Três ideias. Três contradições. Ou não.
-
0:01 - 0:03Meu nome é Hannah.
-
0:03 - 0:05Isso é um palíndromo,
-
0:05 - 0:11uma palavra que soletrada continua
a mesma de trás pra frente e vice-versa, -
0:12 - 0:13se você consegue soletrar.
-
0:13 - 0:15Mas na verdade,
-
0:15 - 0:16(Risos)
-
0:17 - 0:19toda minha família têm nomes palíndromos.
-
0:19 - 0:21É uma tradição.
-
0:21 - 0:24Nós temos "Mum", mãe, "Dad", pai...
-
0:24 - 0:26(Risos)
-
0:26 - 0:29"Nan", vovó e "Pop", vovô.
-
0:29 - 0:31(Risos)
-
0:31 - 0:34E meu irmão, Kayak.
-
0:34 - 0:35(Risos)
-
0:35 - 0:37Aí está.
-
0:37 - 0:39Isso é só uma piada.
-
0:39 - 0:40(Risos)
-
0:40 - 0:43Gosto de começar as coisas com uma piada
porque sou comediante. -
0:43 - 0:46Agora há duas coisas
que vocês sabem sobre mim: -
0:46 - 0:48meu nome é Hannah e sou comediante.
-
0:48 - 0:49Não desperdiço tempo.
-
0:49 - 0:51Agora uma terceira coisa
que podem saber sobre mim: -
0:51 - 0:55não acredito que seja qualificada
para expressar meus pensamentos. -
0:55 - 1:00Maneira ousada de se começar
uma palestra, sim, mas é verdade. -
1:00 - 1:02Sempre tive grande dificuldade
-
1:02 - 1:04em transformar meus pensamentos em fala.
-
1:06 - 1:08E então parece um tanto contraditório,
-
1:08 - 1:10que alguém como eu,
que é tão ruim de papo, -
1:10 - 1:13poderia ser algo como
uma comediante stand-up. -
1:13 - 1:15Mas aí está. Aí está.
-
1:15 - 1:17É o que é.
-
1:17 - 1:21Minha primeira tentativa como comedi...
comediante... viram? -
1:21 - 1:22Viram? Viram?
-
1:22 - 1:25(Risos)
-
1:25 - 1:28Minha primeira tentativa
com comédia stand-up -
1:28 - 1:29foi com quase 30 anos,
-
1:29 - 1:35e apesar de ser extremamente tímida,
virtualmente muda, ter baixa autoestima -
1:35 - 1:37e nunca ter segurado um microfone antes,
-
1:37 - 1:42eu sabia que, assim
que me deparasse com a plateia, -
1:42 - 1:44e mesmo antes de fazer
minha primeira piada, -
1:45 - 1:48eu sabia que realmente
gostava de stand-up, -
1:48 - 1:50e que o stand-up realmente
gostava de mim. -
1:50 - 1:54Mas de alguma maneira
eu não conseguia entender porquê. -
1:54 - 1:59Por que eu conseguia ser tão boa
em algo que era tão ruim? -
1:59 - 2:00(Risos)
-
2:00 - 2:03Eu simplesmente não compreendia,
não conseguia entender. -
2:03 - 2:05Até que entendi.
-
2:05 - 2:08Antes que eu explique a vocês o porquê
-
2:08 - 2:11de eu ser boa em algo
no qual sou tão ruim, -
2:11 - 2:14vou jogar outra contradição nesse assunto
-
2:14 - 2:18ao dizer que, não muito tempo
depois de descobrir o porquê, -
2:18 - 2:21eu decidi desistir de fazer comédia.
-
2:21 - 2:24E antes de explicar este "gato" opositor
-
2:24 - 2:26que acabei de jogar
em meio aos "pombos" pensantes, -
2:26 - 2:29deixem-me dizer isto também:
-
2:29 - 2:32desistir fez minha carreira
em comédia deslanchar. -
2:32 - 2:34(Risos)
-
2:34 - 2:38Realmente deslanchar, ao ponto
de que, depois de desistir, -
2:38 - 2:41me tornei a comediante
mais falada do planeta, -
2:41 - 2:45porque, aparentemente, sou ainda pior
em fazer planos de aposentadoria -
2:45 - 2:47do que sou falando o que penso.
