a bocejar incontrolavelmente
    quando passámos Kempton Park,
  • 3:01 - 3:04
    o que, parece, é o que os cães fazem
    quando se sentem ansiosos
  • 3:04 - 3:06
    — bocejam incontrolavelmente.
  • 3:06 - 3:08
    E chegámos a Broadmoor.
  • 3:08 - 3:12
    Fui conduzido de portão
    em portão em portão
  • 3:12 - 3:14
    até ao centro de saúde,
  • 3:14 - 3:16
    que é onde podemos visitar os pacientes.
  • 3:16 - 3:19
    Parece um hotel gigante.
  • 3:19 - 3:23
    Está pintado de cor de pêssego,
    de verde e de cores calmantes.
  • 3:23 - 3:28
    A única cor forte é o vermelho
    dos botões de pânico.
  • 3:29 - 3:32
    Os pacientes começaram a entrar.
  • 3:32 - 3:36
    Eram todos obesos,
    usavam calças de fato de treino
  • 3:36 - 3:38
    e pareciam bastante dóceis.
  • 3:38 - 3:40
    Brian, o cientologista,
    sussurrou-me ao ouvido:
  • 3:40 - 3:43
    "Eles estão medicados",
  • 3:43 - 3:45
    o que para os cientologistas
    é, talvez, a pior coisa do mundo
  • 3:45 - 3:48
    mas, a meu ver,
    é provavelmente uma boa ideia.
  • 3:48 - 3:50
    (Risos)
  • 3:50 - 3:53
    Então o Brian disse: "Aqui está o Tony".
  • 3:53 - 3:55
    Vinha um homem a entrar.
  • 3:55 - 3:59
    Não era obeso, aliás,
    estava em excelente forma física,
  • 3:59 - 4:01
    e não tinha calças de fato de treino.
  • 4:01 - 4:03
    Tinha um fato às riscas.
  • 4:03 - 4:05
    Vinha de braços abertos
  • 4:05 - 4:08
    como alguém saído
    do programa "O Aprendiz'.
  • 4:08 - 4:10
    Parecia ser um homem que queria usar roupa
  • 4:10 - 4:14
    que me convencesse
    de que ele era mesmo são.
  • 4:15 - 4:16
    Sentou-se.
  • 4:16 - 4:19
    E eu perguntei: "Fingiu ser louco
    para vir para aqui?"
  • 4:19 - 4:23
    E ele respondeu: "Sem dúvida.
    Espanquei um tipo quando tinha 17 anos.
  • 4:23 - 4:25
    "Enquanto estava preso,
    a aguardar julgamento.
  • 4:25 - 4:27
    "o meu companheiro de cela disse-me:
  • 4:27 - 4:30
    "'Sabes o que tens de fazer?
    Alegar insanidade.
  • 4:30 - 4:33
    "'Diz-lhes que és louco. Vais
    para um hospital com paredes almofadadas.
  • 4:33 - 4:36
    "'As enfermeiras vão-te dar "pizzas".
  • 4:36 - 4:38
    "'E terás uma Playstation só para ti.
  • 4:38 - 4:40
    E eu: "Como é que fez isso?"
  • 4:40 - 4:42
    "Pedi para ver o psiquiatra da prisão.
  • 4:42 - 4:44
    "Eu tinha visto um filme chamado "Crash",
  • 4:44 - 4:48
    "em que as pessoas retiram prazer sexual
    a espatifarem carros contra a parede.
  • 4:48 - 4:51
    "Então eu disse ao psiquiatra:
  • 4:51 - 4:54
    "''Espatifar carros contra a parede
    dá-me prazer sexual'".
  • 4:54 - 4:56
    E eu disse: "E depois?"
  • 4:56 - 4:58
    Ele disse: "Ah, sim, disse ao psiquiatra
  • 4:58 - 5:01
    "que gostava de observar mulheres
    quando elas morriam,
  • 5:01 - 5:04
    "pois isso fazia com que
    me sentisse mais normal".
  • 5:04 - 5:06
    E eu: "Onde é foi buscar isso?"
  • 5:06 - 5:08
    Respondeu-me:
    "Oh, de uma biografia do Ted Bundy
  • 5:08 - 5:10
    "que eles tinham na biblioteca da prisão".
  • 5:11 - 5:14
    De qualquer maneira, reconheceu
    que tinha fingido bem demais.
