A religião é uma coisa boa ou má? (É uma pergunta complicada)
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0:01 - 0:04As pessoas estão sempre
a falar de religião. -
0:05 - 0:07(Risos)
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0:07 - 0:09O grande Christopher Hitchens,
já falecido, -
0:09 - 0:11escreveu um livro chamado
"Deus Não É Grande", -
0:11 - 0:14cujo subtítulo era
"Como a religião envenena tudo". -
0:14 - 0:16(Risos)
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0:16 - 0:19Mas no mês passado, na revista Time,
-
0:20 - 0:24o rabi David Wolpe que, vim a saber,
é chamado o rabi da América, -
0:24 - 0:28disse — para contrabalançar
essa caracterização negativa — -
0:28 - 0:31que não pode haver nenhuma
forma de mudança social -
0:31 - 0:35a não ser através da religião organizada.
-
0:36 - 0:37Observações deste tipo,
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0:37 - 0:40tanto negativas como positivas,
são muito antigas. -
0:40 - 0:43Tenho aqui no meu bolso uma delas
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0:43 - 0:49do século I a.C, de Lucrécio,
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0:49 - 0:52o autor de "Sobre a Natureza das Coisas",
que disse: -
0:52 - 0:56"Tantum religio potuit suadere malorum"
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0:56 - 0:58— devia ter aprendido isto de cor —
-
0:58 - 0:59(Risos)
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0:59 - 1:00ou seja,
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1:00 - 1:04"A tantos males pode a religião persuadir".
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1:04 - 1:07Referia-se à decisão de Agamémnon
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1:07 - 1:09de pôr a sua filha Ifigénia
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1:09 - 1:11no altar de sacrifícios,
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1:11 - 1:14a fim de preservar
as perspetivas do seu exército. -
1:14 - 1:17Portanto, tem havido
longos debates sobre religião -
1:17 - 1:18ao longo dos séculos,
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1:18 - 1:21podemos mesmo dizer,
ao longo de milénios. -
1:21 - 1:22As pessoas falam muito sobre isso
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1:22 - 1:26e dizem coisas boas e más
e coisas indiferentes sobre ela. -
1:27 - 1:29Aquilo de que vos quero convencer hoje
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1:29 - 1:31é uma afirmação muito simples:
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1:31 - 1:33é que estes debates
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1:33 - 1:36de certa forma, são estapafúrdios,
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1:36 - 1:39porque não existe essa coisa de religião
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1:39 - 1:41sobre a qual se façam essas afirmações.
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1:41 - 1:43Não há uma coisa chamada religião
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1:43 - 1:46e, portanto, não pode ser boa ou má.
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1:46 - 1:48Nem sequer pode ser indiferente.
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1:48 - 1:51Se pensarmos nas afirmações
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1:51 - 1:53sobre a não existência das coisas,
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1:55 - 1:57uma forma óbvia de tentar estabelecer
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1:57 - 1:59a não existência duma determinada coisa
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1:59 - 2:02será apresentar uma
definição para essa coisa -
2:02 - 2:04e depois ver se há
alguma coisa que a satisfaça. -
2:04 - 2:06Para começar,
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2:07 - 2:08vou iniciar-me nessa via.
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2:09 - 2:11Se procurarem nos dicionários
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2:11 - 2:13e pensarem nisso,
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2:13 - 2:15uma definição muito natural de religião
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2:15 - 2:20é a que envolve a crença em deuses
ou em seres espirituais. -
2:20 - 2:22Como disse, isto é em muitos dicionários,
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2:22 - 2:25mas também a encontraremos
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2:25 - 2:26na obra de Sir Edward Tylor,
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2:26 - 2:29que foi o primeiro professor
de antropologia em Oxford, -
2:29 - 2:31um dos primeiros antropólogos modernos.
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2:31 - 2:33No seu livro sobre a cultura primitiva,
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2:33 - 2:36diz que o cerne da religião
é aquilo a que chamou animismo, -
2:36 - 2:38ou seja, a crença numa ação espiritual,
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2:38 - 2:40a crença em espíritos.
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2:40 - 2:42O primeiro problema para esta definição
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2:42 - 2:45vem num recente romance
de Paul Beatty chamado "Tuff". -
2:45 - 2:46Um homem conversa com um rabi.