-
2:51 - 2:52Tudo o que fiz até aqui,
-
2:52 - 2:56além de dar uma salpicada
de alguns detalhes biográficos, -
2:56 - 2:58é dizer indiretamente
que tenho três ideias -
2:59 - 3:00que quero compartilhar hoje.
-
3:00 - 3:04E fiz isso ao compartilhar
três contradições: -
3:04 - 3:07uma, que sou ruim em falar,
que sou boa em falar; -
3:07 - 3:10eu desisti, eu não desisti.
-
3:10 - 3:11Três ideias, três contradições.
-
3:11 - 3:14Se estão se perguntando
por que há somente duas coisas -
3:14 - 3:16na minha dita lista de três...
-
3:16 - 3:17(Risos)
-
3:17 - 3:21lembro a vocês que isso é literalmente
uma lista de contradições. Me acompanhem. -
3:21 - 3:23(Risos)
-
3:23 - 3:27O pessoal do TED me aconselhou
que em uma palestra dessa duração, -
3:27 - 3:30é melhor compartilhar só uma ideia.
-
3:31 - 3:32Eu disse não!
-
3:32 - 3:35(Risos)
-
3:36 - 3:37O que eles sabem?
-
3:38 - 3:42Explicar por que eu escolhi ignorar
o que é claramente um bom conselho, -
3:42 - 3:45quero voltar ao começo dessa palestra,
-
3:45 - 3:47especificamente,
minha piada de palíndromos. -
3:47 - 3:51Aquela piada usa meu truque favorito
do ofício de comediante: -
3:51 - 3:53a regra de três.
-
3:53 - 3:57Você faz uma declaração
e a sustenta com uma lista. -
3:57 - 3:59Toda a minha família
tem nomes palíndromos: -
3:59 - 4:02Mum, Dad, Nan, Pop.
-
4:02 - 4:06As duas primeiras ideias
na lista criam um padrão, -
4:06 - 4:08e este padrão cria uma expectativa.
-
4:08 - 4:11E aí, a terceira coisa: bum! Kayak. O quê?
-
4:11 - 4:13Esta é a regra de três.
-
4:13 - 4:15Um, dois, surpresa! Ha ha!
-
4:15 - 4:17(Risos)
-
4:21 - 4:26A regra de três não é só fundamental
ao modo como exerço meu ofício, -
4:26 - 4:28mas também ao modo como me comunico.
-
4:28 - 4:31Então não vou mudar nada para ninguém,
-
4:31 - 4:32nem mesmo pro TED,
-
4:32 - 4:35que representa três ideias:
-
4:36 - 4:37Tecnologia, Entretenimento
-
4:37 - 4:39e Doidice.
-
4:39 - 4:41(Risos)
-
4:42 - 4:44Sempre funciona, não é?
-
4:46 - 4:48Mas você precisa de mais que apenas piadas
-
4:48 - 4:50para ter sucesso como
comediante profissional. -
4:50 - 4:54Você precisa ser capaz de caminhar
a linha tênue entre ser charmoso -
4:54 - 4:56e desarmar as pessoas.
-
4:56 - 5:01E descobri que o melhor jeito de criar
o tanto de charme que preciso -
5:01 - 5:06para compensar minha
personalidade desarmante -
5:06 - 5:08não era por meio de piadas,
mas por histórias. -
5:08 - 5:10Meu stand-up é repleto de histórias:
-
5:10 - 5:12histórias sobre crescer,
assumir que sou gay, -
5:12 - 5:16sobre abuso que sofri
não só por ser mulher, -
5:16 - 5:19mas por ser uma mulher grande e masculina.
-
5:19 - 5:23Se derem uma olhada no meu trabalho,
leiam os comentários abaixo -
5:23 - 5:25pra terem exemplos desse abuso.
-
5:25 - 5:27(Risos)
-
5:27 - 5:30É aquela hora na palestra
em que mudo pra segunda marcha, -
5:30 - 5:35e vou contar uma história
sobre tudo o que acabei de dizer. -
5:35 - 5:37Em seus últimos dias de vida,
-
5:37 - 5:40minha avó estava cercada de gente,
-
5:40 - 5:42muita gente,
-
5:42 - 5:44porque ela era a matriarca amorosa
-
5:44 - 5:47de uma família grande e amorosa.
