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Porque é que o fascismo é tão sedutor — e como as nossas informações o podem alimentar

  • 0:01 - 0:02
    Olá a todos.
  • 0:04 - 0:06
    É engraçado, porque eu escrevi
  • 0:06 - 0:09
    que os seres humanos
    iriam tornar-se digitais
  • 0:09 - 0:11
    mas não julgava que isso
    acontecesse tão depressa
  • 0:11 - 0:13
    e que me acontecesse a mim.
  • 0:14 - 0:16
    Mas aqui estou, como um avatar digital
  • 0:16 - 0:19
    e aí estão vocês,
    por isso, vamos começar.
  • 0:20 - 0:22
    E vamos começar com uma pergunta.
  • 0:23 - 0:26
    Quantos fascistas há aqui
    nesta audiência?
  • 0:26 - 0:28
    (Risos)
  • 0:28 - 0:30
    É um pouco difícil calcular,
  • 0:30 - 0:34
    porque esquecemos o que é o fascismo.
  • 0:34 - 0:37
    As pessoas agora usam o termo "fascista"
  • 0:37 - 0:40
    como uma certa violência
    para todos os fins.
  • 0:40 - 0:44
    Ou confundem fascismo com nacionalismo.
  • 0:45 - 0:50
    Por isso, vamos gastar uns minutos
    a esclarecer o que é o fascismo
  • 0:50 - 0:53
    e como é diferente do nacionalismo.
  • 0:54 - 0:56
    As formas mais suaves de nacionalismo
  • 0:57 - 1:01
    encontram-se entre as criações
    humanas mais benignas.
  • 1:01 - 1:05
    As nações são comunidades
    de milhões de estranhos
  • 1:05 - 1:07
    que não se conhecem uns aos outros.
  • 1:07 - 1:11
    Por exemplo, eu não conheço
    os oito milhões de pessoas
  • 1:11 - 1:14
    com quem partilho
    a cidadania de israelita.
  • 1:14 - 1:16
    Mas, graças ao nacionalismo,
  • 1:16 - 1:20
    todos nos preocupamos e cooperamos
    uns com os outros com eficácia.
  • 1:20 - 1:22
    Isso é muito bom.
  • 1:22 - 1:26
    Há pessoas, como John Lennon,
    que imaginam
  • 1:26 - 1:32
    que, sem nacionalismo,
    o mundo seria um paraíso pacífico.
  • 1:32 - 1:34
    Mas, muito mais provavelmente,
  • 1:34 - 1:38
    sem nacionalismo,
    viveríamos num caos tribal.
  • 1:39 - 1:44
    Se olharmos hoje para os países
    mais prósperos e pacíficos do mundo,
  • 1:44 - 1:48
    países como a Suécia,
    a Suíça e o Japão,
  • 1:48 - 1:53
    veremos que eles têm
    um forte sentimento de nacionalismo.
  • 1:54 - 1:58
    Em contraste, países que não possuem
    um forte sentimento de nacionalismo,
  • 1:58 - 2:01
    como o Congo, a Somália e o Afeganistão,
  • 2:01 - 2:04
    têm tendência a ser violentos e pobres.
  • 2:05 - 2:09
    Então, o que é o fascismo
    e qual é a sua diferença do nacionalismo?
  • 2:10 - 2:15
    Bem, o nacionalismo diz-me
    que a minha nação é especial
  • 2:15 - 2:19
    e que eu tenho obrigações especiais
    para com a minha nação.
  • 2:20 - 2:26
    O fascismo, em contrapartida,
    diz-me que a minha nação é superior
  • 2:26 - 2:30
    e que eu tenho obrigações exclusivas
    para com ela.
  • 2:31 - 2:34
    Não preciso de me preocupar
    com ninguém nem com mais nada
  • 2:34 - 2:36
    a não ser com a minha nação.
