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Podemos criar novas células no cérebro, deste modo.

  • 0:02 - 0:06
    Poderemos nós, enquanto adultos,
    criar novas células nervosas?
  • 0:07 - 0:10
    Ainda há alguma confusão
    quanto a esta questão
  • 0:10 - 0:13
    tendo em conta que este é um
    novo campo de pesquisa.
  • 0:14 - 0:17
    Por exemplo, eu estava a falar
    com um dos meus colegas, o Robert,
  • 0:17 - 0:19
    que é oncologista.
  • 0:19 - 0:20
    E ele disse-me:
  • 0:20 - 0:22
    "Sandrine, isto é muito esquisito.
  • 0:22 - 0:26
    "Alguns dos meus doentes
    que sabem que estão curados do cancro
  • 0:26 - 0:29
    "continuam a ter sintomas de depressão."
  • 0:30 - 0:31
    E eu respondi-lhe:
  • 0:31 - 0:33
    "Bem, do meu ponto de vista
    isso faz sentido.
  • 0:33 - 0:38
    "A medicação que dás aos doentes que detém
    a multiplicação de células cancerígenas
  • 0:38 - 0:43
    "também detém o crescimento de novos
    neurónios gerados pelo cérebro."
  • 0:44 - 0:47
    Robert olhou para mim
    como se eu fosse maluca e disse:
  • 0:47 - 0:49
    "Sandrine, estes doentes são adultos
  • 0:49 - 0:52
    "e os adultos não criam
    novas células nervosas".
  • 0:53 - 0:57
    Para surpresa dele, eu disse:
    "Bem, na realidade, criamos."
  • 0:57 - 1:02
    Este é um fenómeno
    designado por neurogénese.
  • 1:02 - 1:03
    [Neurogénese]
  • 1:04 - 1:07
    Robert não é neurocientista.
  • 1:07 - 1:12
    Quando fomos para a escola de medicina
    não lhe ensinaram o que sabemos agora,
  • 1:12 - 1:15
    que o cérebro adulto
    pode gerar novas células nervosas.
  • 1:17 - 1:22
    Então Robert, sendo o bom médico que é,
  • 1:22 - 1:24
    quis ir até ao meu laboratório
  • 1:24 - 1:27
    para perceber um pouco mais
    sobre o assunto.
  • 1:27 - 1:29
    E eu levei-o a visitar
  • 1:29 - 1:32
    uma das partes
    mais interessantes do cérebro,
  • 1:32 - 1:35
    no que respeita à neurogénese,
  • 1:35 - 1:36
    que é o hipocampo.
  • 1:37 - 1:41
    É esta estrutura cinzenta
    no centro do cérebro.
  • 1:42 - 1:44
    Segundo o que já sabemos há muito tempo,
  • 1:44 - 1:49
    ele é importante para a aprendizagem,
    a memória, o humor e as emoções.
  • 1:49 - 1:52
    No entanto, o que aprendemos
    mais recentemente
  • 1:52 - 1:57
    é que esta é uma das únicas estruturas
    do cérebro adulto
  • 1:57 - 2:00
    onde podem ser criados novos neurónios.
  • 2:00 - 2:03
    Se cortarmos ao longo do hipocampo
  • 2:03 - 2:04
    e o maximizarmos,
  • 2:04 - 2:07
    o que vocês veem aqui a azul,
  • 2:07 - 2:11
    é um neurónio recém-nascido
    no cérebro de um rato adulto
  • 2:13 - 2:16
    No que respeita ao cérebro humano,
  • 2:16 - 2:19
    o meu colega Jonas Frisén
    do Instituto de Karolinska,
  • 2:19 - 2:25
    calculou que podemos produzir
    700 novos neurónios por dia
  • 2:25 - 2:27
    no hipocampo.
  • 2:27 - 2:29
    Podem pensar que
    não é uma grande quantidade,
  • 2:29 - 2:32
    em comparação com os milhares de milhões
    de neurónios que temos.
  • 2:32 - 2:36
    Mas, quando chegarmos aos 50 anos,
  • 2:36 - 2:40
    teremos trocado todos os neurónios
    com que nascemos nessa estrutura
  • 2:40 - 2:42
    pelos novos neurónios
    nascidos em adultos.
  • 2:43 - 2:48
    Porque é que estes novos neurónios são
    importantes e quais as suas funções?
