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Vamos falar de tabus

  • 0:04 - 0:07
    Alisa Volkman:
    É aqui que começa a nossa história...
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    os dramáticos momentos do nascimento
    do nosso primeiro filho, Declan.
  • 0:11 - 0:13
    Foi um momento muito profundo,
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    que mudou a nossa vida de várias formas.
  • 0:15 - 0:17
    Também mudou a nossa vida
    de maneiras inesperadas.
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    Mais tarde refletimos
    sobre essas formas inesperadas,
  • 0:20 - 0:22
    e acabámos por imaginar
    um negócio entre os dois.
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    Um ano depois, lançámos o Babble,
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    um site de Internet para pais.
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    Rufus Griscom: Creio que a nossa história
    começou uns anos antes.
  • 0:29 - 0:31
    (AV: É verdade.)
  • 0:31 - 0:34
    RG: Deves lembrar-te
    que nos apaixonámos loucamente.
  • 0:34 - 0:35
    AV: Pois foi.
  • 0:35 - 0:37
    RG: Na altura, geríamos
    um site totalmente diferente.
  • 0:37 - 0:39
    Era um site chamado Nerve.com,
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    cuja categoria era
    "obscenamente culto".
  • 0:42 - 0:43
    (Risos)
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    Em teoria, e esperávamos que na prática,
  • 0:45 - 0:49
    era uma revista elegante online
    sobre sexo e cultura.
  • 0:50 - 0:53
    AV: Que deu origem
    a um site de encontros online.
  • 0:53 - 0:55
    Nem calculam as piadas
    a que éramos sujeitos.
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    O sexo gera bebés.
  • 0:56 - 0:59
    Sigam as instruções no Nerve
    e terminam de certeza no Babble,
  • 0:59 - 1:00
    tal como nós.
  • 1:00 - 1:04
    Podemos lançar um terceiro site,
    de geriatria. Veremos.
  • 1:04 - 1:07
    RG: Mas para nós, a ligação
    entre o Nerve e o Babble
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    não se resumia às fases da vida,
    o que, obviamente, é relevante,
  • 1:11 - 1:14
    mas tinha mais a ver com o nosso desejo
  • 1:14 - 1:16
    de falar muito francamente de assuntos
  • 1:16 - 1:19
    de que as pessoas têm dificuldade
    em falar francamente.
  • 1:19 - 1:22
    Parece-nos que,
    quando as pessoas começam a dissimular,
  • 1:22 - 1:24
    começam a mentir sobre as coisas,
  • 1:24 - 1:26
    é aí que o assunto
    se torna interessante,
  • 1:26 - 1:27
    que queremos aprofundar.
  • 1:27 - 1:30
    Ficámos surpreendidos ao descobrir,
    enquanto pais,
  • 1:30 - 1:33
    que afinal há quase tantos tabus
    à volta da paternidade
  • 1:33 - 1:35
    quanto os que existem à volta do sexo.
  • 1:35 - 1:36
    AV: É verdade. Tal como dissemos,
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    os anos iniciais foram fantásticos,
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    mas também foram muito difíceis.
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    Sentimos que algumas dessas dificuldades
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    foram provocadas por esses falsos mitos
    em torno da paternidade.
  • 1:46 - 1:48
    (Risos)
  • 1:47 - 1:50
    Assinámos muitas revistas,
    fizemos o trabalho de casa,
  • 1:50 - 1:53
    mas para qualquer lado que olhássemos,
    só víamos imagens como esta.
  • 1:54 - 1:55
    E mergulhámos na paternidade
  • 1:55 - 1:58
    na expetativa de que
    a nossa vida seria assim.
  • 1:58 - 2:01
    O sol estaria sempre a brilhar,
    os nossos filhos nunca chorariam.
  • 2:01 - 2:04
    Eu estaria sempre perfeitamente
    penteada e bem descansada.
  • 2:04 - 2:06
    Na realidade, não é nada disso.
  • 2:06 - 2:09
    RG: Quando pusemos de lado
    as belas revistas de paternidade
  • 2:09 - 2:12
    que andávamos a ler,
    com estas lindas imagens,
  • 2:12 - 2:14
    e olhámos para a nossa sala de estar,
  • 2:14 - 2:16
    o aspeto era mais parecido com isto.
