Ninguém deve morrer por morar muito longe de um médico
-
0:01 - 0:04Quero compartilhar com vocês algo
que aprendi com meu pai: -
0:05 - 0:08nada é permanente.
-
0:09 - 0:12É uma lição que ele me ensinou,
por diversas vezes, -
0:12 - 0:16e que confirmei ser verdade
da forma mais difícil. -
0:17 - 0:19Esse sou eu na quarta série.
-
0:19 - 0:23É uma foto do meu anuário,
tirada em sala de aula, -
0:23 - 0:25em Monrovia, na Libéria.
-
0:26 - 0:30Meus pais migraram da Índia
para o oeste da África na década de 1970, -
0:30 - 0:32e tive o privilégio de crescer lá.
-
0:34 - 0:36Eu tinha nove anos, adorava jogar bola
-
0:36 - 0:39e era totalmente "nerd"
em matemática e ciências. -
0:39 - 0:43Eu tinha o tipo de vida que, de verdade,
qualquer criança sonharia ter. -
0:45 - 0:48Só que nada é permanente.
-
0:48 - 0:54Na véspera de Natal de 1989,
uma guerra civil irrompeu na Libéria. -
0:55 - 0:57A guerra começou no interior do país
-
0:57 - 1:01e, em poucos meses, tropas rebeldes
haviam chegado à nossa cidade. -
1:01 - 1:02Minha escola foi fechada
-
1:02 - 1:06e, quando as tropas rebeldes sitiaram
o único aeroporto internacional, -
1:06 - 1:08as pessoas começaram
a entrar em pânico e a fugir. -
1:09 - 1:11Um dia, minha mãe
me chamou no quarto dizendo: -
1:11 - 1:14"Raj, pegue suas coisas.
Temos que ir embora daqui". -
1:15 - 1:17Nos mandaram às pressas
para o centro da cidade -
1:17 - 1:21e lá, no asfalto,
nos dividiram em duas filas. -
1:23 - 1:25Fiquei com minha família numa das filas
-
1:25 - 1:29e fomos amontoados no compartimento
de carga de um avião de resgate. -
1:29 - 1:32Ali, sentado num banco,
meu coração estava acelerado. -
1:32 - 1:35Quando olhei para o lado de fora,
-
1:35 - 1:39vi centenas de liberianos em outra fila,
com crianças amarradas às suas costas. -
1:41 - 1:46Quando tentaram entrar no avião conosco,
vi os soldados os impedindo. -
1:47 - 1:49Eles não tinham permissão pra fugir.
-
1:49 - 1:51Nós tivemos sorte.
-
1:51 - 1:53Perdemos o que tínhamos,
-
1:53 - 1:56mas nos estabelecemos nos Estados Unidos
-
1:56 - 2:00e, como imigrantes, tivemos
o apoio da comunidade ao nosso redor. -
2:02 - 2:05Abrigaram a minha família,
foram mentores pra mim. -
2:06 - 2:08Ajudaram meu pai
a abrir uma loja de roupas. -
2:08 - 2:11Quando adolescente,
eu visitava meu pai nos fins de semana, -
2:11 - 2:13para ajudá-lo a vender tênis e jeans.
-
2:13 - 2:18Sempre que as coisas iam mal nos negócios,
ele me fazia lembrar do mantra: -
2:18 - 2:20"Nada é permanente".
-
2:21 - 2:25Esse mantra, a persistência do meu pai
e o apoio daquela comunidade -
2:25 - 2:29possibilitaram que eu fizesse faculdade
e estudasse medicina. -
2:30 - 2:34Eu havia perdido minhas esperanças
por causa da guerra, -
2:34 - 2:35mas, por causa deles,
-
2:35 - 2:38tive a chance de seguir meu sonho
e me tornar médico. -
2:39 - 2:41Minha situação tinha mudado.
-
2:43 - 2:45Fazia 15 anos desde que fugi
naquele aeroporto, -
2:45 - 2:48mas eu não havia perdido a lembrança
daquelas duas filas. -
2:48 - 2:51Eu era aluno de medicina
nos meus 20 e poucos anos, -
2:51 - 2:55e queria voltar pra ver se podia servir
às pessoas que havíamos deixado lá. -
2:56 - 2:58Quando voltei, encontrei total destruição.