-
5:47 - 5:52Se ainda não fizeram essa conexão,
eu sou membro daquela família. -
5:52 - 5:55Eu tive sorte de conseguir
dizer adeus à minha avó -
5:55 - 5:57no dia em que ela morreu.
-
5:57 - 6:00Mas como ela já estava
voltada a ela mesma, -
6:00 - 6:03foi um adeus unilateral.
-
6:04 - 6:07Então pensei sobre muitas coisas
-
6:07 - 6:10que não havia pensado há muito tempo,
-
6:10 - 6:14como nas cartas que escrevia à minha avó
quando comecei a faculdade -
6:14 - 6:17e que preenchia com histórias
engraçadas e anedotas -
6:17 - 6:19que eu exagerava para entretê-la.
-
6:19 - 6:22E me lembrava de como
eu não conseguia articular -
6:22 - 6:27a ansiedade e o medo que me preenchiam
enquanto tentava me estabelecer -
6:27 - 6:31em um mundo que parecia
grande demais para mim. -
6:31 - 6:34Mas me lembro de que
essas cartas me confortavam, -
6:34 - 6:37porque as escrevia pensando em minha vó.
-
6:38 - 6:41Mas enquanto o mundo se tornava
cada vez mais esmagador -
6:41 - 6:45e minha habilidade de lidar com ele
piorava ao invés de melhorar, -
6:45 - 6:47parei de escrever aquelas cartas.
-
6:48 - 6:54Simplesmente achei que não tinha
a vida sobre a qual ela gostaria de ler. -
6:54 - 6:57Minha avó não sabia que eu era gay,
-
6:57 - 6:58e uns seis meses antes de ela morrer,
-
6:59 - 7:01do nada, ela me perguntou
se eu tinha um namorado. -
7:02 - 7:08Me lembro de decidir, naquele momento,
de não me assumir para a minha avó. -
7:09 - 7:12E eu fiz isso porque eu sabia
que a vida dela estava terminando, -
7:12 - 7:14e que meu tempo com ela era finito,
-
7:14 - 7:17e eu não queria falar
sobre nossas diferenças. -
7:17 - 7:20Queria falar das maneiras
em que estávamos conectadas. -
7:21 - 7:23Então eu mudei de assunto.
-
7:23 - 7:26Na hora, senti que era a decisão certa.
-
7:26 - 7:29Mas quando testemunhei
enquanto a vida da minha avó -
7:29 - 7:32estreitava-se ao seu inevitável fim,
-
7:32 - 7:34não pude deixar de sentir que tinha errado
-
7:34 - 7:37ao não compartilhar uma parte
tão significativa da minha vida. -
7:39 - 7:43Mas eu também sabia que tinha
perdido minha oportunidade, -
7:43 - 7:45e como vovó já dizia:
-
7:45 - 7:50"Ah, bem, faz parte da sopa.
Tarde demais pra tirar as cebolas". -
7:50 - 7:52(Risos)
-
7:52 - 7:54E pensei sobre aquilo,
-
7:54 - 7:59pensei sobre como tive que lidar
com cebolas demais como criança, -
8:00 - 8:04crescendo gay em um estado
onde homossexualidade era ilegal. -
8:04 - 8:07E com este pensamento,
pude ver o quão fortemente -
8:07 - 8:11eu estava presa às garras
da minha própria vergonha. -
8:11 - 8:14E com isso, pensei
em todos os meus traumas: -
8:14 - 8:17a violência, o abuso, meu estupro.
-
8:20 - 8:22E com todos aqueles pensamentos,
-
8:22 - 8:25um pensamento, uma pergunta,
sempre me vinha em mente -
8:26 - 8:28que eu não sabia responder:
-
8:28 - 8:30qual é o propósito do meu humano?
-
8:32 - 8:36De todos na minha família,
me sentia mais próxima da minha avó. -
8:36 - 8:39Nós tínhamos muito em comum.
-
8:39 - 8:41Não tanto hoje em dia.
-
8:41 - 8:43A morte realmente muda as pessoas.
-
8:43 - 8:44Mas isso...
-
8:44 - 8:45(Risos)
-
8:45 - 8:47é o senso de humor da minha avó.
-
8:47 - 8:50Mas a pessoa de que me sentia
mais próxima no mundo -
8:50 - 8:54era uma mãe, avó, bisavó, trisavó.
