Poderá uma droga evitar a depressão e PSPT?
-
0:01 - 0:04Isto é uma enfermaria
de tuberculosos. -
0:04 - 0:09Na altura em que esta fotografia
foi tirada, no final do século XIX, -
0:09 - 0:11uma em cada sete pessoas
-
0:11 - 0:13morria de tuberculose.
-
0:13 - 0:16Não tínhamos ideia do que estava
a causar esta doença. -
0:16 - 0:18Na verdade, a hipótese era
-
0:18 - 0:21que era a nossa constituição
que nos tornava suscetíveis. -
0:22 - 0:24Era uma doença altamente romantizada.
-
0:24 - 0:27Também se chamava tísica,
-
0:27 - 0:30e era a perturbação dos poetas,
-
0:30 - 0:33dos artistas e intelectuais.
-
0:33 - 0:37Algumas pessoas achavam
que dava uma maior sensibilidade -
0:37 - 0:39e conferia um génio criativo.
-
0:41 - 0:43Pelos anos 50,
-
0:43 - 0:45já sabíamos que
a tuberculose era causada -
0:45 - 0:49por uma infeção bacteriana
altamente contagiosa, -
0:49 - 0:51o que é ligeiramente
menos romântico, -
0:51 - 0:54mas teve o lado positivo
-
0:54 - 0:57de ser possível desenvolver
drogas para a tratar. -
0:57 - 1:00Os médicos tinham descoberto
uma droga nova, a iproniazida, -
1:00 - 1:03e estavam confiantes
de que poderia curar a tuberculose. -
1:03 - 1:05Davam-na aos doentes,
-
1:05 - 1:07e os doentes ficavam eufóricos.
-
1:07 - 1:10Tornavam-se mais sociais,
mais enérgicos. -
1:10 - 1:15Um relatório médico diz mesmo
que eles "dançavam pelos corredores". -
1:16 - 1:17Infelizmente,
-
1:17 - 1:20não era necessariamente
por estarem a melhorar. -
1:20 - 1:23Muitos deles continuavam a morrer.
-
1:24 - 1:30Outro relatório médico descreve-os
como sendo "inadequadamente felizes". -
1:31 - 1:35E foi assim que se descobriu
o primeiro antidepressivo. -
1:36 - 1:40As descobertas acidentais
são comuns em ciência, -
1:40 - 1:43mas é preciso mais
do que uma coincidência feliz. -
1:43 - 1:47É preciso que se consiga reconhecê-la
para que a descoberta aconteça. -
1:48 - 1:50Enquanto neurocientista,
vou falar-vos um pouco -
1:50 - 1:52sobre a minha experiência
em primeira mão -
1:52 - 1:55com o quer que vocês chamem
ao oposto de sorte pura -
1:55 - 1:57— vamos chamar-lhe sorte inteligente.
-
1:57 - 2:00Mas primeiro, um pouco de contexto.
-
2:00 - 2:03Felizmente, a partir dos anos 50,
-
2:03 - 2:07desenvolvemos outras drogas
que podem mesmo curar a tuberculose. -
2:07 - 2:11Pelo menos nos EUA,
não necessariamente noutros países, -
2:11 - 2:12fechámos os nossos sanatórios
-
2:12 - 2:16e provavelmente a maioria de vocês
não se preocupa com a tuberculose. -
2:17 - 2:20Mas muito do que podíamos dizer,
no inicio do século XX, -
2:20 - 2:21sobre doenças infecciosas,
-
2:21 - 2:24podemos dizer agora
sobre perturbações psiquiátricas. -
2:25 - 2:28Estamos no meio de uma epidemia
de perturbações de humor, -
2:28 - 2:32como a depressão e a perturbação
de "stress" pós-traumático, ou PSPT. -
2:32 - 2:36Um em cada quatro adultos, nos EUA,
-
2:36 - 2:38sofre de uma doença mental,
-
2:38 - 2:41o que significa que, mesmo
que vocês não a tenham, -
2:41 - 2:44nem ninguém da vossa família,
-
2:44 - 2:47é muito provável que alguém
que conheçam tenha, -
2:47 - 2:49mesmo que não falem sobre isso.