  • 5:14 - 5:16
    Não foi para um hospital
    com paredes almofadadas.
  • 5:16 - 5:19
    Mandaram-no para Broadmoor.
  • 5:19 - 5:20
    E logo que ali entrou,
  • 5:20 - 5:23
    olhou em volta,
    pediu para ver o psiquiatra e disse:
  • 5:23 - 5:26
    "Houve aqui um terrível mal-entendido.
  • 5:26 - 5:27
    "Eu não sou louco".
  • 5:27 - 5:30
    Perguntei-lhe:
    "Há quanto tempo está aqui?"
  • 5:30 - 5:34
    Ele respondeu: "Se tivesse cumprido
    a sentença na prisão pelo crime,
  • 5:34 - 5:36
    "tinha apanhado cinco anos.
  • 5:36 - 5:38
    "Mas estou em Broadmoor há 12".
  • 5:41 - 5:45
    O Tony disse que é mais difícil convencer
    as pessoas de que se é são
  • 5:45 - 5:47
    do que convencê-las do contrário.
  • 5:47 - 5:49
    Disse-me: "Achei que para parecer normal
  • 5:49 - 5:52
    "devia falar normalmente
    sobre coisas triviais,
  • 5:52 - 5:54
    "como futebol ou o que passa na TV.
  • 5:54 - 5:56
    "Assino a revista New Scientist.
  • 5:56 - 5:58
    "Recentemente, vinha lá um artigo
  • 5:58 - 6:02
    "sobre como o exército americano
    treina zangãos para detetarem explosivos.
  • 6:02 - 6:04
    "Então disse à enfermeira:
  • 6:04 - 6:07
    "'Sabia que o exército americano
    está a treinar zângãos
  • 6:07 - 6:08
    "'para descobrirem explosivos?'
  • 6:08 - 6:12
    "Quando li os meus relatórios médicos,
    vi que escreveram o seguinte:
  • 6:12 - 6:15
    "'Acredita que as abelhas
    conseguem farejar explosivos'".
  • 6:15 - 6:16
    (Risos)
  • 6:16 - 6:18
    E ele: "Eles estão sempre à procura
  • 6:18 - 6:21
    "de indícios não verbais
    do meu estado mental.
  • 6:21 - 6:24
    "Mas como é que nos sentamos
    de forma normal?
  • 6:24 - 6:26
    "Como é que cruzamos as pernas
    de forma normal?
  • 6:26 - 6:28
    "É impossível".
  • 6:28 - 6:30
    Quando o Tony me disse isto, pensei:
  • 6:30 - 6:33
    "Será que estou sentado
    como um jornalista?
  • 6:33 - 6:36
    "Estou a cruzar as pernas
    como um jornalista?"
  • 6:36 - 6:41
    Disse-me: "Sabe, tenho o Estrangulador
    de Stockwell num quarto ao lado
  • 6:41 - 6:45
    "e o violador 'Tiptoe Through the Tulips'
    do outro lado.
  • 6:45 - 6:49
    "Por isso, costumo ficar no meu quarto,
    pois acho-os muito assustadores.
  • 6:49 - 6:51
    "E eles veem isso
    como um sinal de loucura.
  • 6:51 - 6:54
    "Dizem que é uma prova
    de que sou distante e arrogante".
  • 6:55 - 7:00
    Só em Broadmoor é que é sinal de loucura
    não querer estar com assassinos em série.
  • 7:00 - 7:04
    De qualquer forma, achei-o perfeitamente
    normal, mas quem sou eu?
  • 7:04 - 7:07
    Em casa, enviei um "email"
    ao médico dele, Anthony Maden:
  • 7:07 - 7:09
    "O que é que se passou afinal?"
  • 7:09 - 7:12
    E ele disse: "Nós sabemos
    que o Tony fingiu ser louco
  • 7:12 - 7:15
    "para se livrar da sentença na prisão,
  • 7:15 - 7:18
    "até porque as alucinações dele
    pareciam ser autênticos clichés,
  • 7:18 - 7:21
    "e desapareceram assim
    que entrou em Broadmoor.
  • 7:21 - 7:23
    "De qualquer forma, já o avaliámos
  • 7:23 - 7:27
    "e determinámos que ele é psicopata".