  • 2:16 - 2:17
    Estes são os nossos três filhos.
  • 2:17 - 2:19
    Claro, não estão sempre
    a chorar e aos gritos.
  • 2:19 - 2:22
    Mas com três rapazes,
    há uma alta probabilidade
  • 2:22 - 2:24
    de, pelo menos um deles,
    não estar a comportar-se
  • 2:24 - 2:25
    exatamente como devia.
  • 2:26 - 2:29
    AV: Podem ver como tínhamos estado
    longe da realidade.
  • 2:29 - 2:31
    Sentimos que as nossas expetativas
  • 2:31 - 2:34
    não tinham nada a ver
    com o que estávamos a viver.
  • 2:34 - 2:37
    Por isso, decidimos
    transmitir a realidade aos pais.
  • 2:37 - 2:40
    Queríamos que eles percebessem
  • 2:40 - 2:43
    quais as realidades da paternidade
    de uma forma honesta.
  • 2:44 - 2:45
    RG: O que queremos fazer hoje
  • 2:45 - 2:49
    é partilhar convosco
    quatro tabus da paternidade.
  • 2:49 - 2:51
    Claro que há muito mais
    do que quatro coisas
  • 2:51 - 2:53
    que se podem dizer sobre a paternidade.
  • 2:53 - 2:55
    Mas hoje queríamos falar de quatro
  • 2:55 - 2:58
    que são particularmente relevantes
    para nós pessoalmente.
  • 2:58 - 3:01
    O primeiro tabu, o tabu número um:
  • 3:01 - 3:04
    "Não podemos dizer que não
    nos apaixonámos pelo nosso bebé
  • 3:04 - 3:06
    "desde o primeiro minuto".
  • 3:06 - 3:09
    Recordo vivamente,
    sentado ali no hospital.
  • 3:09 - 3:12
    Estávamos no processo de dar à luz
    o nosso primeiro filho.
  • 3:12 - 3:13
    AV: Nós, ou eu?
  • 3:14 - 3:15
    RG: Desculpa.
  • 3:15 - 3:17
    Uso errado do pronome.
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    A Alisa estava generosamente no processo
    de dar à luz o nosso primeiro filho...
  • 3:21 - 3:23
    AV: Obrigada.
  • 3:23 - 3:25
    ... e eu estava ali
    com uma luva de basebol.
  • 3:25 - 3:26
    Estava ali, de braços abertos.
  • 3:26 - 3:30
    A enfermeira veio ter comigo
    com esta maravilhosa criança.
  • 3:29 - 3:33
    E eu a lembrar-me,
    ao vê-la aproximar-se de mim,
  • 3:33 - 3:34
    das vozes dos amigos a dizer:
  • 3:34 - 3:37
    "No momento em que eles
    te põem o bebé nos braços,
  • 3:37 - 3:39
    "vais sentir uma enorme
    onda de amor a atingir-te
  • 3:39 - 3:42
    "que tem uma dimensão mais poderosa
  • 3:42 - 3:44
    "do que tudo o que já sentiste
    em toda a tua vida."
  • 3:44 - 3:47
    Assim, eu estava-me a preparar
    para esse momento.
  • 3:47 - 3:48
    O bebé vinha aí,
  • 3:48 - 3:52
    e eu pronto para a onda de amor
    do tamanho de um camião TIR
  • 3:52 - 3:53
    que me ia atirar ao chão.
  • 3:53 - 3:56
    Em vez disso, quando me puseram
    o bebé nos braços,
  • 3:56 - 3:58
    foi um momento extraordinário.
  • 3:58 - 4:01
    Esta fotografia foi tirada segundos depois
  • 4:01 - 4:04
    de o bebé estar nos meus braços,
    e eu o ter passado à mãe.
  • 4:04 - 4:07
    Como podem ver,
    os nossos olhos estavam a brilhar.
  • 4:07 - 4:10
    Eu estava assoberbado de amor
    e afeto pela minha mulher,
  • 4:10 - 4:13
    e uma enorme gratidão por termos
    o que parecia ser uma criança saudável.
  • 4:14 - 4:16
    Claro que também foi muito surrealista
  • 4:16 - 4:19
    Tive de verificar as pulseiras
    para ter a certeza, eu estava incrédulo.
