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Uma nova forma de explicar as explicações

  • 0:01 - 0:02
    Estou convencido
  • 0:02 - 0:07
    de que, ao longo dos 100 000 anos
    da existência das nossas espécies
  • 0:08 - 0:10
    e mesmo antes,
  • 0:11 - 0:13
    os nossos antepassados
    olhavam para o céu noturno
  • 0:13 - 0:17
    e pensavam no que seriam as estrelas,
  • 0:17 - 0:22
    pensando, portanto,
    em como explicar o que viam
  • 0:23 - 0:26
    em termos de coisas invisíveis.
  • 0:29 - 0:31
    Claro, a maioria das pessoas
  • 0:31 - 0:34
    só pensava nisso ocasionalmente
    — tal como hoje —
  • 0:34 - 0:38
    nos intervalos das suas atividades
    que as preocupavam normalmente.
  • 0:39 - 0:45
    Mas, essas preocupações habituais
    também lhes provocavam a ânsia de saber.
  • 0:46 - 0:48
    Queriam saber
  • 0:48 - 0:52
    como podiam evitar que o abastecimento
    de comida se esgotasse
  • 0:52 - 0:55
    e como podiam descansar
    quando estivessem cansados,
  • 0:55 - 0:58
    sem correr o risco
    de morrerem à fome,
  • 0:59 - 1:03
    como podiam manter-se mais quentes,
    mais frescos, mais seguros,
  • 1:03 - 1:05
    com menos sofrimento.
  • 1:05 - 1:10
    Aposto que esses artistas rupestres
    pré-históricos teriam gostado de saber
  • 1:10 - 1:12
    como desenhar melhor.
  • 1:13 - 1:14
    (Risos)
  • 1:14 - 1:17
    Em todos os aspetos da vida deles,
  • 1:17 - 1:22
    desejavam o progresso, tal como nós.
  • 1:22 - 1:28
    Mas fracassaram, quase totalmente,
    de fazer qualquer progresso.
  • 1:28 - 1:31
    Não sabiam como fazê-lo.
  • 1:31 - 1:37
    Descobertas como o fogo
    ocorriam tão raramente
  • 1:37 - 1:39
    que, de um ponto de vista individual,
  • 1:39 - 1:42
    o mundo nunca melhorava.
  • 1:42 - 1:45
    Nunca se aprendia nada novo.
  • 1:46 - 1:50
    O primeiro indício
    quanto à origem da luz estelar
  • 1:50 - 1:53
    só apareceu em 1899:
  • 1:54 - 1:56
    a radioatividade.
  • 1:56 - 1:58
    E, no prazo de 40 anos,
  • 1:58 - 2:02
    os físicos descobriram
    toda a explicação,
  • 2:02 - 2:06
    expressa, conforme habitual,
    em elegantes símbolos.
  • 2:07 - 2:09
    Mas esqueçam os símbolos
  • 2:09 - 2:14
    e pensem quantas descobertas representam.
  • 2:15 - 2:18
    Núcleos e reações nucleares, claro.
  • 2:18 - 2:20
    Mas isótopos, também,
  • 2:21 - 2:24
    partículas de eletricidade,
  • 2:25 - 2:28
    antimatéria,
  • 2:29 - 2:31
    neutrinos,
  • 2:31 - 2:35
    a conversão de massa para energia
    — é E=mc2 —
  • 2:35 - 2:37
    raios gama,
  • 2:38 - 2:40
    transmutação.
  • 2:41 - 2:46
    Esse sonho antigo que sempre
    escapou aos alquimistas
  • 2:46 - 2:48
    foi conseguido através das mesmas teorias
  • 2:48 - 2:53
    que explicavam a luz das estrelas
    e outros mistérios antigos
  • 2:53 - 2:56
    e fenómenos novos, inesperados.
  • 2:56 - 3:01
    Tudo isto, descoberto em 40 anos,
  • 3:01 - 3:04
    não foi descoberto
    durante os 100 000 anos anteriores,
  • 3:04 - 3:07
    não por falta de reflexão
  • 3:07 - 3:11
    sobre estrelas e todos os outros
    problemas urgentes que tinham.