  • 2:36 - 2:40
    Normalmente, claro,
    as pessoas têm muitas identidades
  • 2:40 - 2:43
    e fidelidades a diferentes grupos.
  • 2:43 - 2:48
    Por exemplo, eu posso ser
    bom patriota, leal ao meu país
  • 2:48 - 2:51
    e, ao mesmo tempo,
    ser leal à minha família
  • 2:51 - 2:53
    aos meus vizinhos, à minha profissão,
  • 2:54 - 2:55
    à humanidade, como um todo.
  • 2:55 - 2:57
    à verdade e à beleza.
  • 2:57 - 3:02
    Claro que, quando tenho
    diferentes identidades e lealdades.
  • 3:02 - 3:05
    por vezes, isso cria conflitos
    e complicações.
  • 3:06 - 3:09
    Mas quem é que nos disse
    que a vida era fácil?
  • 3:09 - 3:12
    A vida é complicada.
  • 3:12 - 3:14
    Temos que saber lidar com ela.
  • 3:14 - 3:17
    O fascismo é o que acontece
  • 3:17 - 3:20
    quando as pessoas tentam
    ignorar as complicações
  • 3:20 - 3:24
    e tornar a vida demasiado fácil.
  • 3:24 - 3:30
    O fascismo nega todas as identidades
    à exceção da identidade nacional
  • 3:30 - 3:35
    e insiste que eu só tenho obrigações
    para com a minha nação.
  • 3:35 - 3:39
    Se a minha nação exigir
    que eu sacrifique a minha família,
  • 3:39 - 3:42
    então, eu sacrificarei a minha família.
  • 3:42 - 3:46
    Se a nação exigir que eu mate
    milhões de pessoas,
  • 3:46 - 3:49
    então, eu matarei milhões de pessoas.
  • 3:49 - 3:55
    Se a minha nação exigir
    que eu atraiçoe a verdade e a beleza,
  • 3:56 - 3:59
    então, eu atraiçoarei a verdade e a beleza.
  • 4:00 - 4:05
    Por exemplo, como é que
    um fascista avalia a arte?
  • 4:05 - 4:10
    Como é que um fascista decide
    se um filme é bom ou mau?
  • 4:11 - 4:15
    É muito, muito, muito simples.
  • 4:15 - 4:17
    Só há um critério.
  • 4:18 - 4:21
    Se o filme serve os interesses da nação,
  • 4:21 - 4:23
    é um bom filme.
  • 4:23 - 4:26
    Se o filme não serve
    os interesses da nação
  • 4:26 - 4:27
    é um mau filme.
  • 4:27 - 4:28
    É assim.
  • 4:28 - 4:31
    Do mesmo modo, como é que um fascista
  • 4:31 - 4:34
    decide o que ensinar
    às crianças na escola?
  • 4:34 - 4:36
    Também é muito simples.
  • 4:36 - 4:38
    Só há um critério.
  • 4:38 - 4:43
    Ensina-se às crianças tudo o que serve
    os interesses da nação.
  • 4:43 - 4:46
    A verdade não tem qualquer importância.
  • 4:48 - 4:53
    Os horrores da II Guerra Mundial
    e do Holocausto
  • 4:53 - 4:58
    recordam-nos as terríveis consequências
    desta forma de pensar.
  • 4:59 - 5:03
    Mas, habitualmente, quando falamos
    dos males do fascismo,
  • 5:03 - 5:06
    fazemo-lo de modo ineficaz
  • 5:06 - 5:11
    porque temos tendência para descrever
    o fascismo como um monstro horrendo,
  • 5:11 - 5:15
    sem explicar o que ele tem
    de tão sedutor.
  • 5:15 - 5:18
    É um pouco como aqueles filmes
    de Hollywood
  • 5:18 - 5:24
    que apresentam os maus da fita
    — Voldemort, Sauron ou Darth Vader —
  • 5:24 - 5:27
    como homens feios, maus e cruéis.
