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O verdadeiro valor da dependência financeira

  • 0:01 - 0:04
    Cresci numa família em que era
    o meu pai que geria todo o dinheiro.
  • 0:04 - 0:07
    Mas, por alguma razão,
    quando eu tinha oito ou nove anos,
  • 0:07 - 0:10
    ele começou a mostrar-me
    coisas sobre o dinheiro.
  • 0:10 - 0:13
    Sentávamo-nos na mesa da cozinha
    e ele mostrava-me as cadernetas bancárias.
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    Isto foi numa época anterior à Internet,
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    quando costumávamos ter livros
    onde anotávamos todas as informações.
  • 0:20 - 0:22
    Ele mostrava-me como economizava,
  • 0:22 - 0:24
    e pagava as contas.
  • 0:24 - 0:27
    Sempre que me mostrava
    algo sobre dinheiro,
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    terminava dizendo:
    "Não contes à tua mãe."
  • 0:30 - 0:32
    (Risos)
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    Até hoje, não sei
    porque é que ele dizia aquilo.
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    mas sei que, para uma miúda
    de oito anos, sentada à mesa da cozinha,
  • 0:40 - 0:44
    significava: "Não digas nada."
  • 0:44 - 0:48
    Anos depois, quando tive
    o meu primeiro emprego, o meu pai disse:
  • 0:48 - 0:50
    "Traz-me o teu cheque
    que eu deposito-o no banco."
  • 0:51 - 0:54
    Mas por tudo o que eu tinha
    aprendido com ele, eu disse:
  • 0:54 - 0:56
    "Eu quero a minha
    caderneta bancária."
  • 0:56 - 0:59
    Para minha surpresa, ele deu-ma.
  • 0:59 - 1:01
    E aí mesmo, aos 16 anos,
  • 1:01 - 1:04
    eu comecei a administrar
    o meu dinheiro.
  • 1:04 - 1:08
    Fui para a faculdade e em seguida
    para a minha carreira de contabilista,
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    mas, entre empréstimos estudantis,
    alugar um apartamento e um emprego novo,
  • 1:13 - 1:17
    entrei numa montanha-russa
    de acumular dívidas, pagá-las
  • 1:17 - 1:19
    e acumular mais dívidas.
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    Muitos anos depois, quando me casei,
    passei por um divórcio inesperado,
  • 1:23 - 1:25
    e fiquei com uma casa
    que não podia pagar
  • 1:25 - 1:27
    e com contas que não podia pagar.
  • 1:27 - 1:29
    Vocês devem perguntar:
  • 1:29 - 1:32
    "Como é que isso acontece com alguém
    que foi educada e treinada
  • 1:32 - 1:34
    "para gerir o dinheiro dos outros?"
  • 1:34 - 1:37
    Eu tinha regressado
    ao que aprendera em miúda:
  • 1:37 - 1:40
    uma única pessoa
    geria todo o dinheiro.
  • 1:40 - 1:42
    Tinha entregado
    todo o meu poder financeiro,
  • 1:42 - 1:46
    e tinha-me tornado
    financeiramente dependente.
  • 1:46 - 1:49
    A dependência financeira é quando
    alguém depende de uma pessoa,
  • 1:49 - 1:52
    de um trabalho ou de uma situação
    para ter dinheiro
  • 1:52 - 1:54
    e se sente encurralada.
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    As pessoas entram
    em duas categorias:
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    as dependentes por escolha,
    e as dependentes sem escolha.
  • 1:59 - 2:03
    Uma dependente por escolha
    é quem entrega o seu poder financeiro
  • 2:03 - 2:05
    e a sua participação.
  • 2:06 - 2:09
    Pode acontecer em relações pessoais
    ou empresariais.
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    Quando uma pessoa não quer
    envolver-se com o dinheiro,
  • 2:11 - 2:17
    entrega a responsabilidade ao cônjuge,
    ao parceiro ou a um profissional,
  • 2:17 - 2:19
    por exemplo,
    um contabilista ou um gestor.
  • 2:19 - 2:20
    Era essa a minha situação.
  • 2:20 - 2:23
    Passava o dia todo a tratar
    do dinheiro dos outros
  • 2:23 - 2:24
    e, por isso, fiquei aliviada
  • 2:24 - 2:28
    por o meu marido ter interesse
    e aptidão para gerir o nosso.
  • 2:28 - 2:29
    Eu estava livre!
  • 2:29 - 2:32
    Pela primeira vez, desde
    o meu primeiro emprego aos 16 anos,
  • 2:32 - 2:35
    não precisava de ser responsável
    por gerir o meu dinheiro.
  • 2:35 - 2:39
    Mas falhei em perceber
    que o que parecia liberdade
  • 2:39 - 2:41
    era, na verdade, dependência.
