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Uma teoria sobre as extinções em massa na Terra

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    Vou começar com esta bela imagem
    da minha infância.
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    Adoro filmes de ficção científica.
  • 0:06 - 0:08
    Este é "A Ilha da Terra".
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    Podemos confiar em Hollywood
    para estar bem feito.
  • 0:10 - 0:12
    Dois anos e meio na sua produção.
  • 0:12 - 0:14
    (Risos)
  • 0:15 - 0:18
    Ou seja, até os criacionistas
    nos dão 6000 anos,
  • 0:18 - 0:20
    mas Hollywood quer esmerar-se.
  • 0:20 - 0:24
    Neste filme, vemos as coisas
    que imaginamos existirem lá em cima:
  • 0:24 - 0:27
    discos voadores e extraterrestres.
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    Cada mundo tem um extraterrestre
  • 0:29 - 0:31
    e cada extraterrestre tem um disco voador
  • 0:31 - 0:33
    que se desloca a grande velocidade.
  • 0:33 - 0:34
    Os extraterrestres!
  • 0:35 - 0:38
    O meu amigo Don Brownlee e eu
    acabámos por chegar ao ponto
  • 0:38 - 0:41
    de ficarmos cansados de ligar a TV
  • 0:41 - 0:44
    e ver naves espaciais
    e extraterrestres todas as noites,
  • 0:44 - 0:47
    e tentámos escrever um argumento
    contrariando isso,
  • 0:48 - 0:51
    e descrever o que seria preciso
    para tornar uma Terra habitável,
  • 0:51 - 0:53
    para um planeta ser como a Terra,
  • 0:53 - 0:56
    ter um lugar onde não houvesse
    só vida, mas complexidade,
  • 0:56 - 0:58
    que exigisse um grau avançado de evolução
  • 0:58 - 1:01
    e, portanto, de uma estabilidade
    de condições.
  • 1:01 - 1:03
    Em 2000, escrevemos "Rare Earth".
  • 1:03 - 1:04
    E em 2003 perguntámos:
  • 1:04 - 1:09
    "Não pensemos onde está a Terra no espaço
    mas há quanto tempo é que a Terra é Terra?"
  • 1:09 - 1:11
    Se recuarmos 2000 milhões de anos,
  • 1:11 - 1:13
    já não estamos num planeta
    como a Terra.
  • 1:13 - 1:15
    Aquilo a que chamamos
    um planeta como a Terra
  • 1:15 - 1:17
    ocupa um lapso de tempo muito curto.
  • 1:17 - 1:21
    "Rare Earth" ensinou-me muito
    quanto ao contacto com o público.
  • 1:22 - 1:25
    Logo a seguir, recebi um convite
    para uma convenção de ficção científica
  • 1:25 - 1:28
    e lá fui, com grande honestidade.
  • 1:28 - 1:30
    David Brin ia debater isso comigo.
  • 1:30 - 1:34
    Quando entrei, uma multidão de cem pessoas
    começou a vaiar-me fortemente.
  • 1:34 - 1:38
    Uma rapariga veio ter comigo e disse:
    "O meu pai diz que você é o diabo".
  • 1:38 - 1:41
    Não podemos privar as pessoas
    dos seus extraterrestres
  • 1:42 - 1:44
    e esperar sermos amigos delas.
  • 1:45 - 1:47
    A segunda parte, pouco depois
  • 1:47 - 1:50
    — eu estava a falar com Paul Allen;
    tinha-o visto na audiência
  • 1:50 - 1:53
    e tinha-lhe dado
    uma cópia de "Rare Earth".
  • 1:53 - 1:56
    Jill Tarter estava lá, virou-se para mim,
  • 1:56 - 1:59
    olhou para mim, como aquela rapariga
    em "O Exorcista" e disse:
  • 1:59 - 2:01
    "Arde! Arde!"
  • 2:01 - 2:03
    Porque o SETI não quer ouvir isto.
  • 2:03 - 2:06
    O SETI quer que haja coisas lá em cima.
  • 2:06 - 2:09
    Eu aplaudo os esforços do SETI,
    mas ainda não ouvimos nada.
  • 2:09 - 2:11
    Penso muito a sério
    que devemos começar a pensar
  • 2:11 - 2:14
    o que é um bom planeta e o que não é.
  • 2:14 - 2:17
    Eu mostro este diapositivo
    porque me indica que,
  • 2:17 - 2:21
    mesmo que o SETI oiça qualquer coisa,
    podemos perceber o que eles dizem?
  • 2:21 - 2:23
    Porque isto é um diapositivo
    que foi transferido
  • 2:23 - 2:27
    entre as duas maiores inteligências
    da Terra — de um Mac para um PC —
  • 2:28 - 2:30
    e nem sequer percebo bem as letras.
