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Civilização na Lua e o que isso significa para a vida na Terra

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    Neste momento,
    há muito a acontecer na Lua.
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    A China anunciou planos
    para uma estação habitada no Polo Sul
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    na década de 2030
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    e os Estados Unidos têm um plano oficial
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    para a procura crescente de pessoas
    para viver e trabalhar no espaço.
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    Isto irá começar
    com o programa Artemis, da NASA,
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    um programa internacional para enviar
    a primeira mulher e o próximo homem
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    para a Lua nesta década.
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    Multimilionários e o setor privado
    estão a envolver-se
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    de forma sem precedentes.
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    Há mais de cem empresas
    de exploração espacial no mundo
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    e cerca de uma dúzia de empresas
    privadas de transporte lunar
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    a preparar missões robóticas
    à superfície lunar.
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    Temos foguetões reutilizáveis
    pela primeira vez na História do Homem.
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    Isso irá permitir o desenvolvimento
    de infraestruturas
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    e a utilização de recursos.
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    Embora as estimativas variem,
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    há cientistas que pensam
    que poderá haver até mil milhões de
    toneladas métricas de água gelada na Lua.
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    Isso é mais do que o tamanho do Lago Erie,
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    é água suficiente para sustentar
    talvez centenas de milhares de pessoas
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    a viver e a trabalhar na Lua.
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    Enquanto os planos oficiais
    estão sempre a evoluir,
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    há fundamentos para pensarmos
    que poderemos ver pessoas
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    a começar a viver e a trabalhar na Lua
    na próxima década.
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    No entanto, a Lua é aproximadamente
    do tamanho do continente africano,
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    e nós começamos a ver
    que os recursos chave
  • 1:25 - 1:27
    podem estar concentrados
    em áreas pequenas
  • 1:27 - 1:29
    perto dos polos.
  • 1:29 - 1:34
    Isto levanta questões importantes
    sobre a coordenação do acesso a recursos escassos.
  • 1:35 - 1:39
    E há também questões legítimas
    sobre a ida à Lua:
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    colonialismo, herança cultural
  • 1:41 - 1:45
    e a reprodução das desigualdades
    sistémicas do capitalismo de hoje em dia.
  • 1:45 - 1:47
    E, mais importante:
  • 1:47 - 1:50
    Não temos enormes problemas
    que cheguem na Terra?
  • 1:50 - 1:55
    A regulação da Internet, as pandemias,
    o terrorismo e, talvez o mais importante,
  • 1:55 - 1:58
    a crise climática
    e a perda de biodiversidade.
  • 1:59 - 2:00
    Em determinados sentidos,
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    a ideia da Lua apenas como um destino
  • 2:03 - 2:06
    incorpora essas qualidades problemáticas.
  • 2:06 - 2:08
    Isso evoca uma atitude aventureira
  • 2:08 - 2:10
    de conquista,
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    de grandes foguetões
    e de projetos dispendiosos,
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    de competição e de vitória.
  • 2:15 - 2:17
    Mas o que é mais
    interessante acerca da Lua
  • 2:17 - 2:20
    não são os multimilionários
    com os seus foguetões
  • 2:20 - 2:23
    nem a velha luta de poder entre estados.
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    De facto, não é o "hardware", de todo.
  • 2:27 - 2:29
    É o "software".
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    São as normas, os costumes e as leis.
  • 2:31 - 2:33
    São as nossas tecnologias sociais.
  • 2:34 - 2:38
    E é a oportunidade de atualizar
    as nossas instituições democráticas
  • 2:38 - 2:40
    e o estado de direito
  • 2:40 - 2:44
    para responder a uma nova era
    de desafios à escala planetária.
  • 2:44 - 2:48
    Vou falar-vos de como
    a Lua pode ser uma tela
  • 2:48 - 2:51
    para resolver alguns
    dos maiores desafios aqui na Terra.
  • 2:52 - 2:57
    Tenho estado meio obcecada
    com este tópico desde a adolescência.
  • 2:57 - 3:01
    Passei as últimas duas décadas a trabalhar
    em política espacial internacional,
  • 3:01 - 3:03
    mas também em pequenos
    projetos comunitários
  • 3:03 - 3:06
    com modelos de gestão ascendente.
  • 3:06 - 3:08
    Quando tinha 17 anos,
  • 3:08 - 3:11
    fui a uma conferência da ONU
    sobre a utilização pacífica do espaço
  • 3:11 - 3:12
    em Viena.