-
2:58 - 3:01A guerra havia nos deixado
com apenas 51 médicos -
3:01 - 3:03para atender um país
com 4 milhões de pessoas. -
3:03 - 3:07Seria como a cidade de São Francisco
ter apenas dez médicos. -
3:07 - 3:10Se você ficasse doente na cidade,
com tão poucos médicos, -
3:10 - 3:12talvez tivesse chance de melhorar,
-
3:12 - 3:16mas, se ficasse doente
em comunidades remotas, -
3:16 - 3:18a dias de distância
do hospital mais próximo... -
3:18 - 3:22Eu via meus pacientes morrerem de coisas
das quais ninguém deve morrer, -
3:22 - 3:24só porque chegavam até mim
já tarde demais. -
3:24 - 3:27Imagine que sua filha de dois anos
acordou de manhã com febre -
3:27 - 3:30e você percebe que ela talvez
tenha pegado malária. -
3:30 - 3:33Você sabe que a única forma de conseguir
a medicação de que ela precisa -
3:33 - 3:37seria levá-la à beira do rio,
entrar numa canoa, remar até o outro lado -
3:37 - 3:39e depois caminhar uns dois dias
no meio da floresta -
3:39 - 3:42só pra chegar ao hospital mais próximo.
-
3:42 - 3:45Um bilhão de pessoas vive
nas comunidades mais remotas do mundo -
3:45 - 3:49e, apesar dos avanços da medicina
e das tecnologias modernas, -
3:49 - 3:51essas inovações não têm chegado
a lugares remotos. -
3:52 - 3:53Essas comunidades têm sido preteridas
-
3:53 - 3:58porque são consideradas complicadas demais
de alcançar e difíceis demais de atender. -
3:58 - 4:02As doenças estão em todo lugar,
mas o acesso à saúde não. -
4:02 - 4:05Perceber isso acendeu
uma chama dentro de mim. -
4:05 - 4:09Ninguém deveria morrer por morar
longe demais de um médico ou hospital. -
4:09 - 4:12Essa situação não pode ser permanente.
-
4:13 - 4:16E, nesse caso, a ajuda não veio de fora.
-
4:16 - 4:20Na verdade, ela veio de dentro,
das próprias comunidades. -
4:20 - 4:21Essa é Musu.
-
4:21 - 4:23Bem no interior da Libéria,
-
4:23 - 4:27onde a maioria das meninas não consegue
concluir o ensino fundamental, -
4:27 - 4:29Musu foi persistente.
-
4:30 - 4:34Aos 18 anos, ela concluiu o ensino médio
e voltou pra sua comunidade. -
4:34 - 4:37Ela viu que nenhuma das crianças
recebia tratamento -
4:37 - 4:39para as doenças para as quais
precisavam de tratamento, -
4:40 - 4:42doenças mortais como malária e pneumonia.
-
4:42 - 4:44Então, ela se dispôs a ser voluntária.
-
4:46 - 4:49Existem milhões de voluntários como Musu
em regiões rurais em todo o mundo, -
4:49 - 4:51e começamos a pensar
-
4:51 - 4:55que membros de comunidades, como Musu,
poderiam nos ajudar num problema. -
4:56 - 4:58Nosso sistema de saúde
é estruturado de tal forma -
4:58 - 5:02que o diagnóstico de doenças
e a prescrição de medicamentos -
5:02 - 5:06se limitam a uma equipe
de enfermeiros e médicos como eu. -
5:06 - 5:09Em sua maioria, enfermeiros
e médicos ficam em cidades. -
5:09 - 5:13Então, comunidades rurais
como a de Musu têm sido esquecidas. -
5:13 - 5:14Começamos a questionar:
-
5:14 - 5:17"E se pudéssemos reorganizar
o sistema de saúde pública? -
5:17 - 5:20E se membros de comunidades, como Musu,
-
5:20 - 5:23pudessem fazer parte ou até ser
o centro da nossa equipe médica? -
5:23 - 5:27E se Musu pudesse nos ajudar a trazer
os serviços de saúde das cidades -
5:27 - 5:30até a porta dos vizinhos dela?"
-
5:31 - 5:33Musu tinha 48 anos quando a conheci.
-
5:34 - 5:37Apesar de seu incrível
talento e determinação, -
5:37 - 5:41ela não tinha um emprego
remunerado havia 30 anos. -
5:41 - 5:44E se a tecnologia pudesse ajudá-la?
-
5:44 - 5:49E se pudéssemos investir nela
com capacitação, -
5:49 - 5:51equipá-la com medicamentos
-
5:52 - 5:55e dar a ela um emprego de verdade?
