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O segredo do desejo num relacionamento a longo-prazo

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    Porque é que o bom sexo se desvanece
    tão frequentemente,
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    até para casais que continuam a amar-se eternamente?
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    E porque é que uma boa intimidade
    não garante bom sexo,
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    ao contrário do que muitos pensam?
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    Ou a próxima pergunta seria:
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    podemos querer o que já temos?
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    Essa é a pergunta de um milhão de dólares, não é?
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    E porque é o proibido tão erótico?
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    Porque é que a transgressão torna o desejo tão forte?
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    E porque é que o sexo faz bebés
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    e os bebés provocam um desastre erótico nos casais?
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    É uma espécie de golpe erótico fatal, não é?
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    E quando amamos, qual é a sensação?
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    E quando desejamos, qual é a diferença?
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    Estas são algumas das perguntas
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    que estão no centro da minha exploração
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    da natureza do desejo erótico
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    e os seus concomitantes dilemas no amor moderno.
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    Eu viajo pelo mundo,
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    e no que reparo é que,
  • 0:57 - 1:00
    em todo o lado em que o romantismo entrou,
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    parece haver uma crise de desejo.
  • 1:03 - 1:08
    Uma crise de desejo, no sentido de possuir o querer –
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    desejo como uma expressão da nossa individualidade,
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    do nosso livre-arbítrio, das nossas preferências,
    da nossa identidade –
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    desejo, que se tornou um conceito central
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    como parte do amor moderno e
    das sociedades individualistas.
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    Sabem, esta é a primeira vez na história da humanidade
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    em que estamos a tentar experienciar a
    sexualidade a longo prazo,
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    não porque queremos 14 crianças,
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    o que nos exigiria ter ainda mais porque
    muitas não sobreviveriam,
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    e não porque é um papel conjugal exclusivo da mulher.
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    É a primeira vez que queremos horas extra de sexo
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    pelo prazer e ligação que estão enraizados no desejo.
  • 1:52 - 1:55
    Então o que é que sustenta o desejo
    e porque é tão difícil?
  • 1:55 - 2:01
    E no coração da manutenção do desejo
    numa relação de compromisso,
  • 2:01 - 2:06
    eu acho que está a reconciliação
    de duas necessidades humanas fundamentais.
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    De um lado, a nossa necessidade de segurança,
    de previsibilidade,
  • 2:11 - 2:19
    de estabilidade, de dependência,
    de confiança, de perenidade –
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    todas estas experiências nas nossas vidas
    que nos ancoram, que nos alicerçam,
  • 2:22 - 2:24
    a que nós chamamos de lar.
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    Mas nós também temos uma necessidade igualmente forte
    – homens e mulheres –
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    de aventura, de novidade, de mistério,
    de risco, de perigo,
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    do desconhecido, do inesperado, supreendente –
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    vocês percebem – de jornadas, de viagens.
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    Portanto, reconciliar a nossa
    necessidade de estabilidade
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    com a nossa necessidade de aventura
    num relacionamento,
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    ou o que nós hoje gostamos de chamar de
    casamento apaixonado,
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    costumava ser uma contradição de termos.
  • 2:51 - 2:54
    O casamento era uma instituição económica
  • 2:54 - 2:58
    em que se recebia uma parceria para a vida
  • 2:58 - 3:01
    em termos de filhos e estatuto social,
  • 3:01 - 3:03
    sucessão e companheirismo.
  • 3:03 - 3:07
    Mas agora nós queremos que o
    nosso parceiro nos dê tudo isto
  • 3:07 - 3:10
    e que ainda seja o meu melhor amigo
  • 3:10 - 3:13
    e o meu confidente e também o meu amante apaixonado,
  • 3:13 - 3:14
    e nós vivemos o dobro do tempo.
  • 3:14 - 3:17
    (Risos)
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    Então, chegamos ao pé de uma pessoa
    e basicamente estamos a pedir-lhe
  • 3:21 - 3:25
    que nos dê o que antes
    uma vila inteira fornecia:
  • 3:25 - 3:29
    dá-me pertença, dá-me identidade, dá-me continuidade,
  • 3:29 - 3:33
    mas dá-me também transcendência e mistério
    e admiração, tudo de uma vez.
  • 3:33 - 3:35
    Dá-me conforto, dá-me emoção.
  • 3:35 - 3:37
    Dá-me novidade, dá-me familiaridade.
