Return to Video

O que acontece quando uma cidade fica sem espaço para seus mortos

  • 0:01 - 0:03
    Tenho uma oportunidade
    de investimento negligenciada
  • 0:03 - 0:08
    mas potencialmente lucrativa, para vocês.
  • 0:08 - 0:11
    Nos últimos dez anos, no Reino Unido,
  • 0:11 - 0:14
    a rentabilidade das sepulturas
    ultrapassou o mercado de imóveis
  • 0:14 - 0:17
    na relação de três para um.
  • 0:18 - 0:22
    Cemitérios privados têm sido criados,
    com lotes a venda para investidores,
  • 0:22 - 0:25
    com preço inicial de 3.900 libras,
  • 0:25 - 0:28
    e projeção de crescimento de até 40%.
  • 0:28 - 0:33
    A maior vantagem é que esse
    é um mercado com demanda contínua.
  • 0:33 - 0:36
    (Risos)
  • 0:36 - 0:38
    Essa é uma proposta real,
  • 0:38 - 0:43
    e existem companhias por aí
    realmente oferecendo esse investimento,
  • 0:43 - 0:46
    mas meu interesse é um pouco diferente.
  • 0:46 - 0:48
    Sou arquiteta e designer urbano
  • 0:48 - 0:49
    e no último ano e meio
  • 0:49 - 0:52
    tenho olhado abordagens sobre a morte
  • 0:52 - 0:56
    e como elas têm moldado nossas cidades
    e as construções dentro delas.
  • 0:57 - 1:00
    Assim, no verão,
    fiz minha primeira exposição
  • 1:00 - 1:02
    sobre morte e arquitetura em Veneza,
  • 1:02 - 1:04
    chamada "Morte em Veneza".
  • 1:05 - 1:07
    E como a morte é um assunto
  • 1:07 - 1:10
    sobre o qual muitas pessoas
    acham desconfortável falar,
  • 1:10 - 1:12
    a exposição foi projetada
    para ser bem lúdica,
  • 1:12 - 1:15
    para as pessoas poderem
    literalmente relacionar-se com ela.
  • 1:15 - 1:18
    Uma de nossas peças era
    um mapa interativo de Londres
  • 1:18 - 1:21
    mostrando quanto dos imóveis da cidade
  • 1:21 - 1:23
    são destinados à morte.
  • 1:23 - 1:26
    Ao passar a mão em frente ao mapa,
  • 1:26 - 1:31
    o nome do imóvel,
    do prédio ou cemitério, aparece.
  • 1:31 - 1:33
    E essas formas brancas que você pode ver
  • 1:33 - 1:36
    são todos os hospitais, asilos,
  • 1:36 - 1:39
    necrotérios e cemitérios da cidade.
  • 1:39 - 1:41
    Na verdade a maior parte são cemitérios.
  • 1:42 - 1:46
    Queremos mostrar que,
    apesar da morte e funeral
  • 1:46 - 1:48
    serem coisas nas quais podemos não pensar,
  • 1:48 - 1:51
    estão ao nosso redor,
    e são parte importante de nossas cidades.
  • 1:53 - 1:57
    Em torno de meio milhão de pessoas
    morre no Reino Unido a cada ano,
  • 1:57 - 2:00
    e em torno de um quarto delas
    desejam ser enterradas.
  • 2:00 - 2:01
    Mas o Reino Unido,
  • 2:01 - 2:03
    como muitos países da Europa Ocidental,
  • 2:03 - 2:07
    está ficando sem espaço para enterros,
    especialmente nas principais cidades.
  • 2:07 - 2:11
    A Greater London Authority
    já está ciente disso
  • 2:11 - 2:14
    e as principais causas são:
    o crescimento da população;
  • 2:14 - 2:17
    o fato de os cemitérios existentes
    estarem quase lotados;
  • 2:17 - 2:22
    ser costume no Reino Unido os túmulos
    serem considerados ocupados para sempre;
  • 2:22 - 2:23
    e uma pressão pelo desenvolvimento,
  • 2:23 - 2:29
    pois as pessoas querem usar a mesma terra
    para construir casas, escritórios e lojas.
  • 2:30 - 2:32
    Surgiram algumas soluções,
  • 2:32 - 2:35
    como por exemplo,
    reusar os túmulos após 50 anos,
  • 2:35 - 2:38
    ou talvez fazer covas
    quatro vezes mais profundas,
  • 2:38 - 2:41
    para que quatro pessoas pudessem
    ser enterradas no mesmo lote,
  • 2:41 - 2:44
    fazendo uso mais eficiente da terra,
  • 2:44 - 2:47
    e dessa forma, quem sabe Londres
    ainda terá espaço para enterrar as pessoas
  • 2:47 - 2:49
    num futuro próximo.
  • 2:49 - 2:53
    Mas, tradicionalmente, cemitérios
    não são cuidados pelas autoridades locais.
  • 2:53 - 2:57
    De fato, o que surpreende
    é que não é obrigação legal
  • 2:57 - 3:00
    de ninguém no Reino Unido
    de prover espaço para enterros.