-
2:50 - 2:54A depressão ultrapassou agora
-
2:54 - 2:58a SIDA/HIV, a malária,
a diabetes e a guerra -
2:58 - 3:01como a principal causa
mundial de incapacidade. -
3:02 - 3:05E também, tal como
a tuberculose nos anos 50, -
3:05 - 3:07não sabemos a sua causa.
-
3:07 - 3:09Uma vez que se desenvolve,
torna-se crónica, -
3:09 - 3:11dura uma vida,
-
3:11 - 3:13e não se conhece uma cura.
-
3:15 - 3:17O segundo antidepressivo
que descobrimos, -
3:17 - 3:19também por acaso, nos anos 50,
-
3:19 - 3:23através de um anti-histamínico
que estava a tornar as pessoas maníacas, -
3:24 - 3:25foi a imipramina.
-
3:26 - 3:30Em ambos os casos da enfermaria
de tuberculose e do anti-histamínico, -
3:30 - 3:32alguém teve de ser capaz de reconhecer
-
3:32 - 3:34que a droga que foi concebida
para fazer uma coisa -
3:34 - 3:37— tratar a tuberculose
e suprimir alergias — -
3:37 - 3:39poderia ser usada para
fazer algo muito diferente -
3:39 - 3:41— tratar a depressão.
-
3:41 - 3:44Este tipo de reaproveitamento
é na verdade muito desafiador. -
3:44 - 3:48Quando os médicos viram este efeito
de melhoria de humor da iproniazida, -
3:48 - 3:51de início não entenderam
realmente o que estavam a ver. -
3:51 - 3:53Estavam tão habituados a pensar na droga,
-
3:53 - 3:56desde a sua conceção, como
sendo para tratar a tuberculose -
3:56 - 3:58que a registaram
-
3:58 - 4:00como um efeito secundário,
um efeito secundário adverso. -
4:00 - 4:02Como podem ver aqui,
-
4:02 - 4:06muitos destes doentes em 1954
estão num estado de grande euforia. -
4:07 - 4:11E os médicos estavam preocupados
que que isso pudesse interferir -
4:11 - 4:13na recuperação dos doentes de tuberculose.
-
4:13 - 4:20Então recomendaram que a iproniazida
só fosse usada nos casos mais extremos -
4:20 - 4:23e em pacientes estáveis mentalmente,
-
4:24 - 4:28o que, obviamente, é o oposto
do seu uso enquanto antidepressivo. -
4:28 - 4:33Estavam tão habituados a pensar
apenas na perspetiva desta doença, -
4:33 - 4:37que não conseguiam ver as implicações
para uma outra doença. -
4:37 - 4:40E para ser justa,
a culpa não é só dos médicos. -
4:40 - 4:43A fixação funcional é uma tendência
que nos afeta a todos. -
4:43 - 4:46É uma tendência que nos faz
olhar para um objeto -
4:46 - 4:49apenas nos termos
da sua função ou uso tradicional. -
4:50 - 4:52E a definição mental também conta.
-
4:52 - 4:54É um tipo de estrutura pré-concebida
-
4:54 - 4:55com a qual abordamos os problemas.
-
4:56 - 4:59O que na verdade torna o reaproveitamento
muito mais difícil para todos, -
4:59 - 5:02motivo pelo qual, acho eu, deram
um programa de TV a um tipo -
5:02 - 5:04mesmo muito bom
em reaproveitamento. -
5:05 - 5:07(Risos)
-
5:07 - 5:12Os efeitos, em ambos os casos,
da iproniazida e imipramina, -
5:12 - 5:13eram muito fortes
-
5:13 - 5:15— havia paranoia, ou pessoas
a dançar nos corredores. -
5:15 - 5:18Não é de surpreender
que se tenham apercebido. -
5:18 - 5:22Mas faz-nos perguntar,
o que mais nos escapou. -
5:23 - 5:25Então a iproniazida e a imipramina,
-
5:25 - 5:28são mais do que um estudo de caso
em reaproveitamento. -
5:28 - 5:31Têm outras duas coisas em comum
que são muito importantes. -
5:31 - 5:33Primeiro, têm efeitos
secundários terríveis. -
5:33 - 5:36O que inclui toxicidade linfática
-
5:36 - 5:39aumento de peso em cerca de 20kg,
-
5:39 - 5:41tendências suicidas.
