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Como curar o sofrimento na sua família - Discriminação de géneros no budismo?

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    .
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    Caro Thay,
    Cara Sangha
  • 0:31 - 0:33
    Tenho duas perguntas.
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    A minha primeira pergunta é:
  • 0:37 - 0:41
    Sou a filha mais nova da
    linhagem dos meus antepassados.
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    E há muito sofrimento a transformar,
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    mas também tive muita sorte por ter
    condições para encontrar o Dharma,
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    e não ter de lutar pela sobrevivência.
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    Assim, consegui praticar.
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    Acabo de regressar de uma longa viagem,
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    e por ter estado afastada,
    vejo agora muito claramente
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    como o sofrimento se foi
    acumulando na minha família,
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    uma geração após outra,
    por condições históricas.
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    Estou a tentar partilhar com os mais
    velhos, para que encontrem algum alivio.
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    Mas alguns estão muito empedernidos.
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    Têm muita raiva.
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    Tornaram-se muito maus e desesperados.
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    E embora eu tenha algum entendimento,
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    sei que não tenho a estabilidade
    suficiente em determinadas situações,
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    e já não sei o que fazer para os ajudar.
  • 1:55 - 1:59
    Estou muito preocupada,
    porque tenho visto alguns deles,
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    desta geração dos meus pais,
    que escaparam à guerra,
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    ficarem completamente loucos
    e auto-destrutivos.
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    Esta é então a minha primeira pergunta.
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    E a minha segunda pergunta é:
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    Por que é que na tradição budista,
    até hoje,
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    há tanta discriminação contra as mulheres?
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    Obrigada.
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    (Ir. Pine) Caro Thay, a nossa amiga
    coloca duas perguntas.
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    A primeira é semelhante
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    à pergunta do jovem acerca
    de como ajudar o pai.
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    Esta nossa amiga diz também
    que vê muito sofrimento,
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    não só na geração dos seus pais,
    mas também nas gerações anteriores.
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    Ela quer ajudá-los,
    mas vê que são muito duros,
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    por causa do grande sofrimento
    pelo qual passaram durante a guerra.
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    E destroem-se por causa desse
    sofrimento interior.
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    Ela quer saber como pode
    chegar até eles,
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    como pode ajudá-los a adoptar
    uma direcção mais saudável.
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    E a segunda pergunta é:
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    Por que continua a existir ainda no
    budismo discriminação contra as mulheres?
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    Acha que em Plum Village
    discriminamos as mulheres?
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    As monjas e...
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    as praticantes em Plum Village,
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    desempenham um papel muito importante...
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    na organização da vida
    e da prática da Sangha
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    e da prática da Sangha alargada.
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    E a tradição de Bhikshunis
    continua a existir em muitos países.
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    Há países onde se perdeu
    a Sangha Bhikshuni.
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    Não por causa do budismo,
    mas por causa dos praticantes budistas.
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    Permitiram que este tipo de discriminação
    por parte da sociedade
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    entrasse na comunidade.
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    Na Tailândia, no Sri Lanka...
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    já não há Bhikshunis.
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    E muitas pessoas nesses países estão a
    tentar restaurar a ordem das Bhikshunis.
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    Por isso, os budistas não estão a praticar
    como deve ser.
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    Temos de fazer melhor que
    as gerações anteriores.
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    E Thay é um dos que está a tentar...
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    restaurar...
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    restaurar o espírito,
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    o espírito inicial, primitivo,
    original do budismo,
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    porque Buda....
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    eliminou todo o tipo de discriminação.
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    Buda recebeu todo o tipo de pessoas,
    de raças, de castas
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    na sua comunidade.
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    E acolheu de bom grado...
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    as mulheres que queriam ser Bhikshunis.
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    Foi um verdadeiro revolucionário
    no seu tempo.
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    Foi muito difícil,
    mas ele conseguiu fazê-lo.
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    Então nós, que somos
    a continuação de Buda,
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    devemos praticar como deve ser,
    para conservar a sua herança,
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    para preservar a sua herança.
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    Sem discriminação!
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    O sofrimento é esmagador.
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    E alguns de nós...
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    atravessámos a guerra do Vietname,
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    cheios de feridas.
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    Vimos o nosso irmão,
    o nosso pai, a nossa mãe, a nossa irmã
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    serem mortos e destruídos
    durante a guerra.
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    Vimos muitos deles serem presos
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    e torturados durante a guerra.
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    Ideologias estrangeiras,
    armas estrangeiras
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    foram trazidas de todo o mundo
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    para nos destruir, para nos matar.
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    E fomos forçados a estar nesta situação
    durante muito tempo.
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    E cada um de nós, cada vietnamita
    da nova geração
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    traz dentro de si este tipo de sofrimento.
