Respostas estranhas ao teste do psicopata
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0:01 - 0:05A história começa assim:
eu estava em casa de uma amiga -
0:05 - 0:08e vi que ela tinha
um exemplar do manual DSM, -
0:08 - 0:11que é o manual das perturbações mentais.
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0:11 - 0:14Estão lá catalogadas todas
as perturbações mentais conhecidas. -
0:14 - 0:17Nos anos 50 costumava ser
um panfleto muito pequeno. -
0:17 - 0:20Depois foi crescendo
e crescendo e crescendo, -
0:20 - 0:23e agora tem 886 páginas.
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0:23 - 0:27Cataloga neste momento
cerca de 374 distúrbios mentais. -
0:27 - 0:29Então comecei a folheá-lo.
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0:29 - 0:32interrogando-me se teria
algum distúrbio mental. -
0:32 - 0:34Ao que parece tenho 12.
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0:34 - 0:35(Risos)
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0:35 - 0:37Tenho Perturbação
de Ansiedade Generalizada, -
0:37 - 0:39o que é um dado adquirido.
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0:39 - 0:41Tenho pesadelos,
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0:41 - 0:42que estão na categoria
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0:42 - 0:46de sonhos recorrentes de perseguição
ou fracasso nalguma coisa -
0:46 - 0:50— todos os meus sonhos envolvem pessoas
a perseguirem-me pela rua, a dizerem: -
0:50 - 0:52"És um falhado".
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0:52 - 0:54(Risos)
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0:54 - 0:56Tenho problemas relacionais pais-filhos
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0:56 - 0:59pelos quais culpo os meus pais.
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0:59 - 1:00(Risos)
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1:00 - 1:03Estou a brincar. Não estou a brincar.
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1:03 - 1:05Estou a brincar.
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1:05 - 1:06Costumo fingir que estou doente.
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1:06 - 1:08Até acho que é bastante raro
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1:08 - 1:11ter essa tendência em simultâneo
com a ansiedade generalizada -
1:11 - 1:14porque, quando me finjo doente,
sinto-me muito ansioso. -
1:14 - 1:15Enfim, estava a ler o livro
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1:15 - 1:18e a pensar se era mais maluco
do que pensava, -
1:18 - 1:22se não era boa ideia fazermos o nosso
diagnóstico de perturbações mentais -
1:22 - 1:24se não formos profissionais treinados,
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1:24 - 1:28ou se a psiquiatria tinha um desejo estranho
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1:28 - 1:33de classificar comportamentos humanos
essenciais como perturbações mentais. -
1:33 - 1:37Não sei quais delas é verdadeira,
mas achei que era uma coisa interessante. -
1:37 - 1:40Então pensei que era melhor
falar com um crítico da psiquiatria -
1:40 - 1:42para saber a sua opinião .
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1:42 - 1:45Foi assim que acabei por almoçar
com um cientologista. -
1:46 - 1:48Era um homem chamado Brian,
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1:48 - 1:51líder duma equipa
dos melhores cientologistas, -
1:51 - 1:55que estão apostados em destruir
a psiquiatria onde quer que ela exista. -
1:55 - 1:57Intitulam-se CCHR.
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1:57 - 1:59E eu disse-lhe: "Consegue-me provar
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1:59 - 2:04que a psiquiatria é uma pseudociência
na qual não podemos confiar?" -
2:04 - 2:06E ele respondeu: "Sim, podemos prová-lo".
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2:06 - 2:07E eu perguntei: "Como?"
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2:07 - 2:10E ele disse: "Vamos-te apresentar o Tony".
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2:11 - 2:13E eu disse: "Quem é o Tony?"
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2:13 - 2:16E ele respondeu:
"O Tony está em Broadmoor." -
2:16 - 2:19Broadmoor é o Hospital de Broadmoor.
