Nem todos os mamutes eram lanosos | Hendrik Poinar | TEDxDeExtinction
-
0:03 - 0:05Quando eu era garoto,
-
0:05 - 0:08costumava olhar atentamente
pelo microscópio do meu pai -
0:08 - 0:12os insetos em âmbar que ele tinha em casa.
-
0:12 - 0:16E eles eram muito bem-preservados,
morfologicamente simplesmente fenomenais. -
0:16 - 0:20E costumávamos imaginar
que um dia eles tomariam vida, -
0:20 - 0:24e se arrastariam para fora das resinas,
e se pudessem, iriam embora voando. -
0:25 - 0:28Se dez anos atrás você me perguntasse
se nós seríamos capazes -
0:28 - 0:31de sequenciar o genoma de animais extintos
-
0:31 - 0:33eu te diria: hum, é improvável.
-
0:33 - 0:35Se você me perguntasse se conseguiríamos
-
0:35 - 0:39trazer de volta à vida espécies extintas,
diria: "pura fantasia". -
0:39 - 0:42Mas na verdade estou aqui,
para dizer a vocês -
0:42 - 0:46que não apenas o sequenciamento
de genomas extintos são uma possibilidade, -
0:46 - 0:48são uma realidade nos dias modernos,
-
0:48 - 0:52mas o ressurgimento de espécies extintas
na realidade está em nosso alcance. -
0:52 - 0:54Talvez não para os insetos em resina.
-
0:54 - 0:58Na verdade, esse mosquito foi usado
como inspiração para o Jurassic Park, -
0:58 - 1:00mas de mamutes-lanosos,
-
1:00 - 1:03os restos bem preservados de
mamutes-lanosos no pergelissolo. -
1:03 - 1:07Lanosos são uma imagem quintessencial
muito interessante da Era do Gelo. -
1:07 - 1:10Eles eram grandes, eles eram peludos,
eles tinham grandes presas, -
1:10 - 1:14e parecemos ter uma conexão muito profunda
com eles, como temos com elefantes. -
1:14 - 1:18Talvez porque nós e os elefantes
temos muitas coisas em comum. -
1:18 - 1:21Eles enterram seus mortos,
eles educam os próximos da linhagem, -
1:21 - 1:24eles têm união social, são muito próximos,
-
1:24 - 1:27ou talvez porque na verdade
estamos ligados pela origem, -
1:27 - 1:30pois os elefantes, como nós,
têm sua origem na África -
1:30 - 1:33uns sete milhões de anos atrás.
-
1:33 - 1:36E a medida que os habitats
e os ambientes mudaram, -
1:36 - 1:41nós na verdade, bem como os elefantes,
emigramos para a Europa e para a Ásia. -
1:41 - 1:44Então o primeiro grande mamute
que apareceu na área -
1:44 - 1:50é o meridionalis, que tinha 4m de altura
e pesava cerca de 10 toneladas. -
1:50 - 1:54E era uma espécie adaptada à mata
e se espalhou por todo o oeste europeu -
1:54 - 1:57até a Ásia central, através da
Ponte Terrestre de Bering -
1:57 - 2:00e dentro de partes da América do Norte.
-
2:00 - 2:02Ai novamente, com a mudança do clima,
que sempre muda, -
2:02 - 2:04e novos habitats se abriram,
-
2:04 - 2:07tivemos a chegada de uma
espécie adaptada ao estepe, -
2:07 - 2:09chamado trogontherii, na Ásia Central,
-
2:09 - 2:11empurrando o meridionalis
para fora do Oeste Europeu. -
2:11 - 2:14E as vastas savanas de gramíneas
da América do Norte se abriram -
2:14 - 2:19levando ao mamute columbiano, uma espécie
grande e sem pelos na América do Norte. -
2:19 - 2:22Na verdade foi só depois de 500 mil anos
-
2:22 - 2:26que tivemos a chegada do mamute-lanoso,
que todos conhecemos e tanto amamos, -
2:26 - 2:31se espalhando de um ponto de origem
a leste da Beríngia até a Ásia Central, -
2:31 - 2:35novamente empurrando os trogontherii
para fora pela Europa Central, -
2:35 - 2:38e durante centenas de milhares de anos
migrando de um lado ao outro -
2:38 - 2:41pela Ponte Terrestre de Bering,
durante períodos de picos glaciais, -
2:41 - 2:45e entrando em contato direto
com os ancestrais columbianos, -
2:45 - 2:47os parentes vivendo no sul.