  • 2:49 - 2:53
    Primeiro, sabemos que são importantes
    para a aprendizagem e para a memória.
  • 2:53 - 2:55
    Em laboratório já mostrámos
  • 2:55 - 2:58
    que, se bloquearmos a capacidade
    do cérebro adulto
  • 2:58 - 3:00
    para produzir novos neurónios
    no hipocampo,
  • 3:00 - 3:03
    também bloqueamos certas
    capacidades de memória.
  • 3:04 - 3:11
    Isto é especialmente novo e verdadeiro
    para o reconhecimento espacial
  • 3:11 - 3:14
    como, por exemplo,
    quando circulamos pela cidade.
  • 3:14 - 3:16
    Nós continuamos a aprender muito.
  • 3:16 - 3:19
    Os neurónios não são apenas
    importantes para a capacidade da memória,
  • 3:19 - 3:22
    mas também para a qualidade da memória.
  • 3:22 - 3:26
    Ajudaram a aumentar o tempo
    da nossa memória,
  • 3:26 - 3:30
    vão ajudar a diferenciar memórias
    muito parecidas,
  • 3:30 - 3:33
    como encontrar a bicicleta
  • 3:33 - 3:36
    que estacionamos no parque
    todos os dias, na mesma área,
  • 3:36 - 3:39
    mas numa posição ligeiramente diferente.
  • 3:40 - 3:43
    Mais importante ainda,
    para o meu colega Robert,
  • 3:43 - 3:47
    é a pesquisa que temos em mãos
    sobre a neurogénese e a depressão.
  • 3:48 - 3:50
    No caso de depressão num animal,
  • 3:50 - 3:54
    já observámos que temos
    um nível mais baixo de neurogénese.
  • 3:54 - 3:57
    Se administrarmos antidepressivos,
  • 3:57 - 4:00
    aumentamos a produção
    desses neurónios recém-criados
  • 4:00 - 4:03
    e diminuímos os sintomas da depressão,
  • 4:03 - 4:09
    estabelecendo uma nítida ligação
    entre a neurogénese e a depressão.
  • 4:09 - 4:14
    Mas, além disso,
    se bloquearmos a neurogénese,
  • 4:14 - 4:16
    bloqueamos a eficácia do antidepressivo.
  • 4:18 - 4:20
    Nesta altura, Robert já tinha percebido
  • 4:20 - 4:23
    que, muito provavelmente,
    os seus doentes sofriam de depressão
  • 4:23 - 4:26
    depois de estarem curados do cancro,
  • 4:26 - 4:28
    porque as drogas para o cancro
  • 4:28 - 4:30
    tinham impedido a criação
    de novos neurónios.
  • 4:30 - 4:34
    E demora tempo
    até se gerarem novo neurónios,
  • 4:34 - 4:36
    até se entrar num funcionamento normal.
  • 4:38 - 4:42
    Hoje pensamos que temos bastantes indícios
  • 4:42 - 4:46
    para dizer que a neurogénese
    é um alvo a ter em atenção
  • 4:46 - 4:50
    se queremos melhorar a formação
    da memória ou a disposição,
  • 4:50 - 4:53
    ou impedir o declínio
    associado ao envelhecimento
  • 4:53 - 4:55
    ou associado ao "stress".
  • 4:56 - 4:58
    A pergunta que se segue é:
  • 4:58 - 5:01
    "Podemos controlar a neurogénese?"
  • 5:01 - 5:03
    A resposta é: "Podemos".
  • 5:03 - 5:06
    Agora vamos fazer umas perguntinhas.
  • 5:06 - 5:10
    Vou dar-vos um conjunto
    de comportamentos e atividades,
  • 5:10 - 5:14
    e vocês vão dizer-me se acham
    que aumentam a neurogénese
  • 5:14 - 5:16
    ou se diminuem a neurogénese.
  • 5:17 - 5:18
    Estão prontos?
  • 5:19 - 5:20
    Ok, vamos a isso.
  • 5:20 - 5:23
    Que tal quanto à aprendizagem?
  • 5:23 - 5:24
    Aumenta?
  • 5:24 - 5:25
    Claro.
  • 5:25 - 5:29
    A aprendizagem aumenta
    a produção de novos neurónios.
  • 5:29 - 5:31
    E quanto ao "stress"?
  • 5:31 - 5:36
    Claro, o "stress" diminui a produção
    de novos neurónios no hipocampo.
  • 5:36 - 5:39
    E a falta de sono?
