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Como ensinamos a empatia? — Jonathan Juravich

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    Cresci com pais trabalhadores
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    e os horários deles nem sempre
    jogavam certo,
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    por isso o meu irmão e eu
    passávamos longas tardes e dias de verão
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    em casa dos meus avós.
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    Era um local onde tínhamos de pôr
    as coisas nos seus lugares
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    e não podíamos deixar os objetos
    no meio do chão.
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    Não porque os meus avós fossem rigorosos.
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    A minha avó, Josie, era cega.
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    Se alterássemos aquela ordem
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    e não puséssemos as coisas
    nos sítios certos,
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    isso podia causar-lhe confusão, frustração
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    e até podia magoá-la fisicamente.
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    Lembro-me, em criança, de tentar perceber
    o que seria andar pelos espaços
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    sem o sentido da visão.
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    Fechava os olhos bem fechados
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    e tentava lembrar-me do aspeto
    da sala de estar dos meus avós
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    — andava com as mãos esticadas
    à minha frente —
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    até esbarrar numa cadeira,
    depois num candeeiro, ou na parede.
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    Era nesses momentos que sentia
    um grande respeito por ela.
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    Nas ocasiões em que o meu irmão e eu
    passávamos o dia inteiro
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    em casa dos meus avós,
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    levávamos as cassetes de vídeo
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    — lembram-se o que havia antes dos DVD
    ou dos serviços de gravações?
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    Muitas dessas cassetes, senão todas,
    eram de filmes da Disney.
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    Nós éramos crianças americanas
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    dos finais dos anos 80,
    princípios dos anos 90.
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    Sentávamo-nos na carpete vermelha
    a olhar para o grande televisor,
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    encaixado num armário ainda maior.
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    No intervalo de preparar as refeições,
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    a minha avó aparecia e sentava-se
    na sua poltrona e dizia:
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    "Contem-me essa história",
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    referindo-se à ação que decorria no ecrã.
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    O Aladino era uma das histórias
    que gostávamos de ver todos juntos.
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    Eu descrevia as paisagens do deserto,
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    a roupa das personagens,
    a expressão dos rostos.
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    Lembro-me de ela sorrir
    quando eu descrevia um "novo mundo"
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    e aquela viagem de tapete mágico
    através das nuvens.
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    Eu queria que ela se sentisse incluída,
    que fizesse parte do que estávamos a ver.
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    Aqueles pensamentos eram uma resposta
    ao meu sentimento de empatia.
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    Eu tive esta infância especial
    em que aprendia a empatia
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    através da minha relação com a minha avó,
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    através de vermos filmes da Disney.
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    Mas eu sei que nem toda a gente
    tem uma experiência assim.
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    Mas creio que é importante
    e fundamental
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    proporcionarmos oportunidades
    às crianças
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    de terem relações que promovam
    ligações de empatia.
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    Num aparte rápido, sei que a palavra
    empatia tem uma certa bagagem.
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    Talvez nos vossos círculos seja
    uma palavra que se usa tanto
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    que já estão fartos de a ouvir
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    ou já perdeu o seu sentido.
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    Ou talvez já tenham ouvido dizer
    que a empatia é uma aptidão "soft"
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    que precisa de ser partilhada
    com os estudantes.
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    Eu afirmo que não tem nada
    de "soft" nem de piegas.
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    Pelo contrário, é uma aptidão
    fundamental que tem de ser aperfeiçoada
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    à medida que aprendemos
    o que significa ser humano.
  • 3:02 - 3:04
    Sou professor de arte do ensino básico.
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    Ensino aos meus alunos
    os artistas, a cultura
