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Ecocídio, o quinto crime contra a paz |Polly Higgins | TEDxExeter

  • 0:16 - 0:21
    Há sete anos, eu estava
    no Tribunal Real da Justiça, em Londres
  • 0:21 - 0:23
    — eu sou advogada —
  • 0:23 - 0:26
    e era o último dia de um longo processo
  • 0:27 - 0:30
    em que eu tinha representado um homem
  • 0:31 - 0:36
    que tinha sido ferido gravemente
    no local de trabalho.
  • 0:36 - 0:38
    Eu era a advogada dele
  • 0:38 - 0:41
    e estava a falar no tribunal em nome dele.
  • 0:42 - 0:44
    Houve um momento de silêncio
  • 0:44 - 0:47
    enquanto esperávamos
    que os juízes entrassem na sala.
  • 0:47 - 0:50
    Nesse momento, olhei pela janela
  • 0:50 - 0:52
    e comecei a pensar.
  • 0:56 - 0:58
    Olhei pela janela e pensei
  • 0:58 - 1:02
    que a Terra também tem sido
    gravemente prejudicada e ferida
  • 1:03 - 1:05
    e era preciso fazer
    qualquer coisa a esse respeito.
  • 1:06 - 1:09
    O que pensei a seguir
    mudou toda a minha vida.
  • 1:09 - 1:12
    Pensei: "A Terra precisa
    de um bom avogado".
  • 1:12 - 1:13
    (Risos)
  • 1:14 - 1:17
    Foi um pensamento que não mais me largou.
  • 1:18 - 1:21
    Fui-me embora e continuei a pensar nisso.
  • 1:21 - 1:23
    "Enquanto advogada num tribunal,
  • 1:24 - 1:28
    "onde estão os instrumentos de que preciso
    para representar a Terra num tribunal?"
  • 1:29 - 1:32
    E apercebi-me de que eles não existem.
  • 1:33 - 1:37
    Então, comecei a pensar nisto:
    "De que é que preciso pôr isto em prática?
  • 1:38 - 1:41
    "E se a Terra tivesse direitos?
  • 1:41 - 1:44
    "Afinal, os seres humanos têm direitos.
  • 1:45 - 1:49
    "O direito mais importante, claro,
    é o nosso direito à vida.
  • 1:49 - 1:53
    "E se a Terra também tivesse
    o direito à vida?"
  • 1:53 - 1:55
    Falei nisso a outros advogados
  • 1:55 - 1:58
    que disseram: "Polly, estás louca.
    Claro que a Terra não tem direitos.
  • 2:00 - 2:03
    "Afinal, há toda uma série
    de leis ambientais.
  • 2:04 - 2:06
    "Porque é que não usas isso?
  • 2:06 - 2:08
    Mas eu disse: "Há aqui um problema.
  • 2:08 - 2:12
    "Todas essas leis ambientais
    não estão a funcionar.
  • 2:12 - 2:14
    "Não podem funcionar!
  • 2:14 - 2:18
    "Basta olharem para a Amazónia
    para verem que não funcionam.
  • 2:18 - 2:21
    "Estamos a assistir a danos
    e destruição total
  • 2:21 - 2:23
    "que aumentam todos os dias.
  • 2:23 - 2:26
    "As leis existentes não impedem isso".
  • 2:28 - 2:32
    Então, olhei à minha volta
    para ver quem mais pensava como eu.
  • 2:32 - 2:35
    Descobri que, de facto,
  • 2:35 - 2:38
    há muitas pessoas que pensam como eu.
  • 2:38 - 2:42
    Uns 750 milhões de pessoas,
    para ser exata.
  • 2:42 - 2:46
    Dessas pessoas,
    370 milhões são indígenas.
  • 2:46 - 2:49
    Têm a ideia de que a Terra
    tem o direito à vida.
  • 2:50 - 2:53
    Têm a ideia de que a vida é sagrada,
  • 2:53 - 2:55
    não só a vida humana, mas toda a vida.
  • 2:56 - 3:00
    Também descobri que os budistas
    também têm este modo de pensar.
  • 3:00 - 3:02
    São mais 380 milhões de pessoas.
  • 3:02 - 3:07
    São 750 milhões de pessoas,
    tantas como na Europa, que pensam como eu.
  • 3:07 - 3:09
    Só que isso não está escrito na lei.
  • 3:11 - 3:13
    Mas, depois, pensando melhor,
  • 3:13 - 3:19
    porque, com os nossos direitos humanos
    e o nosso direito à vida,
  • 3:19 - 3:24
    isso também se rege, a nível individual,
    pelo crime de assassínio
  • 3:24 - 3:26
    — ou, como se diz nos EUA,
    o homicídio —
  • 3:26 - 3:29
    e, quando se trata de nós
    e da nossa comunidade,
  • 3:29 - 3:30
    chama-se genocídio.