  • 5:27 - 5:30
    São cruéis até para os seus apaniguados.
  • 5:30 - 5:33
    Quando vejo esses filmes,
    nunca percebo
  • 5:33 - 5:37
    porque é que alguém
    se sinta tentado a seguir
  • 5:37 - 5:40
    um pulha abominável como Voldemort.
  • 5:41 - 5:44
    O problema com o mal
    é que, na vida real,
  • 5:44 - 5:48
    o mal não é necessariamente feio.
  • 5:48 - 5:50
    Pode parecer muito belo.
  • 5:50 - 5:53
    É uma coisa que o cristianismo sabia bem
  • 5:53 - 5:57
    e é por isso que na arte cristã,
    em oposição a Hollywood,
  • 5:57 - 6:01
    Satã é normalmente representado
    como um tipo muito bonito.
  • 6:01 - 6:06
    É por isso que é muito difícil
    resistir às tentações de Satã
  • 6:06 - 6:11
    e que também é difícil
    resistir às tentações do fascismo.
  • 6:11 - 6:15
    O fascismo faz com que as pessoas
    sintam que pertencem
  • 6:15 - 6:19
    à coisa mais bela
    e mais importante do mundo,
  • 6:19 - 6:20
    a nação.
  • 6:20 - 6:22
    Quando as pessoas pensam:
  • 6:22 - 6:25
    "Ensinaram-nos que o fascismo é horrível,
  • 6:25 - 6:28
    "mas, quando olho para o espelho,
    vejo uma coisa muito bela,
  • 6:28 - 6:31
    "não posso ser fascista, certo?"
  • 6:31 - 6:32
    Errado.
  • 6:32 - 6:34
    É esse o problema com o fascismo.
  • 6:34 - 6:36
    Quando nos vemos no espelho fascista,
  • 6:36 - 6:41
    vemo-nos muito mais belos
    do que somos na realidade.
  • 6:41 - 6:46
    Nos anos 30, quando os alemães
    se viram no espelho do fascismo,
  • 6:46 - 6:50
    viram a Alemanha como a coisa
    mais bela do mundo.
  • 6:50 - 6:54
    Se os russos olharem hoje
    para o espelho fascista,
  • 6:54 - 6:57
    verão a Rússia como a coisa
    mais bela do mundo.
  • 6:58 - 7:01
    Se os israelitas olharem
    para o espelho fascista,
  • 7:01 - 7:05
    verão Israel como a coisa
    mais bela do mundo.
  • 7:07 - 7:12
    Isso não significa que estamos
    a repetir o que se passou nos anos 30.
  • 7:12 - 7:16
    O fascismo e as ditaduras
    podem voltar,
  • 7:16 - 7:19
    mas voltarão numa forma nova,
  • 7:19 - 7:22
    uma forma muito mais relevante
  • 7:22 - 7:26
    para as novas realidades
    tecnológicas do século XXI.
  • 7:27 - 7:28
    Antigamente,
  • 7:28 - 7:32
    a terra era o valor
    mais importante do mundo.
  • 7:33 - 7:37
    Por isso, a política era a luta
    pelo controlo da terra.
  • 7:37 - 7:39
    Uma ditadura significava
  • 7:39 - 7:43
    que todas as terras
    pertenciam a um só governante
  • 7:43 - 7:45
    ou a uma pequena oligarquia.
  • 7:46 - 7:47
    Na idade moderna,
  • 7:47 - 7:51
    as máquinas passaram a ser
    mais importantes do que a terra.
  • 7:51 - 7:55
    A política passou a ser a luta
    pelo controlo das máquinas,
  • 7:55 - 7:57
    E a ditadura significava
  • 7:57 - 8:01
    que havia demasiadas máquinas
    concentradas
  • 8:01 - 8:05
    nas mãos do governo
    ou de uma pequena elite.
  • 8:05 - 8:10
    Agora, os dados estão a substituir
    a terra e as máquinas
  • 8:10 - 8:12
    como os valores mais importantes.