  • 3:00 - 3:05
    Tradicionalmente, isso é feito
    por organizações privadas e religiosas,
  • 3:05 - 3:08
    como igrejas, mesquitas e sinagogas.
  • 3:08 - 3:12
    Mas, ocasionalmente,
    um grupo com fins lucrativos
  • 3:12 - 3:14
    tem tido interesse em atuar nessa área.
  • 3:14 - 3:20
    Eles buscam sepulturas
    com menor tamanho e maior preço,
  • 3:20 - 3:22
    e essa parece ser uma forma
    de ganhar muito dinheiro.
  • 3:23 - 3:28
    Assim, se você quiser começar
    seu próprio cemitério, você pode.
  • 3:28 - 3:30
    Um casal em South Wales
  • 3:30 - 3:33
    tinha uma granja
    e vários terrenos próximos
  • 3:33 - 3:35
    e queria explorar essas terras.
  • 3:35 - 3:37
    Eles tiveram várias ideias.
  • 3:37 - 3:40
    Primeiro pensaram em fazer
    um estacionamento de trailers,
  • 3:40 - 3:42
    mas o conselho municipal não permitiu.
  • 3:42 - 3:46
    Pensaram em investir na criação de peixes,
    mas o conselho também não permitiu.
  • 3:46 - 3:48
    Então eles tiveram a ideia
    de fazer um cemitério
  • 3:48 - 3:53
    e calcularam que dessa forma
    poderiam aumentar o valor da terra
  • 3:53 - 3:58
    de mais ou menos 95 mil libras
    para mais de 1 milhão de libras.
  • 3:59 - 4:04
    Mas voltando para a ideia
    de lucrar com cemitérios,
  • 4:04 - 4:06
    parece um pouco absurdo, não?
  • 4:06 - 4:10
    A verdade é que esse
    alto custo das sepulturas
  • 4:10 - 4:12
    tem algo de muito enganoso.
  • 4:12 - 4:14
    Eles parecem ser caros,
  • 4:14 - 4:18
    mas o custo reflete o fato da sepultura
    precisar de manutenção.
  • 4:18 - 4:21
    Por exemplo, a grama tem que ser cortada
    pelos próximos 50 anos.
  • 4:21 - 4:24
    Isso torna muito difícil
    ganhar dinheiro com cemitérios.
  • 4:24 - 4:27
    E por essa razão normalmente
    eles são mantidos pela prefeitura
  • 4:27 - 4:29
    ou por um grupo sem fins lucrativos.
  • 4:29 - 4:32
    De qualquer forma,
    a prefeitura concedeu a permissão,
  • 4:32 - 4:34
    e agora eles estão tentando
    construir seu cemitério.
  • 4:34 - 4:38
    Para explicar como isso funciona:
  • 4:38 - 4:40
    Para construir algo no Reino Unido,
  • 4:40 - 4:42
    como um cemitério, por exemplo,
  • 4:42 - 4:45
    primeiro é preciso
    requerer uma licença.
  • 4:45 - 4:49
    Então se quero construir
    um novo prédio para um cliente,
  • 4:49 - 4:51
    ou quero ampliar minha casa,
  • 4:51 - 4:55
    ou se tenho uma loja
    e quero transformá-la em escritório,
  • 4:55 - 4:56
    preciso fazer vários desenhos,
  • 4:56 - 4:59
    e submetê-los ao conselho municipal
    para ter a permissão.
  • 4:59 - 5:03
    Eles vão analisar como isso
    se enquadra na redondeza,
  • 5:03 - 5:05
    então vão olhar a aparência.
  • 5:05 - 5:10
    Mas também vão pensar sobre o impacto
    que terá no meio ambiente local.
  • 5:10 - 5:12
    E vão analisar se essa obra
  • 5:12 - 5:18
    vai causar poluição ou afetar o trânsito.
  • 5:18 - 5:20
    Mas também pensam nas coisas boas.
  • 5:20 - 5:23
    Vai trazer serviços locais,
    como lojas para a vizinhança
  • 5:23 - 5:25
    que os moradores gostarão de frequentar?
  • 5:26 - 5:29
    E vão pesar as vantagens e desvantagens
  • 5:29 - 5:30
    e tomar uma decisão.
  • 5:31 - 5:35
    Então é assim que funciona se eu quiser
    construir um grande cemitério.
  • 5:35 - 5:37
    Mas e se eu tiver um pedaço de terra
  • 5:37 - 5:41
    e quiser enterrar poucas pessoas,
    como cinco ou seis?
  • 5:42 - 5:45
    Bem, então eu não preciso
    permissão de ninguém!
  • 5:46 - 5:50
    Praticamente não existe regulamentação
    sobre enterros no Reino Unido,
  • 5:50 - 5:54
    e o pouco que há, trata
    sobre não poluir cursos de água,
  • 5:54 - 5:57
    como rios e mananciais.
  • 5:57 - 6:01
    Então, na verdade, se você quiser fazer
    seu próprio minicemitério, você pode.
  • 6:01 - 6:05
    Mas na verdade, quem faz isso?
  • 6:06 - 6:10
    Bem, uma família aristocrática,