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2:19 - 2:24Era conhecido por "Asilo de Broadmoor
para os Criminalmente Insanos". -
2:24 - 2:28É para onde enviam os assassinos em série
e as pessoas inaptas. -
2:28 - 2:31Então perguntei ao Brian:
"O que é que o Tony fez?" -
2:31 - 2:35e ele disse: "Pouca coisa.
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2:35 - 2:37"Espancou alguém ou algo do género,
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2:37 - 2:42"e decidiu fingir que era louco
para se livrar de uma sentença na prisão. -
2:42 - 2:47"Mas fingiu bem demais e agora
está enfiado em Broadmoor -
2:47 - 2:49e ninguém acredita que ele não é maluco.
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2:49 - 2:53Quer que tentemos levá-lo a Broadmoor
para conhecer o Tony?" -
2:53 - 2:55E eu disse: "Sim, por favor".
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2:55 - 2:57Então apanhei o comboio para Broadmoor.
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2:57 - 3:01Comecei a bocejar incontrolavelmente
quando passámos Kempton Park, -
3:01 - 3:04o que, parece, é o que os cães fazem
quando se sentem ansiosos -
3:04 - 3:06— bocejam incontrolavelmente.
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3:06 - 3:08E chegámos a Broadmoor.
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3:08 - 3:12Fui conduzido de portão
em portão em portão -
3:12 - 3:14até ao centro de saúde,
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3:14 - 3:16que é onde podemos visitar os pacientes.
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3:16 - 3:19Parece um hotel gigante.
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3:19 - 3:23Está pintado de cor de pêssego,
de verde e de cores calmantes. -
3:23 - 3:28A única cor forte é o vermelho
dos botões de pânico. -
3:29 - 3:32Os pacientes começaram a entrar.
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3:32 - 3:36Eram todos obesos,
usavam calças de fato de treino -
3:36 - 3:38e pareciam bastante dóceis.
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3:38 - 3:40Brian, o cientologista,
sussurrou-me ao ouvido: -
3:40 - 3:43"Eles estão medicados",
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3:43 - 3:45o que para os cientologistas
é, talvez, a pior coisa do mundo -
3:45 - 3:48mas, a meu ver,
é provavelmente uma boa ideia. -
3:48 - 3:50(Risos)
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3:50 - 3:53Então o Brian disse: "Aqui está o Tony".
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3:53 - 3:55Vinha um homem a entrar.
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3:55 - 3:59Não era obeso, aliás,
estava em excelente forma física, -
3:59 - 4:01e não tinha calças de fato de treino.
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4:01 - 4:03Tinha um fato às riscas.
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4:03 - 4:05Vinha de braços abertos
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4:05 - 4:08como alguém saído
do programa "O Aprendiz'. -
4:08 - 4:10Parecia ser um homem que queria usar roupa
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4:10 - 4:14que me convencesse
de que ele era mesmo são. -
4:15 - 4:16Sentou-se.
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4:16 - 4:19E eu perguntei: "Fingiu ser louco
para vir para aqui?" -
4:19 - 4:23E ele respondeu: "Sem dúvida.
Espanquei um tipo quando tinha 17 anos. -
4:23 - 4:25"Enquanto estava preso,
a aguardar julgamento. -
4:25 - 4:27"o meu companheiro de cela disse-me:
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4:27 - 4:30"'Sabes o que tens de fazer?
Alegar insanidade. -
4:30 - 4:33"'Diz-lhes que és louco. Vais
para um hospital com paredes almofadadas. -
4:33 - 4:36"'As enfermeiras vão-te dar "pizzas".
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4:36 - 4:38"'E terás uma Playstation só para ti.
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4:38 - 4:40E eu: "Como é que fez isso?"
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4:40 - 4:42"Pedi para ver o psiquiatra da prisão.
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4:42 - 4:44"Eu tinha visto um filme chamado "Crash",
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4:44 - 4:48"em que as pessoas retiram prazer sexual
a espatifarem carros contra a parede. -
4:48 - 4:51"Então eu disse ao psiquiatra:
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4:51 - 4:54"''Espatifar carros contra a parede
dá-me prazer sexual'". -
4:54 - 4:56E eu disse: "E depois?"