  • 8:13 - 8:18
    A política tornou-se a luta
    pelo controlo dos fluxos de dados.
  • 8:18 - 8:21
    E a ditadura agora significa
  • 8:21 - 8:26
    que há demasiados dados
    concentrados nas mãos do governo
  • 8:26 - 8:28
    ou de uma pequena elite.
  • 8:29 - 8:34
    O maior perigo que a democracia
    liberal enfrenta hoje
  • 8:34 - 8:37
    é que a revolução
    na tecnologia da informação
  • 8:37 - 8:42
    torne as ditaduras mais eficazes
    do que as democracias.
  • 8:43 - 8:44
    No século XX,
  • 8:44 - 8:49
    a democracia e o capitalismo
    derrotaram o fascismo e o comunismo,
  • 8:49 - 8:55
    porque a democracia era melhor
    a processar informações e a tomar decisões.
  • 8:55 - 8:58
    Dada a tecnologia do século XX
  • 8:58 - 9:04
    era impossível concentrar
    demasiadas informações
  • 9:04 - 9:07
    e demasiado poder num só local.
  • 9:07 - 9:12
    Mas não é uma lei da Natureza
  • 9:12 - 9:17
    que o processamento de dados
    centralizados seja sempre menos eficaz
  • 9:17 - 9:21
    do que o processamento
    descentralizado de dados.
  • 9:21 - 9:24
    Com o aumento da inteligência artificial
    e aprendizagem das máquinas,
  • 9:24 - 9:30
    pode tornar-se possível processar
    enormes quantidades de informações
  • 9:30 - 9:33
    muito eficazmente num só local,
  • 9:33 - 9:36
    tomar todas as decisões num só local
  • 9:36 - 9:40
    e, assim, o processamento centralizado
    de dados será mais eficaz
  • 9:40 - 9:43
    do que o processamento
    descentralizado de dados.
  • 9:43 - 9:48
    E, assim, a principal incapacidade
    dos regimes autoritários no século XX
  • 9:48 - 9:53
    — a tentativa de concentrar
    todas as informações num só local —
  • 9:53 - 9:57
    tornar-se-á a sua maior vantagem.
  • 9:59 - 10:04
    Outro perigo tecnológico
    que ameaça o futuro da democracia
  • 10:04 - 10:09
    é a fusão da tecnologia da informação
    com a biotecnologia,
  • 10:09 - 10:13
    que pode resultar
    na criação de algoritmos
  • 10:13 - 10:17
    que me conhecem melhor
    do que eu me conheço a mim mesmo,
  • 10:18 - 10:20
    Quando tivermos esses algoritmos,
  • 10:20 - 10:23
    um sistema exterior, como o governo,
  • 10:23 - 10:26
    pode prever as minhas decisões
  • 10:26 - 10:30
    e também pode manipular
    os meus sentimentos, as minhas emoções.
  • 10:31 - 10:36
    Um ditador pode não me proporcionar
    um bom sistema de saúde
  • 10:36 - 10:39
    mas poderá fazer com que eu o adore
  • 10:39 - 10:42
    e fazer com que eu odeie a oposição.
  • 10:43 - 10:48
    A democracia vai ter dificuldade
    em sobreviver a esta evolução
  • 10:49 - 10:51
    porque, afinal de contas,
  • 10:51 - 10:55
    a democracia não se baseia
    na racionalidade humana,
  • 10:55 - 10:57
    baseia-se nos sentimentos humanos.
  • 10:58 - 11:02
    Nas eleições e nos referendos,
    ninguém vos pergunta:
  • 11:02 - 11:04
    "O que é que pensas?"
  • 11:04 - 11:08
    Pergunta: "Como te sentes?"
  • 11:08 - 11:13
    Se for possível manipular
    eficazmente as nossas emoções,
  • 11:13 - 11:17
    a democracia tornar-se-á
    num espetáculo emotivo de marionetas.