  • 3:13 - 3:17
    Durante duas semanas,
    160 jovens de mais de 60 países
  • 3:17 - 3:21
    encheram um grande hotel
    perto do edifício da ONU.
  • 3:21 - 3:23
    Fomos convidados para fazer recomendações
  • 3:23 - 3:25
    aos estados-membros
  • 3:25 - 3:28
    acerca do papel do espaço
    no futuro da humanidade.
  • 3:28 - 3:30
    Depois da conferência,
  • 3:30 - 3:32
    alguns de nós ficaram tão inspirados
  • 3:32 - 3:34
    que decidimos
    continuar a viver juntos.
  • 3:35 - 3:39
    Viver com 20 pessoas
    pode parecer uma loucura,
  • 3:39 - 3:45
    mas ao longo dos anos,
    fez com que criássemos um grupo forte
  • 3:45 - 3:49
    que nos permitiu fazer experiências
    com essas tecnologias sociais.
  • 3:49 - 3:53
    Concebemos sistemas de controlo,
    desde escolher um CEO
  • 3:53 - 3:55
    a usar um processo de júri.
  • 3:56 - 3:58
    E enquanto fomos crescendo
    nas nossas carreiras,
  • 3:58 - 4:02
    de grupos de reflexão em Washington, D.C.,
    para trabalhar na NASA,
  • 4:02 - 4:04
    para criar as nossas próprias empresas,
  • 4:04 - 4:07
    essas experiências permitiram
    que nós víssemos
  • 4:07 - 4:10
    como até pequenos grupos
    podem ser como uma placa de Petri
  • 4:10 - 4:14
    para questões sociais importantes,
    como representação,
  • 4:14 - 4:16
    sustentabilidade ou oportunidade.
  • 4:16 - 4:21
    As pessoas costumam falar da Lua
    como uma placa de Petri
  • 4:21 - 4:23
    ou mesmo um quadro vazio.
  • 4:24 - 4:28
    Mas por causa dos acordos legais
    que governam a Lua,
  • 4:28 - 4:31
    isto tem algo muito importante em comum
  • 4:31 - 4:34
    com os nossos desafios globais na Terra.
  • 4:34 - 4:41
    Ambos envolvem problemas para
    pensarmos além do território e fronteiras,
  • 4:41 - 4:43
    o que significa
    que a Lua é mais um modelo
  • 4:43 - 4:45
    do que uma tela em branco.
  • 4:46 - 4:51
    Assinado em 1967, o Tratado do Espaço
    é um tratado que define
  • 4:51 - 4:53
    atividades governamentais no espaço,
  • 4:53 - 4:55
    incluindo a Lua.
  • 4:56 - 4:58
    E tem dois ingredientes
  • 4:58 - 5:02
    que alteram radicalmente a base
    na qual as leis são construídas.
  • 5:03 - 5:09
    O primeiro requer o livre acesso
    a todas as áreas do corpo celeste.
  • 5:10 - 5:14
    E o segundo é que a Lua
    e outros corpos celestes
  • 5:14 - 5:18
    não estão sujeitos à apropriação nacional.
  • 5:18 - 5:20
    Isto é uma loucura,
  • 5:20 - 5:24
    porque todo o sistema
    internacional terrestre
  • 5:24 - 5:25
    — as Nações Unidas,
  • 5:25 - 5:28
    o sistema de tratados e
    acordos internacionais —
  • 5:28 - 5:32
    é construído na ideia
    da soberania dos estados,
  • 5:32 - 5:35
    na apropriação das terras
    e nos recursos dentro das fronteiras
  • 5:35 - 5:39
    e a autonomia para controlar
    o livre acesso dentro dessas fronteiras.
  • 5:40 - 5:42
    Ao eliminar ambos,
  • 5:42 - 5:45
    criamos as condições
    para o que chamamos de "bens comuns".
  • 5:46 - 5:50
    Baseado no trabalho da economista
    e vencedora do Prémio Nobel Elinor Ostrom,
  • 5:50 - 5:54
    os bens comuns globais são recursos
    que todos nós partilhamos
  • 5:54 - 5:57
    que exigem que trabalhemos juntos
  • 5:57 - 6:01
    para gerir e proteger aspetos importantes
    da nossa sobrevivência e bem-estar,
  • 6:01 - 6:03
    como o clima ou os oceanos.
  • 6:03 - 6:08
    Abordagens baseadas nos bens comuns
    dão uma base para o "design" institucional
  • 6:08 - 6:10
    que está a começar a ser explorado
  • 6:10 - 6:13
    a nível global e interplanetário.