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4:56 - 4:58Ele disse: "Ah, sim, disse ao psiquiatra
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4:58 - 5:01"que gostava de observar mulheres
quando elas morriam, -
5:01 - 5:04"pois isso fazia com que
me sentisse mais normal". -
5:04 - 5:06E eu: "Onde é foi buscar isso?"
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5:06 - 5:08Respondeu-me:
"Oh, de uma biografia do Ted Bundy -
5:08 - 5:10"que eles tinham na biblioteca da prisão".
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5:11 - 5:14De qualquer maneira, reconheceu
que tinha fingido bem demais. -
5:14 - 5:16Não foi para um hospital
com paredes almofadadas. -
5:16 - 5:19Mandaram-no para Broadmoor.
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5:19 - 5:20E logo que ali entrou,
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5:20 - 5:23olhou em volta,
pediu para ver o psiquiatra e disse: -
5:23 - 5:26"Houve aqui um terrível mal-entendido.
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5:26 - 5:27"Eu não sou louco".
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5:27 - 5:30Perguntei-lhe:
"Há quanto tempo está aqui?" -
5:30 - 5:34Ele respondeu: "Se tivesse cumprido
a sentença na prisão pelo crime, -
5:34 - 5:36"tinha apanhado cinco anos.
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5:36 - 5:38"Mas estou em Broadmoor há 12".
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5:41 - 5:45O Tony disse que é mais difícil convencer
as pessoas de que se é são -
5:45 - 5:47do que convencê-las do contrário.
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5:47 - 5:49Disse-me: "Achei que para parecer normal
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5:49 - 5:52"devia falar normalmente
sobre coisas triviais, -
5:52 - 5:54"como futebol ou o que passa na TV.
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5:54 - 5:56"Assino a revista New Scientist.
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5:56 - 5:58"Recentemente, vinha lá um artigo
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5:58 - 6:02"sobre como o exército americano
treina zangãos para detetarem explosivos. -
6:02 - 6:04"Então disse à enfermeira:
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6:04 - 6:07"'Sabia que o exército americano
está a treinar zângãos -
6:07 - 6:08"'para descobrirem explosivos?'
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6:08 - 6:12"Quando li os meus relatórios médicos,
vi que escreveram o seguinte: -
6:12 - 6:15"'Acredita que as abelhas
conseguem farejar explosivos'". -
6:15 - 6:16(Risos)
-
6:16 - 6:18E ele: "Eles estão sempre à procura
-
6:18 - 6:21"de indícios não verbais
do meu estado mental. -
6:21 - 6:24"Mas como é que nos sentamos
de forma normal? -
6:24 - 6:26"Como é que cruzamos as pernas
de forma normal? -
6:26 - 6:28"É impossível".
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6:28 - 6:30Quando o Tony me disse isto, pensei:
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6:30 - 6:33"Será que estou sentado
como um jornalista? -
6:33 - 6:36"Estou a cruzar as pernas
como um jornalista?" -
6:36 - 6:41Disse-me: "Sabe, tenho o Estrangulador
de Stockwell num quarto ao lado -
6:41 - 6:45"e o violador 'Tiptoe Through the Tulips'
do outro lado. -
6:45 - 6:49"Por isso, costumo ficar no meu quarto,
pois acho-os muito assustadores. -
6:49 - 6:51"E eles veem isso
como um sinal de loucura. -
6:51 - 6:54"Dizem que é uma prova
de que sou distante e arrogante". -
6:55 - 7:00Só em Broadmoor é que é sinal de loucura
não querer estar com assassinos em série. -
7:00 - 7:04De qualquer forma, achei-o perfeitamente
normal, mas quem sou eu? -
7:04 - 7:07Em casa, enviei um "email"
ao médico dele, Anthony Maden: -
7:07 - 7:09"O que é que se passou afinal?"
