< Return to Video

A Arte da Quietude

  • 0:01 - 0:03
    Tenho sido um viajante toda a vida.
  • 0:03 - 0:05
    Mesmo em criança,
  • 0:05 - 0:08
    eu tentei que achassem
    que seria mais barato
  • 0:08 - 0:10
    ir para um colégio interno em Inglaterra
  • 0:10 - 0:15
    do que ir para o melhor colégio no fim da
    rua da casa dos meus pais, na Califórnia.
  • 0:16 - 0:19
    Por isso, desde os meus
    nove anos de idade,
  • 0:19 - 0:22
    eu viajava sozinho de avião,
    várias vezes por ano,
  • 0:22 - 0:25
    sobrevoando o Polo Norte,
    só para ir para a escola.
  • 0:26 - 0:29
    E, claro, quanto mais voava
    mais eu me apaixonava por voar.
  • 0:29 - 0:33
    Por isso, na mesma semana
    em que terminei o liceu,
  • 0:33 - 0:35
    consegui um emprego a limpar mesas
  • 0:35 - 0:39
    para poder passar cada estação do ano
    do meu 18.º aniversário
  • 0:39 - 0:42
    num continente diferente.
  • 0:42 - 0:46
    Depois, quase inevitavelmente,
    tornei-me um escritor de viagens
  • 0:46 - 0:50
    para juntar o útil ao agradável.
  • 0:51 - 0:55
    E comecei, de facto, a sentir
    que, se formos suficientemente afortunados
  • 0:55 - 0:58
    para passearmos pelos templos do Tibete,
    iluminados por velas
  • 0:58 - 1:01
    ou vaguearmos pelas calçadas
    à beira-mar em Havana,
  • 1:01 - 1:04
    com música a envolver-nos,
  • 1:04 - 1:07
    poderíamos trazer esses sons,
    os altos céus azul-cobalto
  • 1:07 - 1:09
    e o brilho do oceano azul
  • 1:09 - 1:11
    para os nossos amigos em casa
  • 1:11 - 1:13
    e dar, realmente, alguma magia
  • 1:13 - 1:15
    e claridade à nossa própria vida.
  • 1:16 - 1:18
    Exceto que, como todos vocês sabem,
  • 1:18 - 1:21
    uma das primeiras coisas
    que aprendemos, quando viajamos,
  • 1:21 - 1:26
    é que nenhum lugar é mágico
    até o vermos como tal.
  • 1:26 - 1:29
    Se levarem um homem zangado
    para os Himalaias,
  • 1:29 - 1:31
    ele só se queixará da comida.
  • 1:32 - 1:34
    Eu descobri que a melhor maneira
  • 1:34 - 1:39
    de poder desenvolver olhos
    mais atentos e apreciativos
  • 1:39 - 1:40
    era, por estranho que pareça,
  • 1:40 - 1:43
    não ir a nenhum lado,
    deixar-me estar simplesmente sentado.
  • 1:44 - 1:47
    E claro, estarmos sentados e imóveis
    é a forma de conseguirmos
  • 1:47 - 1:51
    o que mais desejamos e precisamos
    nas nossas vidas aceleradas, uma pausa.
  • 1:52 - 1:54
    Mas também foi a única maneira
  • 1:54 - 1:59
    de conseguir examinar as imagens
    da minha experiência
  • 1:59 - 2:03
    e perceber o futuro e o passado.
  • 2:03 - 2:06
    Assim, para minha surpresa,
  • 2:06 - 2:08
    descobri que não ir a lado nenhum
  • 2:08 - 2:12
    era pelo menos tão excitante
    como ir ao Tibete ou a Cuba.