  • 2:41 - 2:44
    O meu erro foi não me manter envolvida
  • 2:44 - 2:48
    nem perceber o que estava a acontecer
    com o nosso dinheiro.
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    Vocês talvez já tenham passado por isso,
  • 2:50 - 2:53
    ou já tenham ouvido histórias
    de celebridades ou atletas profissionais
  • 2:53 - 2:57
    que confiaram em familiares, em amigos
    ou outros para gerir o seu dinheiro
  • 2:57 - 3:00
    e acabaram sem nada,
    falidos e traídos,
  • 3:00 - 3:04
    porque optaram por entregar
    o seu poder financeiro.
  • 3:05 - 3:09
    Quem é dependente sem escolha
    sente-se preso
  • 3:09 - 3:11
    devido à sua situação financeira.
  • 3:11 - 3:16
    Podem estar num trabalho ou numa carreira
    em que são infelizes ou assediados
  • 3:16 - 3:19
    mas não podem dar-se ao luxo de sair.
  • 3:19 - 3:22
    Ou alguém que teve de ir morar
    com familiares e amigos
  • 3:22 - 3:24
    por sofrer de alguma doença,
  • 3:24 - 3:26
    ou passar por um divórcio,
    ou ter sofrido uma tragédia,
  • 3:27 - 3:29
    e passou a ser dependente
    financeiro de outros.
  • 3:29 - 3:33
    E quantos de nós conhecem alguém
    que tem um pai ou parente idoso
  • 3:33 - 3:36
    que já não consegue
    tomar conta de si próprio,
  • 3:36 - 3:38
    e só lhes resta depender de outros?
  • 3:38 - 3:43
    Às vezes até tem de entregar a casa,
    o dinheiro e outros bens.
  • 3:44 - 3:48
    Outro tipo de dependência sem escolha
    é a violência financeira.
  • 3:48 - 3:51
    Violência financeira é um padrão
    de comportamento abusivo
  • 3:51 - 3:55
    utilizado para controlar
    e intimidar um parceiro.
  • 3:56 - 3:58
    As vítimas estão numa relação,
  • 3:58 - 4:01
    em que a outra pessoa
    tem poder sobre elas,
  • 4:01 - 4:04
    porque elas não têm acesso
    ao dinheiro, às informações
  • 4:04 - 4:09
    ou aos recursos e ao apoio
    necessários para sair.
  • 4:10 - 4:13
    A Fundação Allstate tem um programa
    chamado Purple Purse
  • 4:13 - 4:16
    que auxilia vítimas
    de violência doméstica
  • 4:16 - 4:19
    através do poder financeiro.
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    Relatam que em 99%
  • 4:22 - 4:26
    — em 99 de cada 100 casos —
    de violência doméstica
  • 4:26 - 4:31
    a violência financeira ajuda a manter
    as vítimas presas numa relação.
  • 4:32 - 4:36
    O Purple Purse chamou “a arma invisível"
    à violência financeira,
  • 4:36 - 4:39
    porque a violência visível
    deixa hematomas e cicatrizes
  • 4:39 - 4:42
    mas a violência financeira não deixa.
  • 4:42 - 4:44
    A violência e a dependência financeira
  • 4:44 - 4:47
    deixam marcas emocionais
    que não se veem.
  • 4:47 - 4:52
    Elas incluem o desespero,
    a culpa, a vergonha, a depressão,
  • 4:52 - 4:54
    a falta de confiança e o amor próprio.
  • 4:55 - 4:57
    A dependência financeira
    também é invisível
  • 4:57 - 4:59
    porque ninguém fala sobre isso.
  • 4:59 - 5:00
    Porquê?
  • 5:00 - 5:03
    Porque ninguém quer mostrar
    as suas cicatrizes emocionais,
  • 5:04 - 5:08
    e porque fomos ensinados em casa,
    no trabalho e na comunidade
  • 5:08 - 5:11
    a não falar sobre o nosso dinheiro.
  • 5:11 - 5:14
    A maioria das pessoas
    com quem converso sobre isso
  • 5:14 - 5:16
    consegue identificar-se
    e tem a sua história,
  • 5:16 - 5:19
    mas não a contam a ninguém.
  • 5:19 - 5:22
    Quando me diziam
    à mesa da cozinha: "Não digas nada, "
  • 5:22 - 5:25
    eu nunca contei a ninguém.
  • 5:26 - 5:31
    Ainda me é difícil quebrar essa regra
    que aprendi há tanto tempo.
  • 5:31 - 5:34
    Então, o que posso fazer?
    O que vocês podem fazer?
  • 5:34 - 5:37
    O que podemos fazer
    para desarmar essa arma invisível?
  • 5:37 - 5:39
    Podemos resolver três problemas.
