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Porque é que as renováveis não podem salvar o planeta | Michael Shellenberger | TEDxDanubia

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    Muito obrigado.
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    Quando eu era miúdo,
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    por vezes, os meus pais levavam-me
    a acampar na Califórnia.
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    Acampávamos nas praias,
    nas florestas, nos desertos.
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    Há quem pense que os desertos
    não têm vida
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    mas os meus pais ensinaram-me
    a ver a vida selvagem à nossa volta,
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    os falcões, as águias, as tartarugas.
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    Uma vez em que estávamos
    a montar o acampamento,
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    encontrámos um escorpião bebé
    com o ferrão eriçado.
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    Lembro-me de ter pensado
    como era tão giro
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    que uma coisa pudesse ser
    tão engraçada e tão perigosa.
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    Depois da faculdade,
    fui para a Califórnia
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    e comecei a trabalhar numa série
    de campanhas ambientais.
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    Comecei a ajudar a salvar
    as florestas de sequoias do estado
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    e a boicotar a proposta da instalação
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    de um depósito
    de lixo radioativo no deserto.
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    Pouco depois de fazer 30 anos,
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    decidi que queria dedicar uma boa parte
    da minha vida a resolver
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    o problema da alteração climática.
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    Preocupava-me que o aquecimento
    global acabasse por destruir
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    muitos dos ambientes naturais
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    que as pessoas tinham tentado
    proteger com tanto esforço.
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    Pensava que as soluções técnicas
    eram muito simples
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    — painéis solares em todos os telhados,
    carros elétricos nas ruas —
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    mas os principais obstáculos
    eram políticos.
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    Por isso, ajudei a organizar
    uma coligação
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    dos principais sindicatos do país
    e dos maiores grupos ambientalistas.
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    A nossa proposta era para o investimento
    de 300 mil milhões de dólares
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    nas energias renováveis.
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    A ideia não era só impedir
    a alteração climática,
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    também queríamos criar
    milhões de novos empregos
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    num setor de alta tecnologia
    e de crescimento muito rápido.
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    Os nossos esforços
    foram compensados em 2007,
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    quando Barack Obama,
    na altura candidato a presidente,
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    apoiou a nossa visão.
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    Entre 2009 e 2015, os EUA investiram
    150 mil milhões de dólares
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    em energias renováveis
    e noutras tecnologias limpas.
  • 1:55 - 1:58
    Mas começámos logo
    a encontrar problemas.
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    Primeiro, a eletricidade
    dos painéis solares nos telhados
  • 2:01 - 2:05
    acaba por ser duas vezes mais cara
    do que a eletricidade dos parques solares.
  • 2:05 - 2:07
    Tanto os parques solares como os eólicos
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    exigem a ocupação duma porção
    significativa de terreno
  • 2:10 - 2:12
    com os painéis solares
    e as turbinas eólicas
  • 2:12 - 2:15
    e também a criação
    de grandes linhas de transmissão
  • 2:15 - 2:18
    para transportar essa eletricidade
    do campo para a cidade.
  • 2:18 - 2:23
    As comunidades locais opunham-se
    com frequência a estas duas coisas
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    e os biólogos da conservação também
  • 2:25 - 2:27
    porque se preocupavam com os impactos
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    sobre as espécies de aves selvagens
    e de outros animais.
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    Havia muitas outras pessoas
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    a trabalhar em soluções técnicas,
    naquela época.
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    Um dos grandes problemas é
    a intermitência do sol e do vento.
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    Só geram eletricidade
    cerca de 10 a 30% do tempo,
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    durante a maior parte do ano.
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    Mas algumas das soluções propostas
  • 2:46 - 2:50
    eram transformar as barragens
    hidroelétricas em baterias gigantes.
  • 2:50 - 2:54
    A ideia era que, quando o sol brilhasse
    e o vento soprasse,
  • 2:54 - 2:57
    se produzisse eletricidade
    que era guardada para mais tarde.
  • 2:57 - 3:00
    Quando a eletricidade fosse necessária,
    punham-se as turbinas a trabalhar.
  • 3:01 - 3:02
    Em termos de vida selvagem,
  • 3:02 - 3:05
    alguns desses problemas
    não pareciam de grande preocupação.
  • 3:05 - 3:07
    Por isso, quando soube
    que os gatos domésticos
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    matavam milhares
    de milhões de aves por ano,
  • 3:10 - 3:12
    comparei isso com as centenas
    de milhares de aves
  • 3:12 - 3:15
    que morrem devido às turbinas eólicas.