  • 11:18 - 11:23
    O que é que podemos fazer
    para impedir o regresso do fascismo
  • 11:23 - 11:26
    e o aumento de novas ditaduras?
  • 11:26 - 11:33
    A pergunta fundamental é:
    Quem controla as informações?
  • 11:33 - 11:36
    Os engenheiros devem arranjar formas
  • 11:36 - 11:39
    de impedir que demasiadas informações
  • 11:39 - 11:42
    se concentrem em meia dúzia de mãos.
  • 11:42 - 11:45
    E arranjar formas de garantir
  • 11:45 - 11:47
    que o processamento
    descentralizado de dados
  • 11:47 - 11:49
    seja, pelo menos, tão eficaz
  • 11:49 - 11:52
    como o processamento
    centralizado de dados.
  • 11:52 - 11:56
    Essa será a melhor salvaguarda
    para a democracia.
  • 11:56 - 11:59
    Quanto a todos os que não são engenheiros,
  • 11:59 - 12:03
    a pergunta fundamental é:
  • 12:03 - 12:07
    Como não permitir que sejamos manipulados
  • 12:08 - 12:11
    pelos que controlam as informações.
  • 12:11 - 12:16
    Os inimigos da democracia liberal
    têm um método.
  • 12:16 - 12:18
    Apoderam-se dos nossos sentimentos,
  • 12:18 - 12:21
    Não é dos nossos "e-mails",
    nem das nossas contas bancárias,
  • 12:21 - 12:26
    apoderam-se dos nossos sentimentos
    de medo, de ódio, de vaidade
  • 12:26 - 12:28
    e, depois, usam esses sentimentos
  • 12:28 - 12:33
    para polarizar e destruir
    a democracia, por dentro.
  • 12:33 - 12:35
    Este é um método
  • 12:35 - 12:40
    que a Silicon Valley foi a primeira a usar
    para nos vender produtos.
  • 12:40 - 12:45
    Mas hoje, os inimigos da democracia
    estão a usar o mesmo método
  • 12:45 - 12:49
    para nos vender o medo,
    o ódio e a vaidade.
  • 12:50 - 12:54
    Não podem criar esses sentimentos
    a partir do nada,
  • 12:54 - 12:58
    por isso, têm que conhecer
    as nossas fraquezas pré-existentes.
  • 12:58 - 13:01
    Depois, usam-nas contra nós.
  • 13:01 - 13:05
    Assim, somos todos responsáveis
  • 13:05 - 13:08
    por conhecer as nossas fraquezas
  • 13:08 - 13:11
    e garantir que elas não
    se tornem uma arma
  • 13:11 - 13:15
    nas mãos dos inimigos da democracia.
  • 13:15 - 13:18
    Conhecer as nossas fraquezas
  • 13:18 - 13:24
    também nos ajudará a evitar
    a armadilha do espelho fascista.
  • 13:24 - 13:29
    Como expliquei há bocado,
    o fascismo explora a nossa vaidade,
  • 13:29 - 13:35
    faz com que nos vejamos
    muito mais belos do que somos na realidade.
  • 13:35 - 13:36
    É essa a sedução.
  • 13:36 - 13:39
    Mas se nos conhecermos realmente,
  • 13:39 - 13:43
    não cairemos nesse tipo de lisonja.
  • 13:43 - 13:47
    Se alguém puser um espelho
    à nossa frente,
  • 13:47 - 13:52
    que esconda todos os nossos defeitos
    e faça com que nos vejamos
  • 13:52 - 13:56
    muito mais belos
    e muito mais importantes
  • 13:56 - 13:58
    do que somos na realidade,
  • 13:58 - 14:01
    temos que partir esse espelho.
  • 14:02 - 14:03
    Obrigado.
  • 14:03 - 14:06
    (Aplausos)
  • 14:11 - 14:12
    Chris Anderson: Yuval, obrigado.