  • 2:12 - 2:16
    E quando digo "não ir a lado nenhum",
    não quero dizer nada mais intimidante
  • 2:16 - 2:19
    do que tirarmos alguns minutos de cada dia
  • 2:19 - 2:21
    ou alguns dias de cada estação,
  • 2:21 - 2:23
    ou, até, como algumas pessoas fazem,
  • 2:23 - 2:26
    alguns anos de uma vida
  • 2:26 - 2:28
    de forma a sentarmo-nos imóveis
    o tempo necessário
  • 2:28 - 2:32
    para descobrirmos o que nos motiva,
  • 2:32 - 2:35
    para nos lembrarmos onde reside
    a nossa verdadeira felicidade
  • 2:35 - 2:37
    e para nos lembrarmos de que, por vezes,
  • 2:37 - 2:40
    ganhar a vida e viver
  • 2:40 - 2:42
    apontam em direções opostas.
  • 2:43 - 2:46
    E, claro, isto é o que seres sábios
    de todas as tradições
  • 2:46 - 2:48
    nos têm dito ao longo dos séculos.
  • 2:48 - 2:50
    É uma ideia antiga.
  • 2:50 - 2:53
    Há mais de 2000 anos,
    os estóicos lembravam-nos
  • 2:53 - 2:56
    que não é a nossa experiência
    que faz a nossa vida,
  • 2:56 - 2:58
    é o que fazemos com ela.
  • 2:58 - 3:02
    Imaginem um furacão a varrer
    subitamente a vossa cidade
  • 3:02 - 3:06
    e a reduzir tudo a escombros.
  • 3:07 - 3:10
    Um homem fica traumatizado para a vida.
  • 3:10 - 3:14
    Mas outro, talvez até o seu irmão,
    quase se sente libertado
  • 3:14 - 3:18
    e decide que esta é a grande oportunidade
    para recomeçar a sua vida.
  • 3:19 - 3:20
    É exatamente o mesmo acontecimento,
  • 3:20 - 3:23
    mas respostas radicalmente diferentes.
  • 3:23 - 3:27
    Não há nada só bom ou só mau,
    como Shakespeare nos disse em "Hamlet",
  • 3:27 - 3:29
    mas o pensamento faz com que assim seja.
  • 3:31 - 3:34
    Esta tem sido realmente
    a minha experiência como viajante.
  • 3:34 - 3:38
    Há 24 anos, fiz a viagem mais alucinante
  • 3:38 - 3:40
    através da Coreia do Norte.
  • 3:40 - 3:43
    Mas a viagem durou alguns dias.
  • 3:43 - 3:47
    O que fiz com ela sentado, imóvel,
    a revê-la mentalmente,
  • 3:47 - 3:50
    a tentar compreendê-la, a tentar encontrar
    lugar para ela na minha mente,
  • 3:50 - 3:52
    durou já 24 anos
  • 3:52 - 3:55
    e vai durar, provavelmente,
    uma vida inteira.
  • 3:56 - 3:59
    Por outras palavras, a viagem
    proporcionou-me algumas visões espantosas,
  • 3:59 - 4:01
    mas só me sentando
  • 4:01 - 4:05
    é que me permite transformá-las
    em pensamentos duradouros.
  • 4:05 - 4:08
    Por vezes, penso que
    tanta coisa da nossa vida
  • 4:08 - 4:10
    se passa nas nossas mentes,
  • 4:10 - 4:15
    na memória ou na imaginação,
    na interpretação ou na especulação,
  • 4:15 - 4:17
    que, se eu quiser realmente
    mudar a minha vida,
  • 4:17 - 4:21
    é melhor começar por mudar
    a minha mente.
  • 4:21 - 4:23
    Mais uma vez, nada disto é novo;
  • 4:23 - 4:27
    é por isso que Shakespeare e os estoicos
    nos diziam isto há séculos,
  • 4:27 - 4:32
    mas Shakespeare nunca teve de enfrentar
    200 "emails" num só dia.
  • 4:32 - 4:33
    (Risos)
  • 4:33 - 4:37
    Os estoicos, tanto quanto sei,
    não estavam no Facebook.
  • 4:37 - 4:40
    Todos sabemos que,
    na nossa vida de constante procura,
  • 4:40 - 4:42
    uma das coisas mais procuradas
  • 4:42 - 4:44
    somos nós próprios.