  • 4:19 - 4:21
    "Têm a certeza de que é o nosso filho?"
  • 4:21 - 4:23
    Era tudo extraordinário.
  • 4:23 - 4:25
    Mas o que senti pela criança
    foi um grande afeto,
  • 4:25 - 4:29
    mas nada do que viria a sentir por ele
    agora, cinco anos depois.
  • 4:29 - 4:32
    E por isso fizemos uma coisa
    que é uma heresia.
  • 4:33 - 4:35
    Fizemos um gráfico
  • 4:35 - 4:38
    do nosso amor pelos nossos filhos,
    ao longo dos anos.
  • 4:38 - 4:40
    (Risos)
  • 4:41 - 4:44
    Como sabem, isto é uma heresia.
  • 4:44 - 4:46
    É proibido fazer um gráfico do amor.
  • 4:46 - 4:48
    E não é permitido fazer
    um gráfico do amor
  • 4:48 - 4:50
    porque pensamos no amor
    como uma coisa binária.
  • 4:50 - 4:52
    Ou estamos apaixonados, ou não estamos.
  • 4:52 - 4:54
    Amamos, ou não amamos.
  • 4:54 - 4:56
    Eu acho que o amor é um processo.
  • 4:56 - 5:00
    E acho que o problema de pensar no amor
    como uma coisa que é binária
  • 5:00 - 5:04
    é que isso leva-nos
    a pensar, indevidamente,
  • 5:04 - 5:08
    que o amor é fraudulento,
    inadequado, ou seja o que for.
  • 5:08 - 5:11
    Eu estou obviamente a falar
    da experiência de ser pai.
  • 5:11 - 5:13
    Mas acho que muitos homens
    passam pela mesma coisa
  • 5:13 - 5:16
    nos primeiros meses,
    talvez no primeiro ano.
  • 5:16 - 5:19
    A sua reação emocional
    é, de certa forma, inadequada.
  • 5:19 - 5:21
    AV: Ainda bem que o Rufus fala nisto,
  • 5:21 - 5:24
    porque vemos que a curva dele
    é baixa nos primeiros anos
  • 5:24 - 5:27
    em que acho que era eu
    a fazer a maior parte do trabalho.
  • 5:27 - 5:29
    Mas gostamos de gozar.
  • 5:29 - 5:31
    Nos primeiros meses de vida
    dos nossos filhos,
  • 5:31 - 5:32
    há um Tio Rufus.
  • 5:32 - 5:34
    (Risos)
  • 5:34 - 5:36
    RG: Eu sou um tio muito afetuoso,
    um tio muito afetuoso.
  • 5:36 - 5:40
    AV: Eu costumo troçar do Rufus
    quando ele chega a casa
  • 5:40 - 5:43
    porque acho que ele nunca conseguiria
    distinguir um filho nosso
  • 5:43 - 5:45
    no meio de outros bebés.
  • 5:45 - 5:48
    Por isso preparei
    um teste surpresa para o Rufus.
  • 5:48 - 5:49
    RG: Oh-oh...
  • 5:49 - 5:52
    AV: Não quero envergonhá-lo.
    Dou-lhe três segundos para responder.
  • 5:52 - 5:55
    RG: Não é justo. Aqui há rasteira.
    Ele não está ali, pois não?
  • 5:55 - 5:58
    AV: O nosso filho de oito semanas
    está algures ali.
  • 5:58 - 6:00
    Queria ver se o Rufus
    é capaz de o identificar.
  • 6:00 - 6:01
    RG: O último da esquerda.
  • 6:01 - 6:02
    AV: Não!
  • 6:03 - 6:05
    (Risos)
  • 6:09 - 6:10
    RG: Que cruel!
  • 6:10 - 6:12
    AV: Não é preciso dizer mais nada.
  • 6:12 - 6:14
    (Risos)
  • 6:14 - 6:16
    Vou avançar para o tabu número dois.
  • 6:16 - 6:20
    "É proibido dizer que ter um bebé
    pode ser uma tarefa solitária".
  • 6:20 - 6:22
    Eu adorei estar grávida, adorei.
  • 6:22 - 6:25
    Senti-me incrivelmente ligada
    à comunidade à minha volta.