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2:46 - 2:48O rabi diz que não acredita em Deus.
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2:48 - 2:49O homem diz:
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2:49 - 2:52"És um rabi, como é que
não acreditas em Deus?" -
2:52 - 2:54E a resposta é:
"É o que há de grandioso em ser judeu. -
2:54 - 2:57"Não é preciso acreditar
num Deus 'per se', -
2:57 - 2:58"basta ser judeu".
-
2:58 - 2:59(Risos)
-
2:59 - 3:02Portanto, se este homem
é um rabi, e um rabi judeu, -
3:02 - 3:05e se é preciso acreditar
em Deus para ser religioso, -
3:05 - 3:08temos que tirar a conclusão
muito pouco intuitiva -
3:08 - 3:11de que, se é possível ser um rabi judeu
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3:11 - 3:12sem acreditar em Deus,
-
3:12 - 3:15o judaísmo não é uma religião.
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3:15 - 3:18Isto parece um pensamento
muito pouco intuitivo. -
3:18 - 3:21Há outro argumento contra esta perspetiva.
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3:22 - 3:23Um amigo meu, um amigo meu indiano,
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3:23 - 3:26foi a casa do avô, quando
ainda era muito jovem, -
3:26 - 3:27em criança, e disse-lhe:
-
3:27 - 3:29"Quero falar de religião".
-
3:29 - 3:30O avô disse:
-
3:30 - 3:32"És muito novo.
Volta quando fores adolescente". -
3:32 - 3:34Ele voltou quando era adolescente
-
3:34 - 3:36e disse ao avô:
-
3:36 - 3:37"Agora talvez seja tarde demais
-
3:37 - 3:40"porque descobri que
não acredito em deuses". -
3:41 - 3:43E o avô, que era um homem sábio, disse:
-
3:43 - 3:45"Oh, então pertences ao ramo ateísta
-
3:45 - 3:47"da tradição hindu".
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3:47 - 3:48(Risos)
-
3:48 - 3:51E, por fim, há este homem
-
3:51 - 3:54que todos sabem que não acredita em Deus.
-
3:54 - 3:56Chama-se Dalai Lama.
-
3:56 - 3:59Brinca muitas vezes por ser
um dos principais ateus do mundo. -
3:59 - 4:01Mas é verdade, porque
a religião do Dalai Lama -
4:01 - 4:04não envolve a crença em Deus.
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4:04 - 4:06Ora bem, podem pensar
que isto apenas mostra -
4:06 - 4:09que eu vos dei a definição errada
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4:09 - 4:11e que devia aparecer
com outra definição qualquer -
4:11 - 4:13e testá-la contra estes casos.
-
4:13 - 4:15Procurar e descobrir
qualquer coisa que capte -
4:15 - 4:18o judaísmo ateísta, o hinduísmo ateísta,
-
4:18 - 4:21e o budismo ateísta
como formas de religiosidade. -
4:21 - 4:23Na verdade, acho que é uma má ideia.
-
4:23 - 4:25E acho que é uma má ideia
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4:25 - 4:27porque penso que
não é assim que funciona -
4:27 - 4:29o nosso conceito de religião.
-
4:29 - 4:31Penso que o nosso conceito
de religião funciona -
4:31 - 4:32com aquele que temos.
-
4:32 - 4:35Temos uma lista de religiões paradigmas
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4:35 - 4:39e dos seus subgrupos.
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4:39 - 4:41Se aparece alguma coisa de novo
-
4:41 - 4:43que pretenda ser uma religião,
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4:43 - 4:44o que perguntamos, é:
-
4:44 - 4:46"Será parecida com alguma destas?"
-
4:46 - 4:47(Risos)
-
4:47 - 4:50E penso que não é só
como pensamos sobre a religião, -
4:50 - 4:52mas é, como sempre foi,
-
4:52 - 4:53do nosso ponto de vista,
-
4:53 - 4:55que tudo nessa lista
tem que ser uma religião. -
4:55 - 4:57Por isso penso
que um conceito de religião, -
4:57 - 4:59que exclua o budismo e o judaísmo,
-
4:59 - 5:01tem hipóteses de ser um bom começo
-
5:01 - 5:04porque estes estão na nossa lista.
-
5:04 - 5:06Mas, porque é que temos esta lista?
-
5:06 - 5:07O que se passa?