  • 4:44 - 4:46
    Onde quer que estejamos,
    a qualquer hora da noite ou do dia,
  • 4:46 - 4:50
    os nossos chefes, o lixo do "email",
    os nossos pais, podem chegar até nós.
  • 4:51 - 4:54
    Os sociólogos descobriram que,
    em anos recentes,
  • 4:54 - 4:57
    os norte-americanos estão a trabalhar
    menos horas do que há 50 anos,
  • 4:57 - 5:00
    mas sentimos que estamos a trabalhar mais.
  • 5:00 - 5:03
    Temos cada vez mais aparelhos
    que nos poupam tempo
  • 5:03 - 5:06
    mas, à vezes, parece que esse tempo
    é cada vez menor.
  • 5:06 - 5:10
    Podemos cada vez mais facilmente
    estabelecer contacto com pessoas
  • 5:10 - 5:12
    dos cantos mais longínquos do planeta
  • 5:12 - 5:14
    mas, por vezes, nesse processo,
  • 5:14 - 5:16
    perdemos contacto connosco próprios.
  • 5:18 - 5:21
    Uma das minhas maiores surpresas,
    como viajante,
  • 5:21 - 5:24
    tem sido descobrir que, frequentemente,
    são exatamente as pessoas
  • 5:24 - 5:27
    que mais nos têm permitido chegar
    a todo o lado
  • 5:27 - 5:30

    que não pretendem ir a lado nenhum.
  • 5:30 - 5:33
    Por outras palavras,
    são precisamente esses seres
  • 5:33 - 5:35
    que criaram as tecnologias
  • 5:35 - 5:38
    que ultrapassaram
    tantos dos limites de antigamente,
  • 5:38 - 5:42
    que são os mais sábios
    quanto às necessidade de limites,
  • 5:42 - 5:44
    mesmo no que toca à tecnologia.
  • 5:45 - 5:48
    Fui uma vez à sede da Google
  • 5:48 - 5:50
    e vi todas as coisas de que
    muitos de vocês têm ouvido falar:
  • 5:50 - 5:54
    as casas na árvore dentro do edifício,
    os trampolins,
  • 5:54 - 5:58
    os funcionários dessa altura a gozar 20%
    de folga do seu tempo pago
  • 5:58 - 6:02
    para que pudessem
    dar largas à sua imaginação.
  • 6:02 - 6:05
    Mas o que me impressionou ainda mais
  • 6:05 - 6:09
    foi que, enquanto eu estava à espera
    da minha identificação digital,
  • 6:09 - 6:12
    um funcionário falou-me do programa
  • 6:12 - 6:15
    que ia iniciar para ensinar
    muitos e muitos colegas
  • 6:15 - 6:19
    a passarem de praticantes
    a treinadores de Ioga.
  • 6:19 - 6:23
    Outro funcionário falou-me
    do livro que ia escrever
  • 6:23 - 6:26
    sobre o motor de busca interno
  • 6:26 - 6:29
    e a forma como a ciência
    demonstrou empiricamente
  • 6:29 - 6:32
    que estar sentado, imóvel, ou a meditar,
  • 6:32 - 6:35
    pode levar não só a uma melhor saúde
    ou a maior clareza de espírito,
  • 6:35 - 6:38
    mas também à inteligência emocional.
  • 6:39 - 6:41
    Tenho outro amigo em Sillicon Valley
  • 6:41 - 6:44
    que é, de facto, um dos mais eloquentes
    representantes
  • 6:44 - 6:46
    das últimas tecnologias.
  • 6:46 - 6:50
    De facto, ele foi um dos fundadores
    da revista Wired, o Kevin Kelly.
  • 6:50 - 6:53
    E o Kevin escreveu o seu último livro
    sobre tecnologias recentes
  • 6:53 - 6:57
    sem Smartphone nem PC portátil
    nem TV em casa.