  • 6:25 - 6:28
    Senti que toda a gente à minha volta,
    participava na minha gravidez,
  • 6:28 - 6:31
    seguindo-a até à data do parto.
  • 6:31 - 6:34
    Eu senti que era um recetáculo
    do futuro da humanidade.
  • 6:34 - 6:38
    Isso continuou quando fui para o hospital.
    foi realmente emocionante.
  • 6:38 - 6:41
    Fui inundada de presentes,
    de flores e de visitas.
  • 6:41 - 6:43
    Foi uma experiência mesmo maravilhosa.
  • 6:43 - 6:46
    Mas quando fui para casa,
  • 6:46 - 6:50
    de repente, senti-me desligada
    e subitamente isolada e ignorada.
  • 6:50 - 6:52
    Fiquei muito surpreendida
    com aqueles sentimentos.
  • 6:52 - 6:54
    Eu já esperava que fosse difícil,
  • 6:54 - 6:57
    passar noites em branco,
    amamentar constantemente,
  • 6:57 - 7:01
    mas não contava com os sentimentos
    de isolamento e solidão que sentia.
  • 7:01 - 7:04
    Fiquei surpreendida
    por ninguém me ter avisado,
  • 7:04 - 7:06
    que eu me ia sentir daquela maneira.
  • 7:06 - 7:09
    Telefonei à minha irmã,
    a quem estou muito ligada
  • 7:09 - 7:11
    — ela teve três crianças —
    e perguntei-lhe:
  • 7:11 - 7:14
    "Porque é que não me disseste
    que eu me ia sentir assim,
  • 7:14 - 7:18
    "que me ia sentir incrivelmente isolada?"
  • 7:18 - 7:20
    E ela respondeu
    — nunca me hei de esquecer —
  • 7:20 - 7:23
    "Não é uma coisa
    que se queira dizer a uma mãe
  • 7:23 - 7:25
    "que vai ter um bebé pela primeira vez."
  • 7:25 - 7:27
    RG: E claro, nós pensamos
  • 7:27 - 7:30
    que é precisamente
    o que devemos mesmo dizer
  • 7:30 - 7:33
    às mães que têm filhos pela primeira vez.
  • 7:33 - 7:35
    Este é um dos temas
  • 7:35 - 7:38
    em que nós pensamos
  • 7:38 - 7:40
    que a sinceridade e a honestidade brutal
  • 7:40 - 7:44
    é fundamental para que todos nós
    sejamos pais excelentes.
  • 7:44 - 7:46
    É difícil deixar de pensar
  • 7:46 - 7:49
    que parte do que leva
    a esse sentimento de isolamento
  • 7:49 - 7:51
    é o nosso mundo moderno.
  • 7:51 - 7:53
    A experiência da Alisa
    não é um caso isolado.
  • 7:53 - 7:56
    Temos 58% de mães inquiridas
    que relatam sentimentos de solidão.
  • 7:56 - 8:00
    Destas, 67% sentem-se mais sós
    quando têm filhos dos 0 aos 5 anos,
  • 8:00 - 8:02
    mais provavelmente dos 0 aos 2 anos.
  • 8:02 - 8:04
    Quando estávamos a preparar isto,
  • 8:04 - 8:06
    observámos como algumas
    outras culturas do mundo
  • 8:06 - 8:08
    lidam com este período de tempo,
  • 8:08 - 8:10
    porque aqui, no mundo ocidental,
  • 8:10 - 8:13
    menos de metade
    vivem perto dos seus familiares,
  • 8:13 - 8:16
    e acho que, em parte, é por isso
    que é um período tão duro.
  • 8:16 - 8:19
    Consideremos um exemplo,
    entre muitos.
  • 8:19 - 8:22
    No sul da Índia, há uma prática
    conhecida por jholabihari,
  • 8:22 - 8:25
    em que, quando uma mulher está grávida
    de sete ou oito meses,
  • 8:25 - 8:27
    vai viver com a sua mãe
  • 8:27 - 8:29
    e atravessa uma série
    de rituais e cerimónias,
  • 8:29 - 8:33
    dá à luz e só volta para casa
    da sua família nuclear
  • 8:33 - 8:34
    uns meses depois de a criança nascer.
  • 8:34 - 8:36
    Pensamos que esta é uma das muitas formas
  • 8:36 - 8:39
    como as outras culturas compensam
    este período de solidão.
