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O que não sabemos sobre o leite materno

  • 0:01 - 0:04
    Já ouviram dizer
    que a amamentação é de graça?
  • 0:05 - 0:06
    (Risos)
  • 0:06 - 0:09
    Sim, tem piada,
  • 0:09 - 0:14
    porque só é de graça se não dermos valor
    ao tempo e energia da mulher.
  • 0:15 - 0:20
    Qualquer mãe pode dizer-vos
    quanto tempo e energia se consome
  • 0:20 - 0:22
    a liquidificar o corpo
  • 0:22 - 0:24
    — a dissolver-se literalmente —
  • 0:24 - 0:26
    (Risos)
  • 0:26 - 0:29
    para alimentar este canibalzinho precioso.
  • 0:29 - 0:31
    (Risos)
  • 0:31 - 0:34
    O leite é o motivo pelo qual
    os mamíferos sugam.
  • 0:35 - 0:37
    Na Universidade do Estado do Arizona,
  • 0:37 - 0:39
    no Laboratório de Lactação Comparativa,
  • 0:39 - 0:42
    descodifico a composição do leite materno
  • 0:42 - 0:45
    para compreender a sua complexidade
  • 0:45 - 0:48
    e a forma como influencia
    o desenvolvimento do recém-nascido.
  • 0:49 - 0:51
    A coisa mais importante que descobri
  • 0:52 - 0:57
    é que não fazemos o suficiente
    para apoiar as mães e os bebés.
  • 0:58 - 1:00
    E quando falhamos
    com as mães e os bebés,
  • 1:00 - 1:03
    falhamos com todos aqueles
    que amam as mães e os bebés:
  • 1:04 - 1:07
    os pais, os parceiros, os avós, as tias,
  • 1:07 - 1:11
    os amigos e os parentes que compõem
    as nossas redes sociais humanas.
  • 1:12 - 1:17
    Está na altura de nos deixarmos
    de soluções simples e os slogans simples,
  • 1:17 - 1:19
    e de lidarmos com as nuances.
  • 1:20 - 1:22
    Tive a sorte
  • 1:22 - 1:25
    de dar de caras
    com essas nuances muito cedo,
  • 1:25 - 1:28
    durante a minha primeira entrevista
    com uma jornalista,
  • 1:29 - 1:30
    quando ela me perguntou:
  • 1:30 - 1:33
    "Durante quanto tempo é que uma mãe
    deve amamentar o bebé?"
  • 1:36 - 1:40
    E foi essa palavra, "deve",
    que me fez parar,
  • 1:41 - 1:45
    porque nunca irei dizer a uma mulher
    o que ela deve fazer com o seu corpo.
  • 1:47 - 1:49
    Os bebés sobrevivem e desenvolvem-se
  • 1:49 - 1:53
    porque o leite materno é alimento,
    medicamento e sinalizador.
  • 1:53 - 1:54
    Para os recém-nascidos,
  • 1:55 - 1:57
    o leite materno é uma alimentação completa
  • 1:57 - 1:59
    que lhes dá todos
    os blocos de construção do corpo,
  • 1:59 - 2:00
    modela o cérebro
  • 2:00 - 2:03
    e alimenta toda a actividade.
  • 2:03 - 2:06
    O leite materno também
    lhes fornece os micróbios
  • 2:06 - 2:08
    que vão colonizar
    o tracto intestinal do recém-nascido.
  • 2:09 - 2:11
    As mães não estão só a comer por dois,
  • 2:11 - 2:13
    estão a comer por dois
    elevado a biliões.
  • 2:14 - 2:18
    O leite confere factores imunitários que
    ajudam a combater organismos patogénicos
  • 2:19 - 2:24
    e o leite materno fornece hormonas
    que dão sinais ao corpo do recém-nascido.
  • 2:25 - 2:26
    Mas, nas últimas décadas,
  • 2:26 - 2:28
    acabámos por considerar o leite
    como algo adquirido.
  • 2:28 - 2:31
    Deixámos de ver o que estava
    debaixo do nosso nariz.
  • 2:31 - 2:37
    Começámos a pensar no leite como algo
    padronizado, homogeneizado, pasteurizado,
  • 2:37 - 2:40
    embalado, em pó, com sabores
    e como fórmula nutricional.