-
8:54 - 8:58Eu? Eu representava o fim
do meu ramo na árvore da família. -
8:58 - 9:02E não tinha certeza se ainda
estava conectada ao tronco. -
9:02 - 9:04Qual era o propósito do meu humano?
-
9:06 - 9:11O ano após a morte da minha avó
foi o mais intensamente criativo -
9:11 - 9:12da minha vida.
-
9:12 - 9:17Acho que porque, no fim, meus pensamentos
mais se juntam do que se espalham. -
9:17 - 9:20Meus pensamentos não são lineares.
-
9:20 - 9:22Sou uma pensadora visual;
eu vejo meus pensamentos. -
9:22 - 9:24Não tenho memória fotográfica,
-
9:24 - 9:30e minha memória não é uma galeria
estática de pensamentos razoáveis. -
9:30 - 9:35É mais como se fosse uma linguagem
de hieróglifos em constante evolução -
9:35 - 9:36que eu desenvolvi
-
9:36 - 9:40e consigo entender fluentemente
e usar profundamente para pensar. -
9:40 - 9:42mas sofro para traduzir.
-
9:42 - 9:45Não consigo pintar, desenhar,
esculpir, ou até mesmo cozer, -
9:46 - 9:48mas quanto à escrita,
-
9:48 - 9:54sou boa nisso, mas é um processo
tortuoso de tradução, -
9:54 - 9:56e eu não sinto que funciona bem.
-
9:56 - 10:01Quando se trata de expressar meus
pensamentos, como disse, não sou boa. -
10:01 - 10:04A fala sempre me pareceu
um quadro congelado inadequado -
10:04 - 10:07em relação à vida dentro de mim.
-
10:07 - 10:08Tudo isso pra dizer,
-
10:08 - 10:13que sempre entendi muito mais
do que conseguia comunicar. -
10:14 - 10:16Um ano antes da morte da minha avó,
-
10:16 - 10:19fui formalmente diagnosticada com autismo.
-
10:19 - 10:21Para mim, isso foi algo bom.
-
10:22 - 10:27Sempre pensei que não conseguia organizar
minha vida como uma pessoa normal -
10:27 - 10:30porque eu era deprimida e ansiosa.
-
10:30 - 10:33Mas eu era deprimida e ansiosa
-
10:33 - 10:36porque não conseguia organizar minha vida
como uma pessoa normal, -
10:36 - 10:38porque eu não era uma pessoa normal,
-
10:38 - 10:40e eu não sabia.
-
10:40 - 10:42Isso não quer dizer que não é uma luta.
-
10:42 - 10:45Todo dia é uma luta, pra ser franca.
-
10:45 - 10:48Mas pelo menos sei qual é a minha luta,
-
10:48 - 10:52e não é chegar à linha
de partida do "ser normal". -
10:52 - 10:55Minha luta não é escapar da tempestade,
-
10:55 - 11:00e sim encontrar o olho da tempestade
o melhor modo que eu puder. -
11:00 - 11:04Além das maneiras em que nós,
autistas, encontramos calma, -
11:04 - 11:08como comportamento repetitivo,
rotina, e pensamento obsessivo, -
11:08 - 11:14tenho um outro caminho surpreendente
pra chegar ao olho da tempestade: -
11:15 - 11:16comédia stand-up.
-
11:16 - 11:20E se você precisa de mais provas
que sou neurodivergente, sim, -
11:20 - 11:25estou calma fazendo algo
que assusta a maioria das pessoas. -
11:25 - 11:27Estou quase morta por dentro
aqui no palco. -
11:27 - 11:30(Risos)
-
11:31 - 11:35O diagnóstico me deu uma estrutura
na qual penduro pedaços de mim -
11:35 - 11:36que nunca pude entender.
-
11:37 - 11:39Meu lado desajustado,
de repente, tinha se ajustado, -
11:39 - 11:43fiquei animada com a confiança
que encontrei nos meus pensamentos. -
11:43 - 11:47Mas depois que minha avó morreu,
aquela confiança afundou, -
11:48 - 11:51porque pensar é como eu sofro.