  • 6:58 - 7:01
    Tal como muitos, no Sillicon Valley,
  • 7:01 - 7:04
    ele esforça-se por observar
  • 7:04 - 7:07
    o que eles chamam
    de "retiro da Internet",
  • 7:08 - 7:11
    em que, durante 24 ou 48 horas por semana,
  • 7:11 - 7:14
    ficam completamente "offline"
  • 7:14 - 7:16
    de forma a recuperar
    o sentido de orientação
  • 7:16 - 7:20
    e de proporção de que precisam
    para voltarem a estar "online" outra vez.
  • 7:20 - 7:23
    A única coisa, talvez, que a tecnologia
    nem sempre nos deu
  • 7:23 - 7:28
    é o bom senso de como fazer
    o uso mais sábio da tecnologia.
  • 7:28 - 7:31
    E quando falamos de "retiro",
  • 7:31 - 7:33
    olhem para os Dez Mandamentos
  • 7:33 - 7:37
    — há lá apenas uma única palavra
    em que se usa o adjetivo "sagrado",
  • 7:37 - 7:39
    e que é o sábado.
  • 7:39 - 7:42
    Eu pego no livro sagrado judaico da Tora
  • 7:42 - 7:44
    — o seu capítulo mais longo
    é sobre o sábado.
  • 7:46 - 7:50
    Todos nós sabemos que é realmente
    um dos nossos maiores luxos,
  • 7:50 - 7:52
    o espaço vazio.
  • 7:52 - 7:56
    Em muitas peças musicais,
    é a pausa ou o descanso
  • 7:56 - 7:59
    que confere à peça
    a sua beleza e a sua forma.
  • 7:59 - 8:01
    Sei que eu, como escritor,
  • 8:01 - 8:05
    tento frequentemente incluir
    muito espaço em branco na página
  • 8:05 - 8:08
    para que o leitor possa completar
    os meus pensamentos e frases
  • 8:08 - 8:12
    e para que a sua imaginação
    tenha espaço para respirar.
  • 8:14 - 8:16
    Agora, no domínio fisico,
    claro, muitas pessoas,
  • 8:16 - 8:18
    se tiverem os recursos,
  • 8:18 - 8:21
    vão tentar conseguir uma casa no campo,
    uma segunda casa.
  • 8:21 - 8:25
    Eu nunca cheguei a ter esses recursos
  • 8:25 - 8:28
    mas às vezes lembro-me de que ,
    sempre que eu quiser,
  • 8:28 - 8:33
    posso arranjar uma segunda casa
    no tempo, se não no espaço,
  • 8:33 - 8:35
    tirando apenas um dia de folga.
  • 8:35 - 8:38
    Nunca é fácil porque, claro,
    sempre que o faço, gasto muito do tempo
  • 8:38 - 8:40
    preocupado com todo o trabalho extra
  • 8:40 - 8:43
    que me espera no dia seguinte.
  • 8:43 - 8:46
    Às vezes penso que preferia desistir
    de carne, de sexo ou de vinho
  • 8:46 - 8:48
    do que da possibilidade
    de ver os meus "emails".
  • 8:48 - 8:50
    (Risos)
  • 8:50 - 8:54
    Em cada estação, tento tirar
    três dias de folga para um retiro
  • 8:54 - 8:56
    mas, em parte, ainda me sinto culpado
  • 8:56 - 8:58
    por deixar a minha pobre esposa sozinha
  • 8:58 - 9:02
    e por ignorar todos aqueles "emails"
    aparentemente urgentes dos meus chefes
  • 9:02 - 9:05
    e talvez por perder
    uma festa de aniversário de um amigo.
  • 9:06 - 9:09
    Mas assim que chego a um lugar
    de verdadeiro silêncio,
  • 9:10 - 9:12
    apercebo-me de que, só por ir para ali,
  • 9:12 - 9:16
    terei alguma coisa nova ou criativa
    ou alegre para partilhar
  • 9:16 - 9:19
    com a minha mulher ou chefes ou amigos.