  • 8:40 - 8:42
    AV: Então o tabu número três:
  • 8:42 - 8:44
    "Não se pode falar
    de abortos espontâneos"
  • 8:44 - 8:46
    mas hoje vou falar-vos do meu.
  • 8:46 - 8:49
    Depois de termos o Declan,
    repensámos as nossas expetativas.
  • 8:49 - 8:52
    Pensámos que podíamos passar
    por tudo aquilo outra vez
  • 8:52 - 8:55
    e pensámos que já sabíamos
    o que íamos enfrentar.
  • 8:55 - 8:57
    Ficámos satisfeitos
    por eu ter engravidado de novo.
  • 8:57 - 9:00
    Fiquei a saber que íamos ter um menino.
  • 9:00 - 9:01
    Quando eu estava de cinco meses,
  • 9:01 - 9:04
    soubemos que tínhamos
    perdido o nosso bebé.
  • 9:04 - 9:07
    Esta é a última imagem que temos dele.
  • 9:07 - 9:10
    É óbvio que foram tempos muito difíceis,
  • 9:10 - 9:12
    muito dolorosos.
  • 9:12 - 9:15
    Enquanto eu estava a atravessar
    o processo de luto,
  • 9:15 - 9:19
    fiquei espantada
    porque não queria ver ninguém.
  • 9:19 - 9:21
    Eu só queria rastejar para um buraco.
  • 9:21 - 9:24
    Não fazia a mínima ideia
    de como é que ia voltar
  • 9:24 - 9:26
    para a comunidade que me rodeava.
  • 9:26 - 9:29
    Depois percebi
    que me estava a sentir assim,
  • 9:29 - 9:31
    — é um sentimento muito profundo —
  • 9:31 - 9:34
    o que eu sentia era muita vergonha,
  • 9:34 - 9:36
    francamente, estava embaraçada,
  • 9:36 - 9:39
    porque, de certa forma,
    eu tinha fracassado
  • 9:39 - 9:42
    em trazer ao mundo aquilo
    para que estou geneticamente concebida.
  • 9:42 - 9:44
    Claro que isso fez-me pôr em dúvida
  • 9:44 - 9:45
    se eu não seria capaz
    de ter outro bebé,
  • 9:45 - 9:48
    o que significaria isso
    para o meu casamento,
  • 9:48 - 9:50
    e para mim como mulher.
  • 9:50 - 9:51
    Portanto, foi um tempo muito difícil.
  • 9:51 - 9:53
    Enquanto tentava compreender isso,
  • 9:53 - 9:57
    comecei a sair daquele buraco
    e a falar com outras pessoas.
  • 9:57 - 9:58
    Fiquei muito espantada
  • 9:58 - 10:00
    com todas as histórias
    que começaram a surgir.
  • 10:00 - 10:02
    Pessoas com quem interagia diariamente,
  • 10:02 - 10:04
    com quem trabalhava, de quem era amiga,
  • 10:04 - 10:06
    membros da família
    que conhecia há muito,
  • 10:06 - 10:08
    nunca me tinham contado as suas histórias.
  • 10:08 - 10:12
    E lembro-me da sensação de descobrir
    essas histórias saídas do armário.
  • 10:12 - 10:13
    Senti-me como se tivesse entrado
  • 10:13 - 10:17
    numa sociedade secreta
    de mulheres da que agora fazia parte,
  • 10:17 - 10:20
    o que era reconfortante
    mas também algo preocupante.
  • 10:21 - 10:24
    Eu acho que um aborto
    é uma perda invisível.
  • 10:24 - 10:28
    Não existe muito apoio
    da comunidade quanto a isso.
  • 10:27 - 10:30
    Não há uma cerimónia,
    rituais, ou ritos.
  • 10:30 - 10:33
    Com uma morte, há um funeral,
    celebramos a vida,
  • 10:33 - 10:35
    e há muito apoio da comunidade.
  • 10:35 - 10:38
    É uma coisa que as mulheres não têm
    quando abortam.
  • 10:38 - 10:39
    RG: O que é muito mau,
  • 10:39 - 10:42
    porque é uma experiência
    muito comum e muito traumática.