-
11:51 - 11:53E neste pensamento de dor,
-
11:53 - 11:56de repente pude ver com muita clareza
-
11:56 - 12:01o quão profundamente isolada
eu estava e sempre tinha estado. -
12:02 - 12:06Qual era o propósito do meu humano?
-
12:07 - 12:13Pensei o quanto autismo e transtorno
de estresse pós traumático têm em comum. -
12:13 - 12:16e comecei a me preocupar,
porque eu tinha ambos. -
12:16 - 12:20Será que eu conseguiria separar os dois?
-
12:20 - 12:23Sempre tinham me dito
que se cura um trauma -
12:23 - 12:26por meio de uma narrativa coesa.
-
12:26 - 12:28Eu tinha uma narrativa coesa,
-
12:28 - 12:31mas ainda estava à mercê
dos meus traumas. -
12:31 - 12:35Eles todos são parte da minha sopa,
mas as cebolas ainda ardiam. -
12:35 - 12:38Naquele momento, percebi
-
12:38 - 12:40que eu estava contando
as minhas histórias pelas risadas. -
12:40 - 12:43Estava aparando a escuridão,
removendo a dor -
12:43 - 12:47e me segurando ao meu trauma
para o conforto da minha plateia. -
12:48 - 12:50Eu conectava outras pessoas
por meio das risadas, -
12:50 - 12:54mas continuava profundamente desconectada.
-
12:54 - 12:57Qual era o propósito do meu humano?
-
12:57 - 12:59Eu não tinha uma resposta,
-
12:59 - 13:01mas tinha uma ideia.
-
13:01 - 13:04Eu tinha que contar minha verdade,
-
13:04 - 13:06toda ela,
-
13:06 - 13:11não por risadas, mas compartilhando
a dor literal e visceral do meu trauma. -
13:11 - 13:14Achei que um show de comédia
seria a melhor maneira. -
13:14 - 13:16E é isso que fiz.
-
13:16 - 13:20Escrevi um show de comédia
que não respeitava a fórmula, -
13:20 - 13:24aquela em que comediantes
deveriam amenizar as dores -
13:24 - 13:25e transformá-las em cócegas.
-
13:25 - 13:26Eu não o fiz.
-
13:26 - 13:28Destruí a fórmula,
-
13:28 - 13:32metaforicamente, em frente à plateia.
-
13:32 - 13:34Eu não queria fazê-los rir.
-
13:35 - 13:37Eu queria deixá-los sem ar,
-
13:37 - 13:38chocá-los,
-
13:38 - 13:43para que pudessem ouvir minha história
e sentir minha dor como indivíduos, -
13:43 - 13:47e não como uma multidão
que ri e não pensa. -
13:47 - 13:51E é isso que fiz, e chamei
o show de "Nanette". -
13:51 - 13:54(Aplausos)
-
13:58 - 14:00Muitos disseram
-
14:00 - 14:02que "Nanette" não é um show de comédia.
-
14:02 - 14:07E apesar de concordar que "Nanette"
realmente não é um show de comédia, -
14:07 - 14:09estas pessoas ainda estão erradas,
-
14:09 - 14:10(Risos)
-
14:10 - 14:16porque o argumento delas é pensando
que eu falhei ao fazer comédia. -
14:17 - 14:20Eu não falhei ao fazer comédia.
-
14:20 - 14:24Usei tudo o que sabia sobre comédia,
-
14:24 - 14:27todos os truques,
ferramentas, conhecimento, -
14:27 - 14:30peguei tudo isso, e quebrei a comédia.
-
14:30 - 14:33Não se quebra a comédia com comédia
-
14:33 - 14:35se você falhar ao fazer comédia.
-
14:35 - 14:37Flácido é o teu martelo!
-
14:37 - 14:40(Risos) (Aplausos)
-
14:44 - 14:45Aquela não era minha intenção.
-
14:45 - 14:49Minha intenção não era
simplesmente quebrar a comédia, -
14:50 - 14:54e sim quebrar a comédia
para reconstruí-la, reformá-la, -
14:54 - 14:58transformá-la em algo que pudesse
conter melhor tudo aquilo -
14:58 - 15:00que eu precisava compartilhar,
-
15:00 - 15:03e é isso que quis dizer quando
disse que desisti da comédia. -
15:05 - 15:06Devem estar se perguntando:
-
15:06 - 15:10"Legal, mas quais são
as três ideias, exatamente? -
15:10 - 15:12Está um tanto vago".