  • 3:12 - 3:16
    Até encontraram respostas
    — como os mitos —
  • 3:16 - 3:18
    que dominavam a vida deles,
  • 3:18 - 3:23
    apesar de quase não terem
    parecença com a realidade.
  • 3:24 - 3:28
    A tragédia dessa estagnação prolongada
  • 3:29 - 3:32
    não é suficientemente reconhecida,
    segundo penso.
  • 3:32 - 3:36
    Foram pessoas com cérebros
    com um "design" essencialmente idêntico
  • 3:36 - 3:40
    que acabaram por descobrir
    todas essas coisas.
  • 3:41 - 3:45
    Mas essa capacidade de fazer progressos
  • 3:45 - 3:48
    manteve-se quase sem utilização,
  • 3:48 - 3:53
    até ao acontecimento
    que revolucionou a condição humana
  • 3:53 - 3:55
    e mudou o universo.
  • 3:55 - 3:57
    Pelo menos, assim esperávamos,
  • 3:57 - 4:01
    porque esse acontecimento
    foi a revolução científica,
  • 4:01 - 4:05
    desde a qual o nosso conhecimento
    do mundo físico
  • 4:05 - 4:08
    e de como adaptá-lo aos nossos desejos,
  • 4:09 - 4:11
    tem vindo a crescer permanentemente.
  • 4:11 - 4:14
    Então, o que é que mudou?
  • 4:14 - 4:17
    O que é que as pessoas
    fizeram, pela primeira vez,
  • 4:17 - 4:18
    que fazia essa diferença
  • 4:18 - 4:24
    entre estagnação e um progresso
    rápido e ilimitado de descobertas?
  • 4:24 - 4:27
    Como fazer essa diferença
  • 4:27 - 4:30
    é certamente a verdade universal
    mais importante
  • 4:30 - 4:32
    que é possível conhecer.
  • 4:32 - 4:37
    O problema é que
    não há consenso sobre o que é.
  • 4:37 - 4:39
    Então, vou dizer-vos.
  • 4:39 - 4:40
    (Risos)
  • 4:40 - 4:43
    Mas, primeiro, tenho de recuar um pouco.
  • 4:43 - 4:46
    Antes da revolução científica,
  • 4:46 - 4:49
    acreditava-se que já se conhecia
    tudo o que havia de importante,
  • 4:49 - 4:51
    passível de ser conhecido
  • 4:51 - 4:54
    consagrado em escrituras antigas,
    em instituições
  • 4:54 - 4:57
    e em regras de ouro
    genuinamente úteis
  • 4:58 - 5:01
    — que, contudo, estavam
    enraizadas como dogmas,
  • 5:01 - 5:04
    juntamente com muitas falsidades.
  • 5:04 - 5:07
    Acreditava-se que esses conhecimentos
    provinham de autoridades
  • 5:07 - 5:10
    que, na verdade, pouco sabiam.
  • 5:10 - 5:12
    E, portanto,
  • 5:12 - 5:16
    o progresso dependia
    de saber como rejeitar
  • 5:16 - 5:19
    a autoridade de homens sábios,
  • 5:19 - 5:23
    dos sacerdotes, das tradições
    e dos governantes.
  • 5:23 - 5:28
    Por isso, a revolução científica
    tinha de ter um contexto mais amplo:
  • 5:28 - 5:33
    O Iluminismo, uma revolução
    na forma como as pessoas
  • 5:33 - 5:35
    procuravam o conhecimento
  • 5:35 - 5:39
    tentando não obedecer
    a qualquer autoridade.
  • 5:39 - 5:41
    "Não acreditem na palavra de ninguém."
  • 5:41 - 5:44
    Mas isso não pode ser
    o que fez a diferença.
  • 5:44 - 5:47
    As autoridades já tinham
    sido rejeitadas muitas vezes.
  • 5:47 - 5:49
    E isso raramente, se é que alguma vez,
  • 5:49 - 5:52
    tinha provocado uma coisa
    como a revolução científica.