  • 9:19 - 9:20
    Caso contrário, realmente,
  • 9:20 - 9:23
    estaria a impingir-lhes
    a minha exaustão ou distração
  • 9:23 - 9:26
    o que não é benção nenhuma.
  • 9:27 - 9:29
    Quando eu tinha 29 anos,
  • 9:29 - 9:33
    decidi refazer a minha vida toda
  • 9:33 - 9:35
    à luz de não ir a parte nenhuma.
  • 9:35 - 9:38
    Uma noite, eu estava a vir do escritório
  • 9:38 - 9:42
    — era depois da meia-noite, estava num táxi
    a atravessar a Times Square —
  • 9:42 - 9:46
    e, de repente, compreendi que
    andava a correr tanto em círculos
  • 9:46 - 9:48
    que nunca iria alcançar a minha vida.
  • 9:49 - 9:51
    Acontecia que a minha vida nessa altura
  • 9:51 - 9:54
    era mais ou menos a que
    tinha sonhado em criança.
  • 9:54 - 9:57
    Eu tinha amigos e colegas
    muito interessantes,
  • 9:57 - 10:01
    tinha um bom apartamento
    entre a Park Avenue e a 20th Street.
  • 10:01 - 10:05
    Eu tinha, a meu ver, um emprego fascinante,
    a escrever sobre os assuntos mundiais,
  • 10:05 - 10:08
    mas nunca me conseguia separar
    o suficiente deles
  • 10:08 - 10:10
    para me ouvir a mim próprio pensar
  • 10:10 - 10:14
    — ou, na verdade, para compreender
    se me sentia verdadeiramente feliz.
  • 10:14 - 10:17
    Então, troquei a minha vida de sonho
  • 10:17 - 10:22
    por um quarto individual
    nas vielas de Quioto, no Japão,
  • 10:22 - 10:26
    que era um lugar
    que há muito exercia sobre mim
  • 10:26 - 10:30
    uma força gravitacional
    forte e muito misteriosa.
  • 10:30 - 10:31
    Ainda em criança
  • 10:31 - 10:34
    eu olhava para uma pintura de Quioto
    e sentia que a reconhecia.
  • 10:34 - 10:37
    Sabia isso antes até
    de lhe pôr os olhos em cima.
  • 10:37 - 10:40
    Mas também é, como todos sabem,
  • 10:40 - 10:43
    uma linda cidade rodeada por colinas,
  • 10:43 - 10:46
    com mais de 2000 templos e santuários,
  • 10:46 - 10:51
    onde as pessoas se sentam imóveis
    desde há 800 anos ou mais.
  • 10:51 - 10:55
    Pouco depois de me ter mudado para ali,
    acabei por ficar onde ainda estou,
  • 10:55 - 10:58
    com a minha mulher,
    antigamente com os meus filhos,
  • 10:58 - 11:01
    num apartamento de duas assoalhadas
    no meio de nenhures,
  • 11:01 - 11:03
    onde não temos bicicleta, nem carro,
  • 11:03 - 11:05
    nem TV que eu consiga compreender.
  • 11:05 - 11:08
    Ainda tenho de sustentar
    os meus entes queridos
  • 11:08 - 11:10
    como escritor de viagens
    e como jornalista,
  • 11:10 - 11:13
    portanto, claramente isto não é ideal
    para uma promoção no emprego
  • 11:13 - 11:15
    nem para excitação cultural
  • 11:15 - 11:17
    nem para diversão social.
  • 11:17 - 11:22
    Mas percebi que isso me dá
    o que mais prezo,
  • 11:22 - 11:25
    ou seja, dias
  • 11:25 - 11:26
    e horas.
  • 11:26 - 11:29
    Aqui nunca tive de usar telemóvel.
  • 11:29 - 11:32
    Quase nunca tenho de ver as horas
  • 11:32 - 11:35
    e todas as manhãs, ao acordar,
  • 11:35 - 11:37
    o dia alonga-se de facto à minha frente
  • 11:37 - 11:39
    como um prado sem fim.