-
2:47 - 2:51E lá sobreviveram centenas
de milhares de anos -
2:51 - 2:53durante as traumáticas
mudanças climáticas. -
2:53 - 2:55Então esse é um tipo de
animal muito flexível -
2:55 - 2:58lidando com grandes transições
de temperatura e de ambiente -
2:58 - 3:00e se saindo muito, mas muito bem.
-
3:00 - 3:04E lá eles sobreviveram no continente
até cerca de 10 mil anos atrás, -
3:04 - 3:07e na verdade surpreendentemente
nas pequenas ilhas -
3:07 - 3:10perto da Sibéria e do Alasca
até cerca de 3 mil anos atrás. -
3:10 - 3:14Os egípcios ainda construiam as pirâmides
e mamutes-lanosos ainda viviam em ilhas. -
3:15 - 3:16E então, eles desapareceram,
-
3:16 - 3:20como 99% dos animais que viveram,
eles entram em extinção -
3:20 - 3:22provavelmente devido a um
clima mais quente -
3:22 - 3:25e densas florestas rapidamente
invasoras que migraram para o norte -
3:25 - 3:28e também, como o falecido,
grande Paul Martin certa vez colocou: -
3:28 - 3:30Provavelmente o exagero do Pleistoceno,
-
3:30 - 3:33então os caçadores de grande porte
que os mataram. -
3:33 - 3:35Felizmente, achamos milhões
de seus restos mortais, -
3:35 - 3:39espalhados pelo subsolo gelado, enterrados
bem fundo na Sibéria e no Alasca. -
3:39 - 3:43Na verdade podemos ir
até lá em cima e retirá-los. -
3:43 - 3:47E a preservação é, novamente,
como daqueles insetos [âmbar], fenomenal. -
3:47 - 3:51Então temos os dentes, os ossos
com sangue, o que parecia com sangue. -
3:51 - 3:54temos o pelo, temos carcaças
de cabeça intactas -
3:54 - 3:56ainda com o cérebro dentro delas.
-
3:57 - 4:00Então a preservação da sobrevivência
do DNA depende de muitos fatores -
4:00 - 4:04e devo admitir que não entendemos
a maior parte deles, -
4:04 - 4:08mas dependendo de quando um organismo
morre e o quão rapidamente é enterrado, -
4:08 - 4:10a profundidade do enterro,
-
4:10 - 4:13a constância da temperatura
no ambiente do enterro -
4:13 - 4:16vai finalmente ditar por
quanto tempo o DNA vai sobreviver -
4:16 - 4:19ao longo de períodos de tempo
geologicamente grandes. -
4:19 - 4:22E é provavelmente surpreendente
para muitos de vocês nessa sala -
4:22 - 4:25que não é o tempo que importa,
não é a duração da preservação, -
4:25 - 4:30é a constância da temperatura
dessa preservação que mais importa. -
4:30 - 4:33Logo, se fôssemos a fundo
nos ossos e dentes -
4:33 - 4:36que de fato sobreviveram
ao processo de fossilização -
4:36 - 4:40o DNA que estava intacto firmemente
envolto proteínas histonas -
4:40 - 4:42está agora sob o ataque da bactéria
-
4:42 - 4:45que vive simbioticamente dentro do mamute
por anos durante sua vida. -
4:45 - 4:49Então para essas bactérias
junto com as bactérias do ambiente, -
4:49 - 4:52água livre e oxigênio, na verdade,
quebram o DNA -
4:52 - 4:56em fragmentos de DNA cada vez menores
até que tudo o que temos -
4:56 - 4:59são fragmentos que vão de 10 pares-base
-
4:59 - 5:02até, no melhor dos casos, poucas
centenas de pares-base no comprimento. -
5:02 - 5:05Então a maioria dos fósseis
no registro de fósseis -
5:05 - 5:08na verdade são totalmente carentes
de todas marcas orgânicas, -
5:08 - 5:10mas poucos deles na verdade
têm fragmentos de DNA -
5:10 - 5:15que sobreviveram por milhares
e até alguns milhões de anos. -
5:16 - 5:18E usando tecnologia de ponta de sala limpa
-
5:18 - 5:20encontramos formas de poder realmente
-
5:20 - 5:23puxar esses DNAs para fora
de todo o resto de porcaria lá dentro. -
5:23 - 5:26Não é admirável a qualquer um de vocês
sentados na sala -
5:26 - 5:28que se eu pegar um osso ou dente de mamute
-
5:28 - 5:30e extrair seu DNA, vou ter DNA de mamute.
