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Amor e diversidade | Beto de Jesus | TEDxVilaMadáSalon

  • 0:13 - 0:16
    Beto de Jesus é o amigo
    de uma vida inteira.
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    A gente se conheceu nos anos 80
  • 0:18 - 0:22
    e, de lá pra cá, a gente vem
    se encontrando em várias atividades.
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    Ele é o amigo de uma vida inteira também
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    porque ele me representa e representa
    milhões de pessoas no mundo inteiro,
  • 0:28 - 0:32
    nesta causa dos direitos LGBT.
  • 0:32 - 0:34
    Não é uma atividade fácil.
  • 0:34 - 0:38
    Ele tem um ativismo
    superimportante nesse tema
  • 0:38 - 0:41
    e com algumas características
    que eu admiro muito.
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    Uma delas é a alegria.
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    Ele jamais deixa o ativismo
    ser uma coisa chata, rancorosa,
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    mas ele sempre traz sempre
    a dimensão da vida, da alegria,
  • 0:51 - 0:56
    sempre com o foco na questão LGBT
    e em todas as outras causas sociais.
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    Ele gosta da diversidade.
  • 0:58 - 1:01
    Ele sempre trabalha também com a questão
    do negro, a pessoa com deficiência,
  • 1:01 - 1:06
    ele tem o que dizer sobre a questão
    da mulher, as questões de classe social,
  • 1:06 - 1:08
    é um educador de mão cheia...
  • 1:08 - 1:09
    Oi, Beto. Agora é a tua vez.
  • 1:09 - 1:11
    Vem aqui para o palco,
    pra dar o seu depoimento
  • 1:11 - 1:15
    dessa tua vida linda,
    fantástica e transformadora.
  • 1:17 - 1:18
    Boa noite.
  • 1:19 - 1:23
    Bom, eu queria dizer
    que, além de ser um homem gay,
  • 1:23 - 1:25
    eu sou um homem feminista,
  • 1:25 - 1:29
    eu sou um homem antirracista,
    eu sou um homem de esquerda,
  • 1:29 - 1:34
    mas, atualmente, entre direita e esquerda,
    prefiro dizer que eu sou viado...
  • 1:34 - 1:36
    (Risos)
  • 1:36 - 1:39
    porque a direita é a direita,
    né gente, não dá,
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    e a esquerda agora,
    com um projeto desenvolvimentista,
  • 1:43 - 1:46
    e tão ligado aos tradicionais,
  • 1:46 - 1:51
    ao que tem de mais raivoso
    em relação às religiões,
  • 1:51 - 1:56
    a esse povo que está fazendo
    escola no nosso Congresso,
  • 1:56 - 1:59
    tirando os nossos direitos,
    tirando o direito de mulheres,
  • 1:59 - 2:02
    tirando o direito de gays... não dá, né.
  • 2:02 - 2:06
    Então, prefiro continuar viado,
    mas eu sou um homem de esquerda.
  • 2:06 - 2:08
    Quero dizer que sou
    um homem de esquerda.
  • 2:08 - 2:09
    Bom...
  • 2:12 - 2:16
    Ao ser chamado pra falar
    sobre as experiências que transformam,
  • 2:16 - 2:21
    eu não poderia começar sem dizer
    que cada um de vocês transforma também.
  • 2:21 - 2:25
    Eu não gosto dessa ideia de falar:
    "Ah, eu sou diferente,
  • 2:25 - 2:29
    Respeite a minha diferença",
    porque, se eu falo que eu sou diferente,
  • 2:29 - 2:34
    eu estou falando que tem alguém
    que estabeleceu o que é o certo,
  • 2:34 - 2:39
    e não tem o certo e o errado quando
    a gente está falando de quem a gente ama.
  • 2:39 - 2:42
    Se eu amo um homem,
    é porque eu amo um homem.
  • 2:42 - 2:45
    Se você ama um homem sendo mulher,
    é porque você ama um homem sendo mulher.