  • 3:15 - 3:17
    Naquela época, parecia-me
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    que a maioria, senão todos os problemas
    em aumentar a energia solar e eólica
  • 3:21 - 3:24
    podia ser resolvida
    com mais inovações tecnológicas.
  • 3:24 - 3:26
    Mas, à medida que os anos iam passando,
  • 3:26 - 3:30
    esses problemas persistiam
    e, em muitos casos, iam piorando.
  • 3:30 - 3:33
    A Califórnia é um estado
    empenhado nas energias renováveis,
  • 3:33 - 3:37
    mas ainda não conseguimos transformar
    muitas das nossas barragens hidroelétricas
  • 3:37 - 3:38
    em grandes baterias.
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    Alguns dos problemas
    são apenas geográficos.
  • 3:41 - 3:45
    É preciso ter um tipo de formação
    muito especial para fazer isso.
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    Mas, mesmo nestes casos,
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    é muito dispendioso
    fazer essa conversão.
  • 3:49 - 3:52
    Outro problema é que há
    outras utilizações para a água,
  • 3:52 - 3:54
    como a irrigação.
  • 3:54 - 3:56
    E, talvez o problema mais significativo,
  • 3:56 - 4:01
    é que, na Califórnia,
    a água dos rios e dos reservatórios
  • 4:01 - 4:04
    é cada vez mais escassa e pouco fiável
  • 4:04 - 4:05
    devido à alteração climática.
  • 4:06 - 4:09
    Em consequência da falta de fiabilidade,
  • 4:09 - 4:12
    tivemos de deixar
    de enviar para as cidades
  • 4:12 - 4:14
    a eletricidade produzida
    nas centrais solares
  • 4:14 - 4:17
    porque, por vezes,
    é em quantidade demasiada.
  • 4:17 - 4:20
    Ou começámos a pagar
    aos estados vizinhos, como o Arizona,
  • 4:20 - 4:22
    para receberem essa eletricidade solar.
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    A alternativa é suspender
    o funcionamento da rede.
  • 4:26 - 4:30
    Acontece que,
    no que se refere a aves e gatos
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    — os gatos não matam águias,
    são as águias que matam gatos.
  • 4:35 - 4:41
    Os gatos matam
    pequenos pardais, gaios e piscos,
  • 4:41 - 4:45
    aves que não estão ameaçadas
    nem em risco de extinção.
  • 4:45 - 4:48
    O que mata as águias
    e outras grandes aves,
  • 4:48 - 4:51
    como este papagaio,
    ou mochos e condores
  • 4:51 - 4:54
    e outras espécies ameaçadas
    ou em perigo de extinção,
  • 4:54 - 4:55
    são as turbinas eólicas.
  • 4:55 - 4:58
    Esta é uma das maiores ameças
  • 4:58 - 5:00
    para essas espécies de grandes aves.
  • 5:00 - 5:04
    Temos vindo a introduzir
    no espaço aéreo muitos outros objetos,
  • 5:04 - 5:08
    como as turbinas eólicas,
    nos últimos anos.
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    Em termos de energia solar,
  • 5:10 - 5:14
    construir um parque solar é como
    construir qualquer outro tipo de parque.
  • 5:14 - 5:17
    Temos de limpar toda a área
    da vida selvagem.
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    Isto é uma imagem de um terço
  • 5:19 - 5:22
    de um dos maiores
    parques solares na Califórnia,
  • 5:22 - 5:23
    chamado Ivanpah.
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    Para construir isto,
  • 5:25 - 5:28
    tivemos de limpar toda a área
    das tartarugas do deserto,
  • 5:28 - 5:32
    arrancando das suas tocas
    as tartarugas do deserto e as suas crias,
  • 5:32 - 5:35
    colocando-as em grandes camionetas
    e transportando-as para cativeiro,
  • 5:35 - 5:38
    onde muitas delas acabaram por morrer.
  • 5:38 - 5:42
    As estimativas atuais são que morrem
    cerca de 6000 aves por ano
  • 5:42 - 5:45
    queimadas no parque solar
  • 5:45 - 5:46
    e mergulhando para a morte.
  • 5:47 - 5:49
    Com o tempo, fui ficando chocado
  • 5:49 - 5:52
    por não haver nenhuma inovação tecnológica
  • 5:52 - 5:56
    que fizesse o sol brilhar
    mais regularmente
  • 5:56 - 5:58
    ou o vento soprar de modo mais fiável.