-
5:30 - 5:34Mas eu também terei todas as bactérias
que certa vez viveram dentro do mamute -
5:34 - 5:39e, mais complicado ainda, terei todo
o DNA que sobreviveu no ambiente com ele. -
5:39 - 5:42Então as bactérias,
os fungos, e tudo mais. -
5:42 - 5:46Então, novamente, não é surpreendente
que um mamute preservado no pergelissolo -
5:46 - 5:50terá algo na ordem de 50% de seu DNA
sendo mamute, -
5:50 - 5:52onde algo como o mamute-columbiano,
-
5:52 - 5:54enterrado num ambiente temperado
-
5:54 - 5:58terá somente 3% a 10% endógeno
acima de onde está. -
5:58 - 6:02Mas encontramos formas muito claras
de como podermos de fato discriminar, -
6:02 - 6:05capturar e discriminar o DNA de mamute
dos outros DNAs. -
6:05 - 6:07E com os avanços no sequenciamento
de alto rendimento -
6:07 - 6:11podemos de fato tirar e reanalisar
bioinformaticamente -
6:11 - 6:13todos esses pequenos fragmentos de mamute
-
6:13 - 6:15e colocá-los sobre uma cadeia principal
-
6:15 - 6:18de um cromossomo de elefante
asiático ou africano. -
6:18 - 6:21E então, com isso, podemos
de fato ter todos os pequenos -
6:21 - 6:24pontos que distinguem
um mamute de um elefante asiático -
6:24 - 6:27e o que sabemos sobre o mamute?
-
6:27 - 6:30Bem, o genoma do mamute está
quase totalmente completo -
6:31 - 6:34e sabemos que na verdade é muito grande,
é um mamute. -
6:34 - 6:37Então um genoma hominídio tem cerca
de três bilhões de pares-base -
6:37 - 6:40mas o genoma de mamute e de elefante
é maior em 2 bilhões de pares-base, -
6:40 - 6:44e a maior parte deles é composta de
DNAs pequenos repetitivos -
6:44 - 6:49que tornam muito difícil de, de fato,
reanalisar a estrutura inteira do genoma. -
6:49 - 6:51Logo, ter esta informação
nos permite responder -
6:51 - 6:53uma das questões interessantes da relação
-
6:53 - 6:55entre mamutes e seus parentes vivos,
-
6:55 - 6:57o elefante asiático e o africano,
-
6:57 - 7:00todos tendo o mesmo ancestral
sete milhões de anos atrás, -
7:00 - 7:05mas o genoma do mamute mostra que
tem um ancestral em comum mais recente com -
7:05 - 7:07os elefantes asiáticos
há cerca de 6 milhões de anos, -
7:07 - 7:10um pouco mais próximo
do elefante asiático. -
7:10 - 7:13Com os avanços na tecnologia
de DNA ancestral -
7:13 - 7:16podemos agora começar a sequenciar
-
7:16 - 7:19os genomas dessas outras formas de mamutes
extintos que mencionei. -
7:19 - 7:21E eu gostaria de falar de dois deles:
-
7:21 - 7:23O mamute-lanoso e o mamute columbiano.