-
5:56 - 6:01Bem, em 2007, eu tentei
responder a essas perguntas. -
6:01 - 6:03Naquele ano, eu e minha esposa
íamos nos casar. -
6:04 - 6:08Pedimos aos nossos parentes
que não nos dessem presentes de casamento -
6:08 - 6:13e que, em vez disso, doassem dinheiro
para que pudéssemos abrir uma ONG. -
6:14 - 6:17Sou bem mais romântico
do que parece, eu garanto. -
6:17 - 6:18(Risos)
-
6:18 - 6:20Conseguimos arrecadar US$ 6 mil,
-
6:21 - 6:23nos juntamos com alguns
liberianos e americanos -
6:23 - 6:25e abrimos uma ONG
chamada "Last Mile Health". -
6:25 - 6:30Nosso objetivo é levar um agente de saúde
a qualquer pessoa, em qualquer lugar. -
6:30 - 6:34Criamos um processo de três etapas
- capacitar, equipar e pagar - -
6:34 - 6:37para investir de forma mais eficiente
em voluntários como Musu -
6:37 - 6:41para que se tornem paraprofissionais,
para que se tornem agentes de saúde. -
6:41 - 6:46Primeiro, capacitamos Musu
para prevenir, diagnosticar e tratar -
6:46 - 6:49as dez principais doenças que afligiam
as famílias do vilarejo dela. -
6:50 - 6:53Uma enfermeira supervisora a visitava
todos os meses para orientá-la. -
6:54 - 6:56Nós a equipamos
com tecnologia médica moderna, -
6:56 - 7:00como este teste de malária de US$ 1,
-
7:00 - 7:03e o colocamos em uma mochila
cheia de medicamentos como este -
7:03 - 7:06que serve pra tratar doenças
como a pneumonia -
7:06 - 7:08e, principalmente,
-
7:08 - 7:12um smartphone para ajudá-la
a mapear e reportar epidemias. -
7:13 - 7:16Por fim, reconhecemos
a dignidade do trabalho de Musu. -
7:16 - 7:20Com o governo liberiano,
fizemos um contrato, pagamos a ela -
7:20 - 7:23e lhe demos a chance de ter um emprego
de verdade, e ela é incrível. -
7:23 - 7:27Musu aprendeu mais de 30
procedimentos médicos, -
7:27 - 7:30desde examinar e detectar
a desnutrição infantil -
7:30 - 7:33a descobrir a causa da tosse
de uma criança com um smartphone -
7:33 - 7:36ou ajudar pessoas soropositivas
-
7:36 - 7:40e oferecer auxílio contínuo
a pacientes que foram amputados. -
7:42 - 7:45Trabalhando como parte da nossa equipe,
trabalhando como paraprofissionais, -
7:45 - 7:48agentes de saúde comunitários
ajudam a garantir -
7:48 - 7:50que grande parte do que
um médico de família faria -
7:50 - 7:54chegue a lugares onde a maioria
dos médicos de família jamais chegaria. -
7:54 - 7:56Uma das coisas que mais gosto de fazer
-
7:56 - 7:58é cuidar de pacientes com os agentes
de saúde comunitários. -
7:58 - 8:04Ano passado, visitei A.B. e, como Musu,
ele teve a chance de estudar. -
8:04 - 8:07Ele estava no fim do ensino
fundamental, na oitava série, -
8:07 - 8:09quando os pais dele morreram.
-
8:09 - 8:12Ele teve que abandonar a escola
porque ficou órfão. -
8:13 - 8:17Ano passado, contratamos e capacitamos
A.B. como agente de saúde comunitário. -
8:18 - 8:23Enquanto ele ia de porta em porta,
ele conheceu um rapazinho chamado Prince, -
8:23 - 8:27cuja mãe tinha tido problemas
durante a amamentação dele -
8:27 - 8:30e, aos seis meses de idade,
Prince tinha começado a definhar. -
8:30 - 8:33A.B. tinha acabado de aprender a usar
uma fita métrica codificada com cores, -
8:34 - 8:37que enrolamos no braço da criança
pra diagnosticar desnutrição. -
8:37 - 8:39A.B. percebeu que Prince
estava na faixa vermelha -
8:39 - 8:41e precisava ser hospitalizado.