  • 2:45 - 2:48
    Se você é uma mulher que ama
    outra mulher, é porque você ama,
  • 2:48 - 2:51
    e não tem que colocar
    isso numa hierarquia,
  • 2:51 - 2:53
    não tem que colocar isso numa ordem,
  • 2:53 - 2:59
    porque toda vez que a gente trabalha
    com esse tipo de pensamento que é binário,
  • 2:59 - 3:01
    a gente estabelece uma hierarquia
  • 3:01 - 3:03
    e, quando a gente
    estabelece essa hierarquia,
  • 3:03 - 3:09
    a gente começa a pisar
    e a desenvolver preconceitos.
  • 3:11 - 3:15
    A minha trajetória como homem gay
    é uma coisa muito interessante
  • 3:15 - 3:18
    porque eu não penso que eu sou gay.
    Vocês acreditam nisso? (Risos)
  • 3:18 - 3:20
    Eu não acordo de manhã
    e penso que eu sou gay!
  • 3:20 - 3:23
    "Ah, eu vou lá no TED hoje!
    Ah, eu vou de gay."
  • 3:23 - 3:25
    Bom, esse lenço é uma coisa assim, né...
  • 3:25 - 3:27
    (Risos)
  • 3:27 - 3:30
    É uma coisa que me acompanha,
    o óculos também, então, não sei,
  • 3:30 - 3:33
    mas, na verdade, foram coisas
    que foram acontecendo.
  • 3:33 - 3:37
    Eu venho do movimento social
    e eu entrei no movimento gay tarde.
  • 3:37 - 3:39
    Eu entrei em 95.
  • 3:39 - 3:42
    Fui pra uma conferência
    de direitos de gays e lésbicas,
  • 3:42 - 3:45
    uma conferência mundial,
    no Rio de Janeiro,
  • 3:45 - 3:47
    e as coisas foram
    acontecendo na minha vida.
  • 3:47 - 3:50
    Hoje, sou o suplente do secretário-geral
    dessa organização no mundo.
  • 3:50 - 3:53
    Quer dizer, assim, foi uma coisa
    que veio vindo com a outra,
  • 3:53 - 3:59
    e teve um momento na minha vida
    em que eu parei e pensei:
  • 3:59 - 4:01
    "O que eu estou fazendo é perigoso".
  • 4:02 - 4:05
    Eu recebi uma bomba.
    Alguém aqui já recebeu uma bomba?
  • 4:05 - 4:09
    Eu recebi uma bomba no meu escritório,
    uma bomba, uma caixa, um pacote,
  • 4:09 - 4:11
    e vinha da Associação Israelita.
  • 4:11 - 4:14
    Falei: "Nossa! Que coisa é essa?"
    E era uma bomba.
  • 4:14 - 4:18
    Foi o dia inteiro um inferno,
    chamar o pessoal anti-bombas...
  • 4:18 - 4:22
    Era uma bomba que... essa cara linda
    que eu tenho ia ficar toda retalhada,
  • 4:22 - 4:24
    porque era muito caco de vidro,
  • 4:24 - 4:27
    era muito parafuso, prego,
    aquela coisa que explode...
  • 4:27 - 4:30
    Eu ia ficar horrível, ia ter que fazer
    mil plásticas pra ficar...
  • 4:30 - 4:33
    se eu ficasse vivo,
    obviamente, né... morrer de susto.
  • 4:33 - 4:38
    E aí, eu falei: "Olha só, de verdade,
    isso que a gente está fazendo..."
  • 4:38 - 4:40
    E isso veio depois da Parada Gay.
  • 4:40 - 4:42
    Eu fui um dos fundadores
    da Parada Gay aqui de São Paulo,
  • 4:42 - 4:46
    desse movimento, e fui presidente
    durante um tempo,
  • 4:46 - 4:49
    e a gente tinha feito a Parada de 2000,
  • 4:49 - 4:51
    que foi aquela Parada
    que deu uma repercussão danada!
  • 4:51 - 4:53
    Tinha mais de 100 mil pessoas na rua,
  • 4:53 - 4:55
    foi capa de tudo quanto
    era jornal, era um inferno.