  • 3:37 - 3:39
    Dá-me previsibilidade, dá-me surpresa.
  • 3:39 - 3:43
    E nós tomamo-lo como garantido,
    e os brinquedos e a lingerie vão salvar-nos.
  • 3:43 - 3:48
    (Aplausos)
  • 3:48 - 3:52
    Agora chegamos à realidade
    existencial da história, certo?
  • 3:52 - 3:58
    Porque eu acho, de alguma forma
    – e eu vou voltar a isso –
  • 3:58 - 4:02
    mas a crise do desejo é normalmente
    a crise da imaginação.
  • 4:02 - 4:05
    Então, porque é que o bom sexo
    acaba tão frequentemente?
  • 4:05 - 4:08
    Qual é a relação entre amor e desejo?
  • 4:08 - 4:11
    Como estão eles ligados e
    onde se separam?
  • 4:11 - 4:14
    Porque é aí que está o mistério do erotismo.
  • 4:14 - 4:19
    Se há um verbo que, para mim,
    combina com o amor, é o verbo "ter".
  • 4:19 - 4:23
    E, se há um verbo que combina com desejo, é "querer".
  • 4:23 - 4:27
    No amor, nós queremos ter,
    nós queremos conhecer quem amamos.
  • 4:27 - 4:31
    Queremos minimizar a distância.
    Queremos diminuir a lacuna.
  • 4:31 - 4:35
    Queremos neutralizar as tensões.
    Queremos proximidade.
  • 4:35 - 4:41
    Mas no desejo, nós tendemos a não querer muito
    voltar para onde já fomos.
  • 4:41 - 4:44
    Conclusões passadas não mantêm o nosso interesse.
  • 4:44 - 4:49
    No desejo, nós queremos um Outro,
    alguém no outro lado que possamos visitar,
  • 4:49 - 4:51
    com quem podemos passar algum tempo,
  • 4:51 - 4:55
    que podemos ir ver o que está a acontecer
    na sua "zona das luzes vermelhas".
  • 4:55 - 4:59
    No desejo, nós queremos uma ponte para cruzar.
  • 4:59 - 5:02
    Ou, noutras palavras, eu às vezes digo:
    o fogo precisa de ar.
  • 5:02 - 5:04
    O desejo precisa de espaço.
  • 5:04 - 5:08
    E quando é dito desta forma
    é normalmente algo abstrato.
  • 5:08 - 5:10
    Mas então levei uma pergunta comigo.
  • 5:10 - 5:12
    E fui a mais de 20 países nos últimos anos
  • 5:12 - 5:15
    com o "Sexo em Cativeiro",
    e perguntei às pessoas:
  • 5:15 - 5:18
    quando é que se sente mais atraído pelo seu parceiro?
  • 5:18 - 5:21
    Não sexualmente atraído per se, mas atraído em geral.
  • 5:21 - 5:25
    E em várias culturas, em várias religiões, independentemente do género
  • 5:25 - 5:30
    – exceto num – há algumas respostas
    que simplesmente se repetem.
  • 5:30 - 5:35
    O primeiro grupo é:
    sinto-me mais atraído pela minha parceira
  • 5:35 - 5:41
    quando ela está fora, quando estamos separados
    e nos reencontramos.
  • 5:41 - 5:45
    No fundo, quando volto a estar em contacto
  • 5:45 - 5:49
    com a minha capacidade de me imaginar com meu parceiro,
  • 5:49 - 5:52
    quando a minha imaginação volta à ação,
  • 5:52 - 5:57
    quando consigo baseá-la na ausência e na saudade,
  • 5:57 - 5:59
    que é um grande componente do desejo.
  • 5:59 - 6:02
    Mas o segundo grupo é ainda mais interessante:
  • 6:02 - 6:04
    Eu sinto-me mais atraído pelo meu parceiro
  • 6:04 - 6:08
    quando o vejo no estúdio, quando ela está no palco,
  • 6:08 - 6:12
    quando ele mostra sua essência, quando ela
    está a fazer algo que a apaixone,
  • 6:12 - 6:16
    quando o vejo numa festa e outras pessoas
    estão realmente atraídas por ele,
  • 6:16 - 6:18
    quando eu a vejo a julgar no tribunal.
  • 6:18 - 6:23
    Basicamente, quando vejo o meu parceiro
    radiante e confiante,
  • 6:23 - 6:26
    provavelmente o mais excitante além-fronteiras.