-
8:41 - 8:45A.B. levou Prince e sua mãe até o rio,
entrou com eles numa canoa -
8:45 - 8:48e remou por quatro horas
até chegar ao hospital. -
8:48 - 8:50Mais tarde, quando Prince recebeu alta,
-
8:51 - 8:55A.B. ensinou a mãe a dar
suplemento alimentar ao filho. -
8:56 - 8:58Alguns meses depois,
-
8:58 - 9:01A.B. me levou pra visitar o Prince,
que agora está rechonchudinho. -
9:01 - 9:02(Risos)
-
9:02 - 9:05Ele está superando a desnutrição,
conseguiu ficar em pé -
9:05 - 9:07e até já começou a dizer algumas palavras.
-
9:07 - 9:10Esses agentes de saúde comunitários
me inspiram muito. -
9:10 - 9:12Sempre pergunto a eles
por que fazer o que fazem -
9:12 - 9:15e, quando perguntei ao A.B., ele disse:
-
9:15 - 9:18"Doutor, desde que abandonei a escola,
-
9:18 - 9:21é a primeira vez em que tenho
a chance de usar uma caneta. -
9:22 - 9:24Minha mente está ficando ativa".
-
9:26 - 9:28As histórias de A.B. e de Musu
-
9:28 - 9:31me ensinaram algo essencial
sobre humanidade. -
9:32 - 9:34Nosso desejo de servir aos outros
-
9:35 - 9:39pode na verdade nos ajudar
a mudar nossa própria realidade. -
9:40 - 9:44Me emocionou muito o impacto
do nosso desejo de ajudar nossos vizinhos, -
9:44 - 9:48alguns anos atrás, quando sofremos
uma catástrofe global. -
9:49 - 9:50Em dezembro de 2013,
-
9:50 - 9:54algo aconteceu nas florestas tropicais
do outro lado da fronteira, na Guiné. -
9:54 - 9:58Um menino chamado Emile ficou doente,
vomitando, com febre e diarreia. -
9:58 - 10:01Ele morava numa região
onde havia poucas estradas -
10:01 - 10:04e pouquíssimos agentes de saúde.
-
10:05 - 10:06Emile morreu.
-
10:06 - 10:08Algumas semanas depois,
a irmã dele morreu -
10:08 - 10:10e, semanas depois, a mãe dele morreu.
-
10:10 - 10:13A doença que os matou se espalhou
de uma comunidade pra outra. -
10:13 - 10:18Somente três meses depois,
o mundo conheceu essa doença como ebola. -
10:18 - 10:21Cada minuto era precioso,
mas já havíamos perdido meses -
10:21 - 10:24e, àquela altura, o vírus tinha
se espalhado por todo o oeste da África -
10:24 - 10:26e pra outras partes do mundo.
-
10:26 - 10:30Empresas fecharam as portas,
companhias aéreas cancelaram rotas. -
10:30 - 10:31No auge da epidemia,
-
10:31 - 10:36quando ficamos sabendo que 1,4 milhão
de pessoas poderiam estar infectadas, -
10:36 - 10:39quando ficamos sabendo
que a maioria iria morrer, -
10:39 - 10:42quando já tínhamos perdido
quase toda esperança, -
10:43 - 10:46lembro-me de estar
com um grupo de agentes de saúde -
10:46 - 10:49numa floresta onde um surto da doença
tinha acabado de ocorrer. -
10:49 - 10:52Estávamos ajudando a equipá-los
e treiná-los pra usar máscaras, -
10:52 - 10:56luvas e roupas de que precisariam
para se protegerem do vírus -
10:56 - 10:59enquanto atendiam os pacientes.
-
10:59 - 11:01Lembro-me do medo nos olhos deles.
-
11:02 - 11:07Lembro-me de ficar acordado à noite,
preocupado se tinha tomado a decisão certa -
11:08 - 11:10ao mantê-los naquela área.
-
11:11 - 11:15Quando o vírus ebola ameaçou
deixar a humanidade de joelhos, -
11:15 - 11:19os agentes de saúde comunitários
da Libéria não se renderam ao medo. -
11:20 - 11:22Fizeram o que sempre haviam feito:
-
11:22 - 11:25aceitaram ficar
e servir aos seus vizinhos. -
11:26 - 11:29Membros de comunidades de toda a Libéria
aprenderam os sintomas da doença, -
11:29 - 11:31se uniram a enfermeiros e médicos,
-
11:31 - 11:35indo de porta em porta ver os doentes
e levá-los a tratamento. -
11:35 - 11:38Rastrearam milhares de pessoas
que haviam sido expostas ao vírus -
11:38 - 11:40e ajudaram a quebrar
a cadeia de transmissão. -
11:40 - 11:44Uns 10 mil agentes de saúde comunitários
arriscaram suas próprias vidas -
11:44 - 11:47para ajudar na luta contra o vírus
e a deter sua transmissão. -
11:48 - 11:50(Aplausos)
-
11:55 - 11:58Hoje, o ebola está sob controle
no oeste da África -
11:58 - 12:00e aprendemos algumas coisas.