  • 4:55 - 5:01
    Em seguida, a gente recebeu essa bomba,
    mas acabou não acontecendo nada,
  • 5:01 - 5:03
    e isso só intensificou a minha luta,
  • 5:03 - 5:06
    só me disse que eu estava
    no caminho certo.
  • 5:06 - 5:12
    Então, pra mim, pensar a luta
    dos direitos das pessoas lésbicas,
  • 5:12 - 5:15
    dos gays, das travestis e dos bissexuais
  • 5:15 - 5:19
    é algo que eu não posso
    e não penso descolado das outras lutas.
  • 5:19 - 5:23
    Eu não quero um mundo
    em que somente os gays tenham direito.
  • 5:23 - 5:26
    Ai, deve ser muito chato,
    muito aborrecido, né...
  • 5:26 - 5:29
    E, se a gente começa a entender
    um pouquinho a vida da gente,
  • 5:29 - 5:31
    todo preconceito que nós sofremos,
  • 5:31 - 5:34
    nessa perspectiva da orientação sexual
    e da identidade de gênero,
  • 5:34 - 5:38
    tem uma base que é muito
    comum às mulheres.
  • 5:38 - 5:40
    Quer dizer, assim,
    a gente vive numa sociedade
  • 5:40 - 5:44
    em que todo poder é masculino,
    é branco, etc., etc.,
  • 5:44 - 5:47
    o que é estabelecido como papel
    da mulher na sociedade...
  • 5:47 - 5:50
    Claro que as mulheres estão lutando,
    vamos lutar e vamos pra cima,
  • 5:50 - 5:54
    mas, assim, a gente ainda vive um ranço,
  • 5:54 - 5:57
    e, na verdade, esse movimento
    que violenta, que machuca,
  • 5:57 - 5:58
    que bate, que mata...
  • 5:58 - 6:04
    Trezentos e trinta e nove
    assassinatos no ano passado,
  • 6:04 - 6:07
    de gays, de lésbicas e de travestis,
  • 6:07 - 6:12
    crimes horrorosos,
    porque não está matando o corpo só;
  • 6:12 - 6:16
    está matando aquilo que representa,
    aquilo que significa,
  • 6:16 - 6:22
    e é uma coisa muito forte
    porque, à medida que nós rompemos
  • 6:22 - 6:26
    com esse rol masculino e dominante,
    na perspectiva de gênero,
  • 6:26 - 6:30
    é aí que desparafusa a cabeça das pessoas!
  • 6:30 - 6:33
    Você imagina: você nasce
    com o corpo masculino,
  • 6:33 - 6:36
    numa sociedade falocrática,
    que bate o pau na mesa pra resolver,
  • 6:36 - 6:39
    e a pessoa fala assim:
    "Eu não quero esse corpo.
  • 6:39 - 6:44
    Esse corpo não me representa.
    Eu quero um outro corpo".
  • 6:44 - 6:45
    Então, as pessoas piram.
  • 6:45 - 6:48
    Ou então, aquele macho mais empedernido,
  • 6:48 - 6:51
    e aí tem aquela gatinha
    gostosa e ela fala assim:
  • 6:51 - 6:55
    "Beijo pra você. Eu quero outra gata.
    Eu não quero dormir com você.
  • 6:55 - 6:57
    Eu não quero fazer amor com você.
    Eu amo outra pessoa".
  • 6:57 - 7:00
    Então, a gente começa a mexer
    numas estruturas de poder...
  • 7:00 - 7:05
    Então, quando falam: "Ai, a homofobia
    é só a raiva contra gays", não, não é!
  • 7:05 - 7:08
    É porque a gente está
    estabelecendo outros parâmetros,
  • 7:08 - 7:10
    outras possibilidades,
  • 7:10 - 7:15
    e isso mexe diretamente
    com o poder de algumas pessoas,
  • 7:15 - 7:20
    e nós temos que desconstruir,
    nós temos que pensar outro modelo,
  • 7:20 - 7:21
    outra forma.
  • 7:21 - 7:25
    E aí, o que eu tenho trabalhado muito...
    Eu gosto de óculos, gente!