  • 6:26 - 6:28
    Radiante, como em auto-suficiente.
  • 6:28 - 6:31
    Eu olho para esta pessoa – aliás, no desejo
  • 6:31 - 6:34
    as pessoas raramente falam sobre isso,
    quando estamos unidos num só,
  • 6:34 - 6:37
    a 5 cm de distância do outro.
    Eu não sei quantas polegadas são.
  • 6:37 - 6:41
    Mas também não é quando
    a outra pessoa está tão distante
  • 6:41 - 6:42
    que já não se vê mais.
  • 6:42 - 6:47
    É quando eu olho para o meu parceiro
    de uma distância confortável,
  • 6:47 - 6:51
    onde esta pessoa que já é tão familiar, tão conhecida,
  • 6:51 - 6:56
    está momentaneamente, mais uma vez,
    um tanto misteriosa, um tanto esquiva.
  • 6:56 - 7:01
    E neste espaço entre o Outro e eu
    reside o desejo erótico,
  • 7:01 - 7:03
    aquele movimento em direção ao Outro.
  • 7:03 - 7:05
    Porque algumas vezes, como diz Proust,
  • 7:05 - 7:08
    o mistério não é viajar para novos lugares,
  • 7:08 - 7:10
    mas sim olhar com novos olhos.
  • 7:10 - 7:14
    E então, quando eu vejo o meu parceiro
    sozinho ou sozinha,
  • 7:14 - 7:16
    a fazer alguma coisa em que estejam envolvidos,
  • 7:16 - 7:21
    eu olho para essa pessoa e momentaneamente
    mudo a minha perceção,
  • 7:21 - 7:27
    e fico aberta aos mistérios que estão ali
    a viver ao meu lado.
  • 7:27 - 7:31
    E então, o mais importante nesta descrição
    sobre o Outro,
  • 7:31 - 7:35
    ou sobre mim – é o mesmo – o que é mais interessante
  • 7:35 - 7:37
    é que não há necessidade no desejo.
  • 7:37 - 7:40
    Ninguém precisa de ninguém.
  • 7:40 - 7:42
    Não há cuidado no desejo.
  • 7:42 - 7:47
    O cuidado é amar muito.
    É um poderoso anti-afrodisíaco.
  • 7:47 - 7:49
    Eu ainda estou para ver alguém
    que fique assim tão excitado
  • 7:49 - 7:51
    por alguém que precise dele.
  • 7:51 - 7:55
    Querer é uma coisa.
    Precisar dele é o fim
  • 7:55 - 7:56
    e as mulheres sabem disso desde sempre,
  • 7:56 - 7:59
    porque qualquer coisa que traga à tona a paternidade
  • 7:59 - 8:02
    geralmente diminuirá a carga erótica.
  • 8:02 - 8:04
    Por boas razões, certo?
  • 8:04 - 8:08
    E então, o terceiro grupo de respostas
    usualmente seria
  • 8:08 - 8:12
    quando sou surpreendida, quando nós rimos juntos,
  • 8:12 - 8:14
    como alguém me disse no escritório hoje,
  • 8:14 - 8:16
    quando ele está de smoking,
    então eu disse: "Sabe,
  • 8:16 - 8:19
    "ou é o smoking ou são as botas de cowboy."
  • 8:19 - 8:23
    Mas, basicamente, é quando há novidade.
  • 8:23 - 8:27
    Mas novidade não é sobre novas posições.
    Não é um reportório de técnicas.
  • 8:27 - 8:31
    Novidade é: que partes de si traz à tona?
  • 8:31 - 8:34
    Que partes de si estão à vista?
  • 8:34 - 8:36
    Porque, de alguma forma, poderíamos dizer
  • 8:36 - 8:38
    que o sexo não é algo que se faz, não é?
  • 8:38 - 8:41
    Sexo é um lugar a que se vai.
    É um espaço em que se entra
  • 8:41 - 8:44
    dentro de si mesmo e com o outro, ou outros.
  • 8:44 - 8:47
    Então, onde vão no sexo?
  • 8:47 - 8:49
    A que partes de vós mesmos se ligam?
  • 8:49 - 8:51
    O que procuram expressar aí?
  • 8:51 - 8:54
    É um lugar para união transcendental e espiritual?
  • 8:54 - 8:59
    É um lugar para malícia e para ser agressivo
    com segurança?