-
15:12 - 15:14Fico feliz em fingir
que vocês perguntaram. -
15:14 - 15:17(Risos)
-
15:19 - 15:24Tenho certeza que alguns de vocês
já identificaram as três ideias. -
15:24 - 15:27Uma plateia inteligente,
de diversas maneiras, -
15:27 - 15:29eu não me surpreenderia.
-
15:29 - 15:33Mas talvez se surpreendam ao descobrir
que não tenho três ideias. -
15:33 - 15:37Eu disse que tinha, mas era mentira.
-
15:37 - 15:40Era pura enganação, sou muito engraçada.
-
15:40 - 15:46Em vez disso, na verdade, peguei
várias ideias como sementes, -
15:47 - 15:49e as espalhei pela minha palestra.
-
15:50 - 15:52Por que fiz isso?
-
15:52 - 15:54Bem, além de achar engraçado,
-
15:55 - 15:58tem a ver com algo que minha avó dizia:
-
15:59 - 16:04"Não é o jardim,
mas a jardinagem que importa". -
16:04 - 16:08E "Nanette" me ensinou
a verdade nesse ditado. -
16:08 - 16:11Eu esperava, ao quebrar
o contrato da comédia -
16:11 - 16:16e contar minha história
em toda a verdade e dor -
16:16 - 16:21que isso me empurraria
às margens da vida e da arte. -
16:22 - 16:28Eu acreditava nisso e estava disposta
a pagar o preço pra contar minha verdade. -
16:28 - 16:31Mas não foi isso que aconteceu.
-
16:31 - 16:34O mundo não me empurrou para longe.
Ele me puxou para perto. -
16:35 - 16:39Por meio de um ato de desconexão,
encontrei conexão. -
16:40 - 16:44E eu levei bastante tempo para entender
que o que está no cerne desta contradição -
16:44 - 16:47também está no cerne da contradição
-
16:47 - 16:52de por que sou tão boa em algo
em que sou tão ruim. -
16:53 - 16:57No mundo real, eu sofro para conversar
-
16:57 - 17:03porque minha neurodiversidade
faz com que seja difícil para eu pensar, -
17:04 - 17:07escutar, falar e processar
novas informações -
17:07 - 17:08tudo ao mesmo tempo.
-
17:09 - 17:11Mas no palco, eu não tenho de pensar.
-
17:11 - 17:13Me preparo com antecedência.
-
17:14 - 17:16Não tenho de ouvir.
Este é o trabalho de vocês. -
17:16 - 17:18(Risos)
-
17:18 - 17:20E na verdade não tenho de falar,
-
17:20 - 17:23porque, na prática, estou recitando.
-
17:24 - 17:26Então tudo o que resta
-
17:27 - 17:29é dar meu melhor
-
17:30 - 17:34para fazer uma conexão genuína
com minha plateia. -
17:36 - 17:39E se a experiência de "Nanette"
me ensinou algo, -
17:39 - 17:43é que conexão não depende só de mim.
-
17:44 - 17:46Vocês desempenham um papel.
-
17:47 - 17:50"Nanette" pode ter começado em mim,
-
17:50 - 17:54mas agora ela vive e cresce
num mundo de outras mentes, -
17:54 - 17:57mentes das quais não compartilho.
-
17:57 - 17:59Mas confio que estou conectada.
-
18:01 - 18:03E nesse sentido,
ela é muito maior do que eu, -
18:04 - 18:09assim como o propósito de ser humano
é muito maior que todos nós. -
18:09 - 18:11Entendam isso como quiserem.
-
18:11 - 18:12Obrigada, e olá.
-
18:13 - 18:14(Aplausos)
- Title:
- Três ideias. Três contradições. Ou não.
- Speaker:
- Hannah Gadsby
- Description:
-
O inovador show "Nanette" de Hannah Gadsby quebrou a comédia. Em uma palestra sobre verdade e propósito, ela compartilha três ideias e três contradições. Ou não.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 18:33
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André Gimael
Olá Maricene. Aos 1:37 o correto não é 'deparasse', e sim 'deparei'. Ela não afirma que já sabia, ela diz que soube que amava a plateia e que a plateia a amava depois do primeiro stand-up dela, mesmo antes de contar a primeira piada...