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    e o uso intencional
    dos materiais de arte.
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    Mas também considero
    que devo envolvê-los
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    em conversas sobre educação de carácter,
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    especificamente, a empatia.
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    Mas como é que costumamos definir
    empatia às crianças mais pequenas?
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    Pensem nisso.
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    Muitas vezes, podemos dizer:
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    "Mete-te na pele do outro".
  • 3:28 - 3:30
    Claro que isto funciona como uma metáfora
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    mas queria que se pusessem
    na cabeça duma criança do pré-escolar.
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    Essa criança pode ficar a pensar:
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    "Porque é que me hei de meter
    na pele do outro?"
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    Para ela, é muito estranho,
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    não percebe a linguagem que usamos
    para este tópico tão importante.
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    Mesmo uma simples definição, como:
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    "compreender e partilhar
    os sentimentos dos outros"
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    é muito difícil de interiorizar
    numa criança de cinco anos.
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    Em vez disso, são necessárias conversas
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    sobre comportamentos práticos,
    que se podem observar.
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    Como é que eu mostro empatia na aula,
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    no parque com os meus amigos,
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    com a minha avó,
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    com alguém que é diferente de mim,
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    com alguém que age de modo
    diferente de mim?
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    Há um ano, eu estava na escola
    com colegas meus
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    e estávamos a falar
    sobre educação do carácter.
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    Estávamos a desenvolver
    um programa para toda a escola
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    e andávamos às voltas
    com definições e explicações.
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    Então, uma noite de verão
    tivemos uma revelação
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    — abrimos os olhos para o facto
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    de que a raiz da empatia
    está na consciência.
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    Consciência: "reparar no que acontece
    connosco e à nossa volta
  • 4:41 - 4:44
    "de modo a podermos fazer uma escolha".
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    Podemos ter uma reação,
    ter uma reação de empatia.
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    Mas, primeiro, temos de ter
    a consciência de nós mesmos.
  • 4:54 - 4:57
    Sou eu quem faz as compras
    da mercearia para a família.
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    Agarro na lista e aprecio
    o desafio da procura
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    enquanto tento não gastar
    o orçamento todo,
  • 5:02 - 5:03
    o que normalmente consigo fazer.
  • 5:03 - 5:06
    Uma semana, disseram-me
    que era preciso comprar guardanapos.
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    Encontrei estas belezas com ilustrações.
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    São guardanapos de conversa.
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    Apreciávamo-los bem
    quando nos sentávamos à mesa.
  • 5:14 - 5:18
    Todas as noites, à hora do jantar,
    juntávamo-nos e respondíamos-lhes
  • 5:18 - 5:20
    e divertíamo-nos, ríamos juntos.
  • 5:20 - 5:24
    Mas fizeram-me pensar numa oportunidade
    muito prática de ensinar
  • 5:24 - 5:27
    que eu tinha com a minha família.
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    Pensei que falamos muitas vezes
    dos nossos sentimentos:
  • 5:31 - 5:33
    "Estou feliz", "Estou triste",
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    mas passamos algum tempo a falar
    porque é que nos sentimos assim?
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    Assim, habituei-me a perguntar
    à minha filha de cinco anos
  • 5:41 - 5:44
    como tinha sido o dia na escola,
    desta forma:
  • 5:44 - 5:47
    "Conta-me qual a parte do dia
    em que te sentiste mais orgulhosa".
  • 5:48 - 5:51
    "Conta-me qual a parte do dia
    em que te sentiste frustrada".
  • 5:51 - 5:55
    "Conta-me qual a parte do dia
    em que ficaste mesmo entusiasmada".
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    Em noites diferentes, falava-lhe
    de uma emoção ou sentimento diferente,
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    A minha pergunta preferida era:
  • 6:01 - 6:04
    "Conta-me qual a parte do dia
    em que riste tanto que caíste no chão".
  • 6:04 - 6:07
    E não me esquecia,
    enquanto adulto, de lhe dizer
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    que também eu, naquele dia,
    tinha momentos em que tinha medo
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    e momentos em que me sentia orgulhoso
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    e, claro, momentos em que me ria tanto
    que caía no chão.
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    Mas, sabem, ela é esperta,
    muito esperta.
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    Um disse, eu disse:
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    "Conta-me qual a parte do dia
    em que ficaste triste".
  • 6:29 - 6:30
    E ela disse:
  • 6:30 - 6:34
    "Eu não estive triste,
    mas a minha amiga Ellen ficou triste
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    "quando não conseguiu
    brincar com os cubos".
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    Como veem, os comportamentos observados
    e os sentimentos dos outros
  • 6:42 - 6:46
    passaram a fazer parte de quem ela é
    enquanto pessoa, e enquanto amiga.
  • 6:47 - 6:51
    Tudo isso nos leva
    a ter consciência dos outros.
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    Eu estava a ensinar arquitetura
    a uma unidade
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    quando o furacão Harvey atingiu Houston.
  • 6:57 - 6:59
    Era uma aula para alunos do 4.º ano.
  • 6:59 - 7:02
    Vários alunos do 4.º ano
    vieram fazer perguntas
  • 7:02 - 7:04
    sobre como este desastre natural
  • 7:04 - 7:07
    podia afetar os edifícios da cidade.
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    Essas perguntas que fizeram
    levaram-nos a outras conversas
  • 7:11 - 7:14
    e em breve estávamos a falar
    sobre como os elementos
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    podiam afetar a vida
    das pessoas atingidas.
  • 7:17 - 7:21
    Em breve, toda a turma estava
    a conversar e eu limitei-me a ouvir,
  • 7:22 - 7:25
    enquanto os observava
    a transformar a notícia
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    na aula de arte dos alunos em Houston
  • 7:28 - 7:32
    e a observá-los a quase se sentirem
    naquele local
  • 7:32 - 7:36
    para depois começarem a falar
    do que aconteceria aos materiais de arte
  • 7:36 - 7:40
    e à mobília e a todas as obras de arte
    em que eles tinham gastado o seu tempo.
  • 7:41 - 7:45
    Enquanto os escutava,
    quis proporcionar-lhes outra oportunidade,
  • 7:45 - 7:47
    uma forma de processarem artisticamente
  • 7:47 - 7:50
    os pensamentos
    e os sentimentos que tinham.
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    Apresentei-lhes dois artistas
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    que cobriam artigos e salas
    e mesmo casas com bolinhas.
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    Esses artistas estão a falar
    da nossa unidade, dos nossos traumas,
  • 8:03 - 8:05
    da comunidade.
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    Em resultado disso, criámos
    esta estrutura de uma casa com 1,5 m.
  • 8:10 - 8:13
    Agora há muito mais aqui
    do que bolinhas brincalhonas,
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    cada uma destas bolas representa
    um material de arte
  • 8:17 - 8:20
    que cada aluno do 4.º ano doou
    para uma escola em Houston.
  • 8:22 - 8:28
    Não foram medicamentos,
    nem comida, mas materiais de arte.
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    Tornou-se uma coisa muito real para eles.
  • 8:31 - 8:36
    A ideia de que a nossa sala,
    a nossa sala de arte é um local seguro
  • 8:36 - 8:40
    onde eles aprendem sobre si mesmos,
    sobre a comunidade, sobre o mundo,
  • 8:41 - 8:42
    tudo isto enquanto se divertem.
  • 8:42 - 8:45
    A ideia de que devia haver
    crianças em Houston
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    que talvez não tivessem
    essas oportunidades
  • 8:48 - 8:50
    mexeu com eles.
  • 8:50 - 8:53
    Tornou-se real para eles.
  • 8:54 - 8:57
    Aqueles pensamentos,
    aquele sentimento de empatia
  • 8:57 - 9:00
    levou-os a uma ação prática.
  • 9:01 - 9:04
    A tomada de consciência
    levou-os a uma ação prática.
  • 9:06 - 9:08
    Eu já não me sento no chão
    em frente da minha avó
  • 9:08 - 9:10
    a ver filmes da Disney.
  • 9:10 - 9:12
    Esses dias já vão longe.
  • 9:12 - 9:16
    Mas agora, sento-me no chão
    junto da minha filha de cinco anos,
  • 9:16 - 9:18
    que também se chama Josie.
  • 9:18 - 9:22
    Vemos como Aladino e Jasmine
    voam no tapete mágico.
  • 9:23 - 9:26
    E há um momento em que o tapete
    faz um grande mergulho
  • 9:26 - 9:32
    e a princesa Jasmime, cheia de medo,
    tapa os olhos com as mãos.
  • 9:34 - 9:38
    Quando ela faz isso no ecrã,
    a minha filha de cinco anos faz o mesmo.
  • 9:39 - 9:43
    Ela sente empatia
    por aquela princesa animada,
  • 9:43 - 9:46
    sente medo ao mesmo tempo que ela.
  • 9:47 - 9:52
    Mas é então que Aladino reage
    a Jasmine e diz:
  • 9:52 - 9:55
    "Não te atrevas a fechar os olhos"
  • 9:55 - 9:58
    e afasta-lhe as mãos do rosto,
  • 9:58 - 10:01
    abrindo-lhe os olhos
    às experiências à volta deles.
  • 10:02 - 10:07
    Quando ele faz isso, eu faço o mesmo
    à minha filha de cinco anos.
  • 10:07 - 10:09
    Afasto-lhe os dedos do rosto.
  • 10:09 - 10:14
    Temos de abrir os olhos das crianças
    para o mundo à volta delas,
  • 10:14 - 10:20
    para as envolvermos nas oportunidades,
    nos pensamentos, nas ações e nas relações
  • 10:21 - 10:24
    que as levem não só
    a "meterem-se na pele dos outros"
  • 10:24 - 10:28
    mas a viver vidas que considerem
    os outros mais do que elas próprias.
  • 10:28 - 10:29
    Obrigado.
  • 10:29 - 10:32
    (Aplausos)
Title:
Como ensinamos a empatia? — Jonathan Juravich
Description:

Quando dizemos a uma criança do pré-escolar para "se meter na pele de outra pessoa" isso pode ser um pouco confuso. Porque é que ela se deve meter na pele de outra pessoa? O Professor do Ano de Ohio eleito em 2018, professor de arte, Jonathan Juravich, está interessado em encontrar formas de ensinar a empatia que passe para além duma frase feita, e despertar a consciência dos outros que pode ser expressa através da ação. Partindo das experiências na sua sala de aula e em casa, Jonathan descreve vários exercícios que usa para ajudar os alunos a identificar as suas emoções e investir nos sentimentos dos outros.

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English
Team:
closed TED
Project:
TED-Ed
Duration:
10:36

Portuguese subtitles

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