  • 5:39 - 5:41
    O primeiro problema
    é a falta de consciência,
  • 5:41 - 5:44
    porque perceber de dinheiro
    e ter dinheiro
  • 5:44 - 5:46
    nem sempre é a solução.
  • 5:46 - 5:50
    Na minha situação, tive educação
    e experiência em gerir dinheiro,
  • 5:50 - 5:53
    mas isso não me impediu
    de me tornar dependente financeira.
  • 5:53 - 5:55
    Porquê?
  • 5:55 - 5:58
    Por causa das crenças
    e experiências que tive ao crescer:
  • 5:58 - 6:01
    só uma pessoa a gerir todo o dinheiro.
  • 6:01 - 6:06
    Depois do divórcio, tive de reconstruir
    a minha vida financeira e emocional.
  • 6:06 - 6:09
    Fiz todos os cursos
    de autodesenvolvimento
  • 6:09 - 6:11
    e li todos os livros de auto-ajuda
    que encontrei.
  • 6:12 - 6:17
    Foi aí que passei a entender
    a dinâmica da família em que cresci.
  • 6:17 - 6:21
    e como isso influenciou
    a entrega do meu poder financeiro.
  • 6:22 - 6:26
    Quando passamos a ter consciência
    das nossas feridas e cicatrizes internas,
  • 6:26 - 6:29
    conseguimos libertar-nos
    da nossa dependência financeira.
  • 6:29 - 6:34
    O outro problema é a falta de informação
    sobre a literacia financeira.
  • 6:35 - 6:37
    A literacia financeira é ter
    capacidades e conhecimentos
  • 6:37 - 6:40
    para tomar decisões esclarecidas
    quanto ao nosso dinheiro.
  • 6:40 - 6:43
    Inclui tópicos como
    economia e investimento,
  • 6:43 - 6:45
    orçamento e dívidas.
  • 6:46 - 6:50
    Em 2018, apenas 17 estados
    exigiam literacia financeira
  • 6:50 - 6:52
    nos currículos do ensino secundário.
  • 6:52 - 6:58
    Isso corresponde a estudos recentes
    que mostram que 66% dos americanos
  • 6:58 - 7:01
    são analfabetos financeiros.
  • 7:01 - 7:04
    Se estão numa situação
    de dependência financeira,
  • 7:04 - 7:10
    comecem a olhar
    mais a fundo nas vossas finanças,
  • 7:10 - 7:14
    tomando decisões, participando na tomada
    de decisões sobre o vosso dinheiro.
  • 7:14 - 7:17
    Se vocês estão numa situação
    de violência financeira,
  • 7:17 - 7:20
    obtenham acesso à informação.
  • 7:20 - 7:24
    Procurem documentos financeiros
    como extratos bancários,
  • 7:24 - 7:27
    informações sobre o seguro social
    e as senhas das vossas contas.
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    O último problema é a falta
    de dar e receber apoio.
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    Muitas pessoas não sabem
    que há recursos gratuitos
  • 7:35 - 7:37
    "online" e nas comunidades locais
  • 7:37 - 7:39
    que servem para ajudar a aprender
  • 7:39 - 7:41
    e estabelecer hábitos
    de consumo saudáveis.
  • 7:41 - 7:46
    Também há recursos gratuitos
    para as vitimas de violência financeira,
  • 7:46 - 7:48
    como o Purple Purse.
  • 7:48 - 7:52
    Oferecer apoio inclui escutar aqueles
    que são dependentes financeiramente,
  • 7:52 - 7:55
    sem julgamento ou críticas.
  • 7:55 - 7:58
    Também envolve partilhar a vossa história,
  • 7:58 - 8:01
    porque, quando as partilhamos,
    damos poder aos outros,
  • 8:01 - 8:05
    e damos-lhes permissão
    para reescreverem a história deles.
  • 8:05 - 8:08
    A minha esperança é que,
    ao partilhar a minha história,
  • 8:08 - 8:10
    mais pessoas aprendam
    o que é dependência financeira,
  • 8:10 - 8:12
    e partilhem as suas histórias,
  • 8:12 - 8:16
    e se interliguem com outros
    para esclarecer esse assunto escondido
  • 8:16 - 8:19
    para todos podermos ter
    a nossa liberdade financeira.
  • 8:20 - 8:23
    (Aplausos)
Title:
O verdadeiro valor da dependência financeira
Speaker:
Estelle Gibson
Description:

Desistir do controlo das vossas finanças — voluntariamente ou não — pode deixar-vos impotente e, em alguns casos, encerrados num ciclo abusivo. Nesta palestra profundamente pessoal, a contabilista Gibson partilha a sua história de recuperação de uma dependência financeira, fornecendo conselhos úteis e práticos para capacitar aqueles que desejam a liberdade que acompanha o ser-se responsável pelo seu próprio dinheiro.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
08:36

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