  • 5:58 - 6:01
    Podíamos fazer painéis
    solares mais baratos
  • 6:01 - 6:03
    e podíamos fazer
    turbinas eólicas maiores,
  • 6:03 - 6:06
    mas a luz solar e o vento
    são combustíveis diluídos
  • 6:06 - 6:09
    e, para produzir quantidades
    significativas de eletricidade,
  • 6:09 - 6:13
    teríamos de cobrir uma enorme
    superfície de terreno.
  • 6:13 - 6:17
    Por outras palavras, todos os principais
    problemas com as energias renováveis
  • 6:17 - 6:20
    não são técnicos, são naturais.
  • 6:20 - 6:22
    Gerir toda esta falta de fiabilidade
  • 6:22 - 6:24
    e os grandes impactos ambientais
  • 6:24 - 6:27
    obviamente traduz-se num custo
    económico muito alto.
  • 6:27 - 6:30
    Temos ouvido falar muito
    da baixa de preços, nos últimos anos,
  • 6:30 - 6:32
    dos painéis solares
    e das turbinas eólicas,
  • 6:32 - 6:35
    mas esse custo tem sido
    ultrapassado significativamente
  • 6:35 - 6:40
    pelos problemas de integrar toda
    esta energia pouco fiável numa rede.
  • 6:40 - 6:43
    Reparem, por exemplo,
    o que aconteceu na Califórnia.
  • 6:43 - 6:45
    Quando os painéis solares
    e as turbinas eólicas
  • 6:45 - 6:48
    começaram a baixar de preço,
    muito significativamente,
  • 6:48 - 6:50
    vimos subir o preço da eletricidade
  • 6:50 - 6:53
    cinco vezes mais do que no resto do país.
  • 6:53 - 6:54
    Mas isto não aconteceu só connosco.
  • 6:55 - 6:57
    Vimos acontecer o mesmo
    fenómeno na Alemanha
  • 6:57 - 6:58
    que é o líder mundial
  • 6:58 - 7:01
    das tecnologias solar, eólica
    e de outras energias renováveis.
  • 7:01 - 7:03
    Os preços deles aumentaram 50%
  • 7:03 - 7:06
    durante o grande impulso para
    a energia renovável.
  • 7:06 - 7:08
    Vocês podem estar a pensar:
  • 7:08 - 7:12
    "Resolver a alteração climática vai exigir
    que paguemos mais pela energia".
  • 7:12 - 7:13
    Era o que eu costumava pensar.
  • 7:14 - 7:16
    Mas considerem o caso da França.
  • 7:16 - 7:19
    A França recebe hoje
    duas vezes mais eletricidade
  • 7:19 - 7:22
    de fontes limpas com zero emissões
    do que a Alemanha
  • 7:22 - 7:27
    e, contudo, a França paga
    quase metade pela sua eletricidade.
  • 7:27 - 7:29
    Como é que isso é possível?
  • 7:29 - 7:31
    Provavelmente, já sabem a resposta.
  • 7:31 - 7:33
    A França recebe
    a maior parte da eletricidade
  • 7:33 - 7:36
    a partir da energia nuclear
    — cerca de 75% do total.
  • 7:36 - 7:39
    A energia nuclear acaba por ser
    muito mais fiável,
  • 7:39 - 7:42
    gerando energia 24 horas por dia,
    sete dias por semana,
  • 7:42 - 7:44
    durante quase 90% do ano.
  • 7:44 - 7:47
    Vemos este fenómeno a um nível global.
  • 7:47 - 7:50
    Por exemplo, tem havido
    uma experiência natural
  • 7:50 - 7:52
    ao longo dos últimos 40 anos,
    talvez mais do que isso,
  • 7:52 - 7:56
    em termos da implantação
    da energia nuclear e solar.
  • 7:56 - 7:59
    Podem ver que,
    a um custo um pouco mais alto,
  • 7:59 - 8:03
    recebemos metade da eletricidade
    da energia solar e eólica
  • 8:03 - 8:05
    do que recebíamos da energia nuclear.
  • 8:06 - 8:09
    O que significa isto para o futuro?
  • 8:09 - 8:12
    Penso que uma das descobertas
    mais significativas até à data é esta.