  • 5:52 - 5:56
    Na época, o que se pensava
    como ciência diferenciada
  • 5:56 - 6:00
    era uma ideia radical
    sobre coisas nunca vistas,
  • 6:00 - 6:03
    conhecidas por empirismo:
  • 6:03 - 6:07
    "todo o conhecimento deriva dos sentidos".
  • 6:10 - 6:12
    Já vimos que isso não pode ser verdade.
  • 6:12 - 6:17
    Ajudou a promover
    a observação e a experiência.
  • 6:17 - 6:19
    Mas, desde o início,
  • 6:19 - 6:22
    era óbvio que havia alguma coisa
    de terrivelmente errado nisso.
  • 6:22 - 6:24
    O conhecimento provém dos sentidos?
  • 6:24 - 6:26
    Em que linguagem?
  • 6:26 - 6:28
    Certamente não é
    na linguagem da matemática,
  • 6:28 - 6:30
    em que, como Galileu disse, e bem,
  • 6:30 - 6:32
    está escrito o livro da Natureza.
  • 6:33 - 6:35
    Olhem para o mundo.
  • 6:35 - 6:39
    Não vemos equações
    gravadas nas encostas das montanhas.
  • 6:39 - 6:42
    Se virmos, foi porque as pessoas
    as gravaram.
  • 6:43 - 6:45
    A propósito, porque é
    que não fazemos isso?
  • 6:45 - 6:46
    (Risos)
  • 6:46 - 6:48
    O que há de errado connosco?
  • 6:48 - 6:49
    (Risos)
  • 6:49 - 6:52
    O empirismo é um método inadequado
  • 6:52 - 6:55
    porque as teorias científicas
  • 6:55 - 6:58
    explicam o que vemos
    em termos do que não vemos.
  • 6:58 - 7:00
    E o que não vemos
    — temos de reconhecer —
  • 7:00 - 7:03
    não nos é revelado através dos sentidos.
  • 7:03 - 7:06
    Não vemos as reações nucleares
    nas estrelas.
  • 7:06 - 7:09
    Não vemos a origem das espécies.
  • 7:10 - 7:13
    Não vemos a curvatura do espaço-tempo
  • 7:13 - 7:15
    nem outros universos.
  • 7:15 - 7:17
    Mas sabemos que essas coisas existem.
  • 7:18 - 7:19
    Como?
  • 7:20 - 7:25
    Bom, a clássica resposta empírica
    é a indução
  • 7:26 - 7:29
    — o que não vemos é parecido
    com o que vemos.
  • 7:29 - 7:31
    Mas não é.
  • 7:31 - 7:36
    Sabiam qual era a prova garantida
    de que o espaço-tempo é curvo?
  • 7:36 - 7:39
    Era uma fotografia
    — não do espaço-tempo,
  • 7:39 - 7:43
    mas de um eclipse,
    com um ponto aqui em vez de acolá.
  • 7:43 - 7:45
    E a prova para a evolução?
  • 7:46 - 7:48
    Umas rochas e uns tentilhões.
  • 7:49 - 7:50
    E para universos paralelos?
  • 7:50 - 7:53
    Mais uma vez: pontos no ecrã,
    uns aqui e outros ali.
  • 7:53 - 7:56
    O que vemos, em todos estes casos,
  • 7:56 - 8:00
    não tem qualquer semelhança
    com a realidade
  • 8:00 - 8:03
    que sabemos ser responsável.
  • 8:03 - 8:09
    Só estão ligados por uma longa cadeia
    de raciocínio teórico e de interpretação.
  • 8:09 - 8:11
    "Ah!" dizem os criacionistas,
  • 8:11 - 8:14
    "Então, reconhecem que tudo
    não passa de interpretações,
  • 8:14 - 8:16
    "Nunca ninguém viu a evolução.
  • 8:16 - 8:18
    "Vemos rochas.
  • 8:18 - 8:21
    "Vocês têm uma interpretação.
    Nós temos a nossa.
  • 8:21 - 8:25
    "A vossa provém de hipóteses.
    A nossa, da Bíblia."