-
5:41 - 5:45E segundo, ambos aumentam
os níveis de serotonina, -
5:45 - 5:47que é um sinal químico no cérebro,
-
5:47 - 5:49ou um neurotransmissor.
-
5:49 - 5:52Essas duas coisas, em separado,
-
5:52 - 5:54podiam não ter sido
muito importantes, -
5:54 - 5:57mas as duas juntas significou que tivemos
de desenvolver drogas mais seguras, -
5:57 - 6:02e a serotonina parecia
ser algo lógico por onde começar. -
6:02 - 6:06Então, desenvolvemos drogas focadas
especificamente na serotonina, -
6:06 - 6:09os inibidores seletivos
de recaptação da serotonina, os ISRS. -
6:09 - 6:12o mais famoso dos quais é o Prozac.
-
6:12 - 6:14Isso foi há 30 anos.
-
6:14 - 6:17Desde então, temos trabalhado
maioritariamente em otimizar essas drogas. -
6:18 - 6:21Os ISRS são melhores do que as drogas
que surgiram anteriormente, -
6:21 - 6:23mas, mesmo assim, têm
muitos efeitos secundários, -
6:23 - 6:26incluído aumento de peso, insónia,
-
6:26 - 6:28tendências suicidas,
-
6:28 - 6:30e demoram muito tempo a fazer efeito,
-
6:30 - 6:33cerca de quatro a seis semanas
em muitos dos doentes. -
6:33 - 6:35Isto em doentes em que fazem efeito.
-
6:35 - 6:38Há muitos doentes em
que estas drogas não fazem efeito. -
6:38 - 6:41Isso significa que agora, em 2016,
-
6:42 - 6:45continuamos a não ter cura
para nenhuma perturbação de humor, -
6:45 - 6:47apenas drogas que suprimem sintomas.
-
6:47 - 6:49É um pouco como a diferença
-
6:49 - 6:53entre tomar um analgésico
ou um antibiótico, para uma infeção. -
6:53 - 6:55Um analgésico vai fazer-nos sentir melhor,
-
6:55 - 6:58mas não vai fazer nada
para tratar a doença. -
6:59 - 7:01Foi esta flexibilidade no nosso pensamento
-
7:01 - 7:04que nos permitiu reconhecer
que a iproniazida e a imipramina -
7:04 - 7:06poderiam ser reaproveitadas desta forma,
-
7:06 - 7:08o que nos levou à hipótese da serotonina,
-
7:08 - 7:11a que nós, ironicamente, nos fixámos.
-
7:12 - 7:15Isto é o cérebro a sinalizar, serotonina,
-
7:15 - 7:16num anúncio de ISRS.
-
7:16 - 7:18Para que seja claro,
isto é uma dramatização. -
7:20 - 7:23Em ciência tentamos evitar preconceitos,
-
7:23 - 7:25realizando experiências
em dupla ocultação -
7:25 - 7:29ou sendo estatisticamente agnósticos
em relação aos resultados possíveis. -
7:29 - 7:33Mas os preconceitos surgem insidiosamente
no que escolhemos estudar -
7:33 - 7:35e em como o escolhemos estudar.
-
7:36 - 7:40Então, focámo-nos na serotonina
nos últimos 30 anos, -
7:40 - 7:42muitas vezes para excluir outras coisas.
-
7:43 - 7:44Continua a não haver cura.
-
7:45 - 7:49E, se houver algo para além
da serotonina na questão da depressão? -
7:49 - 7:51E se nem sequer for o ponto chave?
-
7:51 - 7:53Isso significa que, por muito tempo,
-
7:53 - 7:56ou dinheiro ou esforço
que se gaste neste estudo, -
7:56 - 7:58nunca irá levar a uma cura.
-
7:58 - 8:01Nos últimos anos,
os médicos descobriram -
8:01 - 8:06provavelmente, o primeiro
novo antidepressivo, desde os ISRS -
8:07 - 8:08o Calypsol.