  • 8:12 - 8:15
    Se a Alemanha tivesse gasto
    580 mil milhões de dólares
  • 8:15 - 8:17
    na energia nuclear
    em vez das energias renováveis,
  • 8:17 - 8:21
    já estaria a receber
    100% da sua eletricidade
  • 8:21 - 8:25
    a partir de fontes de energia limpa
    e do transporte de toda a sua energia.
  • 8:26 - 8:29
    Vocês devem estar a pensar
    e é razoável perguntar:
  • 8:29 - 8:32
    "A energia nuclear é segura?
    O que fazemos com os resíduos?
  • 8:32 - 8:34
    São perguntas muito razoáveis.
  • 8:34 - 8:37
    Já se têm feito
    estudos científicos sobre isso,
  • 8:37 - 8:38
    há mais de 40 anos.
  • 8:39 - 8:40
    Este é o estudo mais recente
  • 8:40 - 8:43
    que foi feito pela prestigiada
    revista médica britânica Lancet.
  • 8:43 - 8:46
    Conclui que a energia nuclear
    é a mais segura
  • 8:46 - 8:48
    e é fácil perceber porquê.
  • 8:48 - 8:50
    Segundo a Organização
    Mundial da Saúde,
  • 8:50 - 8:53
    morrem 7 milhões de pessoas
    por ano, devido à poluição do ar.
  • 8:53 - 8:55
    As centrais nucleares não emitem poluição.
  • 8:55 - 8:58
    O cientista climático
    James Hansen estudou isso.
  • 8:58 - 9:00
    Calculou que a energia nuclear
  • 9:00 - 9:03
    já salvou quase dois milhões
    de vidas até à data.
  • 9:03 - 9:07
    Acontece que a energia eólica
    ainda é mais mortal do que a nuclear.
  • 9:07 - 9:10
    Esta é uma fotografia
    de dois trabalhadores de manutenção
  • 9:10 - 9:12
    na Holanda,
  • 9:12 - 9:15
    pouco antes de um deles
    ter morrido de uma queda a fugir do fogo
  • 9:15 - 9:18
    e o outro ter sido engolido pelas chamas.
  • 9:18 - 9:20
    E quanto ao impacto ambiental?
  • 9:20 - 9:22
    Penso que uma forma simples
    de pensar nisso
  • 9:22 - 9:26
    é que o urânio, que é o combustível
    usado nas centrais nucleares
  • 9:26 - 9:28
    é muito denso em energia.
  • 9:28 - 9:32
    Uma quantidade de urânio
    do tamanho deste cubo de Rubik
  • 9:32 - 9:36
    pode fornecer toda a energia
    de que precisamos toda a vida.
  • 9:37 - 9:40
    Em consequência,
    não precisamos de muita terra
  • 9:40 - 9:43
    para produzir uma quantidade
    significativa de eletricidade.
  • 9:43 - 9:46
    Aqui podemos comparar o parque solar
    de que falei há bocado, o Ivanpah,
  • 9:46 - 9:49
    com a última central nuclear
    da Califórnia, Diablo Canyon.
  • 9:50 - 9:52
    Ocupa 450 vezes mais espaço
  • 9:52 - 9:54
    para gerar a mesma
    quantidade de eletricidade
  • 9:54 - 9:56
    que a produzida pela central nuclear.
  • 9:56 - 9:59
    Precisaremos de mais
    17 parques solares, como o Ivanpah,
  • 9:59 - 10:02
    para gerar o mesmo resultado
    da central Diablo Canyon
  • 10:02 - 10:05
    que, claro, seria pouco fiável.
  • 10:06 - 10:09
    E quanto à mineração e ao desperdício
    e à capacidade material?
  • 10:10 - 10:12
    Isso também tem sido estudado
    muito atentamente
  • 10:12 - 10:14
    e acontece que os painéis solares
  • 10:14 - 10:17
    exigem 17 vezes mais materiais
    do que as centrais nucleares,
  • 10:18 - 10:21
    sob a forma de cimento, de vidro,
    de betão, de aço,
  • 10:21 - 10:24
    incluindo todo o combustível
    usado para as centrais nucleares.
  • 10:24 - 10:27
    A consequência é que, no final,
  • 10:27 - 10:31
    não há muito desperdício
    nas centrais nucleares.
  • 10:31 - 10:35
    Todos os desperdícios do programa
    nuclear suíço cabem naquela sala.
