< Return to Video

Porque é que devemos ler "A História de Uma Serva"? — Naomi R. Mercer

  • 0:01 - 0:04
    [Ignorar não é o mesmo que ignorância
  • 0:04 - 0:06
    [temos que combatê-la]
  • 0:07 - 0:10
    No romance de um futuro próximo
    de Margaret Atwood
  • 0:10 - 0:11
    "A História de Uma Serva",
  • 0:11 - 0:15
    um regime cristão fundamentalista,
    chamado a República de Gilead,
  • 0:15 - 0:19
    encenou um golpe militar
    e instituiu um governo teocrático
  • 0:19 - 0:21
    nos Estados Unidos da América.
  • 0:21 - 0:24
    O regime, em teoria,
    condiciona toda a gente
  • 0:24 - 0:28
    mas, na prática, alguns homens
    estruturaram Gilead
  • 0:28 - 0:30
    de modo a terem todo o poder,
  • 0:30 - 0:32
    em especial sobre as mulheres.
  • 0:33 - 0:37
    Atwood chama ficção especulativa
    a "A História de Uma Serva"
  • 0:38 - 0:41
    ou seja, uma teoria de possíveis futuros.
  • 0:41 - 0:43
    É uma característica fundamental
  • 0:43 - 0:46
    partilhada tanto por textos
    utópicos como por textos distópicos.
  • 0:46 - 0:48
    Os futuros possíveis
    nos romances de Atwood
  • 0:48 - 0:51
    são habitualmente
    negativos, ou distópicos,
  • 0:51 - 0:53
    em que as ações de um pequeno grupo
  • 0:53 - 0:56
    destruíram a sociedade,
    tal como a conhecemos.
  • 0:57 - 0:59
    A escrita utópica e distópica
  • 0:59 - 1:02
    tem tendência para pôr em paralelo
    tendências políticas.
  • 1:02 - 1:06
    A escrita utópica normalmente
    descreve uma sociedade idealizada
  • 1:06 - 1:09
    que o autor apresenta como
    um modelo para a evolução.
  • 1:09 - 1:11
    Por outro lado, as distopias
  • 1:11 - 1:15
    não são necessariamente
    previsões de futuros apocalíticos,
  • 1:15 - 1:19
    mas avisos sobre as formas
    em que as sociedades se podem envolver
  • 1:19 - 1:21
    no caminho para a destruição.
  • 1:22 - 1:25
    "A História de Uma Serva"
    foi publicada em 1985,
  • 1:25 - 1:27
    quando grupos conservadores
    atacaram as conquistas
  • 1:28 - 1:30
    feitas pela segunda vaga
    do movimento feminista.
  • 1:30 - 1:32
    Este movimento andara a defender
  • 1:32 - 1:35
    uma maior igualdade
    social e legal para as mulheres,
  • 1:35 - 1:37
    desde o início dos anos 60.
  • 1:38 - 1:40
    "A História de Uma Serva"
    imagina um futuro
  • 1:40 - 1:43
    em que o contramovimento conservador
    passa a ser preponderante
  • 1:44 - 1:46
    e não só desfaz o progresso
    para a igualdade
  • 1:46 - 1:48
    que as mulheres tinham conseguido
  • 1:48 - 1:51
    como torna as mulheres
    totalmente subservientes aos homens.
  • 1:52 - 1:55
    O regime de Gilead divide as mulheres
    em classes sociais distintas,
  • 1:55 - 1:59
    com base nas suas funções
    enquanto símbolos de estatuto dos homens.
  • 1:59 - 2:01
    Até o vestuário tem cores codificadas.
  • 2:01 - 2:03
    As mulheres estão proibidas de ler
  • 2:03 - 2:06
    ou de andarem livremente em público
  • 2:06 - 2:09
    e as mulheres férteis estão sujeitas
    a violações organizadas pelo estado
  • 2:09 - 2:12
    a fim de darem à luz
    crianças para o regime.
  • 2:14 - 2:16
    Embora "A História de Uma Serva"
    se situe no futuro,
  • 2:16 - 2:19
    uma das regras de escrita
    que Atwood se impôs
  • 2:19 - 2:22
    foi que não usaria
    nenhum acontecimento ou prática
  • 2:22 - 2:25
    que não tivesse já acontecido
    na história do ser humano.
  • 2:26 - 2:28
    O livro situa-se em Cambridge,
    Massachusetts,
  • 2:28 - 2:31
    uma cidade que, durante
    o período colonial americano,
  • 2:31 - 2:34
