Os símbolos do racismo sistémico — e como tirar-lhes o poder
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0:00 - 0:04[Esta palestra contém imagens gráficas
Aconselhamos discrição aos espectadores] -
0:05 - 0:08Eu coleciono objetos.
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0:08 - 0:13Coleciono ferros de marcação que
marcavam escravos como propriedade. -
0:14 - 0:17Coleciono algemas para adultos
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0:18 - 0:20e prisões para adultos
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0:20 - 0:22assim como para crianças.
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0:25 - 0:28Coleciono postais de linchamentos.
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0:28 - 0:30Sim, fotografias de linchamentos.
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0:30 - 0:34Também retratam as grandes multidões
que iam a esses linchamentos. -
0:34 - 0:36São postais
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0:36 - 0:39que também foram usados
para correspondência. -
0:41 - 0:45Coleciono livros a favor da escravatura
que retratam negros como criminosos -
0:46 - 0:49ou como animais sem alma.
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0:50 - 0:52Trouxe-vos hoje uma coisa.
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0:56 - 0:58Este é o ferro de marcar de um navio.
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0:59 - 1:02Era usado para marcar escravos.
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1:03 - 1:05Na verdade, não eram escravos
quando eram marcados. -
1:05 - 1:07Estavam em África.
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1:07 - 1:09Mas eram marcados com um "S"
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1:09 - 1:11para significar que eles iam ser escravos
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1:11 - 1:13quando chegassem aos EUA
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1:13 - 1:15e quando chegassem à Europa.
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1:20 - 1:24Outro objeto ou imagem que captou
a minha imaginação quando era mais jovem -
1:24 - 1:25foi uma túnica da Ku Klux Klan.
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1:26 - 1:27Como cresci na Carolina do Sul,
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1:27 - 1:30vi comícios da Ku Klux Klan,
ocasionalmente, -
1:30 - 1:32na verdade, mais vezes que ocasionalmente.
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1:32 - 1:35A lembrança desses eventos
nunca deixaram a minha mente. -
1:35 - 1:39Eu nunca fiz nada com aquelas imagens
senão 25 anos depois. -
1:39 - 1:42Há uns anos, comecei
a pesquisar a Ku Klux Klan, -
1:42 - 1:45as três diferentes ondas da Klan,
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1:45 - 1:47a segunda em particular.
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1:47 - 1:51A segunda onda da Klan tinha
mais de cinco milhões de membros ativos, -
1:51 - 1:54o que era 5% da população naquela época,
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1:55 - 1:58e era também a população
da cidade de Nova Iorque na época. -
1:59 - 2:03A fábrica de túnicas da Klan no bairro de
Buckhead na Geórgia estava tão ocupada -
2:03 - 2:06que tornou-se numa fábrica de 24 horas
para acompanhar os pedidos. -
2:06 - 2:11Mantinham sempre 20 000 túnicas
disponíveis para satisfazer a procura. -
2:12 - 2:15Enquanto colecionador de artefactos
e enquanto artista, -
2:15 - 2:18eu queria uma túnica da Klan
para a minha coleção, -
2:18 - 2:21porque os artefactos
e os objetos contam histórias, -
2:21 - 2:24mas não consegui encontrar nenhuma
que fosse de boa qualidade. -
2:25 - 2:27O que é que um negro
tem que fazer nos EUA -
2:27 - 2:30se não encontra uma túnica da Klan
da qualidade que procura? -
2:30 - 2:33(Risos)
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2:33 - 2:35Portanto, não tive alternativa.
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2:35 - 2:39Decidi que ia fazer as túnicas
de melhor qualidade dos EUA. -
2:41 - 2:44Estas não são as túnicas tradicionais
da Ku Klux Klan -
2:44 - 2:46que veríamos em qualquer comício da Klan.
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2:46 - 2:47Usei pano "kente",
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2:48 - 2:50usei camuflagem,
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2:50 - 2:54elastano, serapilheira, sedas,
cetins e diferentes padrões. -
2:55 - 2:58Fi-las para diversos grupos etários;
fi-las para miúdos, -
2:58 - 3:01para crianças que ainda
estão a aprender a andar. -
3:01 - 3:03Até mesmo fiz uma para um bebé.
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3:08 - 3:10Depois de fazer tantas túnicas,
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3:10 - 3:13percebi que as políticas
que a Klan implementava -
3:13 - 3:16ou queria implementar há 100 anos
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3:16 - 3:18continuam hoje em vigor.
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3:18 - 3:23Temos segregação nas escolas,
nos bairros e nos locais de trabalho -
3:24 - 3:28e não são as pessoas com capuzes
que continuam com essas políticas. -
3:29 - 3:32O meu trabalho é sobre o impacto
a longo prazo da escravatura. -
3:32 - 3:35Não estamos a lidar apenas
com resíduos do racismo sistémico. -
3:35 - 3:38É a base de todas as coisas que fazemos.