  • 7:27 - 7:29
    De facto, fingir ser louco
  • 7:29 - 7:34
    é exatamente o tipo de atitude ardilosa
    e manipulativa de um verdadeiro psicopata.
  • 7:34 - 7:36
    Está na lista: "ardiloso e manipulativo".
  • 7:36 - 7:38
    Fingir que o nosso cérebro está danificado
  • 7:38 - 7:41
    é a prova de que o nosso cérebro
    está danificado.
  • 7:41 - 7:43
    Então falei com outros especialistas
  • 7:43 - 7:47
    e eles disseram que o fato às riscas
    é típico de um psicopata.
  • 7:47 - 7:49
    Tem a ver com os pontos 1 e 2 da lista:
  • 7:49 - 7:53
    demasiada conversa, encanto superficial
    e um sentido de autoestima arrogante.
  • 7:53 - 7:56
    E eu: "Então, porque é que ele
    não se dá com outros doentes?"
  • 7:56 - 8:01
    Psicopata clássico — relacionado com
    mania das grandezas e falta de empatia.
  • 8:01 - 8:04
    No fundo, todas as coisas
    que pareciam normais no Tony,
  • 8:04 - 8:06
    segundo o médico,
  • 8:06 - 8:09
    eram a prova de que
    era louco, à sua maneira.
  • 8:09 - 8:11
    Ele era um psicopata.
  • 8:11 - 8:13
    O médico dele disse-me:
  • 8:13 - 8:15
    "Se quer saber mais sobre psicopatas,
  • 8:15 - 8:18
    "pode fazer um curso
    de deteção de psicopatas
  • 8:18 - 8:21
    "dirigido por Robert Hare,
    que inventou a lista de psicopatia".
  • 8:21 - 8:22
    E eu fui.
  • 8:22 - 8:24
    Fiz um curso de deteção de psicopatas
  • 8:24 - 8:28
    e agora sou uma pessoa certificada
  • 8:28 - 8:31
    — devo dizer, aliás, extremamente apto —
  • 8:31 - 8:33
    um detetor de psicopatas.
  • 8:33 - 8:37
    As estatísticas são estas:
  • 8:36 - 8:41
    Uma em cada cem pessoas normais
    é psicopata.
  • 8:41 - 8:44
    Nesta sala estão cerca de 1500 pessoas.
  • 8:45 - 8:48
    Quinze de vocês são psicopatas.
  • 8:50 - 8:52
    Mas este número aumenta para 4%
  • 8:52 - 8:55
    entre administradores e empresários.
  • 8:55 - 8:58
    Por isso, acho que há uma boa hipótese
  • 8:58 - 9:03
    de existirem 30 a 40 psicopatas nesta sala.
  • 9:03 - 9:06
    Pode, eventualmente,
    haver carnificina esta noite.
  • 9:06 - 9:09
    (Risos)
  • 9:10 - 9:15
    Hare afirmou que a razão se deve ao facto
    de o capitalismo, no seu auge mais cruel,
  • 9:15 - 9:18
    recompensar comportamentos psicopatas:
  • 9:18 - 9:23
    a falta de empatia, a verborreia,
  • 9:23 - 9:25
    atitudes ardilosas e manipulativas.
  • 9:25 - 9:28
    Aliás, o capitalismo, no seu ponto
    mais desumano,
  • 9:28 - 9:32
    é uma manifestação física da psicopatia.
  • 9:32 - 9:34
    É como uma forma de psicopatia
  • 9:34 - 9:38
    que chegou para nos afetar a todos.
  • 9:38 - 9:40
    E Hare disse-me:
    "Esqueça esse tipo de Broadmoor
  • 9:40 - 9:42
    "que simulou ou não insanidade.
  • 9:42 - 9:44
    "Ninguém quer saber disso?
    Não interessa.
  • 9:44 - 9:47
    "O que interessa
    é a psicopatia empresarial.
  • 9:47 - 9:51
    "Talvez seja boa ideia
    entrevistar psicopatas empresariais".
  • 9:51 - 9:54
    Então, tentei fazer isso.
    Escrevi para a Enron
  • 9:54 - 9:56
    e disse-lhes:
    "Posso ir entrevistá-los à prisão
  • 9:56 - 9:59
    para descobrir se são psicopatas?"
  • 9:59 - 10:00
    (Risos)
  • 10:00 - 10:02
    mas eles não responderam.