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7:09 - 7:12E ele disse: "Nós sabemos
que o Tony fingiu ser louco -
7:12 - 7:15"para se livrar da sentença na prisão,
-
7:15 - 7:18"até porque as alucinações dele
pareciam ser autênticos clichés, -
7:18 - 7:21"e desapareceram assim
que entrou em Broadmoor. -
7:21 - 7:23"De qualquer forma, já o avaliámos
-
7:23 - 7:27"e determinámos que ele é psicopata".
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7:27 - 7:29De facto, fingir ser louco
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7:29 - 7:34é exatamente o tipo de atitude ardilosa
e manipulativa de um verdadeiro psicopata. -
7:34 - 7:36Está na lista: "ardiloso e manipulativo".
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7:36 - 7:38Fingir que o nosso cérebro está danificado
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7:38 - 7:41é a prova de que o nosso cérebro
está danificado. -
7:41 - 7:43Então falei com outros especialistas
-
7:43 - 7:47e eles disseram que o fato às riscas
é típico de um psicopata. -
7:47 - 7:49Tem a ver com os pontos 1 e 2 da lista:
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7:49 - 7:53demasiada conversa, encanto superficial
e um sentido de autoestima arrogante. -
7:53 - 7:56E eu: "Então, porque é que ele
não se dá com outros doentes?" -
7:56 - 8:01Psicopata clássico — relacionado com
mania das grandezas e falta de empatia. -
8:01 - 8:04No fundo, todas as coisas
que pareciam normais no Tony, -
8:04 - 8:06segundo o médico,
-
8:06 - 8:09eram a prova de que
era louco, à sua maneira. -
8:09 - 8:11Ele era um psicopata.
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8:11 - 8:13O médico dele disse-me:
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8:13 - 8:15"Se quer saber mais sobre psicopatas,
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8:15 - 8:18"pode fazer um curso
de deteção de psicopatas -
8:18 - 8:21"dirigido por Robert Hare,
que inventou a lista de psicopatia". -
8:21 - 8:22E eu fui.
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8:22 - 8:24Fiz um curso de deteção de psicopatas
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8:24 - 8:28e agora sou uma pessoa certificada
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8:28 - 8:31— devo dizer, aliás, extremamente apto —
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8:31 - 8:33um detetor de psicopatas.
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8:33 - 8:37As estatísticas são estas:
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8:36 - 8:41Uma em cada cem pessoas normais
é psicopata. -
8:41 - 8:44Nesta sala estão cerca de 1500 pessoas.
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8:45 - 8:48Quinze de vocês são psicopatas.
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8:50 - 8:52Mas este número aumenta para 4%
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8:52 - 8:55entre administradores e empresários.
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8:55 - 8:58Por isso, acho que há uma boa hipótese
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8:58 - 9:03de existirem 30 a 40 psicopatas nesta sala.
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9:03 - 9:06Pode, eventualmente,
haver carnificina esta noite. -
9:06 - 9:09(Risos)
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9:10 - 9:15Hare afirmou que a razão se deve ao facto
de o capitalismo, no seu auge mais cruel, -
9:15 - 9:18recompensar comportamentos psicopatas:
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9:18 - 9:23a falta de empatia, a verborreia,
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9:23 - 9:25atitudes ardilosas e manipulativas.
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9:25 - 9:28Aliás, o capitalismo, no seu ponto
mais desumano, -
9:28 - 9:32é uma manifestação física da psicopatia.
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9:32 - 9:34É como uma forma de psicopatia
-
9:34 - 9:38que chegou para nos afetar a todos.
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9:38 - 9:40E Hare disse-me:
"Esqueça esse tipo de Broadmoor -
9:40 - 9:42"que simulou ou não insanidade.
-
9:42 - 9:44"Ninguém quer saber disso?