  • 10:42 - 10:44
    15 a 20 % das gestações
    acabam num aborto espontâneo.
  • 10:44 - 10:46
    Eu acho isto impressionante.
  • 10:46 - 10:49
    Numa pesquisa, 74% das mulheres
    disseram que sentiram
  • 10:49 - 10:52
    que o aborto fora em parte
    por sua culpa, o que é horrível.
  • 10:52 - 10:54
    Ainda mais impressionante, 22 % disseram
  • 10:54 - 10:56
    que esconderiam do marido
    um aborto espontâneo.
  • 10:56 - 10:58
    Agora o tabu número quatro:
  • 10:58 - 11:01
    "Não se pode dizer
    que a vossa felicidade normal
  • 11:01 - 11:03
    "diminuiu por terem tido um filho".
  • 11:03 - 11:07
    A verdade é que cada aspeto da minha vida
  • 11:07 - 11:09
    tornou-se radicalmente melhor
  • 11:09 - 11:11
    desde que eu participei
  • 11:11 - 11:14
    no milagre que é o nascimento
    de uma criança e uma família.
  • 11:14 - 11:17
    Nunca esquecerei
    — lembro-me perfeitamente até hoje —
  • 11:17 - 11:20
    o nosso primeiro filho, Declan,
    tinha nove meses,
  • 11:20 - 11:22
    eu estava sentado no sofá,
  • 11:22 - 11:26
    e estava a ler um livro espetacular
    de Daniel Gilbert, "Tropeçar na Felicidade."
  • 11:26 - 11:28
    Eu já ia a cerca
    de dois terços da leitura,
  • 11:28 - 11:31
    e havia um gráfico do lado direito,
  • 11:31 - 11:33
    na página do lado direito,
  • 11:33 - 11:34
    que nós intitulámos aqui
  • 11:34 - 11:37
    "O Gráfico mais Aterrorizador
    que é possível Imaginar
  • 11:37 - 11:39
    "para Pais pela Primeira Vez".
  • 11:39 - 11:42
    Era constituído por quatro estudos
    totalmente independentes.
  • 11:42 - 11:46
    Vemos aqui esta queda brutal
    da satisfação marital,
  • 11:47 - 11:50
    que está muito alinhada
    com uma maior felicidade
  • 11:50 - 11:52
    e que só sobe de novo
  • 11:52 - 11:54
    quando o primeiro filho
    entra na universidade.
  • 11:54 - 11:55
    (Risos)
  • 11:55 - 11:58
    Eu fiquei sentado a pensar
    nos 20 anos seguintes da minha vida,
  • 11:58 - 12:00
    este abismo de felicidade
  • 12:00 - 12:03
    para onde estávamos a conduzir
    o nosso descapotável proverbial.
  • 12:03 - 12:05
    Ficámos desanimados.
  • 12:05 - 12:08
    AV: Podem imaginar, repito,
    os primeiros meses foram difíceis,
  • 12:08 - 12:10
    mas conseguimos ultrapassá-los,
  • 12:10 - 12:12
    e ficámos muito chocados
    ao ver este estudo.
  • 12:12 - 12:14
    Quisemos estudá-lo mais profundamente
  • 12:14 - 12:17
    na esperança de encontrar a luz
    ao fundo do túnel.
  • 12:17 - 12:19
    RG: É nestas alturas que é ótimo
    ter um site para pais,
  • 12:19 - 12:22
    porque nós temos uma repórter incrível
  • 12:22 - 12:24
    que foi entrevistar os cientistas todos
  • 12:24 - 12:27
    que realizaram estes quatro estudos.
  • 12:27 - 12:29
    Dissemos:
    "Há aqui qualquer coisa de errado.
  • 12:29 - 12:31
    "Falta qualquer coisa nestes estudos.
  • 12:31 - 12:33
    "Não é possível que seja assim tão mau".
  • 12:34 - 12:37
    Liz Mitchell fez um excelente trabalho.
  • 12:38 - 12:40
    Entrevistou os quatro cientistas,
  • 12:40 - 12:42
    e também entrevistou o Daniel Gilbert.
  • 12:42 - 12:45
    E acabámos por encontrar
    a luz ao fundo do túnel.