-
12:00 - 12:03Aprendemos que pontos cegos
de saúde pública em regiões rurais -
12:03 - 12:07podem se tornar focos de doenças,
e isso aumenta o risco para todos nós. -
12:08 - 12:10Aprendemos que o sistema
de emergência mais eficiente -
12:10 - 12:12é na verdade aquele que é cotidiano,
-
12:12 - 12:15e esse sistema tem que chegar
a todas as comunidades, -
12:15 - 12:18inclusive comunidades como a de Emile.
-
12:18 - 12:19Acima de tudo,
-
12:19 - 12:23aprendemos com a coragem dos agentes
de saúde comunitários na Libéria -
12:23 - 12:27que nós, enquanto pessoas, não somos
definidos pelas situações que enfrentamos, -
12:27 - 12:30independentemente
do quanto pareçam desanimadoras. -
12:30 - 12:33Somos definidos pela forma
como reagimos a elas. -
12:34 - 12:36Nos últimos 15 anos,
-
12:37 - 12:41tenho visto o poder dessa ideia
de transformar cidadãos comuns -
12:41 - 12:45em agentes de saúde comunitários,
em heróis do dia a dia. -
12:46 - 12:47Vejo isso dar certo em toda parte,
-
12:47 - 12:49das comunidades nas florestas
do oeste da África -
12:50 - 12:52aos vilarejos de pescadores do Alasca.
-
12:53 - 12:57Claro, esses agentes de saúde comunitários
não realizam cirurgias neurológicas, -
12:57 - 13:02mas estão possibilitando a todos,
em toda parte, o acesso à saúde. -
13:03 - 13:05O que faremos, então?
-
13:06 - 13:09Bem, sabemos que ainda há
milhões de pessoas morrendo -
13:09 - 13:13de doenças preveníveis,
em comunidades rurais em todo mundo. -
13:13 - 13:19Sabemos que a grande maioria dessas mortes
acontece nesses países em azul. -
13:20 - 13:21Também sabemos
-
13:21 - 13:24que, se capacitarmos um exército
de agentes de saúde comunitários, -
13:24 - 13:28ensinando-lhes mesmo que apenas
30 procedimentos cruciais de saúde, -
13:28 - 13:33podemos salvar a vida de quase
30 milhões de pessoas até 2030. -
13:33 - 13:38Trinta procedimentos poderiam salvar
30 milhões de vidas até 2030. -
13:38 - 13:40Isso não é mero achismo.
-
13:40 - 13:42Temos provas de que isso pode ser feito.
-
13:42 - 13:44O governo da Libéria
-
13:44 - 13:48vem capacitando milhares de agentes
de saúde como A.B e Musu, depois do ebola, -
13:48 - 13:52para levarem assistência à saúde
a todas as crianças e famílias do país. -
13:52 - 13:54Tivemos a honra de trabalhar com eles
-
13:54 - 13:59e agora estamos criando parcerias
com várias organizações em outros países -
13:59 - 14:01para ajudá-las a fazer o mesmo.
-
14:02 - 14:05Se pudéssemos ajudar esses países,
-
14:05 - 14:07poderíamos salvar milhões de vidas
-
14:07 - 14:11e, ao mesmo tempo,
poderíamos criar milhões de empregos. -
14:12 - 14:15Mas não podemos fazer isso
sem a tecnologia. -
14:15 - 14:18As pessoas acham que a tecnologia
vai roubar o emprego delas, -
14:18 - 14:21mas, no que se refere
a agentes de saúde comunitários, -
14:21 - 14:24a tecnologia, na verdade, tem sido vital
para a criação de empregos. -
14:24 - 14:29Sem a tecnologia, sem este smartphone,
sem este teste rápido, -
14:30 - 14:34teria sido impossível
darmos emprego a A.B. e a Musu. -
14:35 - 14:38Acho que está na hora
de a tecnologia nos ajudar a capacitar, -
14:38 - 14:42nos ajudar a capacitar pessoas
mais rápido e melhor do que nunca. -
14:42 - 14:43Como médico,
-
14:43 - 14:47uso a tecnologia para me atualizar
e me manter bem capacitado. -
14:47 - 14:50Uso smartphones, uso aplicativos,
faço cursos on-line. -
14:50 - 14:55Mas, para A.B. se capacitar,
ele tem que entrar naquela canoa -
14:55 - 14:57para chegar ao centro de capacitação.