  • 2:31 - 2:32
    (Risos)
  • 2:32 - 2:34
    Então, como é que vamos falar
    com os extraterrestres?
  • 2:34 - 2:37
    Se estiverem a 50 anos-luz,
    e nós lhes ligássemos,
  • 2:37 - 2:38
    e nós: bla bla bla bla bla,
  • 2:38 - 2:41
    e 50 anos depois, recebêssemos a resposta:
  • 2:41 - 2:42
    "Podem repetir?"
  • 2:43 - 2:44
    Ou seja, nós estamos aqui.
  • 2:44 - 2:47
    O nosso planeta é um bom planeta
    porque mantém a água.
  • 2:47 - 2:51
    Marte é um mau planeta,
    mas ainda é bom para lá irmos
  • 2:51 - 2:53
    e viver à superfície,
    se estivermos protegidos.
  • 2:53 - 2:56
    Mas Vénus é um planeta
    muito mau —o pior.
  • 2:56 - 2:59
    Apesar de ser como a Terra
    e, embora no início da sua história,
  • 2:59 - 3:02
    possa ter albergado vida
    parecida com a da Terra,
  • 3:02 - 3:05
    rapidamente sucumbiu aos gases
    com efeito de estufa
  • 3:05 - 3:07
    — é uma superfície com mais de 400º C —
  • 3:07 - 3:10
    por causa do excesso
    de dióxido de carbono.
  • 3:10 - 3:13
    Sabemos pela astrobiologia
    que podemos prever
  • 3:13 - 3:16
    o que vai acontecer ao nosso planeta.
  • 3:16 - 3:20
    Estamos no preciso momento
    do belo Oreo da existência
  • 3:20 - 3:22
    — pelo menos na vida do planeta Terra —
  • 3:22 - 3:25
    na sequência da primeira
    terrível era microbiana.
  • 3:25 - 3:28
    Na explosão Cambriana,
    a vida surgiu dos pântanos,
  • 3:28 - 3:30
    nasceu a complexidade
  • 3:30 - 3:33
    e, segundo podemos dizer,
    estamos a meio caminho.
  • 3:33 - 3:35
    Os animais viverão ainda neste planeta
  • 3:35 - 3:38
    tanto tempo como o tempo
    que viveram até hoje,
  • 3:38 - 3:40
    até chegarmos à segunda
    idade microbiana.
  • 3:40 - 3:42
    Isso acontecerá, paradoxalmente
  • 3:42 - 3:44
    — tudo o que ouvimos dizer
    sobre o aquecimento global —
  • 3:44 - 3:47
    quando atingirmos o CO2
    a 10 partes por milhão.
  • 3:47 - 3:49
    Deixamos de ter plantas
  • 3:49 - 3:52
    que não poderão ter fotossíntese
    e lá se vão os animais.
  • 3:53 - 3:55
    Depois disso, teremos talvez
    sete mil milhões de anos.
  • 3:55 - 3:58
    O Sol aumenta de intensidade,
    de luminosidade
  • 3:58 - 4:03
    e, por fim, cerca de 12 000 milhões
    de anos depois de ter começado,
  • 4:03 - 4:06
    a Terra é consumida
    por um Sol enorme
  • 4:06 - 4:08
    e o que resta é isto.
  • 4:09 - 4:13
    Assim, um planeta como o nosso
    vai ser velho, muito velho,
  • 4:13 - 4:17
    e neste momento estamos
    no período dourado do verão.
  • 4:17 - 4:20
    Mas há dois destinos para tudo, não é?
  • 4:20 - 4:22
    Muitos de nós morreremos velhotes
  • 4:22 - 4:25
    mas alguns, tristemente,
    morrerão num acidente.
  • 4:25 - 4:27
    É esse também o destino de um planeta.
  • 4:27 - 4:31
    A Terra, se tivermos sorte
    — se não for atingida por um cometa Hale
  • 4:31 - 4:34
    ou for atingido pela explosão
    duma supernova vizinha
  • 4:35 - 4:36
    nos próximos sete mil milhões de anos
  • 4:36 - 4:38
    — continuará debaixo dos nossos pés.
  • 4:38 - 4:40
    Mas se houver uma morte acidental?
  • 4:40 - 4:44
    Os paleontólogos, nos últimos 200 anos
    têm vindo a mapear a morte.
  • 4:44 - 4:47
    É estranho — nunca se tinha pensado
    na extinção como um conceito
  • 4:47 - 4:50
    até o Barão Cuvier, em França,
    ter encontrado o primeiro mastodonte.
  • 4:50 - 4:53
    Não conseguiu compará-lo
    com quaisquer ossos no planeta
  • 4:53 - 4:54
    e disse: "Aha! Está extinto."