Não interessa. -
9:44 - 9:47"O que interessa
é a psicopatia empresarial. -
9:47 - 9:51"Talvez seja boa ideia
entrevistar psicopatas empresariais". -
9:51 - 9:54Então, tentei fazer isso.
Escrevi para a Enron -
9:54 - 9:56e disse-lhes:
"Posso ir entrevistá-los à prisão -
9:56 - 9:59para descobrir se são psicopatas?"
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9:59 - 10:00(Risos)
-
10:00 - 10:02mas eles não responderam.
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10:03 - 10:05Então mudei de tática.
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10:05 - 10:08Enviei um "email" a "Chainsaw Al" Dunlap,
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10:08 - 10:11o ladrão depurador de ativos nos anos 90.
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10:11 - 10:16Entrava em negócios prestes a falir
e despedia 30% da mão-de-obra, -
10:16 - 10:19transformava cidades americanas
em cidades fantasma. -
10:19 - 10:21Enviei-lhe um "email" e disse-lhe:
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10:21 - 10:23"Creio que deve ter
uma anomalia mental particular -
10:23 - 10:25"que o torna especial
-
10:25 - 10:29"e interessado no espírito
predador e destemido. -
10:30 - 10:33"Posso falar consigo sobre
a sua anomalia cerebral especial?" -
10:33 - 10:35Resposta: "Claro, venha".
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10:36 - 10:40Fui ter com Al Dunlap
à sua mansão gigantesca, na Flórida, -
10:40 - 10:44que estava repleta de esculturas
de animais predadores. -
10:44 - 10:47Havia leões e tigres.
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10:47 - 10:51Levou-me ao jardim
onde havia falcões e águias, e disse: -
10:51 - 10:53"Ali estão os tubarões".
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10:53 - 10:56Dizia-me isto de forma menos efeminada.
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10:56 - 11:00"Aqui há mais tubarões e há tigres".
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11:02 - 11:03Parecia Nárnia.
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11:04 - 11:05(Risos)
-
11:07 - 11:09Depois, entrámos na cozinha.
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11:10 - 11:13Al Dunlap ia às empresas
em falência para as salvar. -
11:13 - 11:16Despedia 30% da mão-de-obra.
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11:16 - 11:19Muitas vezes, despedia as pessoas
com uma piada. -
11:19 - 11:21Por exemplo, há uma história famosa:
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11:21 - 11:24Alguém foi ter com ele e disse:
"Acabei de comprar um carro novo", -
11:24 - 11:27e ele disse: "Pode ter um carro novo,
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11:27 - 11:30mas digo-lhe já o que é
que não tem: um emprego". -
11:33 - 11:35Na cozinha, onde se encontrava
também a mulher, Judy, -
11:35 - 11:37e o guarda-costas, Sean, eu disse:
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11:37 - 11:39"Lembra-se de eu lhe dizer no 'email'
-
11:39 - 11:41"que pode ter uma anomalia no cérebro?"
-
11:41 - 11:44E ele: "Sim, é uma teoria espantosa.
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11:44 - 11:47"É como o Star Trek. Está a ir
onde nenhum homem jamais esteve". -
11:47 - 11:49Eu disse:
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11:49 - 11:54"Alguns psicólogos poderão dizer
-
11:54 - 11:58"que isso faz de si..."
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11:58 - 11:59(Risos)
-
11:59 - 12:01"O quê?" perguntou-me.
-
12:01 - 12:03"... um psicopata".
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12:03 - 12:07"Tenho uma lista de características
psicopáticas no meu bolso. -
12:07 - 12:09"Posso revê-las consigo?"
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12:09 - 12:12Olhou para mim com ar intrigado,
disfarçadamente -
12:12 - 12:13e disse: "Ok, pode começar".
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12:13 - 12:17"OK. Sentido arrogante de autoestima"
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12:17 - 12:19— o que, devo dizer,
teria sido difícil de negar -
12:19 - 12:23porque estava por baixo
duma pintura gigantesca dele próprio. -
12:23 - 12:25(Risos)
-
12:27 - 12:30Disse-me: "Bem, temos de acreditar
em nós próprios!". -
12:30 - 12:33"Manipulativo", continuei.