-
8:08 - 8:11Esta droga tem um efeito muito rápido,
num espaço de poucas horas ou num dia, -
8:11 - 8:13e não funciona à base de serotonina.
-
8:13 - 8:16funciona à base de glutamato,
que é outro neurotransmissor -
8:16 - 8:18que é também reaproveitado.
-
8:18 - 8:21Era tradicionalmente usado
como anestesia em cirurgias. -
8:22 - 8:23Mas ao contrário das outras drogas,
-
8:23 - 8:25que foram reconhecidas muito depressa,
-
8:25 - 8:27levámos 20 anos
-
8:27 - 8:30a perceber que o Calypsol
era um antidepressivo, -
8:30 - 8:32apesar do facto de ser
um antidepressivo mais eficaz, -
8:32 - 8:34provavelmente,
que as outras drogas. -
8:34 - 8:38Foi provavelmente por ser
um antidepressivo mais eficaz -
8:38 - 8:40que tivemos mais dificuldade
em reconhecê-lo. -
8:40 - 8:43Não havia paranoia
para sinalizar os seus efeitos. -
8:43 - 8:46Então, em 2013,
na Universidade da Columbia, -
8:46 - 8:48eu estava a trabalhar
com a minha colega, -
8:48 - 8:49a Dra. Christine Ann Denny,
-
8:49 - 8:53e estávamos a estudar o Calypsol
enquanto antidepressivo em ratos. -
8:54 - 8:56O Calypsol tem uma meia-vida muito curta,
-
8:56 - 9:00o que significa que sai
do nosso corpo em poucas horas. -
9:00 - 9:01Era apenas um projeto-piloto.
-
9:01 - 9:03Dávamos uma injeção aos ratos,
-
9:03 - 9:05e depois esperávamos uma semana.
-
9:05 - 9:08Depois fazíamos outra experiência
para poupar dinheiro. -
9:08 - 9:10Uma das experiências
que eu estava a fazer, -
9:10 - 9:12era sujeitar os ratos ao "stress".
-
9:12 - 9:14Usávamos isso como
um modelo de depressão. -
9:14 - 9:18De início, parecia que
não estava a resultar muito bem. -
9:18 - 9:20Por isso podíamos ter parado por ali.
-
9:20 - 9:22Mas eu tenho usado este
modelo de depressão há anos, -
9:22 - 9:24e os dados eram algo estranhos.
-
9:24 - 9:26Não me pareciam bem.
-
9:26 - 9:29Então voltei atrás
e reanalisei tudo -
9:29 - 9:33baseando-me em se tinham ou não
levado a injeção de Calypsol -
9:33 - 9:34na semana anterior.
-
9:35 - 9:37E pareceu-me um pouco como isto.
-
9:37 - 9:39Observem ao lado mais à esquerda.
-
9:39 - 9:42Se puserem um rato num novo espaço
-
9:42 - 9:44— é esta caixa, é muito empolgante —
-
9:44 - 9:46o rato vai andar à volta e explorar.
-
9:46 - 9:50Podem ver aquela linha cor-de-rosa,
é o trajeto que eles fizeram. -
9:50 - 9:54Colocámos também
outro rato num copo para lápis -
9:54 - 9:56e ele poderá decidir interagir.
-
9:56 - 9:59Isto é também uma dramatização,
para o caso de não ser claro. -
10:00 - 10:03Um rato normal irá explorar.
-
10:03 - 10:04Irá ser social.
-
10:05 - 10:06Vejam o que está a acontecer.
-
10:06 - 10:09Se sujeitarmos um rato ao "stress"
neste modelo de depressão, -
10:09 - 10:11que é a caixa do meio,
-
10:11 - 10:13eles não são sociais,
eles não exploram. -
10:13 - 10:16Eles quase só se escondem
no canto, atrás do copo. -
10:17 - 10:20No entanto, os ratos
que levaram a injeção de Calypsol, -
10:20 - 10:22aqui à vossa direita,
-
10:22 - 10:24estão a explorar, estão a ser sociais.
-
10:25 - 10:27Parece que nunca estiveram
minimamente nervosos, -
10:28 - 10:30o que é impossível.