  • 4:54 - 4:58
    Pouco tempo depois, o registo fóssil
    começou a dar uma boa ideia
  • 4:58 - 5:00
    de quantas plantas e animais tinha havido
  • 5:00 - 5:02
    desde que a vida complexa
  • 5:02 - 5:05
    começou a deixar um registo fóssil
    muito interessante.
  • 5:06 - 5:08
    Nesse complexo registo de fósseis
  • 5:08 - 5:10
    houve épocas em que muitas coisas
  • 5:10 - 5:12
    pareciam ter morrido muito rapidamente.
  • 5:12 - 5:14
    Os pioneiros da geologia
  • 5:14 - 5:16
    chamaram-lhe "extinções em massa".
  • 5:16 - 5:18
    Pensou-se que seria um ato de Deus
  • 5:18 - 5:21
    ou talvez uma alteração climática
    longa e demorada
  • 5:21 - 5:22
    mas isso mudou em 1980,
  • 5:22 - 5:25
    neste afloramento rochoso
    perto de Gubbio,
  • 5:25 - 5:28
    onde Walter Alvarez tentou perceber
  • 5:28 - 5:31
    qual era a diferença de idades
    entre estas rochas brancas
  • 5:31 - 5:33
    que continham criaturas
    do período Cretáceo
  • 5:33 - 5:36
    e as rochas rosa por cima,
    que continham fósseis do Terciário.
  • 5:36 - 5:39
    Quanto tempo tinha decorrido
    de um sistema para o seguinte?
  • 5:40 - 5:41
    Descobriu uma coisa inesperada.
  • 5:42 - 5:44
    Descobriu, entre as duas,
    uma camada de argila muito fina
  • 5:44 - 5:47
    e essa camada de argila
    — esta fina camada vermelha aqui —
  • 5:47 - 5:49
    estava cheia de irídio.
  • 5:49 - 5:52
    Não era só irídio; estava cheia
    de esférulas vítreas
  • 5:52 - 5:54
    e estava cheia de grãos de quartzo
  • 5:54 - 5:58
    que tinham sido sujeitos
    a uma pressão enorme: quartzo de impacto.
  • 5:58 - 6:00
    Neste diapositivo, o branco é giz,
  • 6:00 - 6:03
    e este giz estava depositado
    num oceano quente.
  • 6:03 - 6:05
    O giz é composto de plâncton
  • 6:05 - 6:09
    que se afundou da superfície do mar
    até ao fundo do mar,
  • 6:09 - 6:12
    portanto, 90% dos sedimentos aqui
    são esqueletos de seres vivos.
  • 6:12 - 6:15
    Depois, há uma camada vermelha
    com milímetros de espessura
  • 6:15 - 6:16
    e depois temos rocha escura.
  • 6:17 - 6:19
    A rocha escura são sedimentos
    no fundo do mar
  • 6:19 - 6:21
    na ausência de plâncton.
  • 6:21 - 6:25
    É o que acontece numa catástrofe
    com um asteroide.
  • 6:25 - 6:28
    Foi isso que aconteceu, claro.
    Foi a famosa extinção K-T.
  • 6:28 - 6:30
    Um corpo com 10 km que atingiu o planeta.
  • 6:30 - 6:34
    O impacto criou uma onda de choque
    que se propagou por todo o planeta
  • 6:34 - 6:37
    e rapidamente assistimos
    à morte dos dinossauros,
  • 6:37 - 6:39
    à morte destes magníficos amonitas,
  • 6:39 - 6:41
    a Leconteiceras aqui, e a Celaeceras ali,
  • 6:42 - 6:43
    e muito mais coisas.
  • 6:43 - 6:45
    Ou seja, isto deve ser verdade,
  • 6:45 - 6:48
    porque vimos dois êxitos
    de bilheteiras, depois disso.
  • 6:48 - 6:51
    Este paradigma, de 1980 até 2000,
  • 6:51 - 6:55
    mudou totalmente o que os geólogos
    pensavam quanto às catástrofes.
  • 6:56 - 6:59
    Antes disso, o paradigma dominante
    era o uniformitarismo:
  • 6:59 - 7:02
    o facto de que, tudo o que aconteceu
    no planeta, no passado,
  • 7:02 - 7:05
    há processos modernos que o explicam.
  • 7:06 - 7:09
    Mas não observámos qualquer
    impacto de um grande asteroide,
  • 7:09 - 7:11
    portanto, é um tipo de neo-catastrofismo.
  • 7:11 - 7:14
    Foram precisos 20 anos
    para a comunidade científica
  • 7:14 - 7:16
    reconhecer que, sim, fomos atingidos;
  • 7:16 - 7:20
    sim, os efeitos desse impacto
    provocaram uma extinção em massa.