-
5:07 - 5:10Como é que aconteceu termos esta lista?
-
5:10 - 5:13Penso que a resposta é muito simples
-
5:13 - 5:16e, portanto, crua e controversa.
-
5:16 - 5:18De certeza muita gente discordará,
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5:18 - 5:19mas eis a minha história.
-
5:19 - 5:20Verdadeira ou não,
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5:20 - 5:24é uma história que eu acho
que vos dará uma boa ideia -
5:24 - 5:26de como a lista poderá ter aparecido.
-
5:26 - 5:27Talvez vos possa pôr a pensar
-
5:27 - 5:29sobre o uso que a lista pode ter.
-
5:29 - 5:30Penso que a resposta é:
-
5:30 - 5:34Os viajantes europeus,
por volta da época de Colombo, -
5:34 - 5:35começaram a passear pelo mundo.
-
5:35 - 5:37Eram provenientes duma cultura cristã
-
5:37 - 5:39e, quando chegavam a um sítio novo,
-
5:39 - 5:42reparavam que alguns povos
não tinham cristianismo -
5:42 - 5:44e faziam a si mesmos esta pergunta:
-
5:44 - 5:47"O que é que eles têm
em vez do cristianismo?" -
5:48 - 5:51E essa lista, na sua essência,
foi construída, -
5:51 - 5:53foi formada pelas coisas
que os outros povos tinham, -
5:53 - 5:55em vez do cristianismo.
-
5:56 - 5:59Ora, há uma dificuldade
em prosseguir por esta via. -
5:59 - 6:01O cristianismo é extremamente...
-
6:03 - 6:06mesmo nesta lista, é uma
tradição extremamente específica. -
6:06 - 6:07Tem nele todo o tipo de coisas
-
6:07 - 6:10que são muito, muito particulares
-
6:10 - 6:11que são o resultado
-
6:11 - 6:13da especificidade da história cristã.
-
6:14 - 6:16E uma coisa que está no seu âmago,
-
6:16 - 6:19uma coisa que está no âmago
da compreensão do cristianismo, -
6:19 - 6:22que é o resultado da história
específica do cristianismo, -
6:22 - 6:24é que é uma religião recheada de credos.
-
6:24 - 6:27É uma religião em que as pessoas
se preocupam realmente -
6:27 - 6:30sobre se acreditam no que é correto.
-
6:30 - 6:32A história interior do cristianismo
-
6:32 - 6:34é sobretudo a história
de pessoas que matam outras -
6:34 - 6:36porque elas acreditavam na coisa errada
-
6:36 - 6:38e também está envolvida
-
6:38 - 6:40em guerras com outras religiões,
-
6:40 - 6:43que começam obviamente na Idade Média,
-
6:43 - 6:45na luta com o Islão,
-
6:45 - 6:48em que, de novo, foi a infidelidade,
-
6:48 - 6:50o facto de não acreditarem
nas coisas certas, -
6:50 - 6:53que pareciam tão ofensivas
ao mundo cristão. -
6:53 - 6:56É uma história muito específica e especial
-
6:56 - 6:58que o cristianismo tem
-
6:58 - 7:01e não é em toda a parte
-
7:01 - 7:05que se põe tudo numa lista como esta.
-
7:05 - 7:06Aqui há outro problema.
-
7:06 - 7:08Aconteceu uma coisa muito específica.
-
7:08 - 7:10Já fora anunciada antes,
-
7:10 - 7:12mas aconteceu uma coisa muito específica
-
7:12 - 7:14na história do tipo de cristianismo
-
7:14 - 7:15que vemos à nossa volta,
-
7:15 - 7:17sobretudo hoje nos Estados Unidos.
-
7:17 - 7:20Aconteceu no final do século XIX.
-
7:20 - 7:21Essa coisa específica
-
7:21 - 7:23que aconteceu no final do século XIX
-
7:23 - 7:26foi uma espécie de acordo
que foi cancelado -
7:26 - 7:31entre a ciência, essa nova forma
-
7:31 - 7:34de organizar a autoridade intelectual,
-
7:34 - 7:35e a religião.