  • 11:40 - 11:43
    Quando a vida nos lança
    uma das suas surpresas más,
  • 11:43 - 11:46
    como o fará, mais de uma vez,
  • 11:46 - 11:48
    quando um médico entra no meu quarto
  • 11:48 - 11:50
    com uma expressão séria
    afivelada no rosto,
  • 11:50 - 11:52
    ou quando um carro
    muda subitamente de direção
  • 11:52 - 11:54
    à frente do meu, numa autoestrada,
  • 11:54 - 11:56
    eu sei, nos meus ossos,
  • 11:56 - 11:58
    que foi o tempo que passei
    não indo a lado nenhum
  • 11:58 - 12:00
    que me vai sustentar muito mais
  • 12:00 - 12:03
    do que todo o tempo que passei a correr
  • 12:03 - 12:06
    às voltas para o Butão
    ou para a Ilha da Páscoa.
  • 12:06 - 12:08
    Serei sempre um viajante
  • 12:08 - 12:10
    — o meu sustento depende disso —
  • 12:10 - 12:12
    mas uma das belezas da viagem
  • 12:12 - 12:16
    é que nos permite trazer quietude
  • 12:16 - 12:19
    ao movimento e agitação do mundo.
  • 12:20 - 12:24
    Uma vez entrei num avião
    em Frankfurt, na Alemanha,
  • 12:24 - 12:27
    e uma jovem alemã
    veio sentar-se ao meu lado.
  • 12:27 - 12:29
    Tivemos uma conversa amistosa
  • 12:29 - 12:31
    durante cerca de 30 minutos.
  • 12:31 - 12:33
    Depois, ela simplesmente voltou-se
  • 12:33 - 12:36
    e sentou-se imóvel durante 12 horas.
  • 12:36 - 12:39
    Nem uma só vez ligou o ecrã do video,
  • 12:39 - 12:42
    nunca puxou de um livro,
    nem sequer adormeceu.
  • 12:42 - 12:45
    Apenas se sentou imóvel
  • 12:45 - 12:49
    e transmitiu-me algo
    da sua claridade e calma.
  • 12:50 - 12:53
    Tenho reparado que, hoje em dia,
    cada vez há mais pessoas
  • 12:53 - 12:55
    a tomar medidas conscientes
  • 12:55 - 12:58
    para tentarem abrir um espaço
    no interior da sua vida.
  • 12:58 - 13:01
    Algumas pessoas vão para
    estâncias de turismo sem acesso à Internet
  • 13:01 - 13:03
    onde gastarão
    centenas de dólares por noite
  • 13:03 - 13:06
    para entregarem na receção, à chegada,
  • 13:06 - 13:08
    os seus telemóveis e PCs portáteis.
  • 13:08 - 13:11
    Algumas pessoas que conheço,
    mesmo antes de irem dormir,
  • 13:11 - 13:13
    em vez de percorrerem as suas mensagens
  • 13:13 - 13:15
    ou espreitarem o Youtube,
  • 13:15 - 13:18
    simplesmente apagam as luzes
    e ouvem música.
  • 13:18 - 13:20
    Reparam que dormem muito melhor
  • 13:20 - 13:23
    e acordam muito refrescadas.
  • 13:23 - 13:26
    Uma vez, tive a sorte
  • 13:26 - 13:30
    de viajar até às altas e sombrias
    montanhas por trás de Los Angeles,
  • 13:31 - 13:34
    onde o grande poeta, cantor
  • 13:34 - 13:37
    e galã internacional Leonard Cohen
  • 13:37 - 13:41
    estava a viver e a trabalhar há muitos anos
    como monge a tempo inteiro
  • 13:41 - 13:43
    no Mount Baldy Zen Center.