  • 7:21 - 7:23
    Bom, houve cinco grandes
    extinções em massa
  • 7:23 - 7:26
    nos últimos 500 milhões de anos,
    chamadas as Cinco Grandes.
  • 7:26 - 7:29
    Vão desde há 450 milhões de anos
  • 7:29 - 7:31
    até à última, a K-T, a número quatro,
  • 7:32 - 7:35
    mas a maior de todas,
    foi a P, a extinção Permiana,
  • 7:35 - 7:37
    por vezes chamada a mãe
    de todas as extinções em massa.
  • 7:37 - 7:40
    Cada uma delas foi
    subsequentemente acusada
  • 7:40 - 7:43
    de um impacto por um grande corpo.
  • 7:43 - 7:45
    Mas será verdade?
  • 7:45 - 7:48
    Pensou-se que a mais recente,
    a Permiana, sofreu um impacto
  • 7:48 - 7:51
    por causa desta bela estrutura, à direita.
  • 7:51 - 7:53
    É um Buckminsterfulereno,
    com 60 átomos de carbono.
  • 7:53 - 7:56
    Como é parecido com aquelas
    horríveis cúpulas geodésicas
  • 7:56 - 7:58
    do final dos meus amados anos 60,
  • 7:58 - 8:00
    chamam-lhe "bucky-bolas".
  • 8:00 - 8:02
    Esta prova foi usada para sugerir
  • 8:02 - 8:05
    que, no final do Permiano,
    há 250 milhões de anos,
  • 8:05 - 8:06
    fomos atingidos por um cometa.
  • 8:06 - 8:09
    Quando o cometa nos atinge,
    a pressão produz "bucky-bolas"
  • 8:09 - 8:11
    e capta pedaços do cometa.
  • 8:11 - 8:15
    Hélio 3: muito raro à superfície
    da Terra, muito vulgar no espaço.
  • 8:17 - 8:18
    Mas isto será verdade?
  • 8:18 - 8:22
    Em 1990, ao trabalhar na extinção K-T
    durante 10 anos,
  • 8:22 - 8:25
    fui à África do Sul, duas vezes por ano
  • 8:25 - 8:27
    para trabalhar no grande deserto de Karoo.
  • 8:27 - 8:30
    Tive a sorte de assistir
    à mudança daquela África do Sul
  • 8:30 - 8:33
    para a nova África do Sul
    enquanto lá ia, ano após ano.
  • 8:33 - 8:35
    Trabalhei nesta extinção Permiana,
  • 8:35 - 8:38
    acampando junto deste cemitério bóer
    durante meses seguidos.
  • 8:38 - 8:41
    Os fósseis eram extraordinários.
  • 8:41 - 8:43
    Estamos a olhar para antepassados
    muito distantes.
  • 8:43 - 8:45
    Estes répteis são parecidos com mamíferos.
  • 8:45 - 8:48
    São culturalmente invisíveis.
    Não fazemos filmes sobre eles.
  • 8:48 - 8:51
    Este é um Gorgonopsia, ou um Górgon.
  • 8:51 - 8:54
    É um crânio de animal
    com 45 cm de comprimento
  • 8:54 - 8:58
    que provavelmente teria 2 a 2,5 m
    de comprimento, como um lagarto,
  • 8:58 - 9:00
    provavelmente tinha uma cabeça
    como um leão.
  • 9:00 - 9:02
    Este é o carnívoro de topo,
    o T-Rex da sua época.
  • 9:03 - 9:04
    Mas há imenso material.
  • 9:04 - 9:06
    Este é o meu pobre filho, Patrick.
  • 9:06 - 9:07
    (Risos)
  • 9:07 - 9:10
    Isto chama-se abuso
    paleontológico de crianças.
  • 9:10 - 9:13
    Não saias daí! Tu és a escala de medida.
  • 9:13 - 9:16
    (Risos)
  • 9:19 - 9:21
    Havia ali coisas enormes.
  • 9:21 - 9:24
    Umas 55 espécies de répteis,
    parecidos com mamíferos.
  • 9:24 - 9:27
    A era dos mamíferos tinha começado
    manifestamente
  • 9:27 - 9:29
    há 250 milhões de anos.
  • 9:29 - 9:32
    Depois aconteceu uma catástrofe.
  • 9:32 - 9:34
    O que aconteceu a seguir
    é a era dos dinossauros.
  • 9:34 - 9:38
    Foi um erro, nunca devia ter
    acontecido, mas aconteceu.
  • 9:39 - 9:40
    Felizmente,
  • 9:40 - 9:43
    este Thrinaxodon, do tamanho
    de um ovo de pisco:
  • 9:43 - 9:46
    este é um crânio que descobri
    antes de tirar esta foto.