  • 10:03 - 10:05
    Então mudei de tática.
  • 10:05 - 10:08
    Enviei um "email" a "Chainsaw Al" Dunlap,
  • 10:08 - 10:11
    o ladrão depurador de ativos nos anos 90.
  • 10:11 - 10:16
    Entrava em negócios prestes a falir
    e despedia 30% da mão-de-obra,
  • 10:16 - 10:19
    transformava cidades americanas
    em cidades fantasma.
  • 10:19 - 10:21
    Enviei-lhe um "email" e disse-lhe:
  • 10:21 - 10:23
    "Creio que deve ter
    uma anomalia mental particular
  • 10:23 - 10:25
    "que o torna especial
  • 10:25 - 10:29
    "e interessado no espírito
    predador e destemido.
  • 10:30 - 10:33
    "Posso falar consigo sobre
    a sua anomalia cerebral especial?"
  • 10:33 - 10:35
    Resposta: "Claro, venha".
  • 10:36 - 10:40
    Fui ter com Al Dunlap
    à sua mansão gigantesca, na Flórida,
  • 10:40 - 10:44
    que estava repleta de esculturas
    de animais predadores.
  • 10:44 - 10:47
    Havia leões e tigres.
  • 10:47 - 10:51
    Levou-me ao jardim
    onde havia falcões e águias, e disse:
  • 10:51 - 10:53
    "Ali estão os tubarões".
  • 10:53 - 10:56
    Dizia-me isto de forma menos efeminada.
  • 10:56 - 11:00
    "Aqui há mais tubarões e há tigres".
  • 11:02 - 11:03
    Parecia Nárnia.
  • 11:04 - 11:05
    (Risos)
  • 11:07 - 11:09
    Depois, entrámos na cozinha.
  • 11:10 - 11:13
    Al Dunlap ia às empresas
    em falência para as salvar.
  • 11:13 - 11:16
    Despedia 30% da mão-de-obra.
  • 11:16 - 11:19
    Muitas vezes, despedia as pessoas
    com uma piada.
  • 11:19 - 11:21
    Por exemplo, há uma história famosa:
  • 11:21 - 11:24
    Alguém foi ter com ele e disse:
    "Acabei de comprar um carro novo",
  • 11:24 - 11:27
    e ele disse: "Pode ter um carro novo,
  • 11:27 - 11:30
    mas digo-lhe já o que é
    que não tem: um emprego".
  • 11:33 - 11:35
    Na cozinha, onde se encontrava
    também a mulher, Judy,
  • 11:35 - 11:37
    e o guarda-costas, Sean, eu disse:
  • 11:37 - 11:39
    "Lembra-se de eu lhe dizer no 'email'
  • 11:39 - 11:41
    "que pode ter uma anomalia no cérebro?"
  • 11:41 - 11:44
    E ele: "Sim, é uma teoria espantosa.
  • 11:44 - 11:47
    "É como o Star Trek. Está a ir
    onde nenhum homem jamais esteve".
  • 11:47 - 11:49
    Eu disse:
  • 11:49 - 11:54
    "Alguns psicólogos poderão dizer
  • 11:54 - 11:58
    "que isso faz de si..."
  • 11:58 - 11:59
    (Risos)
  • 11:59 - 12:01
    "O quê?" perguntou-me.
  • 12:01 - 12:03
    "... um psicopata".
  • 12:03 - 12:07
    "Tenho uma lista de características
    psicopáticas no meu bolso.
  • 12:07 - 12:09
    "Posso revê-las consigo?"
  • 12:09 - 12:12
    Olhou para mim com ar intrigado,
    disfarçadamente
  • 12:12 - 12:13
    e disse: "Ok, pode começar".
  • 12:13 - 12:17
    "OK. Sentido arrogante de autoestima"
  • 12:17 - 12:19
    — o que, devo dizer,
    teria sido difícil de negar
  • 12:19 - 12:23
    porque estava por baixo
    duma pintura gigantesca dele próprio.
  • 12:23 - 12:25
    (Risos)
  • 12:27 - 12:30
    Disse-me: "Bem, temos de acreditar
    em nós próprios!".
  • 12:30 - 12:33
    "Manipulativo", continuei.
  • 12:33 - 12:36
    "Isso é espírito de liderança", retorquiu.