  • 8:59 - 9:01
    É um lugar onde se podem finalmente render
  • 9:01 - 9:04
    e não terem que se responsabilizarem por tudo?
  • 9:04 - 9:07
    É um lugar onde podem expressar desejos infantis?
  • 9:07 - 9:10
    O que se revela lá? É uma linguagem.
  • 9:10 - 9:12
    Não é apenas um comportamento.
  • 9:12 - 9:15
    E é na poética dessa linguagem
    que estou interessada,
  • 9:15 - 9:19
    a razão pela qual eu comecei a explorar
    este conceito de inteligência erótica.
  • 9:19 - 9:21
    Sabem, os animais têm sexo.
  • 9:21 - 9:24
    É o pivô, a biologia, o instinto natural.
  • 9:24 - 9:28
    Nós somos os únicos que têm uma vida erótica,
  • 9:28 - 9:34
    o que significa que é sexualmente transformada
    pela imaginação humana.
  • 9:34 - 9:37
    Somos os únicos que podemos fazer amor
    durante horas,
  • 9:37 - 9:40
    termos um momento de êxtase, orgasmos múltiplos,
  • 9:40 - 9:44
    e sem tocarmos em ninguém, apenas porque
    o podemos imaginar.
  • 9:44 - 9:47
    Nós podemos insinuar isso.
    Não temos nem que fazer isso.
  • 9:47 - 9:50
    Podemos experimentar essa coisa poderosa
    chamada antecipação,
  • 9:50 - 9:53
    que é o sinal para o desejo,
  • 9:53 - 9:56
    a capacidade de imaginar, como se estivesse a acontecer,
  • 9:56 - 10:00
    de o experimentar como se estivesse a acontecer,
    enquanto nada está a acontecer
  • 10:00 - 10:03
    e tudo está a acontecer ao mesmo tempo.
  • 10:03 - 10:06
    Então, quando eu começo a pensar sobre o erotismo,
  • 10:06 - 10:09
    começo a pensar sobre a poética do sexo,
  • 10:09 - 10:11
    e se eu olhar para isso como um tipo de inteligência,
  • 10:11 - 10:14
    então isso é algo que se cultiva.
  • 10:14 - 10:18
    Quais são os ingredientes? Imaginação, diversão,
  • 10:18 - 10:21
    novidade, curiosidade, mistério.
  • 10:21 - 10:26
    Mas o agente central é realmente aquela peça
    chamada imaginação.
  • 10:26 - 10:29
    Mas mais importante para eu começar a entender
  • 10:29 - 10:32
    quem são os casais que têm uma faísca erótica,
  • 10:32 - 10:34
    que sustenta o desejo, eu tive de voltar
  • 10:34 - 10:37
    à definição original de erotismo,
  • 10:37 - 10:40
    a definição mística, e quando eu passei por isso,
  • 10:40 - 10:43
    por essa bifurcação, olhando para
    o trauma, efetivamente
  • 10:43 - 10:46
    que é o outro lado, e eu olhei para isso
  • 10:46 - 10:48
    olhando para a comunidade em que eu cresci,
  • 10:48 - 10:52
    uma comunidade na Bélgica, todos
    sobreviventes do Holocausto,
  • 10:52 - 10:55
    e na minha comunidade havia dois grupos:
  • 10:55 - 10:59
    aqueles que não morreram e aqueles que voltaram à vida.
  • 10:59 - 11:02
    E aqueles que não morreram, viveram geralmente
    muito amarrados ao chão,
  • 11:02 - 11:06
    não puderam experimentar o prazer,
    não conseguiram confiar,
  • 11:06 - 11:08
    porque quando estamos vigilantes,
    preocupados, ansiosos,
  • 11:08 - 11:11
    e inseguros, não conseguimos levantar a cabeça
  • 11:11 - 11:17
    para descolarmos para o espaço e sermos
    brincalhões e seguros e imaginativos.
  • 11:17 - 11:19
    Aqueles que voltaram à vida foram os que
  • 11:19 - 11:22
    entenderam o erótico como um antídoto para a morte.
  • 11:22 - 11:25
    Eles sabiam como se manter vivos.