  • 12:45 - 12:47
    Este é o nosso palpite
  • 12:47 - 12:49
    sobre o que esta linha base
    da felicidade média
  • 12:49 - 12:52
    provavelmente parecerá ao longo da vida.
  • 12:52 - 12:54
    Mas a felicidade média é inadequada,
  • 12:54 - 12:57
    porque não menciona as experiências,
    momento a momento.
  • 12:57 - 13:00
    Então, isto é o que achamos que parece
  • 13:00 - 13:03
    quando introduzimos as experiências,
    momento a momento.
  • 13:03 - 13:05
    (Risos)
  • 13:06 - 13:09
    Todos nos lembramos, como as crianças
    à mais pequena coisa,
  • 13:09 - 13:11
    — e vemos isso na cara dos nossos filhos —
  • 13:11 - 13:12
    a mais pequena coisa
  • 13:12 - 13:16
    pode projetá-los para aquelas alturas
    de adulação absoluta,
  • 13:16 - 13:18
    e, a seguir, a mais pequena coisa
  • 13:18 - 13:21
    pode fazê-las cair a pique
    nas profundezas do desespero.
  • 13:21 - 13:24
    É extraordinário observá-lo,
    lembramo-nos disso em nós mesmos.
  • 13:24 - 13:26
    Depois, claro, quando ficamos mais velhos,
  • 13:26 - 13:28
    é como se a idade fosse
    uma forma de lítio.
  • 13:28 - 13:31
    Quando envelhecemos,
    vamos ficando mais estáveis.
  • 13:31 - 13:34
    Penso que parte do que acontece,
    nos nossos 20 e 30 anos,
  • 13:34 - 13:36
    é que começamos a aprender
    os limites da nossa felicidade.
  • 13:36 - 13:38
    Começamos a perceber:
  • 13:38 - 13:41
    Eu podia ir àquele concerto ao vivo
  • 13:41 - 13:43
    e ter uma experiência
    totalmente transformadora
  • 13:43 - 13:46
    que cobrirá o meu corpo
    de pele de galinha,
  • 13:46 - 13:48
    mas é mais provável
    que me vá sentir claustrofóbico
  • 13:48 - 13:50
    e nem consiga beber uma cerveja.
  • 13:50 - 13:52
    Por isso, acho que não vou.
  • 13:52 - 13:55
    Tenho uma boa aparelhagem
    em casa, portanto, não vou.
  • 13:55 - 13:58
    Assim, a nossa felicidade média sobe,
  • 13:58 - 14:01
    mas perdemo-la naqueles
    momentos transcendentes.
  • 14:01 - 14:03
    AV: Sim, e depois temos o primeiro filho.
  • 14:03 - 14:07
    Aí, temos mesmo de aceitar
    aqueles altos e baixos.
  • 14:07 - 14:10
    Os altos são os primeiros passos,
    o primeiro sorriso,
  • 14:10 - 14:12
    o nosso filho a ler pela primeira vez.
  • 14:12 - 14:17
    Os baixos é estar em casa a qualquer hora
    das seis às sete, todas as noites.
  • 14:17 - 14:19
    Depois percebemos que aceitamos
  • 14:19 - 14:22
    perder o controlo
    de uma forma maravilhosa.
  • 14:22 - 14:25
    Pensamos que isso
    dá muito significado à nossa vida
  • 14:25 - 14:26
    e é muito gratificante.
  • 14:26 - 14:29
    RG: Então, de facto,
  • 14:29 - 14:31
    nós negociamos a felicidade média,
  • 14:31 - 14:33
    trocamos o sentido de segurança e proteção
  • 14:33 - 14:35
    de certos níveis de contentamento
  • 14:35 - 14:37
    por estes momentos transcendentes.
  • 14:37 - 14:39
    Então, onde é que isto nos deixa.
    a nós os dois,
  • 14:39 - 14:42
    numa família com os nossos três rapazes
  • 14:42 - 14:43
    no meio disto tudo?
  • 14:43 - 14:45
    Há outro fator no nosso caso.
  • 14:45 - 14:49
    Nós violámos mais um tabu
    na nossa vida,
  • 14:50 - 14:52
    Este tabu é um bónus.
  • 14:53 - 14:56
    AV: Este tabu bónus, é que
    "Não devemos trabalhar juntos",
  • 14:56 - 14:58
    — especialmente com três crianças —
  • 14:58 - 15:00
    e nós trabalhamos juntos.