  • 5:39 - 5:42
    Com certeza, diminui a neurogénese.
  • 5:42 - 5:44
    E quanto ao sexo?
  • 5:44 - 5:46
    Oh, uau!
  • 5:46 - 5:47
    (Risos)
  • 5:47 - 5:51
    Têm razão, aumenta a produção
    de novos neurónios.
  • 5:51 - 5:53
    Mas, trata-se duma situação de equilíbrio.
  • 5:53 - 5:55
    Não caiam numa situação...
  • 5:55 - 5:57
    (Risos)
  • 5:57 - 6:00
    ... de sexo em demasia,
    que leve à falta de sono.
  • 6:01 - 6:02
    (Risos)
  • 6:03 - 6:05
    E quanto ao envelhecimento?
  • 6:08 - 6:11
    O ritmo da neurogénese diminui
    à medida que envelhecemos,
  • 6:11 - 6:13
    mas continua a fazer-se.
  • 6:14 - 6:16
    Por fim, quanto à corrida?
  • 6:18 - 6:22
    Vou deixar que concluam esta
    por vós próprios.
  • 6:22 - 6:24
    Este é um dos primeiros estudos
  • 6:24 - 6:28
    que foi realizado por Rusty Gage,
    um dos meus mentores do Instituto Salk,
  • 6:28 - 6:30
    que mostra que um ambiente
    pode ter impacto
  • 6:30 - 6:32
    na produção de novos neurónios.
  • 6:32 - 6:36
    Veem aqui uma secção
    do hipocampo de um rato
  • 6:36 - 6:39
    que não tinha roda de corrida na gaiola.
  • 6:39 - 6:43
    Os pontinhos pretos que veem
    são futuros novos neurónios.
  • 6:43 - 6:48
    Agora veem uma secção
    do hipocampo de um rato
  • 6:48 - 6:51
    que tinha uma roda de corrida na gaiola.
  • 6:51 - 6:53
    Podem ver o aumento enorme
  • 6:53 - 6:56
    dos pontos pretos que representam
    os novos futuros neurónios.
  • 6:57 - 7:02
    A atividade tem impacto na neurogénese,
    mas não é só isso.
  • 7:02 - 7:04
    O que comemos também afetará
  • 7:04 - 7:07
    a produção de novos neurónios
    no hipocampo.
  • 7:07 - 7:10
    Temos aqui uma amostra de dieta,
  • 7:10 - 7:14
    de nutrientes que provaram ter eficácia.
  • 7:15 - 7:17
    Vou destacar alguns deles:
  • 7:17 - 7:22
    A restrição de calorias de 20 a 30%,
    aumentará a neurogénese.
  • 7:22 - 7:26
    O jejum intermitente, ou seja,
    o espaçamento do tempo entre as refeições,
  • 7:26 - 7:28
    aumentará a neurogénese.
  • 7:28 - 7:29
    O consumo de flavonoides,
  • 7:29 - 7:32
    que estão contidos
    no chocolate negro ou nos mirtilos,
  • 7:32 - 7:34
    aumentarão a neurogénese.
  • 7:34 - 7:36
    Os ácidos gordos omega-3,
  • 7:36 - 7:38
    presentes no peixe gordo, como o salmão,
  • 7:38 - 7:41
    aumentam a produção
    destes novos neurónios.
  • 7:42 - 7:46
    Pelo contrário, uma dieta
    rica em gorduras saturadas
  • 7:46 - 7:48
    terá um impacto negativo na neurogénese.
  • 7:49 - 7:53
    O etanol — consumo de álcool —
    diminui a neurogénese.
  • 7:54 - 7:57
    Mas nem tudo está perdido:
  • 7:57 - 8:00
    o resveratrol, que existe no vinho tinto,
  • 8:00 - 8:03
    promove a sobrevivência
    dos novos neurónios.
  • 8:04 - 8:06
    Por isso, quando forem
    a um jantar festivo,
  • 8:06 - 8:11
    podem optar por esta possibilidade,
    uma bebida de "neurogénese neutra".
  • 8:10 - 8:12
    (Risos)
  • 8:12 - 8:15
    Por fim, vou assinalar a última,
  • 8:15 - 8:16
    um pouco excêntrica.
  • 8:16 - 8:20
    Os grupos japoneses têm um fascínio
    pelas tessituras dos alimentos
  • 8:20 - 8:25
    e demonstraram que as dietas macias
    prejudicam a neurogénese,
  • 8:25 - 8:30
    ao contrário dos alimentos que exigem
    a mastigação, os alimentos crocantes.