  • 10:36 - 10:37
    Os desperdícios nucleares
  • 10:37 - 10:40
    são os únicos desperdícios
    da produção de eletricidade
  • 10:40 - 10:42
    que são guardados em segurança.
  • 10:42 - 10:44
    Todas as outras formas
    de produzir eletricidade
  • 10:44 - 10:47
    emitem os seus desperdícios
    para o ambiente natural,
  • 10:47 - 10:50
    quer sob a forma de poluição
    ou de desperdícios materiais.
  • 10:50 - 10:53
    Temos a tendência de pensar
    que os painéis solares são limpos
  • 10:53 - 10:55
    mas a verdade é que não há
    nenhum plano
  • 10:55 - 10:59
    para lidar com os painéis solares
    no final da vida deles, de 20 a 25 anos.
  • 10:59 - 11:02
    Muitos especialistas estão preocupados
    porque os painéis solares
  • 11:02 - 11:06
    vão acabar por serem enviados
    para países pobres em África ou na Ásia
  • 11:06 - 11:08
    tal como os restos
    dos desperdícios eletrónicos,
  • 11:08 - 11:10
    para serem desmontados,
  • 11:10 - 11:14
    expondo as pessoas a elementos
    com um alto nível de toxicidade,
  • 11:14 - 11:17
    incluindo o chumbo, o cádmio e o crómio,
  • 11:17 - 11:22
    cuja toxicidade, enquanto elementos,
    nunca diminui com o tempo.
  • 11:22 - 11:24
    Penso que temos um sentimento intuitivo
  • 11:24 - 11:28
    de que a energia nuclear é, de facto,
    uma poderosa fonte de energia
  • 11:28 - 11:31
    e que a luz solar é diluída,
    difusa e fraca
  • 11:31 - 11:35
    e é por isso que temos de espalhar
    coletores solares ou coletores eólicos
  • 11:35 - 11:38
    numa tão grande superfície terrestre.
  • 11:38 - 11:40
    Talvez por isso ninguém se admirou
  • 11:40 - 11:44
    quando, no recente "remake"
    da ficção científica Blade Runner,
  • 11:44 - 11:47
    o filme começa com uma cena
    distópica muito sombria
  • 11:47 - 11:49
    em que os desertos da Califórnia
  • 11:49 - 11:52
    estavam totalmente cobertos
    de parques solares.
  • 11:52 - 11:56
    Tudo isto sugere uma pergunta
    muito desconfortável:
  • 11:56 - 12:01
    Na tentativa de salvar o clima,
    estamos a destruir o ambiente?
  • 12:02 - 12:05
    O interessante é que,
    durante centenas de anos,
  • 12:05 - 12:07
    os seres humanos têm tentado passar
  • 12:07 - 12:10
    dos combustíveis densos em matéria
  • 12:10 - 12:12
    para os combustíveis densos em energia.
  • 12:12 - 12:14
    Ou seja, da madeira e do esterco
  • 12:14 - 12:17
    para o carvão, o petróleo,
    o gás natural e o urânio.
  • 12:17 - 12:19
    É um fenómeno que ocorre
    há muito tempo.
  • 12:19 - 12:22
    Os países pobres a nível mundial
    ainda estão no processo
  • 12:22 - 12:25
    de abandonarem a madeira e o esterco,
    enquanto energias primárias.
  • 12:25 - 12:28
    No geral, isso é uma coisa positiva.
  • 12:28 - 12:31
    Quando deixamos de usar a madeira
    como principal combustível.
  • 12:31 - 12:35
    deixamos que as florestas renasçam
    e a vida selvagem recupere.
  • 12:35 - 12:37
    Se deixarmos de queimar
    madeira em casa,
  • 12:37 - 12:41
    deixamos de respirar fumo tóxico.
  • 12:41 - 12:44
    Quando passamos do carvão
    para o gás natural e o urânio,
  • 12:44 - 12:46
    como principais fontes de energia,
  • 12:46 - 12:50
    há a possibilidade de eliminar
    a poluição do ar.
  • 12:50 - 12:52
    Só há um problema com a energia nuclear.
  • 12:52 - 12:54
    Embora fosse muito aplaudida
  • 12:54 - 12:57
    a mudança de fontes de energia sujas
    para outras mais limpas,
  • 12:57 - 13:00
    de fontes de energia difusas
    para fontes de energia densa,
  • 13:00 - 13:04
    a energia nuclear tornou-se impopular
    por razões históricas.