  • 9:47 - 9:49
    Há um lápis como escala;
    é mesmo pequenino.
  • 9:49 - 9:52
    Pertence ao Triássico Inferior,
    depois de acabar a extinção em massa.
  • 9:52 - 9:55
    Vemos a órbita e vemos
    os pequenos dentes na frente.
  • 9:56 - 9:59
    Se este não sobrevivesse
    eu não estaria a fazer esta palestra.
  • 10:00 - 10:04
    Seria outra coisa qualquer porque,
    se ele não sobrevive, não estamos aqui.
  • 10:04 - 10:05
    Não há mamíferos.
  • 10:05 - 10:08
    É muito simples: uma espécie sobreviveu.
  • 10:08 - 10:11
    Podemos dizer o que quisermos
    sobre a tendência de sobreviver ou não?
  • 10:11 - 10:13
    Este é o resultado
    desses 10 anos de trabalho.
  • 10:13 - 10:16
    O leque das coisas
    — a linha vermelha é a extinção em massa.
  • 10:16 - 10:19
    Mas temos sobreviventes
    e coisas que escaparam
  • 10:19 - 10:23
    e acontece que as coisas que escaparam
    são maioritariamente os de sangue frio.
  • 10:23 - 10:27
    Os animais de sangue quente
    foram duramente atingidos naquela época.
  • 10:27 - 10:29
    Os sobreviventes que escaparam
  • 10:29 - 10:32
    produzem este mundo
    de criaturas tipo crocodilos.
  • 10:32 - 10:35
    Ainda não há dinossauros,
    só este local pantanoso,
  • 10:35 - 10:38
    sauriano, escamoso, desagradável,
  • 10:38 - 10:41
    com alguns mamíferos minúsculos
    escondidos nas margens.
  • 10:41 - 10:44
    Andarão ali escondidos
    durante 160 milhões de anos
  • 10:44 - 10:47
    até serem libertados
    por aquele asteroide K-T.
  • 10:48 - 10:50
    Então, se não houve impacto,
    o que aconteceu?
  • 10:50 - 10:53
    Penso que regressámos,
    uma e outra vez,
  • 10:53 - 10:57
    ao mundo pré-Cambriano,
    essa primeira era microbiana
  • 10:57 - 10:58
    e os micróbios ainda lá estão.
  • 10:59 - 11:00
    Detestam-nos, a nós, animais.
  • 11:00 - 11:02
    Querem recuperar o seu mundo.
  • 11:02 - 11:05
    Têm tentado, vezes sem conta.
  • 11:06 - 11:09
    Isso sugere-me que a forma de vida
    que causou essas extinções em massa
  • 11:09 - 11:12
    — porque foi ela que a causou —
    é contrária à teoria de Gaia.
  • 11:12 - 11:16
    Esta hipótese de Gaia, de que a vida
    torna o mundo melhor para si mesma
  • 11:17 - 11:21
    — alguém que esteja numa autoestrada
    numa sexta à tarde, em Los Angeles,
  • 11:21 - 11:23
    acredita na teoria de Gaia? Não.
  • 11:23 - 11:26
    Desconfio, portanto,
    que há uma alternativa,
  • 11:26 - 11:28
    e a vida tenta suprimir-se a si mesma,
  • 11:28 - 11:31
    não conscientemente,
    mas é assim mesmo.
  • 11:31 - 11:33
    Esta é a arma, segundo parece,
    que o conseguiu
  • 11:33 - 11:35
    ao longo dos últimos 500 milhões de anos.
  • 11:35 - 11:37
    São os micróbios que,
    graças ao seu metabolismo,
  • 11:37 - 11:39
    produzem sulfeto de hidrogénio,
  • 11:39 - 11:42
    em grandes quantidades.
  • 11:42 - 11:45
    O sulfeto de hidrogénio é fatal
    para os seres humanos.
  • 11:45 - 11:49
    Bastam 200 partes por milhão
    para nos matar.
  • 11:51 - 11:55
    Basta irem ao Mar Negro e a outros
    locais — alguns lagos —
  • 11:55 - 11:59
    e baixarem-se, e veem que a água
    fica de cor lilás,
  • 11:59 - 12:02
    fica lilás por causa da presença
    de numerosos micróbios
  • 12:02 - 12:05
    que precisam da luz solar
    e precisam de sulfeto de hidrogénio.
  • 12:05 - 12:09
    Podemos detetar a sua presença hoje
    — podemos vê-los —
  • 12:09 - 12:12
    mas também podemos detetar
    a sua presença no passado.
  • 12:12 - 12:14
    Os últimos três anos têm assistido
  • 12:14 - 12:16
    a uma enorme revolução
    num terreno totalmente novo.