  • 8:31 - 8:33
    Todos estes dados,
  • 8:33 - 8:35
    que precisamos de investigar
    a nível celular,
  • 8:35 - 8:39
    foram gerados usando modelos animais.
  • 8:38 - 8:43
    Mas esta dieta também foi dada
    a pessoas participantes.
  • 8:43 - 8:49
    Pudemos observar que a dieta
    condiciona a memória e a disposição
  • 8:49 - 8:53
    na mesma direção em que condiciona
    a neurogénese.
  • 8:53 - 8:57
    Tal como a restrição de calorias melhora
    a capacidade da memória,
  • 8:57 - 9:02
    e uma dieta rica em gorduras agrava
    os sintomas da depressão,
  • 9:02 - 9:06
    ao contrário dos ácidos gordos omega-3
    que aumentam a neurogénese,
  • 9:06 - 9:11
    e ajudam a diminuir
    os sintomas da depressão.
  • 9:12 - 9:16
    Portanto, pensamos que o efeito da dieta
  • 9:16 - 9:20
    sobre a saúde mental,
    sobre a memória e a disposição,
  • 9:20 - 9:25
    é condicionada pela produção
    de novos neurónios no hipocampo.
  • 9:25 - 9:27
    E não é só o que comemos,
  • 9:27 - 9:30
    mas também a textura dos alimentos,
    quando comemos
  • 9:30 - 9:33
    e a quantidade que comemos.
  • 9:34 - 9:38
    Pelo nosso lado, os neurocientistas
    interessados na neurogénese.
  • 9:38 - 9:42
    precisamos de perceber melhor
    a função destes novos neurónios,
  • 9:42 - 9:46
    e como podemos controlar
    a sua sobrevivência e a sua produção.
  • 9:46 - 9:48
    Também precisamos de encontrar
  • 9:48 - 9:51
    uma forma de proteger a neurogénese
    dos doentes de Robert.
  • 9:51 - 9:53
    Do vosso lado,
  • 9:53 - 9:56
    deixo-vos o cuidado de tomarem conta
    da vossa neurogénese.
  • 9:56 - 9:57
    Obrigada.
  • 9:57 - 10:00
    (Aplausos)
  • 10:03 - 10:05
    Margaret Heffernan:
    Uma investigação fantástica, Sandrine.
  • 10:05 - 10:08
    Já lhe disse que você mudou a minha vida.
  • 10:08 - 10:09
    Agora como imensos mirtilos.
  • 10:09 - 10:11
    Sandrine Thuret: Ótimo.
  • 10:12 - 10:14
    MH: Estou muito interessada
    nessa coisa da corrida.
  • 10:15 - 10:17
    Vou ter que correr?
  • 10:17 - 10:20
    Ou basta fazer exercícios aerobióticos,
  • 10:20 - 10:22
    para oxigenar o cérebro?
  • 10:22 - 10:24
    Terá que ser um exercício mais vigoroso?
  • 10:24 - 10:26
    ST: Por agora,
  • 10:26 - 10:29
    não podemos dizer
    se é a corrida em si mesma,
  • 10:29 - 10:34
    mas pensamos que qualquer coisa
    que aumente a produção
  • 10:34 - 10:37
    ou faça afluir o sangue ao cérebro,
  • 10:37 - 10:39
    será benéfica.
  • 10:39 - 10:42
    MH: Então não preciso
    de uma roda de correr no escritório?
  • 10:42 - 10:44
    ST: Não, não é preciso!
  • 10:44 - 10:45
    MH: Que alívio! Isso é ótimo!
  • 10:45 - 10:47
    Sandrine Thuret, muito obrigada.
  • 10:47 - 10:48
    ST: Obigada, Margaret.
  • 10:49 - 10:51
    (Aplausos)
Title:
Podemos criar novas células no cérebro, deste modo.
Speaker:
Sandrine Thuret
Description:

Poderemos nós, enquanto adultos, criar novos neurónios? A neurocientista Sandrine Thuret confirma-o através de pesquisas e conselhos práticos, explicando como podemos ajudar o cérebro no processo da neurogénese — melhorando a nossa disposição, aumentando a capacidade da memória e impedindo o declínio associado ao envelhecimento.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
11:04

Portuguese subtitles

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