    com um imóvel muito grande,
  • 6:10 - 6:12
    pode ter um mausoléu
  • 6:12 - 6:14
    e enterrar a família ali.
  • 6:15 - 6:17
    Mas o mais estranho
  • 6:17 - 6:20
    é que você não precisa ter
    um pedaço de terra de um certo tamanho
  • 6:20 - 6:23
    antes de receber a permissão
    de enterrar pessoas nele.
  • 6:23 - 6:25
    E isso significa que, tecnicamente,
  • 6:25 - 6:29
    a permissão pode se aplicar
    ao pátio nos fundos de sua casa.
  • 6:29 - 6:30
    (Risos)
  • 6:31 - 6:34
    E se você tentasse fazer isso em sua casa?
  • 6:34 - 6:38
    Bem, alguns conselhos municipais
    têm orientações em seus sites
  • 6:38 - 6:40
    que podem ajudá-lo.
  • 6:40 - 6:42
    A primeira coisa que eles dizem
  • 6:42 - 6:46
    é que você precisa de um certificado
    de funeral antes de prosseguir.
  • 6:46 - 6:49
    Você não pode simplesmente
    matar pessoas e enterrá-las no pátio.
  • 6:49 - 6:52
    (Risos)
  • 6:52 - 6:56
    Eles também dizem que você precisa
    guardar um registro do local da sepultura.
  • 6:56 - 6:59
    Mas são mais ou menos esses
    os requisitos formais.
  • 6:59 - 7:02
    Eles também avisam
    que seus vizinhos podem não gostar,
  • 7:02 - 7:06
    mas, legalmente falando,
    não há muito que eles possam fazer.
  • 7:06 - 7:11
    E caso algum de vocês
    ainda tenha em mente a ideia de lucro,
  • 7:11 - 7:13
    sobre quanto custam essas sepulturas
  • 7:13 - 7:16
    e quanto dinheiro você pode ganhar,
  • 7:16 - 7:18
    eles avisam que isso pode fazer
    com que o valor de sua casa
  • 7:18 - 7:20
    caia em torno de 20%.
  • 7:20 - 7:22
    Mas o mais provável
  • 7:22 - 7:25
    é que ninguém vai querer
    comprar sua casa depois disso.
  • 7:26 - 7:29
    O que me parece fascinante
  • 7:29 - 7:34
    é o fato de que isso resume
    muito de nossas atitudes perante a morte.
  • 7:34 - 7:38
    No Reino Unido, e acho que os números
    são similares no resto da Europa,
  • 7:38 - 7:42
    somente 30% das pessoas
    já falaram para alguém
  • 7:42 - 7:44
    sobre seus desejos acerca da morte,
  • 7:44 - 7:46
    e mesmo as pessoas com mais de 75 anos,
  • 7:46 - 7:49
    apenas 45% ja falaram sobre isso.
  • 7:49 - 7:54
    E as razões para isso... você sabe,
    eles pensam na morte como algo distante
  • 7:54 - 7:58
    ou pensam que deixarão as pessoas
    desconfortáveis ao falar sobre isso.
  • 7:58 - 8:00
    E até certo ponto
  • 8:00 - 8:04
    existem outras pessoas
    para tomar conta disso por nós.
  • 8:04 - 8:07
    O governo tem todas essas
    regulamentações e burocracias
  • 8:07 - 8:09
    sobre como enterrar um morto, por exemplo.
  • 8:09 - 8:11
    E existem os agentes funerários,
  • 8:11 - 8:14
    que dedicam sua vida profissional
    a esses assuntos.
  • 8:14 - 8:16
    Mas quando se trata de nossas cidades
  • 8:16 - 8:19
    e de pensar sobre como a morte
    se encaixa em nossas cidades,
  • 8:19 - 8:23
    existe muito menos
    regulamentação, projeto e reflexão
  • 8:23 - 8:24
    do que podemos imaginar.
  • 8:24 - 8:27
    Então não estamos pensando sobre isso,
  • 8:27 - 8:29
    mas imaginamos que outras pessoas pensem.
  • 8:29 - 8:32
    Mas elas também não estão
    se preocupando com isso.
  • 8:32 - 8:33
    Obrigada.
  • 8:33 - 8:36
    (Aplausos)
Title:
O que acontece quando uma cidade fica sem espaço para seus mortos
Speaker:
Alison Killing
Description:

No Reino Unido, "se você quiser começar seu próprio cemitério", diz Alison Killing, "você pode". Ela pensa muito sobre onde morremos e somos enterrados, e nessa palestra a arquiteta e TED Fellow oferece uma perspectiva econômica e social reveladora sobre uma característica negligenciada de nossas cidades: os cemitérios. Falando especificamente sobre o Reino Unido, ela explica as leis fascinantes, às vezes divertidas, e normalmente contraditórias, sobre onde você pode ser enterrado.

more » « less
Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
08:49

Portuguese, Brazilian subtitles

Revisions