  • 11:25 - 11:29
    E quando eu comecei a ouvir sobre a falta de atividade
    sexual dos casais com quem trabalho,
  • 11:29 - 11:32
    eu por vezes ouvia pessoas a dizerem:
    "Eu quero mais sexo"
  • 11:32 - 11:35
    mas geralmente as pessoas querem é sexo melhor,
  • 11:35 - 11:38
    e melhor é reconetarmo-nos com aquela
    capacidade de estarmos vivos,
  • 11:38 - 11:42
    de vibração, renovação, vitalidade, de Eros, de energia
  • 11:42 - 11:45
    que o sexo lhes costumava proporcionar,
    ou que eles esperavam
  • 11:45 - 11:47
    que isso proporcionaria.
  • 11:47 - 11:50
    E então comecei a fazer perguntas diferentes.
  • 11:50 - 11:55
    "Eu desligo-me quando..." começou a ser a pergunta.
  • 11:55 - 11:58
    "Eu desligo os meus desejos quando..." que não é
    a mesma pergunta que:
  • 11:58 - 12:02
    "O que me faz perder o desejo é..."
    e: " Fazes-me perder o desejo quando..."
  • 12:02 - 12:05
    E as pessoas começaram a dizer:
    "Eu perco o desejo quando
  • 12:05 - 12:08
    "me sinto morto por dentro, quando não gosto
    do meu corpo,
  • 12:08 - 12:11
    "quando me sinto velho, quando não tive tempo para mim,
  • 12:11 - 12:14
    "quando não tive a oportunidade sequer
    de entrar contigo,
  • 12:14 - 12:16
    "quando não me saio bem no trabalho,
  • 12:16 - 12:19
    "quando sinto a minha auto-estima em baixo,
    quando não tenho sentido de valor próprio,
  • 12:19 - 12:22
    "quando não me sinto no direito de querer, de tomar,
  • 12:22 - 12:24
    "de receber prazer."
  • 12:24 - 12:27
    E então comecei a perguntar a questão inversa.
  • 12:27 - 12:30
    "Eu excito-me quando..."
    Porque, na maioria das vezes,
  • 12:30 - 12:32
    as pessoas gostam de fazer a pergunta:
    "Você excita-me,
  • 12:32 - 12:36
    "o que me excita" e eu estou fora da questão. Sabem?
  • 12:36 - 12:40
    Agora, se estiverem mortos por dentro, a outra pessoa
    pode fazer um monte de coisas no Dia dos Namorados
  • 12:40 - 12:43
    e não vai fazer diferença.
    Não há ninguém na receção.
  • 12:43 - 12:45
    (Risos)
  • 12:45 - 12:47
    Então, "eu fico excitada quando..."
  • 12:47 - 12:51
    "eu ativo meus desejos";
    "eu acordo quando..."
  • 12:51 - 12:56
    Agora, neste paradoxo entre amor e desejo,
  • 12:56 - 12:59
    o que parece ser tão enigmático é que
    muitos dos ingredientes
  • 12:59 - 13:04
    que nutrem o amor – mutualidade, reciprocidade,
  • 13:04 - 13:08
    proteção, preocupação, responsabilidade pelo outro –
  • 13:08 - 13:12
    são, algumas vezes, os principais ingredientes
    que sufocam o desejo.
  • 13:12 - 13:16
    Porque o desejo vem com uma série de sentimentos
  • 13:16 - 13:20
    que nem sempre são os preferidos do amor:
  • 13:20 - 13:24
    ciúme, possessividade, agressividade,
    poder, domínio,
  • 13:24 - 13:26
    indecência, prejuízo moral.
  • 13:26 - 13:29
    Basicamente, a maioria de nós ficará excitada à noite
  • 13:29 - 13:33
    pelas mesmas coisas que demonstraremos
    ser contra durante o dia.
  • 13:33 - 13:37
    Vocês sabem, a mente erótica não é muito
    politicamente correta.
  • 13:37 - 13:39
    Se todos fantasiassem com uma cama de rosas,
  • 13:39 - 13:43
    nós não estaríamos a ter conversas tão interessantes
    como esta sobre isto.
  • 13:43 - 13:45
    Mas não, lá na nossa mente
  • 13:45 - 13:49
    há uma série de coisas a acontecer
    de que nem sempre estamos a par
  • 13:49 - 13:51
    como trazer para a pessoa que amamos,
  • 13:51 - 13:54
    porque nós achamos que amor vem com abnegação
  • 13:54 - 13:58
    e, de facto, o desejo vem com uma certa
    quantidade de egoísmo
  • 13:58 - 14:00
    no melhor sentido da palavra:
  • 14:00 - 14:03
    a capacidade de estar ligado a si mesmo
  • 14:03 - 14:04
    na presença de outro.
