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♪arranjos de cordas vibrantes♪
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Quando era mais novo, o sonho era estudar
história da arte e eu só queria ser um
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historiador de arte. Nem mesmo artista, só
um historiador, nem sei de onde isso veio.
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Acho que a primeira vez que vim aqui
devia
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ter 14 anos, voltei todos os meses até
ir embora de Londres para a faculdade.
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Comecei com os mais gentis, os Constables.
O Constable sempre me passa essa sensação,
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é como dar os primeiros passos em
uma iniciação a pintura.
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É como uma representação fatídica da zona
rural inglesa. Tenho esse tipo de
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familiaridade com certas características
da paisagem inglesa. Entendo tudo isso.
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Turner é um escolhido porque tem um gesto
de vontade e imaginação em primeiro plano
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com o que chamo de olho cinematográfico.
É uma pintura, mas parece que você está
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no desastre.
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Tudo que eu amo sobre Turner
desde o começo está aqui.
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Quando se é jovem, as pinturas te moldam
porque elas te ensinam como ser humano.
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Não me ensinaram a ser uma pessoa preta,
mas me ensinaram a ser humano.
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Devagar me dei conta, é como um
templo da branquitude, onde quer que olhe
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você pode ver. A branquitude é oferecida
pelas pinturas como visão de excelência.
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É quase um momento psicanalítico de
vir a ser. Justo a coisa que você ama pode
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ser o que te mantém em um estado de
desconforto sobre seu lugar na cultura.
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Então, você tem que encontrar outra forma
de se aproximar
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daquilo que ama, enfeitando com outras
histórias, memórias, narrativas.
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Me interessei em fazer filmes com telas
múltiplas porque parecia uma
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forma de juntar interesses difusos.
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Em um projeto no qual você mesmo filmou
o material, ter material de arquivo diz
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de cara: multiplicidade. Ou vozes em ação,
em vez de uma única voz.
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Sou mais coreógrafo que criador.
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Sempre amo essas coisas.
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— Sim.
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De certa forma você consegue
só ver,
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não sei, mas estranhamente você vê
que é 4k.
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Sim, sim, tem mais detalhes nas linhas.
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Sim, é só mais detalhe, é só mais luz.
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É.
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Olha aquilo.
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O espectro inteiro, mas dá pra ver o que
está acontecendo.
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Incrível.
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[Risos]
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É isso aí. Volta alí.
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Se você vive como vivi em Londres,
crescendo como pessoa racializada, uma das
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missões era entender quem você era e, como
resultado, dar esse sentido para outros.
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Esse sentimento ser compartilhado
com outros foi muito importante
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para o Black Audio Film Collective surgir.
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Nós crescemos como grupo em uma faculdade
de artes na costa sul da Inglaterra.
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Nós ouvimos de amigos ao redor do
país que algo estava acontecendo
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em Handsworth e que devíamos
documentar aquilo.
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Os jovens estão com raiva.
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Não é só o desemprego.
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Isso é só o pano de fundo.
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É só -- todo mundo sente isso. Certo?
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Não é a maior parte.
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É a perseguição que está acontecendo com
as pessoas pretas da região.
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Uma das características dos anos 70 e 80
foi uma série de protestos em todo o país.
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O motivo que grupos de homens e mulheres
pretos tomaria a rua
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tinha algo a ver com o presente, claro.
Mas também
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era como um acúmulo de todos os tipos de
outros eventos que levaram a aquele ponto.
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Isso é para aqueles com quem a história
não foi amigável.
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Para aqueles que conheceram as crueldades
de um despertar político.
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Precisávamos lembrar as pessoas de que os
protestos eram cercados de todas essas
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outras histórias.
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"Handsworth Songs" era uma tentativa de
fazer isso.
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Queríamos levantar a questão da
representação negra no cinema.
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Nos anos 90, sentimos que tínhamos
feito isso.
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Continuamos amigos e aliados apesar de não
trabalharmos mais como coletivo.
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Literalmente, alguns meses atrás o que
definia essa praça eram os
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acampamentos permanentes de pessoas
Pro Brexit e pessoas Anti Brexit. E
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é claro que todos se foram agora. Parece
um negócio fechado, mesmo, é deprimente.
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Cada vez mais há um tipo de
desencanto em estar em Londres.
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A maioria de nós, que tem aparência
estrangeira, recebeu cedo a mensagem,
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no fim das contas, o Brexit era uma forma
de dizer: "Não queremos vocês".
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E isso faz você se sentir, por um momento,
implacável.
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Agora que é como se tivesse "acabado",
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parte de aceitar a situação é não deixar
que isso te desestabilize.
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A essência de todos os experimentos, seja
na política, estética ou narrativa é que
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precisa haver uma forma em que passado,
presente e futuro possam formar um todo.
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É impossível superestimar a importância
do mar na
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formação da diáspora africana e na
identidade negra.
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"Vertigo Sea" foi feito a partir de
leituras de Moby Dick.
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Relatos de escravizados africanos
perecendo no mar e certamente a crise dos
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barcos vietnamitas nos anos 70, tentativas
de escapar do Vietnam e vir para a Europa.
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Era importante que parecesse episódico.
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Quando fiz a instalação de "Vertigo Sea"
na Turner Contemporary, tinha um Turner,
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a pintura que escolhemos era "The Deluge".
Era absolutamente perfeito
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para aquela exibição porque deu um tipo
de padrinho para "Vertigo Sea".
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Eu sentia que era importante
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ter diferentes vozes representando as
formas que os desastres acontecem no mar.
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♪ sintetizadores suaves e ameaçadores ♪
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