  • 3:30 - 3:33
    Eu estava a falar a uma grande audiência
  • 3:33 - 3:36
    há uns anos, em 2009,
  • 3:36 - 3:38
    sobre os direitos da Terra,
  • 3:38 - 3:40
    quando alguém na audiência disse:
  • 3:40 - 3:42
    "Sabe, precisamos de uma nova linguagem,
  • 3:42 - 3:46
    "para lidar com esta quantidade enorme
    de danos e destruição
  • 3:46 - 3:52
    "que está a ocorrer na Terra,
    nos nossos ecossistemas".
  • 3:52 - 3:54
    E eu pensei que ele tinha razão.
  • 3:54 - 3:55
    Isto é como um genocídio.
  • 3:55 - 3:57
    É um ecocídio!
  • 3:58 - 4:00
    Foi um desses momentos de descoberta.
  • 4:00 - 4:04
    Literalmente, senti como se uma luz
    se tivesse acendido sobre a minha cabeça.
  • 4:04 - 4:06
    Pensei: "Oh, meu Deus,
    devia ser um crime".
  • 4:07 - 4:10
    Será possível?
    Podemos criminalizar o ecocídio?
  • 4:11 - 4:15
    Voltei a correr para casa
    e comecei a investigar.
  • 4:16 - 4:18
    Três meses depois,
    voltei a respirar
  • 4:18 - 4:24
    e percebi que, na verdade,
    não só podíamos criminalizá-lo
  • 4:24 - 4:28
    como é um quinto crime
    contra a paz.
  • 4:29 - 4:33
    Vão ver aqui neste diapositivo
    o que se conhece
  • 4:33 - 4:36
    como crimes internacionais contra a paz.
  • 4:37 - 4:41
    Já temos crimes contra a humanidade,
    crimes de guerra, genocídio,
  • 4:41 - 4:44
    foram considerados
    depois da II Guerra Mundial.
  • 4:44 - 4:48
    Atuam como leis abrangentes,
    cobrem todo o mundo.
  • 4:48 - 4:52
    São uma espécie de super leis:
    suplantam tudo o mais.
  • 4:52 - 4:55
    Todas as outras leis,
    têm que lhe obedecer.
  • 4:55 - 4:58
    Os crimes de agressão
    — a preparação para a guerra —
  • 4:58 - 5:00
    foram considerados em 2010.
  • 5:01 - 5:05
    E eu digo que há um quinto crime
    contra a paz
  • 5:05 - 5:07
    que é o ecocídio.
  • 5:08 - 5:10
    O que já temos em vigor
  • 5:10 - 5:14
    são leis que protegem
    a saúde da vida.
  • 5:14 - 5:18
    O que elas protegem
    é a sacralidade da própria vida.
  • 5:18 - 5:21
    E digo, não é só a vida humana,
  • 5:21 - 5:25
    mas alargamos o nosso ciclo
    de preocupação
  • 5:25 - 5:28
    e é o bem-estar de toda a vida,
  • 5:28 - 5:31
    de todos os habitantes
    que vivem nesta Terra.
  • 5:31 - 5:36
    Este é um diagrama do que acontece
    no mundo, neste momento.
  • 5:37 - 5:40
    Temos danos e destruição
    a uma escala enorme
  • 5:40 - 5:45
    que é aquilo a que chamo ecocídio
    — e já explicarei este termo.
  • 5:45 - 5:49
    Isto leva, entre outras coisas,
    ao esgotamento dos recursos,
  • 5:49 - 5:52
    o que leva, entre outras coisas,
    ao conflito
  • 5:53 - 5:55
    que pode levar à guerra,
  • 5:55 - 5:58
    que, claro, leva a mais
    danos e destruição,
  • 5:58 - 6:00
    a um maior esgotamento de recursos.
  • 6:00 - 6:03
    Na verdade, o que está a acontecer
    no Congo, neste momento,
  • 6:03 - 6:06
    é um exemplo muito poderoso
    deste ciclo,
  • 6:06 - 6:09
    numa espiral para a frente
    e para a cima, cada vez mais depressa,
  • 6:09 - 6:13
    um conflito que leva a mais guerra,
    a mais danos e a mais destruição,

  • 6:13 - 6:14
    a mais ecocídio.
  • 6:14 - 6:17
    E assim continua a espiral
    para a frente e para cima.
  • 6:19 - 6:23
    É aquilo a que Sir David King chama
    "um século de guerras pelos recursos".