-
14:57 - 14:59Quando Musu aparece
no curso de capacitação, -
15:00 - 15:03os instrutores dela ainda usam
blocos de cavalete e caneta hidrográfica. -
15:04 - 15:09Por que eles não podem ter
o mesmo acesso que eu tenho à educação? -
15:10 - 15:15Se realmente queremos que agentes de saúde
comunitários sejam bem-preparados, -
15:16 - 15:19temos que mudar esse modelo
antiquado de educação. -
15:20 - 15:22A tecnologia pode realmente
ser crucial para isso. -
15:22 - 15:26Fico fascinado com a revolução
da educação digital -
15:26 - 15:30que a Khan Academy, a edX
e outras do ramo tem promovido. -
15:30 - 15:34Acho que está na hora,
está na hora de haver um encontro -
15:34 - 15:38entre a revolução da educação digital
e a revolução da saúde comunitária. -
15:39 - 15:43E isso me leva ao meu "desejo TED Prize".
-
15:44 - 15:48Desejo que vocês nos ajudem a recrutar
-
15:48 - 15:52o maior exército de agentes de saúde
comunitários que o mundo já viu, -
15:52 - 15:55por meio da criação
da Academia da Saúde Comunitária, -
15:55 - 15:59uma plataforma global para capacitar,
conectar e empoderar. -
15:59 - 16:00(Aplausos)
-
16:00 - 16:01Obrigado.
-
16:01 - 16:04(Aplausos)
-
16:05 - 16:06Obrigado.
-
16:08 - 16:09A ideia é a seguinte:
-
16:09 - 16:12vamos criar e coordenar
-
16:12 - 16:16o que há de melhor
em recursos da educação digital. -
16:17 - 16:21Levaremos esses recursos aos agentes
de saúde comunitários do mundo, -
16:21 - 16:23inclusive A.B. e Musu.
-
16:23 - 16:26Eles terão aulas em vídeo
sobre vacinação de crianças -
16:26 - 16:29e farão cursos on-line sobre
como detectar surtos iminentes, -
16:29 - 16:31para que não usem mais blocos de cavalete.
-
16:31 - 16:35Vamos ajudar esses países
a remunerarem esses agentes, -
16:35 - 16:39para que estes deixem de ser
um grupo desprestigiado, desvalorizado, -
16:39 - 16:42e passem a ser profissionais
valorizados e empoderados, -
16:42 - 16:44assim como enfermeiros e médicos.
-
16:45 - 16:49Vamos criar um rede
de empresas e empreendedores -
16:49 - 16:51que criaram inovações
capazes de salvar vidas, -
16:51 - 16:53ajudando-os a se conectarem
com agentes como Musu, -
16:53 - 16:56para que possam melhor servir
às suas comunidades. -
16:57 - 17:00Vamos trabalhar incansavelmente
para convencer governos -
17:00 - 17:04a tornarem os agentes de saúde a base
de suas estratégias de saúde pública. -
17:06 - 17:09Pretendemos iniciar e testar
a academia na Libéria -
17:09 - 17:11e em alguns países parceiros,
-
17:11 - 17:13ampliando depois para o resto do mundo,
-
17:13 - 17:16inclusive as regiões rurais
da América do Norte. -
17:16 - 17:17Com o poder dessa plataforma,
-
17:17 - 17:20acreditamos que os países
podem se convencer melhor -
17:20 - 17:24de que uma revolução
na saúde pública é possível. -
17:24 - 17:28Meu sonho é que essa academia
contribua para a capacitação -
17:28 - 17:31de centenas de milhares
de membros comunitários, -
17:31 - 17:34para que ajudem a levar saúde
a seus vizinhos, -
17:34 - 17:35às centenas de milhares de pessoas
-
17:35 - 17:38que vivem nas comunidades
mais remotas do mundo, -
17:38 - 17:41desde comunidades
em florestas do oeste da África -
17:41 - 17:43a vilas de pescadores no Alasca;
-
17:43 - 17:47desde o alto de Appalachia
a montanhas no Afeganistão. -
17:47 - 17:50Se essa visão se alinha com a sua,
-
17:50 - 17:55acesse communityhealthacademy.org
e junte-se a essa revolução. -
17:57 - 18:00Nos avise se você, sua empresa
ou alguém que você conhece -
18:00 - 18:04puder nos ajudar a criar essa academia
ao longo do próximo ano. -
18:05 - 18:08Ao olhar pra esta plateia,
-
18:08 - 18:11percebo que nossas realidades
não se dão por esforço próprio, -
18:11 - 18:13mas são moldadas pelos outros,
-
18:13 - 18:16e muitas pessoas aqui
participaram dessa causa. -
18:16 - 18:20Nos sentimos muito honrados
por fazermos parte dessa comunidade, -
18:20 - 18:22uma comunidade que está disposta
a assumir um compromisso -
18:22 - 18:24tão audacioso quanto esse.