-
10:30 - 10:32Então podíamos ter parado por ali,
-
10:33 - 10:37mas a Christine, que já tinha usado
Calypsol como anestesia, -
10:37 - 10:39há uns anos atrás, percebeu
-
10:39 - 10:41que parecia ter um efeito
estranho nas células -
10:41 - 10:43e em alguns comportamentos.
-
10:43 - 10:46Isso parecia durar muito depois
de a droga ser administrada, -
10:46 - 10:47talvez algumas semanas.
-
10:47 - 10:48Então pensámos, ok,
-
10:48 - 10:50talvez isto não seja
completamente impossível, -
10:50 - 10:52mas estávamos muito céticas.
-
10:52 - 10:56Então, fizemos o que se faz em ciência
quando não temos a certeza, -
10:56 - 10:57repetimos a experiência.
-
10:57 - 10:59Lembro-me de estar
na sala dos animais, -
11:00 - 11:03a mudar ratos de caixa em caixa,
para testá-los. -
11:03 - 11:07A Christine estava sentada
no chão com o computador no colo -
11:07 - 11:08para que os ratos não a vissem,
-
11:08 - 11:11e estava a analisar
os dados em tempo real. -
11:11 - 11:12Lembro-me de gritarmos,
-
11:12 - 11:16o que não é suposto fazer quando estamos
numa sala de animais a fazer testes, -
11:16 - 11:17porque tinha funcionado.
-
11:17 - 11:21Parecia que estes ratos estavam
protegidos contra o "stress", -
11:21 - 11:24ou inadequadamente felizes,
como lhe queiram chamar. -
11:25 - 11:27Nós estávamos
mesmo empolgadas. -
11:28 - 11:32Depois ficámos muito céticas,
porque era bom demais para ser verdade. -
11:32 - 11:34Então repetimos a experiência.
-
11:34 - 11:36Depois repetimos outra vez,
num modelo de PSPT, -
11:36 - 11:39e depois repetimos outra vez,
num modelo psicológico, -
11:39 - 11:41em que tudo o que fizemos
foi dar hormonas de "stress". -
11:41 - 11:44Pusemos os nossos alunos
a fazer a experiência. -
11:44 - 11:47Tínhamos os nossos colaboradores
do outro lado do mundo em França. -
11:48 - 11:51E sempre que alguém a fazia,
confirmava a mesma coisa. -
11:51 - 11:54Parecia que esta única injeção de Calypsol
-
11:54 - 11:57estava de certa forma a proteger
contra o "stress" durante semanas. -
11:57 - 11:59Só publicámos isto há um ano,
-
11:59 - 12:03mas, desde então, outros laboratórios
independentes confirmaram este efeito. -
12:04 - 12:06Não sabemos o que causa a depressão,
-
12:06 - 12:10mas sabemos que
o "stress" é o estímulo inicial -
12:10 - 12:12em 80% dos casos.
-
12:13 - 12:15A depressão e a PSPT
são doenças diferentes, -
12:15 - 12:17mas isto é algo que têm em comum.
-
12:17 - 12:19É o "stress" traumático
-
12:19 - 12:22— como o combate ativo
ou os desastres naturais -
12:22 - 12:24ou a violência comunitária
ou o abuso sexual — -
12:24 - 12:27que causa a perturbação
de "stress" pós-traumático. -
12:27 - 12:33Nem toda a gente exposta ao "stress"
desenvolve uma perturbação de humor. -
12:33 - 12:36Esta capacidade de experimentar
o "stress" e ser resiliente, -
12:36 - 12:40reagir e não desenvolver
depressão ou PSPT -
12:40 - 12:43é conhecida como
resiliência ao "stress", -
12:43 - 12:45e varia de pessoa para pessoa.
-
12:45 - 12:48Sempre pensámos nisto como
uma espécie de capacidade passiva. -
12:48 - 12:51É a ausência de fatores
de suscetibilidade -
12:51 - 12:53e de fatores de risco
destas perturbações. -
12:54 - 12:56Mas e se estes fatores fossem ativos?
-
12:56 - 12:58Talvez pudéssemos melhorar a droga,
-
12:58 - 13:01algo semelhante a colocar uma carapaça.