  • 12:36 - 12:38
    "Afeições frívolas:
  • 12:38 - 12:40
    "incapacidade de experimentar emoções".
  • 12:40 - 12:44
    Ele disse: "Quem é que quer ir-se abaixo
    por causa de emoções sem sentido?"
  • 12:44 - 12:46
    Basicamente, começou a transformar a lista
  • 12:46 - 12:50
    numa coisa parecida com o livro
    "Quem Mexeu no Meu Queijo?"
  • 12:50 - 12:52
    (Risos)
  • 12:53 - 12:56
    Mas reparei no que aconteceu
    comigo quando estive com Al Dunlap,
  • 12:56 - 12:59
    sempre que ele dizia uma coisa
    aparentemente normal,
  • 12:59 - 13:02
    por exemplo, não concordar
    com delinquência juvenil.
  • 13:02 - 13:04
    Disse que entrou
    na academia West Point
  • 13:04 - 13:07
    e que não deixam entrar
    delinquentes em West Point.
  • 13:07 - 13:09
    E que não concorda
    com casamentos que durem pouco
  • 13:09 - 13:11
    e que só se casou duas vezes na vida.
  • 13:11 - 13:14
    A primeira mulher registou
    nos documentos do divórcio
  • 13:14 - 13:16
    que ele a ameaçou uma vez com uma faca
  • 13:16 - 13:19
    e que ele sempre quisera
    conhecer o sabor da carne humana,
  • 13:19 - 13:21
    mas as pessoas dizem coisas estúpidas,
  • 13:21 - 13:24
    em maus casamentos, no calor do momento.
  • 13:24 - 13:26
    O seu segundo casamento durava há 41 anos.
  • 13:26 - 13:31
    Sempre que me dizia qualquer coisa que
    não me parecia psicopata, eu pensava:
  • 13:31 - 13:34
    "Não vou registar isso no livro".
  • 13:34 - 13:37
    Depois, apercebi-me que,
    ao tornar-me num detetor de psicopatas
  • 13:37 - 13:41
    tinha passado a ser também
    um pouco psicopata,
  • 13:41 - 13:46
    porque eu estava danado para o meter
    numa caixa com a etiqueta de "psicopata".
  • 13:46 - 13:50
    Estava danado para defini-lo
    pelos seus extremos mais loucos.
  • 13:50 - 13:54
    Depois pensei: "Meu Deus.
    Isto é o que tenho feito há 20 anos.
  • 13:54 - 13:56
    É o que todos os jornalistas fazem.
  • 13:56 - 13:59
    Viajamos pelo mundo
    com o nosso bloco de notas
  • 13:59 - 14:01
    e esperamos pelas pérolas.
  • 14:01 - 14:05
    As pérolas são sempre
    os aspetos mais extremos
  • 14:05 - 14:07
    da personalidade dos entrevistados.
  • 14:07 - 14:11
    Juntamos isso tudo como monges medievais
  • 14:11 - 14:14
    e deixamos o que é normal para trás.
  • 14:15 - 14:21
    Estamos num país que diagnostica
    perturbações mentais de forma absurda:
  • 14:21 - 14:25
    bipolaridade infantil
    — classificam de bipolares
  • 14:25 - 14:27
    crianças com apenas quatro anos
  • 14:27 - 14:29
    por explodirem e fazerem birras,
  • 14:29 - 14:33
    uma coisa que as coloca no topo da lista.
  • 14:33 - 14:37
    Quando voltei a Londres,
    o Tony telefonou-me.
  • 14:37 - 14:41
    Perguntou-me: "Porque é que
    não responde aos meus telefonemas?"
  • 14:41 - 14:44
    Eu disse-lhe: "Eles dizem
    que você é um psicopata".
  • 14:44 - 14:46
    "Não sou um psicopata", reagiu.
  • 14:46 - 14:49
    "Sabe uma coisa? Um dos itens da lista
    é a ausência de remorsos,
  • 14:49 - 14:52
    "mas outro é ser-se
    manhoso e manipulativo.
  • 14:52 - 14:55
    "Se alguém diz que sente remorsos
    pelo crime que cometeu,
  • 14:55 - 14:56
    "os especialistas dizem:
  • 14:56 - 14:59
    "'Só um psicopata diz, de forma manhosa,
    que sente remorsos
  • 14:59 - 15:02
    quando, no fundo, não sente'.