  • 12:16 - 12:18
    Eu estou quase extinto,
  • 12:18 - 12:21
    sou um paleontólogo
    que recolhe fósseis.
  • 12:21 - 12:24
    Mas a nova vaga de paleontólogos
    — os meus alunos pós-graduação —
  • 12:24 - 12:26
    recolhem biomarcadores.
  • 12:26 - 12:29
    Agarram nos sedimentos,
    extraem-lhe o petróleo,
  • 12:29 - 12:31
    e a partir daí, podem produzir compostos
  • 12:31 - 12:35
    que são muito específicos
    de determinados grupos microbianos.
  • 12:35 - 12:39
    Como os lípidos são muito resistentes,
    podem ser preservados em sedimentos
  • 12:39 - 12:42
    duram centenas de milhões
    de anos, necessariamente,
  • 12:42 - 12:45
    e podem ser extraídos
    e dizerem-nos quem esteve ali.
  • 12:45 - 12:46
    Sabemos quem esteve ali.
  • 12:46 - 12:50
    No final do Permiano, em muitas
    destas fronteiras da extinção em massa,
  • 12:50 - 12:53
    isto é o que encontramos: isorenierateno
    — é muito específico.
  • 12:53 - 12:57
    Só ocorre se a superfície do oceano
    não tem oxigénio
  • 12:57 - 13:00
    e está totalmente saturado
    de sulfeto de hidrogénio,
  • 13:00 - 13:03
    suficiente, por exemplo,
    para não se manter em solução.
  • 13:03 - 13:07
    Isto levou Lee Kump e outros
    do Penn State e o meu grupo
  • 13:07 - 13:10
    a propor aquilo a que chamo
    a Hipótese de Kump:
  • 13:10 - 13:13
    muitas das extinções em massa foram
    causadas pela diminuição do oxigénio,
  • 13:13 - 13:15
    por um alto nível de CO2.
  • 13:15 - 13:18
    O pior efeito do aquecimento global
  • 13:18 - 13:21
    é o sulfeto de hidrogénio produzido
    pelos oceanos.
  • 13:21 - 13:23
    Qual é a origem disso?
  • 13:23 - 13:26
    Neste caso particular, a fonte
    é sempre inundações de lava basáltica.
  • 13:26 - 13:29
    Isto é uma imagem da Terra hoje,
    se extrapolarmos muito.
  • 13:29 - 13:31
    Cada uma destas coisas
    parece uma bomba de hidrogénio,
  • 13:31 - 13:33
    mas os efeitos ainda são piores.
  • 13:33 - 13:36
    Acontece quando a matéria do interior
    da Terra sobe à superfície,
  • 13:36 - 13:38
    e se espalha pela superfície do planeta.
  • 13:38 - 13:41
    Não é a lava que mata tudo,
  • 13:41 - 13:43
    é o dióxido de carbono que a acompanha.
  • 13:43 - 13:46
    Isto não são Volvos, são vulcões.
  • 13:46 - 13:49
    Mas o dióxido de carbono
    mantém-se dióxido de carbono.
  • 13:49 - 13:52
    Estes são dados novos que Rib Berner e eu
    — de Yale — reunimos.
  • 13:52 - 13:54
    Agora, tentamos despistar
  • 13:54 - 13:57
    a quantidade de dióxido de carbono
    no registo rochoso.
  • 13:57 - 14:00
    Podemos fazê-lo de muitas maneiras
  • 14:00 - 14:02
    e colocar aqui as linhas vermelhas,
  • 14:02 - 14:05
    quando ocorrem aquilo a que chamamos
    as extinções em massa de gases de estufa.
  • 14:05 - 14:07
    Há duas coisas que, para mim,
    são evidentes.
  • 14:07 - 14:10
    É que estas extinções ocorreram
    quando o CO2 aumentou.
  • 14:10 - 14:13
    Mas a segunda coisa que aqui não se vê
  • 14:13 - 14:16
    é que a Terra nunca teve gelo à superfície
  • 14:16 - 14:19
    quando tínhamos 1000 partes
    por milhão de CO2.
  • 14:20 - 14:22
    Estamos a 380 e está a aumentar.
  • 14:22 - 14:25
    Devemos atingir os mil
    dentro de 300 anos, no máximo,
  • 14:25 - 14:29
    mas o meu amigo David Battisti, em Seattle,
    inclina-se mais para os cem anos.
  • 14:30 - 14:32
    Portanto, lá se vão as calotas glaciares
  • 14:32 - 14:35
    e ocorre uma subida de 70 m
    no nível do mar.
  • 14:35 - 14:37
    Hoje vivo numa casa com vista para o mar.
  • 14:38 - 14:39
    Vou ficar à beira-mar.
  • 14:40 - 14:44
    Ok, quais são as consequências?