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12:33 - 12:36"Isso é espírito de liderança", retorquiu.
-
12:36 - 12:38"Afeições frívolas:
-
12:38 - 12:40"incapacidade de experimentar emoções".
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12:40 - 12:44Ele disse: "Quem é que quer ir-se abaixo
por causa de emoções sem sentido?" -
12:44 - 12:46Basicamente, começou a transformar a lista
-
12:46 - 12:50numa coisa parecida com o livro
"Quem Mexeu no Meu Queijo?" -
12:50 - 12:52(Risos)
-
12:53 - 12:56Mas reparei no que aconteceu
comigo quando estive com Al Dunlap, -
12:56 - 12:59sempre que ele dizia uma coisa
aparentemente normal, -
12:59 - 13:02por exemplo, não concordar
com delinquência juvenil. -
13:02 - 13:04Disse que entrou
na academia West Point -
13:04 - 13:07e que não deixam entrar
delinquentes em West Point. -
13:07 - 13:09E que não concorda
com casamentos que durem pouco -
13:09 - 13:11e que só se casou duas vezes na vida.
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13:11 - 13:14A primeira mulher registou
nos documentos do divórcio -
13:14 - 13:16que ele a ameaçou uma vez com uma faca
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13:16 - 13:19e que ele sempre quisera
conhecer o sabor da carne humana, -
13:19 - 13:21mas as pessoas dizem coisas estúpidas,
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13:21 - 13:24em maus casamentos, no calor do momento.
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13:24 - 13:26O seu segundo casamento durava há 41 anos.
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13:26 - 13:31Sempre que me dizia qualquer coisa que
não me parecia psicopata, eu pensava: -
13:31 - 13:34"Não vou registar isso no livro".
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13:34 - 13:37Depois, apercebi-me que,
ao tornar-me num detetor de psicopatas -
13:37 - 13:41tinha passado a ser também
um pouco psicopata, -
13:41 - 13:46porque eu estava danado para o meter
numa caixa com a etiqueta de "psicopata". -
13:46 - 13:50Estava danado para defini-lo
pelos seus extremos mais loucos. -
13:50 - 13:54Depois pensei: "Meu Deus.
Isto é o que tenho feito há 20 anos. -
13:54 - 13:56É o que todos os jornalistas fazem.
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13:56 - 13:59Viajamos pelo mundo
com o nosso bloco de notas -
13:59 - 14:01e esperamos pelas pérolas.
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14:01 - 14:05As pérolas são sempre
os aspetos mais extremos -
14:05 - 14:07da personalidade dos entrevistados.
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14:07 - 14:11Juntamos isso tudo como monges medievais
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14:11 - 14:14e deixamos o que é normal para trás.
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14:15 - 14:21Estamos num país que diagnostica
perturbações mentais de forma absurda: -
14:21 - 14:25bipolaridade infantil
— classificam de bipolares -
14:25 - 14:27crianças com apenas quatro anos
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14:27 - 14:29por explodirem e fazerem birras,
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14:29 - 14:33uma coisa que as coloca no topo da lista.
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14:33 - 14:37Quando voltei a Londres,
o Tony telefonou-me. -
14:37 - 14:41Perguntou-me: "Porque é que
não responde aos meus telefonemas?" -
14:41 - 14:44Eu disse-lhe: "Eles dizem
que você é um psicopata". -
14:44 - 14:46"Não sou um psicopata", reagiu.
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14:46 - 14:49"Sabe uma coisa? Um dos itens da lista
é a ausência de remorsos, -
14:49 - 14:52"mas outro é ser-se
manhoso e manipulativo. -
14:52 - 14:55"Se alguém diz que sente remorsos
pelo crime que cometeu, -
14:55 - 14:56"os especialistas dizem:
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14:56 - 14:59"'Só um psicopata diz, de forma manhosa,
que sente remorsos -
14:59 - 15:02quando, no fundo, não sente'.