  • 8:25 - 8:31
    Mas o que os criacionistas
    e os empiristas esquecem
  • 8:31 - 8:33
    é que, nesse sentido,
  • 8:33 - 8:36
    também nunca ninguém viu uma Bíblia,
  • 8:37 - 8:40
    que o olho deteta luz
    mas nós não a vemos.
  • 8:40 - 8:43
    O cérebro só deteta impulsos nervosos.
  • 8:43 - 8:47
    Nem sequer percebem
    o que elas são realmente,
  • 8:47 - 8:49
    nomeadamente as crepitações elétricas.
  • 8:49 - 8:54
    Assim, não percecionamos nada
    tal como é na realidade.
  • 8:54 - 8:58
    A nossa ligação com a realidade
    nunca é só perceção.
  • 8:58 - 9:02
    É sempre, como Karl Popper disse,
  • 9:02 - 9:04
    baseada na teoria.
  • 9:05 - 9:08
    O conhecimento científico
    não deriva de nenhuma coisa.
  • 9:08 - 9:12
    Tal como todo o conhecimento
    é uma conjetura, uma conjetura,
  • 9:13 - 9:15
    verificada pela observação
  • 9:15 - 9:18
    e não derivada dela.
  • 9:19 - 9:22
    Então, terão sido
    as conjeturas verificáveis,
  • 9:22 - 9:26
    a grande inovação que abriu
    as portas da prisão intelectual?
  • 9:26 - 9:29
    Não, ao contrário do que
    habitualmente se diz,
  • 9:29 - 9:32
    a prova do teste é usual nos mitos
  • 9:32 - 9:36
    e em todos os tipos de outros modos
    irracionais de pensamento.
  • 9:36 - 9:39
    Qualquer fanático que afirme
    que o Sol não nascerá na terça-feira
  • 9:39 - 9:42
    faz uma previsão verificável.
  • 9:42 - 9:48
    Reparem no antigo mito grego
    que explica as estações.
  • 9:48 - 9:51
    Hades, o deus dos infernos,
  • 9:51 - 9:53
    rapta Perséfone, a deusa da primavera
  • 9:53 - 9:56
    e negoceia um contrato
    de casamento forçado,
  • 9:56 - 10:01
    exigindo que ela regresse regularmente
    e depois deixa-a ir embora.
  • 10:01 - 10:02
    Todos os anos,
  • 10:02 - 10:05
    ela é obrigada, magicamente,
    a regressar.
  • 10:05 - 10:09
    A mãe dela, Deméter,
    a deusa da Terra,
  • 10:09 - 10:13
    fica triste e provoca o frio e a aridez.
  • 10:14 - 10:17
    Este mito é verificável.
  • 10:17 - 10:21
    Se o inverno é causado
    pela tristeza de Deméter
  • 10:21 - 10:25
    deve ocorrer por todo o lado
    na Terra, simultaneamente.
  • 10:25 - 10:27
    Assim, se os antigos gregos soubessem
  • 10:27 - 10:31
    que, na Austrália havia mais calor
    quando Deméter estava triste...
  • 10:32 - 10:33
    (Risos)
  • 10:33 - 10:35
    teriam percebido
    que a teoria deles era falsa.
  • 10:35 - 10:36
    (Risos)
  • 10:36 - 10:38
    Então, o que havia de errado com esse mito
  • 10:38 - 10:41
    e com todo o pensamento pré-científico?
  • 10:41 - 10:45
    E o que é que fez
    essa diferença repentina?
  • 10:46 - 10:51
    Penso que há uma coisa
    que devemos ter em conta
  • 10:51 - 10:55
    e que implica ser verificável,
    o método científico,
  • 10:55 - 10:57
    O Iluminismo e tudo o resto.
  • 10:57 - 10:59
    O fundamental é isto:
  • 10:59 - 11:02
    numa história há uma coisa
    chamada defeito.
  • 11:02 - 11:04
    Não me refiro a um defeito lógico.
  • 11:04 - 11:07
    Refiro-me a uma má explicação.
  • 11:07 - 11:09
    O que é que isto significa?
  • 11:09 - 11:13
    Uma explicação é uma afirmação
    sobre o que existe, invisível,
  • 11:13 - 11:16
    responsável pelo que é visível.