  • 14:04 - 14:07
    Então, eu quero desenhar-vos uma imagem simples,
  • 14:07 - 14:11
    porque isto de reconciliar estes dois conjuntos
    de necessidades
  • 14:11 - 14:12
    nasce connosco.
  • 14:12 - 14:15
    A nossa necessidade de ligação,
    a nossa necessidade de separação,
  • 14:15 - 14:17
    ou a nossa necessidade de segurança e aventura,
  • 14:17 - 14:20
    ou a nossa necessidade de união e autonomia,
  • 14:20 - 14:23
    e se vocês pensarem numa criança pequena
    que se senta no vosso colo
  • 14:23 - 14:27
    e é comodamente aninhada aqui e
    muito segura e confortável,
  • 14:27 - 14:31
    e a certo ponto todos nós precisamos de sair
    pelo mundo fora
  • 14:31 - 14:34
    para descobrir e explorar.
  • 14:34 - 14:35
    Isso é o início do desejo,
  • 14:35 - 14:40
    daquela necessidade exploratória,
    curiosidade, descoberta.
  • 14:40 - 14:44
    E, então, a certo ponto, eles viram-se e olham para vocês
  • 14:44 - 14:46
    e se lhes disserem:
  • 14:46 - 14:49
    "Ei, miúdo, o mundo é um excelente lugar. Atira-te.
  • 14:49 - 14:50
    "Há tanta diversão lá fora"
  • 14:50 - 14:53
    então eles podem afastar-se e experimentar
  • 14:53 - 14:55
    a ligação e a separação ao mesmo tempo.
  • 14:55 - 14:58
    Eles podem fluir na imaginação deles,
    nos seus corpos,
  • 14:58 - 15:01
    na diversão deles, sabendo sempre
  • 15:01 - 15:04
    que existe alguém quando eles voltarem.
  • 15:04 - 15:06
    Mas se deste lado houver alguém que diz:
  • 15:06 - 15:10
    "Estou preocupado. Estou ansioso. Estou deprimido.
  • 15:10 - 15:12
    "O meu parceiro não cuidou de mim em tanto tempo.
  • 15:12 - 15:15
    "O que há de bom lá fora? Nós não temos tudo
  • 15:15 - 15:17
    "o que precisas, juntos, tu e eu?"
  • 15:17 - 15:19
    Então há algumas pequenas reações
  • 15:19 - 15:22
    que todos nós podemos reconhecer.
  • 15:22 - 15:27
    Alguns de nós regressarão, regressaram
    há muito tempo atrás
  • 15:27 - 15:29
    e aquela criança pequena que volta
  • 15:29 - 15:32
    é a criança que renunciará a uma parte dela
  • 15:32 - 15:35
    para não perder o outro.
  • 15:35 - 15:39
    Eu perderei a minha liberdade para não perder a ligação.
  • 15:39 - 15:41
    E eu aprenderei a amar de uma determinada forma
  • 15:41 - 15:45
    que se tornará sobrecarregada com
    uma preocupação extra
  • 15:45 - 15:49
    e responsabilidade extra e proteção extra,
  • 15:49 - 15:51
    e eu não saberei como deixar isso
  • 15:51 - 15:55
    e sair para brincar, para experimentar prazer,
  • 15:55 - 15:58
    para descobrir, entrar em mim mesma.
  • 15:58 - 16:01
    Traduzam isto para a linguagem adulta.
  • 16:01 - 16:05
    Isso começa em muito novos.
    E continua nas nossas vidas sexuais
  • 16:05 - 16:06
    até o fim.
  • 16:06 - 16:09
    A criança número 2 volta
  • 16:09 - 16:12
    mas está sempre a olhar por cima do ombro.
  • 16:12 - 16:14
    "Vais estar lá?
  • 16:14 - 16:15
    "Vais amaldiçoar-me?
    Vais repreender-me?
  • 16:15 - 16:17
    "Vais ficar zangada(o) comigo?"
  • 16:17 - 16:21
    E eles podem ter partido, mas nunca estão
    realmente longe,
  • 16:21 - 16:23
    e esses são frequentemente as pessoas que vos dirão
  • 16:23 - 16:26
    que no início era super quente.
  • 16:26 - 16:29
    Porque no início, a intimidade crescente
  • 16:29 - 16:31
    não era ainda tão forte
  • 16:31 - 16:34
    o que levou efetivamente à diminuição do desejo.