  • 15:00 - 15:03
    RG: Logo de início,
    tínhamos algumas reservas.
  • 15:03 - 15:06
    Todos sabem: "Nem pensar em trabalhar
    com o nosso cônjuge".
  • 15:06 - 15:09
    Quando começámos a juntar dinheiro
    para lançar o Babble,
  • 15:09 - 15:10
    os capitalistas de risco disseram:
  • 15:10 - 15:12
    "Não investimos de forma alguma
  • 15:12 - 15:15
    em empresas formadas por marido e mulher,
  • 15:15 - 15:17
    "porque há uma possibilidade extra
    de falharem.
  • 15:17 - 15:19
    "É má ideia. Não façam isso."
  • 15:19 - 15:21
    Obviamente nós avançámos.
  • 15:21 - 15:24
    Arranjámos o dinheiro, e estamos felizes
    por o termos feito,
  • 15:24 - 15:26
    porque, nesta fase da nossa vida,
  • 15:26 - 15:29
    o recurso incrivelmente
    mais escasso é o tempo.
  • 15:29 - 15:32
    Se estivermos apaixonados
    pelo que fazemos — e nós estamos —
  • 15:32 - 15:34
    e também estivermos
    apaixonados pela nossa relação,
  • 15:34 - 15:37
    esta é a única forma de fazer isto.
  • 15:37 - 15:39
    Por isso a pergunta final que fazemos é:
  • 15:39 - 15:42
    Podemos alterar, coletivamente,
    aquele gráfico da felicidade para cima?
  • 15:42 - 15:45
    É ótimo ter aqueles momentos
    transcendentes de alegria,
  • 15:45 - 15:47
    mas às vezes são muito rápidos.
  • 15:48 - 15:50
    E se alterássemos a linha base
    da felicidade média?
  • 15:50 - 15:52
    Podemos subi-la um bocadinho?
  • 15:52 - 15:55
    AV: Sentimos que esta lacuna de felicidade,
    de que falámos,
  • 15:55 - 15:57
    é resultado de começarmos a ser pais
  • 15:57 - 16:00
    — e, já agora, de qualquer parceria
    a longo termo —
  • 16:00 - 16:01
    com as expetativas erradas.
  • 16:01 - 16:05
    Se tivermos as expetativas certas,
    e gerirmos essas expetativas,
  • 16:05 - 16:07
    sentimos que vai ser
    uma experiência muito gratificante.
  • 16:07 - 16:09
    RG: Tudo se resume a isso.
  • 16:09 - 16:11
    Pensamos que muitos pais
  • 16:11 - 16:13
    quando entramos nisto
    — pelo menos, foi o nosso caso —
  • 16:13 - 16:17
    fazemos as malas para uma viagem à Europa,
    e ficamos entusiasmados com isso.
  • 16:17 - 16:20
    Quando saímos do avião,
    afinal estamos a caminhar no Nepal.
  • 16:21 - 16:24
    Fazer caminhadas no Nepal
    é uma experiência extraordinária,
  • 16:24 - 16:26
    sobretudo se a bagagem
    está bem arrumada,
  • 16:26 - 16:28
    se sabemos no que nos vamos meter
    e estamos preparados.
  • 16:28 - 16:30
    Então a conclusão hoje
  • 16:30 - 16:32
    é não esperar a honestidade, só por si,
  • 16:32 - 16:36
    mas a esperança de que, sendo mais honesto
    e mais sincero sobre estas experiências,
  • 16:36 - 16:38
    podemos alterar, coletivamente,
  • 16:38 - 16:41
    a linha base da felicidade
    um bocadinho para cima.
  • 16:41 - 16:43
    RG + AV: Obrigado.
  • 16:43 - 16:46
    (Aplausos)
Title:
Vamos falar de tabus
Speaker:
Rufus Griscom + Alisa Volkman
Description:

Rufus Griscom e Alisa Volkman, editores do site Babble.com, numa animada palestra conjunta, expõem quatro factos que os pais nunca, jamais admitem... e por que razão o deveriam fazer. Uma palestra divertida e honesta, para quem tem filhos e para quem não tem.

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English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
16:48
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Let's talk parenting taboos
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