-
13:01 - 13:06Descobrimos acidentalmente a primeira
droga que aumenta a resiliência. -
13:07 - 13:10Como disse, demos apenas
uma pequena quantidade da droga -
13:10 - 13:11que durou semanas,
-
13:11 - 13:14e não se vê nada disto
com antidepressivos. -
13:14 - 13:19Mas é um pouco similar
ao que se vê com as vacinas. -
13:19 - 13:22Nas vacinas levamos injeções,
-
13:22 - 13:26e semanas, meses, anos mais tarde,
-
13:26 - 13:28quando somos mesmo
expostos às bactérias, -
13:28 - 13:30não é a vacina no nosso corpo
que nos protege. -
13:30 - 13:32É o nosso sistema imunitário
-
13:32 - 13:36que desenvolveu resistência e resiliência
a essas bactérias e as expulsa, -
13:36 - 13:38e nunca ficamos infetados,
-
13:38 - 13:41o que é diferente dos nossos tratamentos.
-
13:41 - 13:45Nesse caso, ficamos infetados,
somos expostos às bactérias, -
13:45 - 13:49ficamos doentes e tomamos
um antibiótico que nos cura, -
13:49 - 13:52e essas drogas resultam
mesmo ao matar as bactérias. -
13:53 - 13:55Tal como dissemos anteriormente,
com este paliativo, -
13:55 - 13:58vamos tomar algo
que vai suprimir os sintomas, -
13:58 - 14:01mas não vai tratar a dita infeção,
-
14:01 - 14:04e vamos apenas sentir-nos melhor
enquanto o estivermos a tomar. -
14:04 - 14:06É por isso que temos
de continuar a tomá-lo. -
14:06 - 14:09Na depressão e na PSPT
-
14:09 - 14:11— aqui temos a exposição ao "stress" —
-
14:11 - 14:14apenas temos cuidados paliativos.
-
14:14 - 14:16Os antidepressivos apenas
suprimem os sintomas. -
14:16 - 14:19É basicamente por isso
que temos de continuar a tomá-los, -
14:19 - 14:21durante o tempo de vida da doença,
-
14:21 - 14:23que é muitas vezes
o nosso tempo de vida. -
14:24 - 14:28Chamamos "paravacina"
à droga de aumento de resiliência, -
14:28 - 14:30o que significa
uma espécie de vacina -
14:30 - 14:34porque, aparentemente, tem o potencial
de proteger contra o "stress" -
14:34 - 14:38e impedir que os "ratos" desenvolvam
-
14:38 - 14:40depressão e perturbação
de "stress" pós-traumática. -
14:41 - 14:44Além disso, nem todos
os antidepressivos são "paravacinas". -
14:45 - 14:47Tentámos também com o Prozac,
-
14:47 - 14:49e não teve qualquer efeito.
-
14:49 - 14:52Então, se isto se traduzisse
para os seres humanos, -
14:52 - 14:55poderíamos proteger as pessoas
-
14:55 - 14:57que estão potencialmente em risco
-
14:57 - 15:01contra perturbações induzidas por "stress"
como a depressão e a PSPT, -
15:01 - 15:04tais como socorristas e bombeiros,
-
15:04 - 15:06refugiados,
-
15:06 - 15:08prisioneiros e guardas prisionais,
-
15:08 - 15:11soldados, e por aí adiante.
-
15:11 - 15:15Para vos dar uma noção
da escala destas doenças, -
15:16 - 15:19em 2010, o peso global destas doenças
-
15:19 - 15:23foi estimado em 2,5 biliões de dólares.
-
15:23 - 15:25Uma vez que são crónicas,
-
15:25 - 15:28esse custo está a acumular-se
e, por isso, prevê-se que suba -
15:28 - 15:31até aos 6 biliões de dólares
apenas nos próximos 15 anos. -
15:32 - 15:34Como disse anteriormente,
-
15:34 - 15:38o reaproveitamento pode ser difícil
devido aos nossos preconceitos. -
15:39 - 15:41O Calypsol tem outro nome,
-
15:41 - 15:43cetamina,
-
15:43 - 15:45que também tem outro nome,
-
15:45 - 15:47"Special K",
-
15:47 - 15:50que é uma droga de clube
e de toxicodependência. -
15:51 - 15:54Continua a ser usada como
anestesia em todo o mundo. -
15:54 - 15:57É usada em crianças.