  • 2:41 - 2:43
    Abandonámos o leite da bondade humana
  • 2:43 - 2:45
    e trocámos de prioridades.
  • 2:47 - 2:48
    Nos Institutos Nacionais de Saúde,
  • 2:48 - 2:50
    em Washington,
  • 2:50 - 2:52
    está a Biblioteca Nacional de Medicina,
  • 2:53 - 2:55
    que contém 25 milhões de artigos
  • 2:55 - 3:00
    — o depósito cerebral da investigação
    biomédica e das ciências da vida.
  • 3:00 - 3:03
    Podemos usar palavras-chave
    para pesquisar essa base de dados
  • 3:03 - 3:05
    e, ao fazê-lo,
  • 3:05 - 3:08
    descobrimos quase um milhão
    de artigos sobre a gravidez,
  • 3:09 - 3:12
    mas muito menos sobre
    o leite materno e a lactação.
  • 3:13 - 3:17
    Quando olhamos mais de perto para
    o número de artigos só sobre leite materno
  • 3:17 - 3:22
    vemos que sabemos muito mais
    sobre o café, o vinho e os tomates.
  • 3:22 - 3:23
    (Risos)
  • 3:25 - 3:28
    Sabemos quase duas vezes mais
    sobre a disfunção eréctil.
  • 3:28 - 3:30
    (Risos)
  • 3:32 - 3:35
    Não estou a dizer que não devamos saber
    sobre essas coisas
  • 3:35 - 3:38
    — sou uma cientista,
    acho que devemos saber sobre tudo.
  • 3:38 - 3:40
    Mas o facto de sabermos
    muito, muito menos...
  • 3:40 - 3:42
    (Risos)
  • 3:42 - 3:43
    ... sobre o leite materno,
  • 3:43 - 3:46
    que é o primeiro líquido que um mamífero
    jovem está adaptado a consumir,
  • 3:46 - 3:48
    deveria deixar-nos zangados.
  • 3:48 - 3:52
    Globalmente, nove em cada 10 mulheres
    terão pelo menos um filho durante a vida.
  • 3:52 - 3:57
    Isso significa que todos os anos
    nascem quase 130 milhões de bebés.
  • 3:57 - 4:00
    Estas mães e bebés
    merecem a nossa melhor ciência.
  • 4:01 - 4:05
    Investigação recente mostrou que
    o leite não faz só crescer o corpo,
  • 4:05 - 4:08
    também alimenta o comportamento
    e modela o neurodesenvolvimento.
  • 4:09 - 4:12
    Em 2015, investigadores descobriram
  • 4:12 - 4:15
    que a mistura de leite materno
    com saliva do bebé
  • 4:15 - 4:17
    — especificamente saliva do bebé —
  • 4:17 - 4:21
    causa uma reacção química que produz
    peróxido de hidrogénio
  • 4:21 - 4:23
    e que consegue eliminar
    os estafilococos e a salmonela.
  • 4:24 - 4:26
    E, dos seres humanos
    a outras espécies de mamíferos,
  • 4:26 - 4:29
    estamos a começar a compreender
    que a receita biológica do leite
  • 4:30 - 4:33
    pode ser diferente quando é produzido
    para os filhos ou para as filhas.
  • 4:33 - 4:37
    Quando vamos buscar leite de dadoras
    na unidade de cuidados intensivos neonatal
  • 4:37 - 4:39
    ou leite em pó
    à prateleira do supermercado,
  • 4:39 - 4:42
    é quase um "tamanho único".
  • 4:42 - 4:46
    Não estamos a pensar como filhos e filhas
    podem crescer a velocidades diferentes,
  • 4:46 - 4:47
    ou de formas diferentes,
  • 4:47 - 4:50
    e que o leite pode fazer parte disso.
  • 4:50 - 4:52
    As mães compreenderam a mensagem
  • 4:52 - 4:56
    e a grande maioria das mulheres
    pretende amamentar,
  • 4:56 - 4:58
    mas muitas não atingem
    os seus objectivos de amamentação.