  • 13:04 - 13:06
    Em consequência disso, no passado,
  • 13:06 - 13:09
    eu e muitas outras pessoas dissemos:
  • 13:09 - 13:11
    "Para resolver o problema
    da alteração climática,
  • 13:11 - 13:15
    "vamos precisar de um tipo
    de energia limpa diferente da que temos".
  • 13:15 - 13:18
    O problema é que acontece
    que isso não é verdade.
  • 13:18 - 13:20
    Lembram-se que eu referi
    a França há bocado,
  • 13:20 - 13:23
    que obtém a maior parte
    da sua eletricidade da energia nuclear.
  • 13:23 - 13:26
    Se a França quisesse aumentar
    a energia solar e eólica,
  • 13:26 - 13:28
    de modo significativo,
  • 13:28 - 13:32
    também teria de reduzir a eletricidade
    que obtém da energia nuclear.
  • 13:32 - 13:35
    Isso porque, para compensar
    a enorme variabilidade
  • 13:35 - 13:37
    na rede solar e eólica,
  • 13:37 - 13:40
    teria de queimar muito mais gás natural.
  • 13:40 - 13:41
    Pensem nisso.
  • 13:41 - 13:44
    É muito difícil aumentar e diminuir
    uma central nuclear
  • 13:44 - 13:46
    enquanto todos sabemos
    aumentar e diminuir
  • 13:47 - 13:48
    o gás natural do nosso fogão.
  • 13:48 - 13:51
    Um processo semelhante
    funciona na rede.
  • 13:51 - 13:54
    Claro que as companhias
    de petróleo e de gás
  • 13:54 - 13:56
    compreendem isso muito bem
  • 13:56 - 13:59
    e é por isso que vemos que
    investem milhões de dólares
  • 13:59 - 14:00
    nos últimos anos
  • 14:00 - 14:03
    a promoverem a energia solar e eólica.
  • 14:03 - 14:07
    Isto sugere outra pergunta difícil:
  • 14:07 - 14:10
    Nos locais onde estamos a usar
    muita energia nuclear
  • 14:10 - 14:14
    — metade da rede é sobretudo
    nuclear e hidroelétrica —
  • 14:14 - 14:17
    passar para a solar e eólica
    e outras renováveis
  • 14:17 - 14:19
    aumentaria as emissões de carbono.
  • 14:20 - 14:22
    Penso que a melhor alternativa
    é dizer a verdade.
  • 14:22 - 14:24
    É o que muitos cientistas têm feito.
  • 14:24 - 14:26
    Já referi há bocado
  • 14:26 - 14:28
    que centenas de milhares de aves
    morrem todos os anos,
  • 14:28 - 14:30
    devido às turbinas eólicas.
  • 14:30 - 14:32
    Mas o que não referi é que
    um milhão de morcegos, no mínimo,
  • 14:33 - 14:35
    morrem todos os anos
    devido às eólicas.
  • 14:35 - 14:36
    A consequência é que
  • 14:36 - 14:38
    os cientistas de morcegos
    têm protestado contra isso.
  • 14:38 - 14:41
    Esta espécie de morcegos,
    o Lasiurus cinereus,
  • 14:41 - 14:43
    que é uma espécie
    de morcegos migratórios,
  • 14:43 - 14:46
    está em risco de extinção,
  • 14:46 - 14:49
    por causa da significativa
    expansão dos parques eólicos.
  • 14:49 - 14:52
    Não só dos parques eólicos,
    também dos parques solares.
  • 14:52 - 14:55
    Os cientistas que estiveram envolvidos
    na criação do parque solar Ivanpah
  • 14:55 - 14:59
    que estiveram envolvidos na limpeza
    desse território, têm protestado.
  • 14:59 - 15:01
    Um deles escreveu:
  • 15:01 - 15:04
    "Todos sabem que a deslocação
    das tartarugas do deserto não resulta.
  • 15:04 - 15:07
    "Quando avançamos num 'bulldozer',
  • 15:07 - 15:09
    "a gritar e a afastar do caminho
    animais e catos,
  • 15:09 - 15:12
    "é difícil pensar que este projeto
    é uma boa ideia".
  • 15:12 - 15:17
    Hoje podemos ver estes fenómenos
    em funcionamento a nível internacional.
  • 15:17 - 15:19
    No meu estado natal da Califórnia,
  • 15:19 - 15:22
    temos armazenado muito gás natural
    na encosta duma montanha
  • 15:22 - 15:25
    para gerir toda a energia
    solar e eólica intermitente.