    foi governada pelos puritanos teocráticos.
  • 2:35 - 2:38
    Em muitos aspetos, a República de Gilead
    apresenta as regras estritas
  • 2:38 - 2:40
    que existiam na sociedade puritana:
  • 2:40 - 2:42
    códigos morais rígidos,
  • 2:42 - 2:43
    vestuário modesto,
  • 2:43 - 2:45
    exílio de dissidentes
  • 2:45 - 2:50
    e a regulamentação de todos os aspetos
    da vida e relações das pessoas.
  • 2:50 - 2:54
    Para Atwood, os paralelos
    com os puritanos de Massachusetts
  • 2:54 - 2:56
    eram tão pessoais quanto teóricos.
  • 2:56 - 2:59
    Passou vários anos a estudar
    os puritanos em Harvard
  • 2:59 - 3:02
    e, possivelmente, é descendente
    de Mary Webster,
  • 3:02 - 3:06
    uma puritana acusada de bruxaria
    que sobreviveu à forca.
  • 3:08 - 3:10
    Atwood é uma excelente
    contadora de histórias.
  • 3:10 - 3:14
    Os pormenores de Gilead,
    de que só aflorámos a superfície,
  • 3:14 - 3:18
    vão aparecendo pouco a pouco
    pelos olhos das personagens,
  • 3:18 - 3:20
    sobretudo da protagonista
    do romance, Offred,
  • 3:20 - 3:23
    uma criada na casa de um comandante.
  • 3:24 - 3:26
    Antes do golpe que instituiu Gilead.
  • 3:26 - 3:29
    Offred tinha marido, um filho, um emprego,
  • 3:29 - 3:32
    e a vida de uma americana
    normal, da classe média.
  • 3:32 - 3:35
    Mas quando o regime fundamentalista
    chegou ao poder,
  • 3:35 - 3:37
    retiraram a Offred a sua identidade,
  • 3:37 - 3:39
    separaram-na da família,
  • 3:39 - 3:41
    e reduziram-na, nas palavras de Offred,
  • 3:41 - 3:43
    a "um útero com duas pernas"
  • 3:43 - 3:46
    para aumentar a população de Gilead,
    que estava em declínio.
  • 3:46 - 3:49
    Inicialmente, ela aceita a perda
    dos seus direitos humanos fundamentais
  • 3:49 - 3:52
    a bem da estabilização do novo governo.
  • 3:53 - 3:57
    Mas o controlo do estado cedo se alarga
    a tentativas de controlar a linguagem,
  • 3:57 - 3:58
    o comportamento,
  • 3:58 - 4:01
    e os pensamentos dela
    e de outros indivíduos.
  • 4:02 - 4:04
    Logo no inicio, Offred diz:
  • 4:04 - 4:07
    "Eu espero, componho-me.
  • 4:08 - 4:12
    "Eu tenho que me compor
    tal como alguém compõe um discurso".
  • 4:13 - 4:17
    Ela compara a linguagem
    à formulação da identidade.
  • 4:17 - 4:21
    As palavras dela também
    reconhecem a possibilidade da resistência
  • 4:22 - 4:26
    e é essa resistência, as ações das pessoas
    que ousam quebrar as regras políticas,
  • 4:27 - 4:29
    intelectuais e sexuais,
  • 4:29 - 4:32
    que conduzem o enredo
    de "A História de Uma Serva".
  • 4:32 - 4:37
    Por fim, a exploração das consequências
    da complacência, no romance,
  • 4:37 - 4:41
    e como o poder
    pode ser exercido sem justiça,
  • 4:41 - 4:42
    torna ainda mais relevante
  • 4:42 - 4:46
    a visão arrepiante de Atwood
    de um regime distópico.
Title:
Porque é que devemos ler "A História de Uma Serva"? — Naomi R. Mercer
Description:

Vejam a lição completa em: https://ed.ted.com/lessons/why-should-you-read-the-handmaid-s-tale-naomi-r-mercer

A obra-prima de Margaret Atwood, uma ficção especulativa, "A História de Uma Serva", explora as consequências da complacência e de como o poder pode ser exercido sem justiça. A visão arrepiante de Atwood de um regime distópico captou a imaginação dos leitores desde que foi publicado em 1985. Como é que este livro permanece tão poderoso? Naomi R. Mercer investiga.

Lição de Naomi R. Mercer, animação de Phuong Mai Nguyen.

more » « less
Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TED-Ed
Duration:
05:05

Portuguese subtitles

Revisions