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    E após quarenta anos de exílio,
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    Thay conseguiu voltar a casa
    algumas vezes,
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    organizar retiros para ajudar
    a curar as feridas de guerra...
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    nas pessoas, nas gerações mais jovens.
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    Tentou fazer o melhor que pôde,
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    e tentou fazê-lo em colaboração
    com a Sangha, não só como indivíduo.
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    Thay regressou ao Vietname
    não como indivíduo,
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    mas como uma comunidade.
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    300 praticantes regressaram
    ao Vietname com Thay
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    pela primeira vez depois de
    quarenta anos de exílio.
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    Isto foi em...
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    2005... certo?
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    2005.
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    Centenas de monges e monjas
    e praticantes leigos acompanharam-nos.
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    E a nossa prática foi muito sólida.
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    Imaginem...
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    um hotel em Hanói,
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    onde ficámos alojados.
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    A polícia secreta apareceu e observou-nos
    porque tinham medo de nós.
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    Seguiram-nos para todo o lado.
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    Queriam saber o que dizíamos às pessoas,
    o que estávamos a fazer.
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    Foram forçados a deixar Thay regressar,
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    mas estavam com medo...
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    que pudéssemos dizer qualquer coisa,
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    que incentivássemos os vietnamitas
    a dizer alguma coisa contra eles.
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    E várias centenas de pessoas
    praticaram firmemente.
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    E a forma como caminhávamos, respirávamos,
    tomávamos o pequeno-almoço,
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    como lidávamos com os outros
    hóspedes do hotel
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    e com os que vinham ver-nos, inclusive
    com os homens da polícia secreta,
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    reflectiram a nossa prática.
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    E os hotéis onde ficámos
    pareciam centros de prática.
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    Havia atenção plena.
    Havia paz, fraternidade.
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    Todos ficaram muito impressionados.
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    E uma vez fizemos meditação em movimento
    em redor do Lago Hoan Kiem.
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    Foi a primeira vez que as pessoas
    da cidade viram
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    um grupo tão grande de pessoas
    caminhando em paz, alegria e felicidade.
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    Ficaram impressionados com a cena.
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    Teve um grande impacto na população.
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    Viram praticantes determinados.
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    E conseguimos partilhar a prática
    com tantas pessoas...
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    nas nossas palestras públicas
    e nos nossos retiros.
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    E depois disso, organizámos...
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    cerimónias de oração.
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    Orámos pelos milhões de pessoas
    que morreram na guerra.
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    E milhares e milhares de pessoas
    vieram praticar connosco,
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    e orámos em conjunto.
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    E prometemos entre nós que nunca mais
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    aceitaríamos uma tal guerra ideológica,
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    nem nos mataríamos com armas estrangeiras
    em nome de ideologias estrangeiras.
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    E isso foi possível.
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    Praticámos assim para ajudar à cura
    de todo o país.
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    Então a minha resposta é:
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    Para se ter êxito...
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    na nossa tentativa de ajudar
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    temos de... trabalhar com uma Sangha.
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    Temos de pertencer a uma Sangha.
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    Temos de ter irmãos e irmãs
    na prática.
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    Temos de ter poder suficiente
    para conseguirmos lidar com o sofrimento.
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    Há muito lixo.
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    E uma vez que tantos de nós não sabemos
    como transformar o lixo em flores,
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    como utilizar o sofrimento
    para criar paz e cura,
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    precisamos de uma Sangha para nos apoiar.
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    Praticar sozinhos, a auto-transformação
    já é difícil,
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    quanto mais a transformação de outros.
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    É por isso que...
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    temos de saber, temos de ver
    que temos de construir uma Sangha,
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    de estar com uma Sangha, de contribuir
    para a construção de uma Sangha.
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    Sem a Sangha, não conseguimos realizar
    muito trabalho de transformação e cura.
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    Nem Buda conseguiu fazer muito
    sem uma Sangha.
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    E é por isso que, depois da Iluminação,
    a primeira coisa que pensou fazer
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    foi identificar os elementos
    da sua Sangha.
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    Vocês têm de fazer o mesmo.
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    E Thay tem plena consciência disso.
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    Thay sabia que se regressasse a casa
    sozinho, não conseguiria fazer nada.
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    Por isso, impôs uma condição:
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    "Volto apenas se me permitirem
    ir com a minha Sangha."
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    Com a Sangha teremos uma energia colectiva
    suficientemente poderosa...
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    para tratar o nosso sofrimento,
    transformar o nosso sofrimento.
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    Boa sorte!
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Title:
Como curar o sofrimento na sua família - Discriminação de géneros no budismo?
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English
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16:37

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