  • 15:25 - 15:26
    Houve uma fuga.
  • 15:26 - 15:29
    Foi equivalente a colocar
    500 000 carros na estrada.
  • 15:29 - 15:30
    Atualmente, na Alemanha,
  • 15:30 - 15:34
    há manifestantes a tentar boicotar
    um novo projeto de exploração de carvão
  • 15:34 - 15:38
    que envolveria a destruição
    da antiga floresta Han
  • 15:38 - 15:40
    para extrair o carvão
    que está por baixo dela
  • 15:40 - 15:43
    tudo na tentativa de suprimir
    a energia nuclear
  • 15:43 - 15:45
    e expandir a solar e eólica.
  • 15:45 - 15:47
    Penso que, felizmente,
  • 15:47 - 15:51
    as pessoas ainda se preocupam
    com a Natureza.
  • 15:51 - 15:53
    Vimos, no ano passado, na Coreia do Sul
  • 15:53 - 15:56
    um júri de cidadãos deliberar,
    durante meses,
  • 15:56 - 15:58
    pesando estes diversos problemas.
  • 15:58 - 16:01
    Tiveram de decidir se iam
    suprimir a energia nuclear
  • 16:01 - 16:03
    ou mantê-la e expandi-la.
  • 16:03 - 16:06
    Começaram com 40% a favor
    da expansão da energia nuclear
  • 16:06 - 16:09
    mas, ao fim de vários meses,
    e considerando os problemas,
  • 16:09 - 16:12
    acabaram por votar 60%
    a favor da expansão nuclear.
  • 16:12 - 16:15
    Um fenómeno semelhante aconteceu,
    na semana passada, no Arizona.
  • 16:15 - 16:17
    Foi feita uma sondagem
  • 16:17 - 16:20
    para saber se sim ou não
    deviam continuar com a energia nuclear
  • 16:20 - 16:24
    ou suprimi-la e tentar substituí-la
    por gás natural e energia solar.
  • 16:24 - 16:26
    Acabaram por rejeitá-la
    80 contra 30.
  • 16:26 - 16:28
    Mesmo aqui na Europa,
  • 16:28 - 16:32
    vimos que a Holanda é um dos primeiros
    países de recente memória
  • 16:32 - 16:35
    a anunciar, como fizeram
    na semana passada,
  • 16:35 - 16:39
    que vão começar a aumentar
    a sua confiança na energia nuclear
  • 16:39 - 16:41
    reconhecendo que não há outra forma
  • 16:41 - 16:45
    de gerar quantidades significativas
    de energia a partir do sol e do vento
  • 16:45 - 16:47
    para atingirem as suas metas climáticas.
  • 16:47 - 16:48
    Penso que é natural
  • 16:48 - 16:51
    que quem estiver preocupado
    com a alteração climática,
  • 16:51 - 16:53
    um problema de tal dimensão,
  • 16:53 - 16:56
    defenda soluções realmente românticas,
  • 16:56 - 17:00
    como harmonizar a civilização humana
    com o mundo natural,
  • 17:00 - 17:02
    usando energias renováveis.
  • 17:02 - 17:06
    Mas penso que também é compreensível
    que, à medida que observamos factos
  • 17:06 - 17:09
    muitos de nós tenham começado
    a questionar as nossas crença anteriores
  • 17:09 - 17:10
    e a mudar de ideias.
  • 17:10 - 17:13
    Para mim, o problema agora é este.
  • 17:13 - 17:17
    Agora que sabemos que as renováveis
    não podem salvar o planeta,
  • 17:17 - 17:19
    vamos continuar a deixá-las destruí-lo?
  • 17:19 - 17:21
    Muito obrigado.
  • 17:21 - 17:23
    (Aplausos)
Title:
Porque é que as renováveis não podem salvar o planeta | Michael Shellenberger | TEDxDanubia
Description:

Os ambientalistas promoveram durante muito tempo as fontes de energias renováveis, como os painéis solares e os parques eólicos, para salvar o clima. Mas o que acontece quando vemos que estas tecnologias destroem o ambiente? Nesta palestra provocadora, Michael Shellenberger, especialista em energia da revista do Time, "Hero of the Environment", explica porque é que os parques solares e eólicos exigem tanto território para produção de energia e propõe uma via para salvar o clima e o ambiente natural.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
17:33

Portuguese subtitles

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