  • 14:12 - 14:14
    Meu Deus!
  • 14:14 - 14:16
    É bom voltar a ver-te.
  • 14:16 - 14:18
    Então, se bem entendi,
  • 14:18 - 14:20
    estás a alertar-nos
    para dois grandes perigos.
  • 14:20 - 14:25
    Um é o possível regresso
    de uma forma sedutora do fascismo,
  • 14:25 - 14:29
    e, junto com ele, ditaduras
    que não são propriamente fascistas
  • 14:29 - 14:31
    mas controlam todas as informações.
  • 14:32 - 14:34
    Será que existe uma terceira preocupação
  • 14:34 - 14:36
    que algumas pessoas aqui já exprimiram,
  • 14:36 - 14:38
    que é não serem os governos,
  • 14:38 - 14:41
    mas as grandes empresas
    a controlar todos os nossos dados?
  • 14:41 - 14:42
    O que é que chamas a isso
  • 14:42 - 14:45
    e até que ponto nos devemos
    preocupar com isso?
  • 14:45 - 14:48
    Yuval Noah Harari: Não há grande diferença
  • 14:48 - 14:50
    entre as empresas e os governos
  • 14:50 - 14:54
    porque, como já disse, a questão é:
    Quem controla as informações?
  • 14:54 - 14:55
    É esse o verdadeiro governo.
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    Podemos chamar-lhe
    uma empresa ou um governo.
  • 14:58 - 15:01
    Se é uma empresa quem controla
    realmente as informações,
  • 15:01 - 15:03
    ela é o nosso verdadeiro governo.
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    Portanto, a diferença
    é mais aparente do que real.
  • 15:07 - 15:09
    CA: Mas, pelo menos,
    no que toca às empresas,
  • 15:09 - 15:13
    imaginamos mecanismos de mercado
    que podem ser adotados.
  • 15:13 - 15:15
    Ou seja, se os consumidores decidirem
  • 15:15 - 15:18
    que a companhia já não funciona
    no interesse deles,
  • 15:18 - 15:20
    isso abre a porta a outro mercado.
  • 15:20 - 15:21
    Parece mais fácil imaginar isso
  • 15:21 - 15:24
    do que os cidadãos se revoltarem
    e derrubarem um governo
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    que controla tudo.
  • 15:26 - 15:28
    YNH: Bom, ainda lá não chegámos,
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    mas, se uma empresa nos conhecer
    melhor do que nós nos conhecemos,
  • 15:33 - 15:38
    pode manipular as nossas emoções
    e desejos mais profundos,
  • 15:38 - 15:40
    e nós nem sequer nos damos conta,
  • 15:40 - 15:43
    pensamos que isso é o nosso autêntico eu.
  • 15:43 - 15:47
    Portanto, em teoria, podemos
    revoltar-nos contra uma empresa
  • 15:47 - 15:51
    tal como, em teoria, nos podemos
    revoltar contra uma ditadura.
  • 15:51 - 15:55
    Mas, na prática, é extremamente difícil.
  • 15:55 - 15:59
    CA: Em "Homo Deus",
    argumentas que este é o século
  • 15:59 - 16:03
    em que os seres humanos
    se tornam como deuses
  • 16:03 - 16:06
    quer através da evolução
    da inteligência artificial
  • 16:06 - 16:09
    quer através da engenharia genética.
  • 16:09 - 16:14
    Esta perspetiva de mudança
    de sistema político desaparece
  • 16:14 - 16:17
    perante o impacto da tua visão
    dessa possibilidade?
  • 16:18 - 16:21
    YNH: Penso que a torna
    ainda mais provável
  • 16:21 - 16:24
    e, muito provavelmente,
    isso acontecerá mais cedo,
  • 16:24 - 16:29
    porque em tempos de crise,
    as pessoas estão dispostas a correr riscos
  • 16:29 - 16:31
    que não correriam noutra situação.