  • 15:02 - 15:04
    "É como a bruxaria.
    Viram tudo ao contrário".
  • 15:04 - 15:07
    Disse-me também: "Vou ter uma
    audiência brevemente.
  • 15:07 - 15:08
    Importa-se de ir?"
  • 15:08 - 15:10
    Eu disse que sim.
  • 15:11 - 15:13
    Fui à audiência.
  • 15:13 - 15:18
    Após 14 anos em Broadmoor,
    finalmente deixaram-no sair.
  • 15:18 - 15:21
    Decidiram que não o deveriam
    manter indefinidamente
  • 15:21 - 15:24
    porque ele encontra-se no topo da lista.
  • 15:24 - 15:29
    Isso podia significar que a probabilidade
    de recaída era muito maior que a média.
  • 15:30 - 15:31
    Então, deixaram-no sair.
  • 15:31 - 15:33
    Cá fora, no corredor, ele disse-me:
  • 15:33 - 15:35
    "Sabe que mais, Jon?
  • 15:35 - 15:38
    "Somos todos um pouco psicopatas.
  • 15:38 - 15:41
    "É você. Sou eu. Eu sem dúvida que sou".
  • 15:42 - 15:44
    Perguntei-lhe:
    "O que é que vai fazer agora?"
  • 15:44 - 15:46
    "Vou para a Bélgica,
  • 15:46 - 15:48
    "porque vive lá uma mulher
    de quem eu gosto.
  • 15:48 - 15:52
    "Mas ela é casada, por isso vou ter
    de a separar do marido".
  • 15:52 - 15:55
    (Risos)
  • 15:56 - 15:59
    Isto foi há dois anos,
  • 15:59 - 16:01
    e foi aí que o meu livro acabou.
  • 16:02 - 16:06
    De há 20 meses para cá, tudo corria bem.
  • 16:06 - 16:08
    Não aconteceu nada de mal.
  • 16:08 - 16:10
    Vivia com uma rapariga
    nos arredores de Londres.
  • 16:10 - 16:12
    Segundo Brian, o cientologista,
  • 16:12 - 16:16
    ele estava a compensar o tempo perdido,
    o que pode parecer sinistro,
  • 16:16 - 16:17
    mas não o é, necessariamente.
  • 16:17 - 16:19
    Infelizmente, após 20 meses,
  • 16:19 - 16:22
    voltou para a prisão durante um mês.
  • 16:22 - 16:26
    Disse que se meteu numa briga num bar,
  • 16:26 - 16:29
    acabou por ir parar à prisão
    durante um mês, o que é grave,
  • 16:29 - 16:32
    mas, pelo menos, um mês significa
  • 16:32 - 16:35
    que a briga não fora assim tão má.
  • 16:35 - 16:37
    Depois telefonou-me.
  • 16:38 - 16:43
    E sabem que mais? Acho que foi bom
    o Tony ter saído de lá,
  • 16:43 - 16:47
    pois não deveríamos definir as pessoas
    pelos seus extremos mais loucos.
  • 16:48 - 16:50
    No fundo, o Tony é um semi-psicopata.
  • 16:50 - 16:56
    É uma área cinzenta num mundo
    que não gosta de áreas cinzentas,
  • 16:56 - 17:02
    mas é nas áreas cinzentas que é possível
    encontrar a complexidade,
  • 17:02 - 17:04
    a humanidade
  • 17:04 - 17:05
    e a verdade.
  • 17:06 - 17:08
    Então, ele disse-me:
  • 17:08 - 17:12
    "Jon, posso convidá-lo
    para uma bebida num bar?
  • 17:12 - 17:16
    "Quero agradecer-lhe
    por tudo o que fez por mim".
  • 17:16 - 17:19
    Mas eu não fui.
    O que é que vocês teriam feito?
  • 17:21 - 17:22
    Obrigado.
  • 17:22 - 17:25
    (Aplausos)
Title:
Respostas estranhas ao teste do psicopata
Speaker:
Jon Ronson
Description:

Haverá uma linha definitiva que divide os loucos dos sãos? Com um discurso de deixar os cabelos em pé, Jon Ronson, autor de "The Psychopath Test", esclarece os meios-termos entre os dois.

(Com Julian Treasure no som, ao vivo, e animação de Evan Grant).

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:01

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