  • 6:24 - 6:25
    É a isso que estamos a assistir.
  • 6:25 - 6:28
    Penso que há outra forma
    para dar a volta a isto.
  • 6:28 - 6:30
    Podemos deter a sua marcha.
  • 6:31 - 6:35
    Não se trata de abrandar este ciclo
    trata-se de o fazer parar,
  • 6:36 - 6:38
    intervindo.
  • 6:38 - 6:40
    Criando uma lei
  • 6:40 - 6:44
    que atue como dissuasor desta espiral
  • 6:44 - 6:47
    enquanto ela gira em espiral
    para a frente e para cima.
  • 6:47 - 6:51
    É o que pode fazer uma lei do ecocídio.
  • 6:53 - 6:55
    Este é o início da proposta legal
  • 6:55 - 6:58
    que eu apresentei
    nas Nações Unidas.
  • 6:58 - 7:01
    O ecocídio é um crime
  • 7:01 - 7:05
    quando causamos uma destruição enorme,
    danos ou perda de ecossistemas.
  • 7:06 - 7:10
    Cada palavra aqui tem o seu peso legal.
  • 7:10 - 7:13
    Mas, possivelmente, a palavra
    mais importante aqui
  • 7:13 - 7:15
    é a palavra "habitantes".
  • 7:15 - 7:20
    Vemos que não se trata só de pessoas,
    estamos a falar de habitantes.
  • 7:20 - 7:23
    Claro que é o reconhecimento
    de que olhamos, num certo território,
  • 7:23 - 7:27
    não só para os seres humanos
    que ali vivem,
  • 7:27 - 7:30
    mas também para as outras espécies.
  • 7:30 - 7:33
    É também o reconhecimento
    da interligação da própria vida.
  • 7:34 - 7:36
    Por fim, se destruirmos a Terra
    onde vivemos,
  • 7:36 - 7:40
    destruímos a nossa capacidade
    de viver em paz.
  • 7:41 - 7:44
    Há aqui dois tipos de ecocídio.
  • 7:44 - 7:46
    Um ecocídio provocado pelo Homem.
  • 7:46 - 7:48
    E um ecocídio provocado pelos homens
  • 7:48 - 7:52
    é quando vemos e conseguimos determinar
  • 7:52 - 7:55
    que, em resultado das nossas ações,
  • 7:55 - 7:58
    estamos a causar
    enormes danos e destruição.
  • 7:58 - 8:01
    Com efeito, já ouvimos hoje
  • 8:02 - 8:05
    como, em termos provocados pelos homens,
  • 8:05 - 8:08
    estamos a criar prejuízos
    por outras formas
  • 8:08 - 8:11
    — o aumento dos gases
    com efeitos de estufa,
  • 8:11 - 8:15
    é uma consequência dos enormes
    danos e destruição.
  • 8:16 - 8:20
    Recentemente, apresentei
    a todos os governos
  • 8:20 - 8:23
    um documento conceptual
    sobre como podemos usar esta lei
  • 8:23 - 8:27
    para fechar a porta
    à perigosa atividade industrial
  • 8:27 - 8:32
    que está a causar o ecocídio humano,
    o ecocídio provocado pelos homens.
  • 8:32 - 8:38
    Mas há um outro tipo de ecocídio
    de que quero falar hoje
  • 8:38 - 8:42
    e isso é um ecocídio
    que ocorre naturalmente.
  • 8:42 - 8:49
    Isso é quando vemos tsunamis,
    cheias, subida do nível do mar,
  • 8:49 - 8:53
    tudo o que causa
    o colapso de um ecossistema.
  • 8:53 - 8:56
    Podemos criar uma lei internacional
  • 8:56 - 8:59
    que não governe apenas
    a atividade empresarial
  • 9:00 - 9:02
    mas, mais importante,
    que imponha o dever legal
  • 9:02 - 9:05
    de cuidar de todas as nações,
  • 9:05 - 9:09
    de dar-nos sistemas
    quando aconteça uma coisa como esta.
  • 9:10 - 9:11
    Porque, no momento,
  • 9:11 - 9:17
    temos pessoas como nas Maldivas
    que nos dizem: "Ajudem-nos!
  • 9:17 - 9:20
    "Vamos afundar-nos
    com a subida do nível do mar
  • 9:21 - 9:23
    "nos próximos 10 anos".
  • 9:23 - 9:26
    E os governos dizem:
    "Não podemos fazer nada".
  • 9:26 - 9:28
    Na verdade, o que eles dizem é:
  • 9:28 - 9:31
    "Não temos o dever legal
    de vos prestar assistência".