-
7:35 - 7:37Se pensarmos no século XVIII,
-
7:37 - 7:39se pensarmos na vida intelectual
-
7:39 - 7:41antes do final do século XIX,
-
7:41 - 7:44tudo o que fazíamos, tudo
aquilo em que pensávamos, -
7:44 - 7:47quer fosse o mundo físico,
-
7:47 - 7:49o mundo humano,
-
7:49 - 7:51o mundo natural, para além
do mundo humano ou da moral, -
7:51 - 7:53tudo o que fazíamos
-
7:53 - 7:54estava enquadrado num cenário
-
7:54 - 7:56dum conjunto de pressupostos
-
7:56 - 7:58que eram religiosos:
os pressupostos cristãos. -
7:58 - 8:00Não podíamos dar uma explicação
-
8:00 - 8:02do mundo natural
-
8:02 - 8:04que não dissesse qualquer
coisa sobre a sua relação, -
8:04 - 8:06por exemplo, com a história da criação
-
8:06 - 8:08na tradição de Abraão,
-
8:08 - 8:10a história da criação
no primeiro livro da Torá. -
8:11 - 8:14Portanto, tudo estava
enquadrado desse modo. -
8:14 - 8:16Mas isso mudou no final do século XIX.
-
8:16 - 8:18Pela primeira vez, é possível
-
8:18 - 8:21que as pessoas desenvolvam
carreiras intelectuais sérias, -
8:21 - 8:24como os historiadores
naturais, como Darwin. -
8:24 - 8:25Darwin preocupou-se com a relação
-
8:25 - 8:28entre o que dizia
e as verdades da religião, -
8:28 - 8:29mas pôde prosseguir,
-
8:29 - 8:31pôde escrever livro sobre o seu tema
-
8:31 - 8:34sem ter que dizer qual era a relação
-
8:34 - 8:36com as afirmações religiosas.
-
8:36 - 8:38Os geólogos puderam falar
sobre isso cada vez mais. -
8:38 - 8:40No início do século XIX,
-
8:40 - 8:42se os geólogos falassem
sobre a idade da Terra, -
8:42 - 8:44teriam que explicar
-
8:44 - 8:46se isso era consistente,
com a idade da Terra -
8:46 - 8:48implícita no relato do Génesis.
-
8:48 - 8:49No final do século XIX,
-
8:49 - 8:51podíamos escrever um manual de geologia
-
8:51 - 8:53com argumentos sobre a idade da Terra.
-
8:53 - 8:55Portanto, foi uma grande mudança.
-
8:55 - 8:57Essa divisão intelectual do trabalho
-
8:57 - 9:00ocorre, e de certo modo, solidifica-se,
-
9:00 - 9:03de modo que,
no final do século XIX na Europa, -
9:03 - 9:06há uma real divisão intelectual
de trabalho. -
9:06 - 9:08Podemos fazer todo o tipo de coisas sérias
-
9:08 - 9:11incluindo, de modo crescente,
a própria filosofia, -
9:12 - 9:14sem sermos constrangidos pelo pensamento:
-
9:14 - 9:17"O que eu tenho que dizer
tem que ser consistente -
9:17 - 9:19"com as verdades profundas
que me foram dadas -
9:19 - 9:22"pela nossa tradição religiosa".
-
9:22 - 9:26Imaginem alguém saído desse mundo,
-
9:26 - 9:28desse mundo do final do século XIX,
-
9:28 - 9:32a chegar ao país em que eu cresci, o Gana,
-
9:32 - 9:34à sociedade em que eu cresci, em Ashanti
-
9:34 - 9:35a chegar a esse mundo
-
9:35 - 9:37no virar do século XX
-
9:37 - 9:39com esta pergunta que eu pus na lista:
-
9:39 - 9:43"O que é que eles têm
em vez do cristianismo?" -
9:43 - 9:46Bem, há aqui uma coisa
em que teriam reparado. -
9:47 - 9:49A propósito, houve uma pessoa que reparou.
-
9:49 - 9:50Foi o capitão Rattray.
-
9:50 - 9:52Foi um antropólogo do governo britânico,
-
9:52 - 9:54que escreveu um livro
sobre a religião ashanti. -
9:54 - 9:56Isto é um disco-alma,
-
9:56 - 9:58Há muitos no Museu Britânico.
-
9:58 - 10:01Podia dar-vos uma história
interessante, diferente -
10:01 - 10:03de como há tantas coisas
da minha sociedade -
10:03 - 10:04que acabaram no Museu Britânico...