  • 6:13 - 6:14
    Como são os direitos de propriedade?
  • 6:14 - 6:16
    E como gerimos recursos
  • 6:16 - 6:21
    quando não se aplicam
    as ferramentas tradicionais
  • 6:21 - 6:22
    de autoridade externa
    e propriedade privada?
  • 6:22 - 6:25
    Apesar de não termos todas as respostas,
  • 6:25 - 6:28
    clima, regulação da Internet,
    autoritarismo
  • 6:28 - 6:31
    — essas são ameaças
    profundamente existenciais
  • 6:31 - 6:34
    que falhamos em combater
    com as nossas atuais formas de pensar.
  • 6:34 - 6:39
    Os caminhos novos de sucesso exigirão
    que desenvolvamos novas ferramentas.
  • 6:39 - 6:43
    Então, como incorporamos
    a lógica baseada em bens comuns
  • 6:43 - 6:46
    nas instituições globais e espaciais?
  • 6:47 - 6:52
    Eis uma tentativa que surgiu
    de uma fonte improvável.
  • 6:52 - 6:55
    Enquanto jovem ativista
    na Segunda Guerra Mundial,
  • 6:55 - 6:58
    Arvid Pardo foi preso
    por organizar a luta antifascista
  • 6:58 - 7:01
    e condenado à morte pela Gestapo.
  • 7:02 - 7:03
    Depois da guerra,
  • 7:03 - 7:06
    dedicou-se ao trabalho diplomático
  • 7:06 - 7:10
    acabando por se tornar o primeiro
    representante permanente de Malta
  • 7:10 - 7:12
    nas Nações Unidas.
  • 7:12 - 7:15
    Pardo viu que o direito internacional
    não tinha as ferramentas
  • 7:15 - 7:18
    para abordar a gestão
    de recursos globais partilhados,
  • 7:18 - 7:20
    como o mar alto.
  • 7:21 - 7:26
    Ele também viu a oportunidade de apoiar
    a partilha equitativa entre nações.
  • 7:26 - 7:31
    Em 1967, Pardo proferiu
    um famoso discurso nas Nações Unidas,
  • 7:31 - 7:33
    apresentando a ideia
  • 7:33 - 7:39
    de que os oceanos e os seus recursos
    eram a "herança comum da humanidade".
  • 7:39 - 7:43
    A frase foi usada como parte
    da Lei do Tratado do Mar,
  • 7:43 - 7:46
    provavelmente o sistema de gestão
    de "bens-comuns"
  • 7:46 - 7:48
    mais sofisticado do planeta
    nos nossos dias.
  • 7:48 - 7:51
    Foi visto como um momento decisivo,
  • 7:51 - 7:53
    uma constituição para os mares.
  • 7:54 - 7:57
    Mas a linguagem mostrou-se tão controversa
  • 7:57 - 8:00
    que demorou mais de 12 anos
    para ter assinaturas suficientes
  • 8:00 - 8:02
    para o tratado entrar em vigor,
  • 8:02 - 8:05
    e alguns Estados ainda
    se recusam a assiná-lo.
  • 8:06 - 8:10
    A objeção não era tanto
    em relação à partilha em si,
  • 8:10 - 8:12
    mas sobre a obrigação de partilhar.
  • 8:13 - 8:18
    Os Estados sentiram que o princípio
    da igualdade minou a autonomia
  • 8:18 - 8:21
    e a soberania dos estados,
  • 8:21 - 8:26
    a mesma autonomia e soberania
    que sustentam as leis internacionais.
  • 8:27 - 8:29
    De várias maneiras,
  • 8:29 - 8:32
    a história do princípio da herança comum
  • 8:32 - 8:33
    é uma tragédia.
  • 8:34 - 8:37
    Mas é poderoso porque deixa claras
  • 8:37 - 8:42
    as formas pelas quais a ordem mundial
    atual colocará anticorpos e defesas
  • 8:42 - 8:45
    e resistirá às tentativas
    de uma reforma estrutural.
  • 8:47 - 8:49
    Mas é o seguinte,
  • 8:49 - 8:53
    o Tratado do Espaço já fez
    essas reformas estruturais.
  • 8:54 - 8:55
    No auge da Guerra Fria,
  • 8:55 - 8:58
    com medo que o outro
    chegasse primeiro à Lua,
  • 8:58 - 9:00
    os EUA e a União Soviética
  • 9:00 - 9:04
    fizeram o equivalente vestfaliano
    de um acordo com o diabo.