  • 16:31 - 16:34
    As pessoas estão dispostas a experimentar
  • 16:34 - 16:37
    todos os tipos de tecnologias
    de alto risco, de alto ganho.
  • 16:38 - 16:42
    Por isso, este tipo de crises
    pode ter a mesma função
  • 16:42 - 16:45
    que as duas guerras mundiais
    no século XX.
  • 16:45 - 16:48
    As duas guerras mundiais
    aceleraram muito
  • 16:48 - 16:52
    a evolução de tecnologias
    novas e perigosas.
  • 16:52 - 16:56
    O mesmo pode acontecer
    no século XXI.
  • 16:56 - 17:00
    Ou seja, é preciso sermos loucos
    para correr depressa demais,
  • 17:00 - 17:02
    com a engenharia genética.
  • 17:02 - 17:05
    Mas temos cada vez mais pessoas loucas
  • 17:05 - 17:08
    responsáveis por diversos países no mundo,
  • 17:08 - 17:11
    por isso, as hipóteses
    estão a aumentar e não a diminuir.
  • 17:12 - 17:15
    CA: Concluindo e resumindo, Yuval,
    tu tens essa visão única.
  • 17:15 - 17:18
    Mas agora avança 30 anos.
    O que é que prevês?
  • 17:18 - 17:21
    A humanidade consegue ultrapassar,
    olhar para trás e dizer:
  • 17:21 - 17:23
    "Uau! foi por pouco. Conseguimos!"
  • 17:23 - 17:24
    Ou não?
  • 17:25 - 17:28
    YNH: Até aqui, temos conseguido
    ultrapassar todas as crises anteriores.
  • 17:28 - 17:31
    Especialmente, se olharmos
    para a democracia liberal
  • 17:31 - 17:34
    e pensarmos que as coisas estão mal,
  • 17:34 - 17:41
    não nos esqueçamos de como as coisas
    eram muito piores em 1938 ou 1968.
  • 17:41 - 17:44
    Por isso, isto não é nada,
    é apenas uma pequena crise.
  • 17:44 - 17:46
    Mas nunca se sabe
  • 17:46 - 17:48
    porque, enquanto historiador,
  • 17:48 - 17:53
    sei que nunca devemos subestimar
    a estupidez humana.
  • 17:53 - 17:54
    (Risos e aplausos)
  • 17:54 - 17:59
    É uma das forças mais poderosas
    que modela a História.
  • 17:59 - 18:02
    CA: Yuval, foi um grande prazer
    ter-te connosco.
  • 18:02 - 18:04
    Obrigado por teres feito a viagem virtual.
  • 18:04 - 18:06
    Boa noite aí em Tel Aviv.
    Yuval Harari!
  • 18:06 - 18:07
    YNH: Muito obrigado.
  • 18:08 - 18:08
    (Aplausos)
Title:
Porque é que o fascismo é tão sedutor — e como as nossas informações o podem alimentar
Speaker:
Yuval Noah Harari
Description:

Numa palestra profunda sobre tecnologia e poder, o autor e historiador Yuval Noah Harari explica a importante diferença entre fascismo e nacionalismo — e o que a consolidação das nossas informações significa para o futuro da democracia. Aparecendo como um holograma vivo a partir de Tel Aviv, Harari alerta para o maior perigo que a democracia liberal enfrenta hoje, ou seja, a revolução na tecnologia da informação que tornará as ditaduras mais eficazes e capazes de controlo. "Os inimigos da democracia liberal aproveitam-se dos nossos sentimentos de medo, de ódio e vaidade e usam esses sentimentos para polarizar e destruir", diz Harari. "Somos todos responsáveis em conhecer as nossas fraquezas e garantir que elas não servirão de armas".

(Palestra seguida de uma breve conversa com o curador da TED, Chris Anderson)

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:22

Portuguese subtitles

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