-
10:04 - 10:06(Risos)
-
10:06 - 10:07... mas não há tempo para isso.
-
10:07 - 10:09Este objeto é um disco-alma.
-
10:09 - 10:10O que é um disco-alma?
-
10:10 - 10:12Usava-se ao pescoço
-
10:12 - 10:14dos lavadores de almas do rei ashanti.
-
10:14 - 10:17Qual era a sua função?
Lavar a alma do rei. -
10:19 - 10:20Levaria muito tempo para explicar
-
10:20 - 10:22como é que uma alma era uma coisa
-
10:22 - 10:23que podia ser lavada,
-
10:23 - 10:26mas Rattray percebeu que era uma religião
-
10:26 - 10:29porque havia almas em jogo.
-
10:30 - 10:31E do mesmo modo,
-
10:31 - 10:34havia muitas outras coisas,
muitas outras práticas. -
10:34 - 10:36Por exemplo, sempre que
alguém tomava uma bebida, -
10:36 - 10:38despejava um pouco no chão
-
10:38 - 10:40no que se chamava uma libação.
-
10:40 - 10:41e davam um pouco aos antepassados.
-
10:41 - 10:42O meu pai fazia isso.
-
10:42 - 10:44Quando abria uma garrafa de "whisky",
-
10:44 - 10:46— e fazia-o com frequência —
-
10:46 - 10:49tirava a rolha e despejava
um pouquinho no chão, -
10:49 - 10:54falava com Akroma-Ampim,
o fundador da nossa linhagem. -
10:54 - 10:56ou com Yao Antony, o meu tio-avô,
-
10:56 - 10:57falava com eles,
-
10:57 - 11:00oferecia-lhes um pouco daquilo.
-
11:00 - 11:02E, por fim, havia enormes
cerimoniais públicos. -
11:02 - 11:04Isto é um desenho do início do séc. XIX
-
11:04 - 11:06de um oficial militar britânico
-
11:06 - 11:08de um cerimonial desses,
-
11:08 - 11:09em que o rei estava envolvido.
-
11:09 - 11:11A função do rei,
-
11:11 - 11:12uma parte principal da sua função,
-
11:12 - 11:15para além de organizar
a guerra e coisas dessas, -
11:15 - 11:19era tomar conta dos túmulos
dos seus antepassados. -
11:19 - 11:20Quando morria um rei bom,
-
11:20 - 11:22o banco onde ele se
sentava era enegrecido -
11:22 - 11:25e colocado no templo real ancestral
-
11:25 - 11:27e, todos os 40 dias,
-
11:27 - 11:28o rei de Ashanti tinha que lá ir
-
11:28 - 11:30e prestar culto aos seus antepassados.
-
11:30 - 11:32Era parte importante do seu cargo.
-
11:32 - 11:34Acreditava-se que
se ele não fizesse isso, -
11:34 - 11:35as coisas desmoronar-se-iam.
-
11:35 - 11:37Portanto, temos aqui uma figura religiosa,
-
11:37 - 11:39— como Rattray teria dito —
-
11:39 - 11:41e também uma figura política.
-
11:42 - 11:46Tudo isto contou como
religião para Rattray. -
11:46 - 11:48Mas o meu ponto é que,
-
11:48 - 11:50quando olhamos
para as vidas dessas pessoas, -
11:50 - 11:52também percebemos que,
sempre que elas fazem qualquer coisa, -
11:52 - 11:54estão conscientes dos antepassados.
-
11:54 - 11:56Todas as manhãs, ao pequeno-almoço,
-
11:56 - 11:59podemos sair pela porta da rua,
-
11:59 - 12:01fazer uma oferenda ao
deus-árvore, o "nyame dua", -
12:01 - 12:02em frente de casa
-
12:02 - 12:04e, de novo, falar com os deuses,
-
12:04 - 12:07os altos deuses e os baixos
deuses, os antepassados, etc. -
12:07 - 12:09Isto é um mundo em que ainda não se deu
-
12:09 - 12:12a separação entre a religião e a ciência.