    Provavelmente, o oceano vai ficar lilás.
  • 14:44 - 14:47
    Pensamos que foi por isso
    que a complexidade demorou tanto
  • 14:47 - 14:48
    a instalar-se no planeta Terra.
  • 14:48 - 14:52
    Tivemos oceanos de sulfeto de hidrogénio
    durante um longo período.
  • 14:52 - 14:55
    Impediram a existência duma vida complexa.
  • 14:55 - 15:00
    Sabemos que o sulfeto de hidrogénio
    está a aparecer nalguns locais do planeta.
  • 15:01 - 15:04
    Mostro este diapositivo
    — este sou eu há dois meses —
  • 15:04 - 15:08
    porque este é o meu animal preferido,
    o Nautilus pompilius.
  • 15:08 - 15:13
    Existe neste planeta desde que apareceram
    os animais — há 500 milhões de anos.
  • 15:13 - 15:14
    É uma experiência de despistagem.
  • 15:15 - 15:18
    Se algum mergulhador quiser participar
    num dos projetos mais fixes de sempre,
  • 15:18 - 15:20
    este é na Grande Barreira de Recifes.
  • 15:20 - 15:21
    Enquanto estamos aqui a falar,
  • 15:22 - 15:25
    estes Nautilus estão a mostrar-nos
    o seu comportamento.
  • 15:25 - 15:28
    Mas o que acontece com isto
    é que, de vez em quando,
  • 15:28 - 15:30
    nós, os mergulhadores,
    podemos meter-nos em sarilhos,
  • 15:30 - 15:32
    assim, vou fazer um exercício intelectual.
  • 15:33 - 15:35
    Este tubarão-branco comeu
    algumas das minhas armadilhas.
  • 15:35 - 15:38
    Içamo-lo para bordo.
    Está lá fora, comigo, à noite.
  • 15:38 - 15:41
    Eu estou a nadar
    e ele arranca-me uma perna.
  • 15:42 - 15:44
    Estou a 100 m da costa,
    o que é que me vai acontecer?
  • 15:44 - 15:46
    Morro.
  • 15:46 - 15:48
    Daqui a cinco anos, espero
    que suceda isto:
  • 15:48 - 15:51
    sou levado para o barco,
    põem-me uma máscara de gás,
  • 15:51 - 15:54
    com 80 partes por milhão
    de sulfeto de hidrogénio.
  • 15:54 - 15:58
    Depois atiram-me para um tanque
    de gelo, arrefeço 15º C
  • 15:58 - 16:02
    e sou levado para
    um hospital de urgências.
  • 16:02 - 16:04
    Isso pode acontecer
    porque somos mamíferos,
  • 16:04 - 16:07
    passámos por uma série
    de ocorrências de sulfeto de hidrogénio
  • 16:07 - 16:09
    e o nosso corpo adaptou-se.
  • 16:09 - 16:12
    Podemos usar isto como
    uma importante descoberta médica.
  • 16:13 - 16:15
    Este é Mark Roth.
    Foi financiado pela DARPA.
  • 16:15 - 16:20
    Tentou descobrir como salvar americanos
    com ferimentos no campo de batalha.
  • 16:20 - 16:21
    Sangra porcos.
  • 16:21 - 16:24
    Põe 80 partes por milhão
    de sulfeto de hidrogénio
  • 16:24 - 16:27
    — o mesmo material que sobreviveu
    as passadas extinções em massa —
  • 16:27 - 16:30
    e transforma um mamífero num réptil.
  • 16:30 - 16:33
    "Creio que vemos nesta reação
    o resultado de os mamíferos e répteis
  • 16:33 - 16:36
    "terem passado por uma série
    de exposições ao H2S".
  • 16:36 - 16:38
    Recebi este "email" dele há dois anos:
  • 16:38 - 16:41
    "Penso que tenho a resposta
    a algumas das tuas perguntas".
  • 16:42 - 16:43
    Aqui, utiliza ratos
  • 16:43 - 16:46
    durante quatro horas,
    por vezes seis horas.
  • 16:47 - 16:49
    Estes são os dados novos
    que ele me enviou.
  • 16:49 - 16:54
    Em cima, está o registo da temperatura
    de um rato submetido ao teste
  • 16:54 - 16:56
    — as linhas são as temperaturas.
  • 16:56 - 16:58
    Na linha tracejada, a temperatura
    começa a 25º C
  • 16:58 - 17:00
    e vai descendo, vai descendo.
  • 17:00 - 17:02
    Seis horas depois, a temperatura sobe.
  • 17:02 - 17:06
    O mesmo rato recebe 80 partes
    por milhão de sulfeto de hidrogénio
  • 17:06 - 17:09
    nesta linha contínua,
  • 17:09 - 17:11
    e vejam o que acontece à temperatura dele.