  • 5:00 - 5:02
    A falha não é delas;
  • 5:02 - 5:03
    é nossa.
  • 5:04 - 5:08
    Doenças cada vez mais frequentes,
    como a obesidade, problemas endócrinos,
  • 5:08 - 5:10
    as cesarianas e os partos pré-termo
  • 5:10 - 5:13
    conseguem perturbar
    a biologia subjacente à lactação.
  • 5:13 - 5:17
    E muitas mulheres não têm um
    apoio clínico suficientemente conhecedor.
  • 5:18 - 5:19
    Há vinte e cinco anos,
  • 5:19 - 5:23
    a Organização Mundial de Saúde
    e a UNICEF estabeleceram critérios
  • 5:23 - 5:26
    para os hospitais serem considerados
    amigos dos bebés
  • 5:26 - 5:29
    — que proporcionem um nível ideal
    de apoio para o elo mãe-bebé
  • 5:29 - 5:31
    e para a alimentação do recém-nascido.
  • 5:31 - 5:35
    Hoje em dia, apenas um
    em cada cinco bebés nos EUA
  • 5:35 - 5:37
    nasce num hospital amigo dos bebés.
  • 5:39 - 5:40
    Isto é um problema,
  • 5:40 - 5:43
    porque as mães podem deparar-se
    com muitos problemas
  • 5:43 - 5:47
    nos minutos, horas, dias
    e semanas de amamentação.
  • 5:47 - 5:50
    Podem ter dificuldades com a pega,
  • 5:50 - 5:51
    com a dor,
  • 5:51 - 5:52
    com a diminuição do leite
  • 5:52 - 5:54
    e com percepções
    quanto à quantidade de leite.
  • 5:55 - 5:59
    Estas mães merecem uma equipa clínica
    com conhecimentos suficientes
  • 6:00 - 6:02
    que compreenda estes processos.
  • 6:02 - 6:06
    As mães telefonam-me quando
    se deparam com estas batalhas,
  • 6:07 - 6:09
    a chorar e com a voz a tremer.
  • 6:11 - 6:13
    "Não está a resultar.
  • 6:13 - 6:16
    "Isto é algo que eu devia
    conseguir fazer naturalmente.
  • 6:16 - 6:18
    "Porque é que não está a resultar?"
  • 6:18 - 6:21
    Mas, lá porque algo
    é evolutivamente ancestral,
  • 6:22 - 6:25
    não significa que seja fácil ou que
    tenhamos jeito instantaneamente.
  • 6:26 - 6:28
    Sabem outra coisa
    que é evolutivamente ancestral?
  • 6:28 - 6:31
    (Risos)
  • 6:32 - 6:33
    O sexo.
  • 6:34 - 6:36
    E ninguém espera que comecemos
    logo a ter muito jeito.
  • 6:36 - 6:39
    (Risos)
  • 6:39 - 6:44
    Os clínicos conseguem melhor prestar
    cuidados equitativos e de qualidade
  • 6:44 - 6:46
    quando têm formação contínua
  • 6:46 - 6:50
    sobre a melhor forma de apoiar
    a lactação e o aleitamento materno.
  • 6:50 - 6:52
    Para haver essa formação contínua,
  • 6:52 - 6:54
    precisamos de a basear
    na investigação mais recente
  • 6:54 - 6:58
    quer das ciências da vida
    quer das ciências sociais,
  • 6:58 - 6:59
    porque precisamos de reconhecer
  • 6:59 - 7:01
    que demasiadas vezes
  • 7:02 - 7:05
    há traumas históricos
    e enviesamentos implícitos
  • 7:05 - 7:09
    que se colocam entre uma recém-mamã
    e o seu médico.
  • 7:10 - 7:11
    O corpo é algo político.
  • 7:13 - 7:16
    Se o nosso apoio ao aleitamento materno
    não for intersectorial,
  • 7:16 - 7:18
    não está a ser suficientemente bom.
  • 7:19 - 7:22
    E para as mães que
    têm de regressar ao trabalho,
  • 7:22 - 7:27
    nos países como os EUA, que
    não oferecem licença de maternidade paga,
  • 7:27 - 7:31
    podem ter de voltar
    logo poucos dias após o parto.