-
12:12 - 12:14A religião ainda não foi separada
-
12:14 - 12:16de quaisquer outras áreas da vida
-
12:16 - 12:17e, em especial, o que é fundamental
-
12:17 - 12:19compreender sobre este mundo,
-
12:19 - 12:21é que é um mundo em que a função
-
12:21 - 12:22que a ciência exerce para nós
-
12:22 - 12:25é feita pelo que Rattray
vai chamar de religião porque, -
12:25 - 12:27se querem uma explicação
de qualquer coisa, -
12:27 - 12:29porque é que as colheitas falharam,
-
12:29 - 12:31porque é que está a chover
ou não está a chover, -
12:31 - 12:32se precisam da chuva,
-
12:32 - 12:37se querem saber porque é que o avô morreu,
-
12:37 - 12:39vão apelar a essas mesmas entidades,
-
12:40 - 12:41na mesma linguagem,
-
12:41 - 12:43falar com os mesmos deuses sobre isso.
-
12:43 - 12:46Por outras palavras,
esta grande separação -
12:46 - 12:48entre a religião e a ciência
ainda não ocorreu. -
12:48 - 12:52Ora bem, isto seria uma curiosidade
meramente histórica -
12:52 - 12:55exceto que, em muitas partes do mundo,
-
12:55 - 12:58isto continua a ser verdade.
-
12:58 - 13:00Tive o privilégio de ir a um casamento
-
13:00 - 13:02outro dia no norte da Namíbia,
-
13:02 - 13:05a 30 km do sul da fronteira com Angola
-
13:05 - 13:06numa aldeia de 200 pessoas.
-
13:06 - 13:08Eram pessoas modernas.
-
13:08 - 13:09Estava lá a Oona Chaplin,
-
13:09 - 13:11de que já devem ter ouvido falar.
-
13:11 - 13:13Uma pessoa da aldeia
foi ter com ela e disse: -
13:13 - 13:16"Vi-a em 'A Guerra dos Tronos'".
-
13:16 - 13:19Portanto, não eram pessoas que
estivessem isoladas do nosso mundo -
13:19 - 13:21mas, apesar disso, para elas,
-
13:21 - 13:24os deuses e os espíritos
ainda estão muito presentes. -
13:24 - 13:25Quando íamos de autocarro
-
13:25 - 13:27para os diversos locais da cerimónia
-
13:27 - 13:30rezavam, não de modo genérico,
-
13:30 - 13:31mas pela segurança da viagem
-
13:31 - 13:32e faziam-no com convicção.
-
13:32 - 13:35Quando me disseram que a minha mãe
-
13:35 - 13:37— a mãe do noivo —
-
13:37 - 13:39estava connosco, não o disseram
de modo figurativo. -
13:39 - 13:42Queriam dizer — apesar
de ela já ter morrido — -
13:42 - 13:45queriam dizer que ela continuava ali.
-
13:45 - 13:47Portanto, em muitos sítios
do mundo, hoje em dia, -
13:47 - 13:50a separação entre a ciência e a religião
-
13:50 - 13:52não ocorreu em muitos sítios do mundo.
-
13:52 - 13:53E, como digo, não são...
-
13:55 - 13:58Este homem trabalhou para
o Chase Bank e para o Banco Mundial. -
13:58 - 14:00(Risos)
-
14:00 - 14:02São cidadãos do mundo tal como nós.
-
14:02 - 14:04mas vêm dum local em que
-
14:04 - 14:06a religião ocupa um papel muito diferente
-
14:06 - 14:08O que eu queria que vocês pensassem,
-
14:08 - 14:11quando alguém fizer uma
grande generalização sobre religião, -
14:11 - 14:13é que talvez não exista
-
14:13 - 14:16essa coisa de religião,
-
14:16 - 14:18e que, portanto, o que eles dizem,
-
14:18 - 14:20pode não ser verdade.
-
14:21 - 14:24(Aplausos)
- Title:
- A religião é uma coisa boa ou má? (É uma pergunta complicada)
- Speaker:
- Kwame Anthony Appiah
- Description:
-
Fazem-se muitas coisas boas em nome da religião mas também muitas coisas más. Mas o que é exatamente a religião — é boa ou má, em si mesma? O filósofo Kwame Anthony Appiah apresenta uma perspetiva generosa e surpreendente.
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 14:40
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Isabel Vaz Belchior edited Portuguese subtitles for Is religion good or bad? (This is a trick question) | |
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Margarida Ferreira accepted Portuguese subtitles for Is religion good or bad? (This is a trick question) | |
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