  • 11:16 - 11:21
    Porque o papel explicativo
    do contrato de casamento de Perséfone
  • 11:21 - 11:23
    podia ser desempenhado igualmente
  • 11:23 - 11:27
    por uma infinidade
    de outras entidades "ad hoc".
  • 11:27 - 11:31
    Porquê um contrato de casamento
    e não outra razão qualquer
  • 11:31 - 11:34
    para uma ação anual repetitiva?
  • 11:34 - 11:37
    Por exemplo: Perséfone
    não foi libertada.
  • 11:37 - 11:43
    Ela foge e regressa todas as primaveras
    para se vingar de Hades
  • 11:43 - 11:46
    com os seus poderes primaveris.
  • 11:46 - 11:50
    Arrefece o domínio dele
    com ar primaveril,
  • 11:50 - 11:54
    atirando o calor para a superfície,
    criando o verão.
  • 11:54 - 11:56
    Isso passa a ser o responsável
  • 11:56 - 11:59
    pelos mesmos fenómenos
    referidos no mito original.
  • 11:59 - 12:01
    É igualmente verificável.
  • 12:01 - 12:06
    Contudo, o que descreve como realidade
    é, em muitos aspetos, o oposto.
  • 12:06 - 12:08
    E isso é possível
  • 12:08 - 12:13
    porque os pormenores do mito original
    não estão relacionados com as estações,
  • 12:13 - 12:16
    senão pelo próprio mito.
  • 12:17 - 12:20
    Esta possibilidade de variar facilmente
  • 12:20 - 12:24
    é o sinal de uma má explicação
  • 12:24 - 12:28
    porque, sem uma razão funcional
  • 12:28 - 12:32
    para preferir uma das inúmeras variantes,
  • 12:33 - 12:35
    defender uma delas
    de preferência a outras
  • 12:36 - 12:37
    é irracional.
  • 12:37 - 12:40
    Assim, para a essência do que
    permite a diferença
  • 12:40 - 12:42
    que provoca o progresso
  • 12:42 - 12:45
    procurem boas explicações,
  • 12:45 - 12:47
    que não possam variar facilmente,
  • 12:47 - 12:51
    e que expliquem os fenómenos.
  • 12:52 - 12:55
    A nossa atual explicação das estações
  • 12:55 - 12:59
    é que o eixo da Terra
    é inclinado deste modo
  • 12:59 - 13:02
    por isso, cada hemisfério aproxima-se
    para o Sol, durante metade do ano
  • 13:02 - 13:04
    e afasta-se durante a outra metade.
  • 13:05 - 13:05
    [Não está à escala]
  • 13:06 - 13:07
    Convém esclarecer.
  • 13:07 - 13:08
    (Risos)
  • 13:09 - 13:11
    É uma boa explicação:
  • 13:12 - 13:13
    é difícil de alterar
  • 13:13 - 13:16
    porque todos os pormenores
    desempenham um papel funcional,
  • 13:16 - 13:19
    Por exemplo, sabemos,
    independentemente das estações,
  • 13:19 - 13:22
    que as superfícies inclinadas
    aquecem menos,
  • 13:22 - 13:24
    quando mais afastadas do calor irradiante
  • 13:24 - 13:27
    e que uma esfera giratória, no espaço,
  • 13:27 - 13:30
    aponta para uma direção constante.
  • 13:30 - 13:33
    A inclinação também explica
  • 13:33 - 13:37
    o ângulo de elevação do Sol
    em diferentes épocas do ano
  • 13:37 - 13:42
    e prevê que as estações
    serão opostas nos dois hemisférios.
  • 13:42 - 13:44
    Se fossem observadas em simultâneo,
  • 13:44 - 13:46
    a teoria teria sido rejeitada.
  • 13:46 - 13:52
    Mas o facto de que é também
    uma boa explicação, difícil de variar,
  • 13:52 - 13:55
    torna essa diferença fundamental.
  • 13:56 - 14:01
    Se os antigos gregos tivessem
    descoberto as estações na Austrália,
  • 14:01 - 14:05
    podiam alterar facilmente
    o seu mito para prever isso.