  • 7:25 - 7:27
    Gosto de olhos, assim. É uma tara.
  • 7:27 - 7:30
    Assim, óculos pra mim é que nem blusa:
    pra combinar com a cor, assim,
  • 7:30 - 7:32
    um óculos preto com uma blusa preta...
  • 7:32 - 7:35
    Às vezes eu mudo também a cor;
    mas eu gosto muito de óculos.
  • 7:35 - 7:37
    E aí, é uma coisa na minha cabeça, assim:
  • 7:37 - 7:42
    toda vez que eu entro em contato
    com uma outra diversidade,
  • 7:43 - 7:45
    com uma outra possibilidade,
  • 7:45 - 7:48
    com uma outra vivência,
    com uma outra expressão,
  • 7:48 - 7:53
    eu ganho um óculos novo pra olhar o mundo!
    E isso não é maravilhoso?
  • 7:53 - 7:56
    Eu tenho muito dó
    de quem só tem um óculos. (Risos)
  • 7:56 - 8:00
    Gente, é muito ruim olhar a vida
    só numa perspectiva, não é?
  • 8:00 - 8:05
    Então, assim, eu,
    durante muito tempo, dirigi escola,
  • 8:05 - 8:09
    e aí, tinha uma história de um menino
    que queria fazer capoeira
  • 8:09 - 8:13
    e a mãe não queria deixar;
    era uma confusão, era uma coisa terrível.
  • 8:13 - 8:17
    Falei: "Mãe, por que ele não pode
    fazer capoeira? Ele pode escolher".
  • 8:17 - 8:20
    "Ah, ele não tem uma perna."
    Eu falei: "Hã? Oi!"
  • 8:21 - 8:23
    E a mãe achava que o menino
    não podia fazer.
  • 8:23 - 8:25
    "Mas, mãe!
  • 8:25 - 8:30
    Olha, a capoeira é música,
    a capoeira é cultura de um povo,
  • 8:30 - 8:33
    a capoeira é história,
    eu posso tocar instrumento...
  • 8:33 - 8:36
    Eu posso fazer capoeira com um pé também,
  • 8:36 - 8:39
    só com um, no meu limite".
  • 8:39 - 8:42
    Por que eu tenho que ser exímio em tudo?
  • 8:42 - 8:45
    Essa coisa de querer ser exímio
    em tudo fode com a gente;
  • 8:45 - 8:47
    desculpem a expressão,
    mas fode com a gente.
  • 8:47 - 8:49
    "Não sei cozinhar porque eu não sou isso."
  • 8:49 - 8:51
    "Não posso andar de bicicleta
    porque não sei isso."
  • 8:51 - 8:53
    "Não sei nadar porque não nado bem."
  • 8:53 - 8:56
    Não, a gente tem que ir
    e fazer na potencialidade da gente,
  • 8:56 - 9:00
    no limite da gente
    e ter prazer por fazer isso.
  • 9:00 - 9:03
    Então, às vezes, a gente deixa
    de gozar, literalmente, a vida
  • 9:03 - 9:06
    porque a gente acha
    que tem que ser exímio em tudo.
  • 9:06 - 9:07
    Não! Faz! Vai fazer!
  • 9:07 - 9:10
    "Quero pintar um quadro."
    Vai e pinta o quadro.
  • 9:10 - 9:13
    Bom, esse menino...
    Falei: "Não, não, não. Ele vai".
  • 9:13 - 9:17
    Descemos lá, conversamos com os meninos
    e ele desceu pra fazer capoeira,
  • 9:17 - 9:20
    e aí, as sandálias ficavam todas
    fora da sala de aula,
  • 9:20 - 9:22
    e ele estacionava
    a perna dele lá, né gente,
  • 9:22 - 9:25
    porque imagina se o menino vai fazer
    capoeira com a perna mecânica!
  • 9:25 - 9:28
    Aí ele faz assim e a perna voa, (Risos)
    bate na cara do outro,
  • 9:28 - 9:31
    o outro cai de costas,
    bate a cabeça na parede...