  • 17:11 - 17:13
    A temperatura desce.
  • 17:13 - 17:16
    Desce de 40º para 15º C
  • 17:17 - 17:19
    e resiste ao teste perfeitamente bem.
  • 17:19 - 17:22
    Esta é uma forma de tratar pessoas
    em estado crítico.
  • 17:23 - 17:26
    É uma forma como podemos
    arrefecer as pessoas
  • 17:26 - 17:28
    enquanto estão em estado crítico.
  • 17:28 - 17:32
    Vocês devem estar a pensar:
    "E o que acontece ao tecido cerebral?"
  • 17:32 - 17:35
    Esse é um dos grandes problemas
    que vamos ter:
  • 17:35 - 17:37
    Há um acidente. Temos duas opções:
  • 17:38 - 17:40
    ou morremos ou vamos receber
    o sulfeto de hidrogénio
  • 17:40 - 17:44
    e, digamos, salvamos 75% do cérebro.
  • 17:44 - 17:46
    O que é que vão fazer?
  • 17:46 - 17:48
    Temos de ter um botãozinho
    que diz: "Deixem-me morrer"?
  • 17:49 - 17:50
    Isto está próximo
  • 17:50 - 17:52
    e penso que vai ser uma revolução.
  • 17:52 - 17:55
    Vamos salvar vidas,
    mas isso vai ter um custo.
  • 17:55 - 17:58
    A nova visão das extinções em massa
    é que, sim, fomos atingidos,
  • 17:58 - 18:00
    e sim, temos de pensar a longo prazo,
  • 18:00 - 18:01
    porque vamos ser atingidos de novo.
  • 18:01 - 18:04
    Mas há um perigo muito maior
    à nossa frente.
  • 18:04 - 18:07
    Podemos voltar facilmente
    ao mundo do sulfeto de hidrogénio.
  • 18:07 - 18:09
    Deem-nos uns milénios
  • 18:09 - 18:11
    — os seres humanos devem
    durar esses milénios —
  • 18:11 - 18:14
    voltará a acontecer?
    Se continuarmos, acontecerá de novo.
  • 18:14 - 18:16
    Quantos de nós viemos para aqui de avião?
  • 18:16 - 18:18
    Quantos de nós ultrapassámos
  • 18:18 - 18:21
    a nossa quota de Quioto
  • 18:21 - 18:23
    só por voarem este ano?
  • 18:23 - 18:26
    Quantos de nós a ultrapassaram?
    Sim, eu ultrapassei-a em muito.
  • 18:26 - 18:29
    Enfrentamos um enorme problema
    enquanto espécie.
  • 18:30 - 18:32
    Temos de o resolver,
  • 18:32 - 18:34
    Eu quero poder voltar a este recife.
  • 18:35 - 18:36
    Obrigado.
  • 18:36 - 18:39
    (Aplausos)
  • 18:42 - 18:45
    Chris Anderson: Só quero fazer
    uma pergunta, Peter.
  • 18:45 - 18:47
    Se bem compreendi, o que disseste
  • 18:47 - 18:49
    é que temos no corpo
    uma resposta bioquímica
  • 18:49 - 18:51
    ao sulfeto de hidrogénio
  • 18:51 - 18:55
    que, segundo dizes, prova
    que houve extinções em massa no passado
  • 18:55 - 18:56
    devidas à alteração climática?
  • 18:56 - 18:59
    Peter Ward: Cada célula nossa
    pode produzir quantidades ínfimas
  • 18:59 - 19:02
    de sulfeto de hidrogénio,
    em grandes crises.
  • 19:02 - 19:03
    Foi o que Roth descobriu.
  • 19:03 - 19:06
    Agora estamos a procurar
    se isso deixou algum sinal.
  • 19:06 - 19:08
    Deixou algum sinal
    nos ossos ou nas plantas?
  • 19:08 - 19:10
    Voltamos ao registo fóssil
    e tentamos detetar
  • 19:10 - 19:12
    quantas vezes isso ocorreu no passado.
  • 19:12 - 19:14
    CA: É simultaneamente
  • 19:14 - 19:17
    uma incrível técnica médica
    mas também é assustadora...
  • 19:17 - 19:18
    PW: Abençoada e amaldiçoada.
Title:
Uma teoria sobre as extinções em massa na Terra
Speaker:
Peter Ward
Description:

Os impactos de asteroides monopolizam as atenções, mas Peter Ward, autor de "Medea Hypothesis", defende a ideia de que a maior parte das extinções em massa na Terra foram provocadas por humildes bactérias. O culpado, um veneno chamado sulfeto de hidrogénio, pode ter interessantes aplicações em medicina.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
19:18

Portuguese subtitles

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