-
18:24 - 18:27Então, pra concluir,
gostaria de deixar uma reflexão. -
18:28 - 18:32Penso muito mais naquilo
que aprendi com meu pai. -
18:32 - 18:34Hoje em dia, eu também sou pai.
-
18:34 - 18:36Tenho dois filhos
-
18:36 - 18:40e minha esposa e eu descobrimos que ela
está grávida do nosso terceiro filho. -
18:40 - 18:41(Aplausos)
-
18:41 - 18:42Obrigado.
-
18:42 - 18:44(Aplausos)
-
18:44 - 18:47Recentemente, atendi uma mulher na Libéria
-
18:47 - 18:50que, como minha esposa,
estava grávida pela terceira vez. -
18:50 - 18:52Mas, diferente da minha esposa,
-
18:53 - 18:56ela não tinha feito pré-natal
nas duas primeiras gravidezes. -
18:57 - 19:00Ela vivia numa comunidade
remota na floresta, -
19:00 - 19:04que, havia 100 anos,
não tinha acesso a saúde pública. -
19:04 - 19:09Até que, no ano passado,
uma enfermeira capacitou seus vizinhos -
19:09 - 19:11para se tornarem agentes de saúde.
-
19:11 - 19:13Lá estava eu,
-
19:13 - 19:17vendo aquela paciente,
no segundo trimestre de gravidez, -
19:17 - 19:20fiz o ultrassom para checar o bebê,
-
19:20 - 19:23e ela começou a contar histórias
sobre os dois primeiros filhos dela. -
19:24 - 19:27Coloquei a pistola
do ultrassom na barriga dela -
19:27 - 19:29e ela parou no meio de uma frase.
-
19:31 - 19:35Ela olhou pra mim e disse:
"Doutor, que som é esse?" -
19:37 - 19:41Era a primeira vez em que ela ouvia
o coração de seu bebê bater. -
19:42 - 19:47Os olhos dela brilharam da mesma forma
que os meus olhos e os da minha esposa -
19:47 - 19:50quando ouvimos o coração do nosso bebê.
-
19:52 - 19:54Durante toda a história da humanidade,
-
19:54 - 19:58as doenças tiveram alcance universal,
mas o acesso à saúde não. -
19:58 - 20:00Mas um sábio me disse uma vez:
-
20:02 - 20:04"Nada é permanente".
-
20:05 - 20:07Está na hora.
-
20:07 - 20:09Está na hora de chegarmos
aonde for preciso -
20:09 - 20:11para mudarmos juntos essa situação.
-
20:12 - 20:13Obrigado.
-
20:13 - 20:15(Aplausos)
- Title:
- Ninguém deve morrer por morar muito longe de um médico
- Speaker:
- Raj Panjabi
- Description:
-
As doenças tem alcance universal, mas o acesso à saúde não. O médico Raj Panjabi tem uma ideia ousada para dar a todos o acesso à saúde, em qualquer lugar. Com o TED Prize 2017, Panjabi está criando a Community Health Academy (Academia da Saúde Comunitária), uma plataforma global que tem como objetivo modernizar a forma como agentes de saúde comunitários aprendem técnicas de saúde cruciais, ao mesmo tempo em que gera empregos.
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 20:18
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Leonardo Silva edited Portuguese, Brazilian subtitles for No one should die because they live too far from a doctor | |
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