  • 9:31 - 9:34
    No outro dia, no jornal: "Perna mata..."
    Não, a gente não queria isso!
  • 9:34 - 9:36
    A gente queria só
    que o menino fizesse capoeira!
  • 9:36 - 9:39
    E o menino foi fazer capoeira,
    e era lindo de ver
  • 9:39 - 9:41
    que, depois de uns três,
    quatro dias, uma semana,
  • 9:41 - 9:44
    a gente não via mais perna mecânica,
    a gente não via mais nada!
  • 9:44 - 9:46
    Eles tinham resolvido toda a situação.
  • 9:46 - 9:49
    Tinha uma escadinha lá,
    a casa não era muito adaptada,
  • 9:49 - 9:50
    pra subir pra tomar banho.
  • 9:50 - 9:54
    Aí, sabe quando acaba o jogo, assim,
    pega a bola coloca nas costas, vai e leva?
  • 9:54 - 10:00
    Olha, o menino pegava...
    um levava a perna, outro levava...
  • 10:00 - 10:02
    Quem aprendeu nessa história toda?
  • 10:02 - 10:05
    Então, esse é o movimento
    da diversidade que a gente quer.
  • 10:05 - 10:08
    Então, todo mundo ganhou
    um óculos ali pra ver a deficiência.
  • 10:08 - 10:11
    Então, eu começo a entender a sociedade,
    começo a entender a cidade,
  • 10:11 - 10:16
    a partir dessa deficiência
    e como a cidade pode ser melhor
  • 10:16 - 10:22
    se a gente começar a adaptar essa cidade
    pra que essa pessoa possa ser acolhida.
  • 10:22 - 10:26
    Então, eu tenho norteado
    a minha vida hoje por isso.
  • 10:26 - 10:30
    Penso nessa perspectiva
    da diversidade como um plus.
  • 10:30 - 10:32
    Hoje, a gente trabalha
    com muitas empresas grandes,
  • 10:32 - 10:38
    que estão trabalhando na perspectiva
    de garantir direitos dos seus empregados,
  • 10:38 - 10:40
    homossexuais, lésbicas.
  • 10:40 - 10:43
    Tem iniciativas bastante,
    bastante interessantes,
  • 10:43 - 10:46
    mas às vezes as coisas também
    não são tão tranquilas, né.
  • 10:46 - 10:51
    Às vezes, eu falo assim: "Puxa vida,
    tenho um irmão superestabilizado na vida,
  • 10:51 - 10:52
    tenho outro bem estabilizado na vida
  • 10:52 - 10:56
    e tem eu, que estou estabilizado
    na vida também, né".
  • 10:56 - 11:00
    Mas, aí você fica: "Puxa vida,
    eu podia ter uma coisa melhor..."
  • 11:00 - 11:01
    Aí, eu falei: "Não".
  • 11:01 - 11:04
    Aí, você entra nessas crises
    e, um dia, eu estava pegando metrô.
  • 11:04 - 11:07
    Aí, tinha um casalzinho,
    um menino de 16 e um de 17 anos,
  • 11:07 - 11:11
    os dois juntinhos ali, de mão dada,
  • 11:11 - 11:16
    trocando carinho, abraçando...
  • 11:16 - 11:20
    Aí, eu falei assim: "O meu capital
    não é ter um carro novo.
  • 11:20 - 11:25
    O meu capital é esse,
    essa é a minha riqueza".
  • 11:25 - 11:29
    É ter colocado a minha vida,
    a minha história, o meu esforço,
  • 11:29 - 11:32
    não pra construir um mundo
    pra ser melhor porque eu sou gay,
  • 11:32 - 11:38
    mas pra gente continuar a ter
    possibilidades de manifestações de afeto,
  • 11:38 - 11:40
    não importa de onde ele venha.
  • 11:40 - 11:43
    A gente vive numa sociedade
    que se acostuma com o malabarismo
  • 11:43 - 11:45
    na frente dos nossos carros.
  • 11:45 - 11:48
    A gente vive numa sociedade
    em que a gente passa
  • 11:48 - 11:52
    e já não acha mais ruim
    as pessoas dormindo na rua...