  • 14:05 - 14:07
    Por exemplo, quando Deméter
    fica aborrecida,
  • 14:07 - 14:12
    ela expulsa o calor da sua proximidade
    para o outro hemisfério,
  • 14:12 - 14:13
    onde ele provoca o verão.
  • 14:13 - 14:16
    Assim, provar o erro por observação
  • 14:16 - 14:19
    e alterar a teoria, de acordo com isso,
  • 14:19 - 14:21
    não teria levado os gregos antigos
  • 14:21 - 14:24
    a aproximar-se da compreensão
    das estações
  • 14:24 - 14:28
    porque a explicação deles era má
    — fácil de alterar.
  • 14:28 - 14:30
    Só quando uma explicação é boa
  • 14:30 - 14:33
    é que interessa ver
    se é verificável.
  • 14:33 - 14:36
    Se a teoria da inclinação do eixo
    fosse rejeitada,
  • 14:36 - 14:38
    os seus defensores não teriam
    a que se agarrar.
  • 14:38 - 14:41
    Nenhuma alteração que fosse implementada
  • 14:41 - 14:44
    podia fazer com que essa inclinação
    causasse as mesmas estações
  • 14:44 - 14:47
    em ambos os hemisférios.
  • 14:47 - 14:51
    A procura de explicações
    difíceis de variar
  • 14:51 - 14:53
    é a origem de todo o progresso.
  • 14:53 - 14:58
    É o princípio regulador básico
    do Iluminismo.
  • 14:58 - 15:02
    Assim, em ciência, há duas provas falsas
    que arruínam o progresso.
  • 15:02 - 15:05
    Uma é bem conhecida:
    teorias inverificáveis.
  • 15:05 - 15:09
    Mas a mais importante
    é a teoria sem explicação.
  • 15:09 - 15:13
    Sempre que nos dizem
    que uma tendência estatística
  • 15:13 - 15:14
    vai continuar
  • 15:14 - 15:17
    mas não nos dão qualquer explicação
    difícil de variar
  • 15:17 - 15:19
    para a causa dessa tendência
  • 15:19 - 15:21
    estão a dizer-nos que tem origem
    na bruxaria.
  • 15:21 - 15:24
    Quando nos dizem
    que as cenouras têm direitos humanos
  • 15:24 - 15:26
    porque partilham metade dos nossos genes,
  • 15:26 - 15:31
    mas não explicam como as percentagens
    dos genes conferem direitos — bruxaria.
  • 15:32 - 15:36
    Quando alguém anuncia
    que o debate educação-criação
  • 15:36 - 15:38
    apareceu porque há provas
  • 15:38 - 15:42
    de que uma determinada percentagem
    das nossas opiniões políticas
  • 15:42 - 15:44
    são herdadas geneticamente,
  • 15:44 - 15:48
    mas não nos explicam
    como é que os genes causam opiniões,
  • 15:48 - 15:50
    não explicam nada.
  • 15:50 - 15:53
    Estão a dizer que as nossas opiniões
    são provocadas por bruxos
  • 15:53 - 15:55
    e, presumivelmente,
    as deles também.
  • 15:55 - 15:56
    (Risos)
  • 15:56 - 16:00
    O facto de a verdade consistir
    em afirmações difíceis de variar,
  • 16:00 - 16:03
    sobre a realidade,
  • 16:03 - 16:07
    é o facto mais importante
    sobre o mundo físico.
  • 16:07 - 16:11
    É um facto que, em si mesmo, é invisível,
  • 16:11 - 16:13
    mas é impossível de variar.
  • 16:13 - 16:15
    Obrigado.
  • 16:15 - 16:18
    (Aplausos)
Title:
Uma nova forma de explicar as explicações
Speaker:
David Deutsch
Description:

Durante dezenas de milhares de anos, os nossos antepassados compreenderam o mundo através de mitos, e o ritmo da mudança era extremamente lento. O aparecimento do método científico transformou o mundo em poucos séculos. Porquê? O físico David Deutsch propõe uma resposta subtil.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
16:21

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