  • 13:44 - 13:45
    Não fiquei nada surpreendido
  • 13:45 - 13:49
    quando o álbum que ele lançou aos 77 anos,
  • 13:49 - 13:54
    a que ele deu o título, deliberadamente
    pouco sensual, de "Old Ideas",
  • 13:54 - 13:58
    alcançou o 1.º lugar nas tabelas de música
    em 17 nações do mundo
  • 13:58 - 14:00
    e o Top 5 em nove outras.
  • 14:01 - 14:04
    Alguma coisa em nós, penso eu,
    está a clamar
  • 14:04 - 14:08
    pelo sentido de intimidade e profundidade
    que obtemos de pessoas assim,
  • 14:08 - 14:11
    que têm o tempo e se dão ao trabalho
    de se sentarem imóveis.
  • 14:12 - 14:15
    Penso que muitos de nós temos a sensação,
    — eu tenho, de certeza —
  • 14:15 - 14:20
    de que estamos a cerca de 5 cm
    de distância de um ecrã gigantesco,
  • 14:20 - 14:22
    que é barulhento e superlotado
  • 14:22 - 14:24
    e que muda a cada segundo,
  • 14:24 - 14:27
    e esse ecrã é a nossa vida.
  • 14:27 - 14:31
    Só afastando-nos,
    um passo atrás e depois outros mais,
  • 14:31 - 14:32
    e ficando imóveis,
  • 14:32 - 14:35
    é que conseguimos começar a ver
    o que significa a tela
  • 14:35 - 14:37
    e apreender a imagem no seu todo.
  • 14:37 - 14:41
    Algumas pessoas fazem isto por nós,
    não indo a parte nenhuma.
  • 14:42 - 14:44
    Por isso, na era da aceleração,
  • 14:44 - 14:48
    nada pode ser mais emocionante
    do que ir devagar.
  • 14:48 - 14:50
    E na era da distração,
  • 14:50 - 14:55
    nada é mais luxuoso
    do que prestar atenção.
  • 14:55 - 14:58
    E na era do movimento constante
  • 14:58 - 15:01
    nada é mais urgente do que
    nos sentarmos imóveis.
  • 15:02 - 15:04
    Por isso, nas vossas próximas férias
  • 15:04 - 15:07
    podem ir a Paris, ao Havaí
    ou a Nova Orleães.
  • 15:07 - 15:09
    Aposto que vão passar
    uns dias maravilhosos.
  • 15:10 - 15:16
    Mas, se quiserem regressar a casa
    vivos e cheios de novas esperanças,
  • 15:16 - 15:18
    apaixonados pelo mundo,
  • 15:18 - 15:22
    penso que poderiam tentar considerar
    não ir a parte nenhuma.
  • 15:22 - 15:23
    Obrigado.
  • 15:23 - 15:24
    (Aplausos)
Title:
A Arte da Quietude
Speaker:
Pico Iyer
Description:

Para que lugar o escritor de viagens Pico Iyer mais gosta de ir? Para lado nenhum. Numa meditação lírica e contraintuitiva, Iyer lança um olhar sobre a incrível perceção que nos surge quando tiramos tempo para a quietude. No nosso mundo de constante movimento e distração, ele revela as estratégias que todos nós podemos usar para recuperar alguns minutos de cada dia ou alguns dias em cada estação. É a palestra para quem quer que se sinta sobrecarregado com as exigências do mundo de hoje.

more » « less
Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
15:37
Rafael Galupa edited Portuguese subtitles for The art of stillness
Helene Batt approved Portuguese subtitles for The art of stillness
Rafael Galupa edited Portuguese subtitles for The art of stillness
Rafael Galupa edited Portuguese subtitles for The art of stillness
Rafael Galupa edited Portuguese subtitles for The art of stillness
Rafael Galupa edited Portuguese subtitles for The art of stillness
Rafael Galupa edited Portuguese subtitles for The art of stillness
Rafael Galupa edited Portuguese subtitles for The art of stillness
Show all

Portuguese subtitles

Revisions Compare revisions