  • 16:34 - 16:38
    "Quanto mais ligada fiquei,
    mais responsável eu me senti,
  • 16:38 - 16:41
    "menos fui capaz de me soltar na tua presença."
  • 16:41 - 16:44
    A terceira criança, na verdade, não regressa.
  • 16:44 - 16:47
    Então, o que acontece, se vocês quiserem manter o desejo
  • 16:47 - 16:50
    é aquele pedaço de verdadeira dialética.
  • 16:50 - 16:53
    Por um lado, querem a segurança a fim de
    serem capazes de ir.
  • 16:53 - 16:57
    Por outro, se não puderem ir, não poderão ter prazer,
  • 16:57 - 17:00
    não poderão culminar, não terão um orgasmo
  • 17:00 - 17:02
    não ficarão excitados porque passarão o tempo
  • 17:02 - 17:06
    no corpo e na cabeça do outro e não nos vossos próprios.
  • 17:06 - 17:09
    Então, nesse dilema sobre reconciliar
  • 17:09 - 17:12
    esses dois conjuntos de necessidades fundamentais
  • 17:12 - 17:16
    existem algumas coisas que os casais eróticos
    fazem que eu passei a entender.
  • 17:16 - 17:19
    Um, eles têm muita privacidade sexual.
  • 17:19 - 17:22
    Eles entendem que há um espaço erótico
  • 17:22 - 17:24
    que pertence a cada um deles.
  • 17:24 - 17:27
    Eles também entendem que os preliminares
    não é uma coisa que se faz
  • 17:27 - 17:29
    5 minutos antes da coisa a sério.
  • 17:29 - 17:32
    Os preliminares começam no final do orgasmo anterior.
  • 17:32 - 17:35
    Eles também entendem que um espaço erótico
  • 17:35 - 17:37
    não é sobre começar a acariciar o outro.
  • 17:37 - 17:41
    É criar um espaço onde deixam a empresa X,
  • 17:41 - 17:44
    talvez onde deixem o vosso programa rápido de trabalho...
  • 17:44 - 17:46
    (Risos)
  • 17:46 - 17:49
    ...e onde entram, de facto, naquele lugar
  • 17:49 - 17:51
    onde param de ser os bons cidadãos
  • 17:51 - 17:53
    que estão a cuidar das coisas e a serem responsáveis.
  • 17:53 - 17:57
    Responsabilidade e desejo só entram em conflito.
  • 17:57 - 18:00
    Eles realmente não se dão bem juntos.
  • 18:00 - 18:04
    Os casais eróticos também entendem que
    a paixão aumenta e diminui.
  • 18:04 - 18:07
    É bastante parecida com a lua.
    Tem eclipses intermitentes.
  • 18:07 - 18:10
    Mas eles sabem como ressuscitar isso.
  • 18:10 - 18:12
    Sabem como trazer isso de volta
  • 18:12 - 18:13
    e sabem como trazer isso de volta
  • 18:13 - 18:15
    porque eles desmistificaram um grande mito,
  • 18:15 - 18:18
    que é o mito da espontaneidade, que diz
  • 18:18 - 18:22
    que isso vai simplesmente cair do céu enquanto
    estiverem a dobrar a roupa lavada
  • 18:22 - 18:25
    como um deus ex-machina, e de facto,
    eles entenderam
  • 18:25 - 18:27
    que o que quer que vá acontecer
  • 18:27 - 18:31
    num relacionamento a longo-prazo, já aconteceu.
  • 18:31 - 18:33
    O sexo com compromisso é sexo premeditado.
  • 18:33 - 18:36
    É deliberado. É intencional.
  • 18:36 - 18:39
    É concentração e presença.
  • 18:39 - 18:41
    Feliz Dia dos Namorados.
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    (Aplausos)
Title:
O segredo do desejo num relacionamento a longo-prazo
Speaker:
Esther Perel
Description:

Em relacionamentos longos, nós geralmente esperamos que a pessoa amada seja tanto o melhor amigo quanto o parceiro erótico. Mas Esther Perel argumenta que sexo bom e com compromisso leva a duas necessidades conflituantes: a nossa necessidade de segurança e a nossa necessidade de surpresa. Então, como se sustenta o desejo? Com inteligência e eloquência, Perel apresenta-nos o mistério da inteligência erótica.

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English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
19:10

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