  • 11:52 - 11:55
    A gente vai se acostumando com isso
  • 11:55 - 11:59
    e, muitas vezes, a gente se incomoda
    tremendamente com o afeto,
  • 11:59 - 12:01
    com o beijo de um homem com outro homem,
  • 12:01 - 12:04
    com um toque de uma outra mulher
    com uma outra mulher,
  • 12:04 - 12:08
    ou uma travesti na rua,
    ou uma transexual, né.
  • 12:08 - 12:12
    A gente deveria voltar
    e pensar um pouquinho
  • 12:12 - 12:16
    o que é que nos movimenta
    em relação a isso,
  • 12:16 - 12:20
    e eu tenho tentado fazer isso também,
    como disse o Reinaldo,
  • 12:21 - 12:23
    numa perspectiva com humor, né.
  • 12:23 - 12:25
    Eu acho que a vida já é dura o suficiente,
  • 12:25 - 12:27
    e eu sempre faço
    intervenções, assim, sabe.
  • 12:27 - 12:30
    Primeiro, eu faço um bom
    terrorismo de gênero:
  • 12:30 - 12:31
    escrevo sempre no feminino.
  • 12:31 - 12:33
    (Risos)
  • 12:33 - 12:37
    Sempre; as pessoas ficam loucas
    comigo por conta disso,
  • 12:37 - 12:38
    porque é pra quebrar mesmo, entendeu?
  • 12:38 - 12:41
    E aí, um dia eu estava...
    rapidinho, meu tempo vai acabar.
  • 12:41 - 12:45
    Eu moro em Santa Cecília, eu estava
    pra pegar dinheiro no caixa eletrônico,
  • 12:45 - 12:47
    e aí, uma senhora:
  • 12:47 - 12:50
    "Eu vou me mudar desse bairro
    porque esse bairro tem muito viado!
  • 12:50 - 12:55
    E eu: "Hã? "Oi, dona!
    A senhora falou o quê?"
  • 12:55 - 12:58
    "Eu? Eu não falei nada!"
  • 12:58 - 13:02
    Eu falei assim: "Ô, ô. Além de viado,
    a senhora está me chamando de surdo?"
  • 13:02 - 13:05
    (Risos) Não, não dá, né gente? Não dá.
  • 13:05 - 13:06
    E aí, a vida vai tocando.
  • 13:06 - 13:09
    Eu acho que a gente tem
    muita coisa pela frente.
  • 13:09 - 13:15
    Eu acho que a gente veio
    no mundo pra ser feliz.
  • 13:15 - 13:20
    Eu lembro isso todo dia:
    a gente veio no mundo pra ser feliz.
  • 13:20 - 13:22
    Então, deixa eu ser feliz sendo viado,
  • 13:22 - 13:25
    deixa a minha amiga
    ser feliz sendo sapatão,
  • 13:25 - 13:28
    deixa a minha amiga
    ser feliz sendo travesti,
  • 13:29 - 13:32
    e deixa o meu amigo hétero
    sendo hétero também,
  • 13:32 - 13:35
    porque nós fazemos parte
    dessa família humana maravilhosa
  • 13:35 - 13:39
    e a gente não pode se digladiar
    pelas questões do amor.
  • 13:39 - 13:42
    Amor é pra ser vivido,
    amor é pra ser gozado.
  • 13:42 - 13:43
    Muito obrigado.
  • 13:43 - 13:45
    (Aplausos)
Title:
Amor e diversidade | Beto de Jesus | TEDxVilaMadáSalon
Description:

Esta palestra foi dada num evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite: http://ted.com/tedx

Nesta palestra bem-humorada e bastante sincera, Beto de Jesus fala sobre sexualidade, ativismo, preconceitos. "A gente não pode se digladiar
pelas questões do amor", diz ele. "O amor é pra ser vivido."

Beto de Jesus é consultor em diversidade e educação.

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Video Language:
Portuguese, Brazilian
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
13:49

Portuguese, Brazilian subtitles

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