  • 7:32 - 7:36
    Como optimizar a saúde da mãe
    e do recém-nascido
  • 7:36 - 7:39
    apenas com mensagens
    às mães sobre o leite materno
  • 7:39 - 7:42
    sem proporcionar o apoio institucional
  • 7:42 - 7:45
    que facilite o estabelecimento
    do elo entre a mãe e o bebé
  • 7:45 - 7:46
    para apoiar o aleitamento materno?
  • 7:47 - 7:49
    A resposta é: não conseguimos.
  • 7:51 - 7:53
    Estou a falar convosco, legisladores,
  • 7:53 - 7:55
    e com os eleitores que vos elegeram.
  • 7:55 - 8:00
    Estou a falar com os criadores de emprego
    e as unidades de negociação colectiva,
  • 8:00 - 8:02
    com os trabalhadores e com os accionistas.
  • 8:03 - 8:07
    Todos nós temos um investimento
    na saúde pública da nossa comunidade,
  • 8:07 - 8:10
    e todos nós temos um papel
    a desempenhar para o conseguir.
  • 8:11 - 8:14
    O leite materno faz parte
    da melhoria da saúde humana.
  • 8:15 - 8:19
    Na UCIN, quando temos recém-nascidos
    prematuros, doentes ou lesionados,
  • 8:19 - 8:21
    o leite, ou os seus
    constituintes bioactivos,
  • 8:21 - 8:23
    podem ter uma importância crucial.
  • 8:23 - 8:25
    Nos ambientes ou ecologias,
  • 8:25 - 8:28
    ou nas comunidades em que há
    um alto risco de doenças infecciosas,
  • 8:28 - 8:30
    o leite materno
    pode ser incrivelmente protector.
  • 8:31 - 8:34
    Quando há emergências,
    como tempestades ou tremores de terra,
  • 8:34 - 8:36
    quando falta a electricidade,
  • 8:36 - 8:38
    quando não há água potável disponível,
  • 8:38 - 8:41
    o leite materno consegue manter
    os bebés alimentados e hidratados.
  • 8:42 - 8:45
    E no contexto das crises humanitárias,
  • 8:45 - 8:48
    como as mães sírias
    a fugir de zonas de guerra,
  • 8:48 - 8:54
    as mais pequenas gotas conseguem proteger
    os bebés dos maiores desafios globais.
  • 8:55 - 9:00
    Mas compreender o leite materno
    não é só transmitir a mensagem às mães
  • 9:00 - 9:02
    e aos decisores políticos.
  • 9:02 - 9:05
    Trata-se também de compreender
    o que é importante no leite materno
  • 9:05 - 9:08
    para conseguirmos desenvolver
    melhores leites de substituição
  • 9:08 - 9:12
    para as mães que não conseguem amamentar,
    ou que não o fazem por algum motivo.
  • 9:12 - 9:14
    Todos podemos fazer melhor
  • 9:14 - 9:18
    ao apoiar as mais diversas mães
    a criar os seus bebés
  • 9:18 - 9:20
    das mais diversas formas.
  • 9:20 - 9:23
    À medida que as mulheres
    de todo o mundo se debatem
  • 9:23 - 9:26
    para conseguir a igualdade política,
    social e económica,
  • 9:26 - 9:29
    temos de reimaginar a maternidade
  • 9:29 - 9:34
    não como o aspecto central,
    fundamental, de ser mulher,
  • 9:34 - 9:38
    mas como uma das muitas potenciais facetas
    que fazem das mulheres formidáveis.
  • 9:39 - 9:41
    Está na altura.
  • 9:41 - 9:46
    (Aplausos)
Title:
O que não sabemos sobre o leite materno
Speaker:
Katie Hinde
Description:

O leite materno faz crescer o corpo do bebé, alimenta o desenvolvimento neural, confere factores imunitários essenciais e salvaguarda contra a fome e a doença — então porque é que a ciência sabe mais sobre tomates do que sobre o leite materno? Katie Hinde partilha algumas noções sobre esta substância complexa, que dá vida, e debate as enormes lacunas que a investigação científica ainda precisa de colmatar para conseguirmos compreendê-la melhor.

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English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
09:59

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