É usada nos campos de batalha. -
15:57 - 16:00É uma droga popular
em países em desenvolvimento, -
16:00 - 16:01porque não afeta a respiração.
-
16:01 - 16:06Está na lista de medicamentos essenciais
da Organização Mundial da Saúde. -
16:07 - 16:10Se tivéssemos descoberto a cetamina
primeiro enquanto "paravacina", -
16:11 - 16:14teria sido muito fácil
para nós desenvolvê-la, -
16:14 - 16:18mas assim, temos que competir
com a nossa fixação funcional -
16:18 - 16:21e a nossa definição mental
que acabam por interferir. -
16:22 - 16:26Felizmente, não é o único
composto que descobrimos -
16:26 - 16:29que tem estas qualidades
profiláticas de "paravacina", -
16:30 - 16:33mas todas as outras
drogas que descobrimos, -
16:33 - 16:35ou compostos, se quiserem,
são totalmente novos, -
16:35 - 16:39têm de passar por todo o processo
de aprovação da FDA, -
16:39 - 16:42se alguma vez as quisermos
usar em seres humanos. -
16:42 - 16:44Isso vai demorar anos.
-
16:44 - 16:46Por isso, se queríamos algo para já,
-
16:46 - 16:49a cetamina já está aprovada pela FDA.
-
16:49 - 16:51É genérica, está disponível.
-
16:51 - 16:56Poderíamos desenvolvê-la
numa fração do preço e do tempo. -
16:56 - 17:01Mas na verdade, para além
da fixação funcional e da definição mental -
17:01 - 17:04existe outro obstáculo
ao reaproveitamento de drogas, -
17:04 - 17:06que é político.
-
17:06 - 17:08Não há incentivos alguns
-
17:08 - 17:12assim que uma droga se torna genérica,
sem patente e deixa de ser exclusiva -
17:12 - 17:15para encorajar as
farmacêuticas a desenvolvê-las, -
17:15 - 17:16porque não ganham dinheiro.
-
17:16 - 17:20Isto não acontece apenas com a cetamina,
acontece com todas as drogas. -
17:21 - 17:26Apesar disto, a ideia em si
é completamente nova em psiquiatria, -
17:27 - 17:30usar drogas para
prevenir doenças mentais -
17:30 - 17:32ao invés de apenas tratá-las.
-
17:33 - 17:38É possível que daqui
a 20, 50, 100 anos, -
17:38 - 17:42possamos olhar para a depressão e a PSPT
-
17:42 - 17:45da mesma forma que olhamos agora
para os sanatórios de tuberculosos -
17:45 - 17:47como algo do passado.
-
17:47 - 17:53Isto poderá ser o início do fim
da epidemia da saúde mental. -
17:53 - 17:57Mas, como disse uma vez
um grande cientista: -
17:58 - 18:00"Só um tolo tem a certeza de alguma coisa,
-
18:00 - 18:02"um homem sábio continua a supor."
-
18:04 - 18:05Obrigada a todos.
-
18:06 - 18:09(Aplausos)
- Title:
- Poderá uma droga evitar a depressão e PSPT?
- Speaker:
- Rebecca Brachman
- Description:
-
O caminho para uma medicina melhor está pavimentado com descobertas acidentais mas, no entanto, revolucionárias. Nesta história bem contada de como a ciência acontece, a neurocientista Rebecca Brachman partilha a notícia de um tratamento inovador insólito que pode impedir perturbações mentais como a depressão e a PSPT (Perturbação de Stress Pós-Traumático) de se desenvolverem. Escutem uma inesperada e controversa reviravolta.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 18:23
Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for Could a drug prevent depression and PTSD? | ||
Margarida Ferreira accepted Portuguese subtitles for Could a drug prevent depression and PTSD? | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Could a drug prevent depression and PTSD? | ||
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Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Could a drug prevent depression and PTSD? | ||
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Joel Santos edited Portuguese subtitles for Could a drug prevent depression and PTSD? | ||
Joel Santos edited Portuguese subtitles for Could a drug prevent depression and PTSD? |