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15:02 - 15:04"É como a bruxaria.
Viram tudo ao contrário". -
15:04 - 15:07Disse-me também: "Vou ter uma
audiência brevemente. -
15:07 - 15:08Importa-se de ir?"
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15:08 - 15:10Eu disse que sim.
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15:11 - 15:13Fui à audiência.
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15:13 - 15:18Após 14 anos em Broadmoor,
finalmente deixaram-no sair. -
15:18 - 15:21Decidiram que não o deveriam
manter indefinidamente -
15:21 - 15:24porque ele encontra-se no topo da lista.
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15:24 - 15:29Isso podia significar que a probabilidade
de recaída era muito maior que a média. -
15:30 - 15:31Então, deixaram-no sair.
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15:31 - 15:33Cá fora, no corredor, ele disse-me:
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15:33 - 15:35"Sabe que mais, Jon?
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15:35 - 15:38"Somos todos um pouco psicopatas.
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15:38 - 15:41"É você. Sou eu. Eu sem dúvida que sou".
-
15:42 - 15:44Perguntei-lhe:
"O que é que vai fazer agora?" -
15:44 - 15:46"Vou para a Bélgica,
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15:46 - 15:48"porque vive lá uma mulher
de quem eu gosto. -
15:48 - 15:52"Mas ela é casada, por isso vou ter
de a separar do marido". -
15:52 - 15:55(Risos)
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15:56 - 15:59Isto foi há dois anos,
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15:59 - 16:01e foi aí que o meu livro acabou.
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16:02 - 16:06De há 20 meses para cá, tudo corria bem.
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16:06 - 16:08Não aconteceu nada de mal.
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16:08 - 16:10Vivia com uma rapariga
nos arredores de Londres. -
16:10 - 16:12Segundo Brian, o cientologista,
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16:12 - 16:16ele estava a compensar o tempo perdido,
o que pode parecer sinistro, -
16:16 - 16:17mas não o é, necessariamente.
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16:17 - 16:19Infelizmente, após 20 meses,
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16:19 - 16:22voltou para a prisão durante um mês.
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16:22 - 16:26Disse que se meteu numa briga num bar,
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16:26 - 16:29acabou por ir parar à prisão
durante um mês, o que é grave, -
16:29 - 16:32mas, pelo menos, um mês significa
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16:32 - 16:35que a briga não fora assim tão má.
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16:35 - 16:37Depois telefonou-me.
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16:38 - 16:43E sabem que mais? Acho que foi bom
o Tony ter saído de lá, -
16:43 - 16:47pois não deveríamos definir as pessoas
pelos seus extremos mais loucos. -
16:48 - 16:50No fundo, o Tony é um semi-psicopata.
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16:50 - 16:56É uma área cinzenta num mundo
que não gosta de áreas cinzentas, -
16:56 - 17:02mas é nas áreas cinzentas que é possível
encontrar a complexidade, -
17:02 - 17:04a humanidade
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17:04 - 17:05e a verdade.
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17:06 - 17:08Então, ele disse-me:
-
17:08 - 17:12"Jon, posso convidá-lo
para uma bebida num bar? -
17:12 - 17:16"Quero agradecer-lhe
por tudo o que fez por mim". -
17:16 - 17:19Mas eu não fui.
O que é que vocês teriam feito? -
17:21 - 17:22Obrigado.
-
17:22 - 17:25(Aplausos)
- Title:
- Respostas estranhas ao teste do psicopata
- Speaker:
- Jon Ronson
- Description:
-
Haverá uma linha definitiva que divide os loucos dos sãos? Com um discurso de deixar os cabelos em pé, Jon Ronson, autor de "The Psychopath Test", esclarece os meios-termos entre os dois.
(Com Julian Treasure no som, ao vivo, e animação de Evan Grant).
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 18:01
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