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3:38 - 3:41Novamente, segregámos intencionalmente,
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3:41 - 3:44bairros, locais de trabalho e escolas.
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3:44 - 3:46Temos supressão de votos.
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3:46 - 3:51Temos uma representação desproporcional
de minorias encarceradas. -
3:51 - 3:55Temos racismo ambiental.
Temos brutalidade policial. -
3:56 - 3:58Trouxe-vos hoje algumas coisas hoje.
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4:01 - 4:03O aspeto furtivo do racismo
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4:04 - 4:06faz parte do seu poder.
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4:07 - 4:09Quando somos discriminados,
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4:09 - 4:12nem sempre podemos provar
que estamos a ser discriminados. -
4:13 - 4:16O racismo tem o pode de se esconder,
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4:16 - 4:19e quando se esconde, fica seguro
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4:19 - 4:21porque se mistura.
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4:22 - 4:25Criei esta túnica para ilustrar isso.
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4:27 - 4:30A base do capitalismo
nos EUA é a escravatura. -
4:34 - 4:37Os escravos eram o capital no capitalismo.
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4:38 - 4:42O primeiro Grande Feiticeiro, em 1868,
Nathan Bedford Forrest, -
4:42 - 4:46era um soldado confederado
e um traficante de escravos milionário. -
4:55 - 4:59A riqueza que foi criada
com a escravatura de bens móveis -
4:59 - 5:02— ou seja, escravos como propriedade —
surpreenderia a mente. -
5:03 - 5:07Só a venda de algodão em 1860
equivaleu a 200 milhões de dólares. -
5:07 - 5:10Isso equivaleria hoje
a 5 mil milhões de dólares. -
5:11 - 5:14Uma grande parte dessa riqueza
pode ser vista hoje -
5:14 - 5:16na riqueza que passa
de geração em geração. -
5:17 - 5:18Oh! esqueci-me das outras colheitas.
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5:18 - 5:21Temos o anil, o arroz e o tabaco.
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5:27 - 5:31Em 2015, fiz uma túnica
por semana, durante o ano inteiro. -
5:31 - 5:34Depois de fazer 75 túnicas,
tive uma revelação. -
5:34 - 5:39Tive a perceção
de que há uma supremacia branca, -
5:40 - 5:43mas a maior força da supremacia branca
não é a Ku Klux Klan -
5:43 - 5:47é a normalização do racismo sistémico.
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5:47 - 5:49Houve outra coisa que percebi.
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5:50 - 5:53As túnicas já não têm
nenhum poder sobre mim. -
5:54 - 5:57Mas se nós, enquanto povo, coletivamente,
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5:57 - 5:59olharmos para estes objetos
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5:59 - 6:02— ferros de marcação, algemas, túnicas —
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6:02 - 6:04e percebermos que eles
fazem parte da nossa história, -
6:05 - 6:09podemos encontrar forma
de eles já não terem poder sobre nós. -
6:10 - 6:14Se olharmos para o racismo sistémico
e reconhecermos -
6:14 - 6:18que ele é semeado no próprio tecido
de quem nós somos enquanto país, -
6:20 - 6:24então podemos fazer algo
quanto à segregação intencional -
6:24 - 6:28nas escolas, nos bairros
e nos locais de trabalho. -
6:29 - 6:31Mas então e só então
podemos abordar -
6:31 - 6:34e confrontar esse legado da escravatura
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6:34 - 6:37e desmantelar esse feio
legado da escravatura. -
6:37 - 6:39Muito obrigado.
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6:39 - 6:42(Aplausos)
- Title:
- Os símbolos do racismo sistémico — e como tirar-lhes o poder
- Speaker:
- Paul Rucker
- Description:
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Paul Rucker, artista multidisciplinar e TED Fellow, está a desmontar o legado do racismo sistémico nos EUA. Colecionador de artefactos ligados à história da escravatura — dos ferros de marcar e algemas a postais representando linchamentos — Rucker não conseguiu encontrar uma única túnica da Ku Klux Klan para a sua coleção. Assim, começou a fazer as suas próprias túnicas. O resultado: roupas marcantes de tecidos não tradicionais como pano "kente", camuflagem e seda que confrontam a normalização do racismo sistémico nos EUA. "Se nós, enquanto povo, olharmos coletivamente para esses objetos e percebermos que eles fazem parte da nossa história, podemos encontrar forma de eles já não terem poder sobre nós" diz Rucker.
[Esta palestra contém imagens gráficas.] - Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 07:01
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