-
7:23 - 7:27Ambos viviam muito próximos um do outro
durante os picos de geleiras, -
7:27 - 7:29quando as geleiras da América do Norte
eram enormes -
7:29 - 7:32os lanosos foram impelidos
para esses ecótonos -
7:32 - 7:35subglaciais e entraram em contato
com seus parentes vivendo no sul. -
7:35 - 7:37E lá eles compartilharam refúgios
-
7:37 - 7:39e um pouco mais do que isso,
no fim das contas. -
7:39 - 7:42Parece que eles estavam
tendo relações híbridas. -
7:42 - 7:44E essa não é uma característica
incomum no Proboscideans, -
7:44 - 7:47pois acabou que aqueles elefantes
machos de grandes savanas -
7:47 - 7:51competirão com os elefantes menores
da floresta por suas fêmeas. -
7:51 - 7:56Daí, grandes columbianos sem pelos ganham
a luta com os machos lanosos menores. -
7:56 - 7:58Isso me lembra um pouco do colegial,
infelizmente. -
7:58 - 8:00(Risos)
-
8:00 - 8:03Então não é trivial,
-
8:03 - 8:06dada a ideia de que queremos
ressuscitar espécies extintas, -
8:06 - 8:08pois acaba que um elefante africano
e um elefante asiático -
8:08 - 8:10podem ter relações híbridas e ter filhotes
-
8:10 - 8:15e isso de fato aconteceu por acidente
num zoológico em Chester, RU, em 1978. -
8:16 - 8:19Isso significa que podemos de fato
pegar cromossomos de elefantes -
8:19 - 8:21asiáticos, modificá-los em todas essas
-
8:21 - 8:23partes que pudemos discriminar
com o genoma do mamute. -
8:23 - 8:27Podemos colocar isso numa célula removida,
-
8:27 - 8:30diferenciá-la da célula tronco,
-
8:30 - 8:32depois diferenciá-la talvez em esperma,
-
8:32 - 8:35inseminar artificialmente um óvulo
de elefante asiático -
8:35 - 8:38e através de um procedimento
longo e trabalhoso -
8:38 - 8:41trazer de volta algo
que tem essa aparência. -
8:41 - 8:43Vejam, essa não seria uma réplica exata
-
8:43 - 8:46porque os fragmentos de DNA curtos
dos quais falei -
8:46 - 8:48nos impediriam de construir
a estrutura exata. -
8:48 - 8:51Mas faria algo semelhante
em forma e textura -
8:51 - 8:53à que o mamute-lanoso tinha.
-
8:53 - 8:57E quando trago este assunto com
meus amigos, amiúde conversamos sobre: -
8:57 - 9:00bem, onde você o colocaria?
Onde você hospedará um mamute? -
9:00 - 9:02Não há climas e habitats apropriados.
-
9:02 - 9:04Bem, na verdade esse não é o caso.
-
9:04 - 9:06No fim das contas há áreas de habitats
-
9:06 - 9:10no norte da Sibéria e do Yukon
que poderiam, sim, hospedar mamutes. -
9:10 - 9:12Lembrem que este era um animal
altamente adaptável -
9:12 - 9:15que passou por tremenda
variação climática. -
9:15 - 9:18Então esta paisagem facilmente
poderia abrigá-los. -
9:18 - 9:22E devo admitir que há uma parte
da criança em mim, o garoto em mim, -
9:22 - 9:24que adoraria ver estas
criaturas majestosas -
9:24 - 9:27andando pela pergelissolo
do norte de novo. -
9:27 - 9:29Mas devo que admitir que
parte do adulto em mim -
9:29 - 9:32às vezes se pergunta se
devemos ou não fazer isso. -
9:32 - 9:34Muito obrigado.
-
9:34 - 9:36(Aplausos)
- Title:
- Nem todos os mamutes eram lanosos | Hendrik Poinar | TEDxDeExtinction
- Description:
-
O antropólogo biológico e geneticista de evolução molecular Hendrik Poinar, compartilha suas pesquisas sobre a possibilidade de trazer de volta a vida o mamute-lanoso, e ao mesmo tempo faz a ergunta crucial: devemos fazer isto?
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 09:39
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Tulio Leao approved Portuguese, Brazilian subtitles for Not All Mammoths Were Woolly: Hendrik Poinar at TEDxDeExtinction | |
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Tulio Leao edited Portuguese, Brazilian subtitles for Not All Mammoths Were Woolly: Hendrik Poinar at TEDxDeExtinction | |
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Tulio Leao edited Portuguese, Brazilian subtitles for Not All Mammoths Were Woolly: Hendrik Poinar at TEDxDeExtinction | |
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Tulio Leao edited Portuguese, Brazilian subtitles for Not All Mammoths Were Woolly: Hendrik Poinar at TEDxDeExtinction | |
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Tulio Leao edited Portuguese, Brazilian subtitles for Not All Mammoths Were Woolly: Hendrik Poinar at TEDxDeExtinction | |
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Tulio Leao edited Portuguese, Brazilian subtitles for Not All Mammoths Were Woolly: Hendrik Poinar at TEDxDeExtinction | |
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Wanderley Jesus accepted Portuguese, Brazilian subtitles for Not All Mammoths Were Woolly: Hendrik Poinar at TEDxDeExtinction | |
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Wanderley Jesus edited Portuguese, Brazilian subtitles for Not All Mammoths Were Woolly: Hendrik Poinar at TEDxDeExtinction |