  • 9:05 - 9:09
    Ao exigir o livre acesso
    e impedir a apropriação territorial,
  • 9:09 - 9:13
    somos obrigados a reconfigurar
    as nossas instituições mais básicas,
  • 9:13 - 9:15
    e talvez, ao fazer isso,
  • 9:15 - 9:18
    aprender algo novo
    que possamos aplicar aqui na Terra.
  • 9:19 - 9:23
    Embora a Lua possa parecer
    um pouco distante às vezes,
  • 9:23 - 9:25
    a forma como respondemos
    a perguntas básicas agora
  • 9:25 - 9:28
    abrirá precedentes
    para quem estará envolvido
  • 9:29 - 9:30
    e para como será o consentimento.
  • 9:31 - 9:34
    Essas são questões de tecnologia social,
  • 9:34 - 9:36
    não de foguetões e "hardware".
  • 9:37 - 9:41
    Na verdade, essas conversas
    estão a começar a acontecer agora.
  • 9:41 - 9:45
    A comunidade espacial está
    a discutir acordos básicos de partilha,
  • 9:45 - 9:49
    por exemplo, como designamos
    áreas lunares como património,
  • 9:49 - 9:52
    e como obtemos permissão para aterrar
  • 9:52 - 9:54
    quando a autoridade externa tradicional
  • 9:54 - 9:56
    não se aplica?
  • 9:56 - 9:59
    Como implementamos
    requisitos de coordenação
  • 9:59 - 10:02
    quando é contra as regras
    dizer às pessoas para onde ir?
  • 10:03 - 10:06
    E como gerimos o acesso
    a recursos escassos
  • 10:06 - 10:09
    como a água, os minerais
  • 10:09 - 10:12
    ou mesmo os picos de luz eterna,
  • 10:12 - 10:15
    crateras que ficam na latitude certa
  • 10:15 - 10:17
    para receber exposição
    à luz solar quase constante,
  • 10:17 - 10:19
    e portanto, à energia?
  • 10:19 - 10:23
    Algumas pessoas acham
    a falta de regras na Lua
  • 10:23 - 10:25
    algo assustador.
  • 10:25 - 10:29
    E existem, de facto, alguns
    elementos assustadores nisso.
  • 10:30 - 10:32
    Se não houver regras na Lua,
  • 10:32 - 10:36
    não acabaremos por assumir
    uma situação pela ordem de chegada?
  • 10:36 - 10:38
    E poderemos,
  • 10:38 - 10:41
    se não aproveitarmos este momento.
  • 10:41 - 10:46
    Mas não se estivermos dispostos
    a ser corajosos e a enfrentar o desafio.
  • 10:47 - 10:50
    Como aprendemos nas nossas
    comunidades de auto-governação,
  • 10:50 - 10:54
    é mais fácil criar algo novo
    do que tentar desmontar o antigo.
  • 10:55 - 10:57
    E onde mais senão na Lua
  • 10:57 - 11:01
    podemos montar protótipos
    de novas instituições à escala global
  • 11:01 - 11:05
    num ambiente controlado
    com as restrições de "design" necessárias
  • 11:05 - 11:08
    aos nossos maiores desafios na Terra?
  • 11:09 - 11:11
    Em 1999,
  • 11:11 - 11:15
    as Nações Unidas ensinaram
    a um grupo de jovens "nerds" do espaço
  • 11:15 - 11:17
    que podíamos pensar mais alto,
  • 11:17 - 11:20
    que podíamos influenciar as nações,
    se assim quiséssemos.
  • 11:21 - 11:24
    Hoje, o palco está montado
    para o próximo passo:
  • 11:24 - 11:28
    imaginar o que vem depois
    do território e das fronteiras.
  • 11:29 - 11:30
    Obrigado.
Title:
Civilização na Lua e o que isso significa para a vida na Terra
Speaker:
Jessy Kate Schingler
Description:

Realistamente, poderemos ver pessoas a começar a viver e a trabalhar na Lua na próxima década, e como o fazemos é importante, diz Jessy Kate Schingler, investigadora em política espacial. Nesta fascinante palestra, ela aborda questões críticas que surgem quando consideramos a civilização no espaço, como a governação, os direitos de propriedade e a gestão de recursos, e mostra como a Lua pode ser um modelo para resolver os nossos maiores desafios aqui na Terra.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
11:43

Portuguese subtitles

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