  • 9:31 - 9:33
    Se criarmos uma lei do ecocídio,
  • 9:33 - 9:35
    podemos impor um dever legal
    de assistência
  • 9:35 - 9:39
    de modo que todas as nações
    se reúnam e impeçam isso.
  • 9:39 - 9:43
    Afinal, há 54 pequenas ilhas estados
  • 9:43 - 9:45
    que enfrentam a subida
    do nível do mar.
  • 9:45 - 9:49
    E não são só essas 54 ilhas estados.
    também há outros países, Bangladesh,
  • 9:49 - 9:53
    que enfrentam não apenas as cheias,
    a subida do nível do mar,
  • 9:53 - 9:58
    mas têm um triplo infortúnio,
    porque também têm gelo a derreter.
  • 10:00 - 10:03
    Se impusermos um dever legal
    de socorro às nações,
  • 10:03 - 10:07
    o diálogo pode começar a ter lugar
  • 10:07 - 10:08
    e poderemos decidir:
  • 10:08 - 10:11
    "O que é que vamos fazer
    para ajudar?"
  • 10:11 - 10:16
    E isso é muito importante,
    podermos avançar juntos nisto.
  • 10:16 - 10:18
    Porque, afinal, no fim do dia,
  • 10:18 - 10:21
    mesmo que eles estejam
    do outro lado do mundo,
  • 10:21 - 10:23
    estamos nisso todos juntos.
  • 10:25 - 10:27
    Mas vai mais longe do que isso.
  • 10:27 - 10:29
    Na lei criminal internacional,
  • 10:30 - 10:33
    temos um princípio
    chamado "responsabilidade superior".
  • 10:33 - 10:35
    Sim, trata-se de assumir
    a responsabilidade,
  • 10:35 - 10:37
    mas, mais do que isso,
  • 10:37 - 10:40
    trata-se de impor
    uma responsabilidade superior
  • 10:40 - 10:42
    sobre aqueles que
  • 10:42 - 10:46
    — se imaginarem um triângulo,
    sentados no topo do triângulo,
  • 10:46 - 10:49
    os que estão numa posição
    de comando e controlo.
  • 10:49 - 10:52
    Isso significa chefes de estado,
    ministros,
  • 10:53 - 10:58
    e também chefes executivos,
    diretores, banqueiros,
  • 10:58 - 11:02
    todos os que estão em posição
    de tomar decisões
  • 11:02 - 11:08
    que podem ter efeitos adversos
    em muitos milhões de pessoas abaixo deles.
  • 11:08 - 11:12
    Se impusermos um dever legal
    de assistência a esses indivíduos,
  • 11:12 - 11:16
    podemos criar um enquadramento
    no qual podemos tomar decisões
  • 11:16 - 11:20
    que se baseiem em dar prioridade
    às pessoas e ao planeta.
  • 11:20 - 11:25
    Trata-se de fechar a porta
    à perigosa atividade industrial.
  • 11:29 - 11:32
    Isto reduz-se a duas formas
    diferentes de considerar o planeta.
  • 11:32 - 11:35
    Se considerarmos a Terra
    como uma coisa inerte,
  • 11:35 - 11:38
    estamos a colocar nela
    uma etiqueta com um preço.
  • 11:38 - 11:40
    Atribuímos-lhe um valor
  • 11:40 - 11:44
    e compramo-la, vendemo-la,
    usamo-la, abusamos dela,
  • 11:45 - 11:47
    transformamo-la numa mercadoria.
  • 11:47 - 11:50
    Tudo isso é governado
    pela lei da propriedade.
  • 11:52 - 11:54
    Mas há outra maneira
    de considerar a Terra.
  • 11:54 - 11:57
    É considerar a Terra como um ser vivo.
  • 11:57 - 11:59
    Quando fizermos isso,
    a situação é muito diferente.
  • 11:59 - 12:05
    Muda drasticamente a forma
    como a consideramos a longo prazo.
  • 12:05 - 12:08
    Porque, quando nos considerarmos
    como curadores, como guardiões,
  • 12:08 - 12:11
    começamos a assumir a responsabilidade
    para com as gerações futuras.
  • 12:11 - 12:15
    Trata-se de realinhar
    a balança da justiça.
  • 12:15 - 12:19
    Neste momento, ela está desajustada,
    está desequilibrada.
  • 12:19 - 12:23
    Eu acredito que podemos fazer isso:
    podemos reequilibrar a balança.
  • 12:23 - 12:26
    Na verdade, já o fizemos
    uma vez na História.
  • 12:27 - 12:29
    Gostava de vos fazer recuar 200 anos.
  • 12:30 - 12:32
    Há 200 anos, William Wilberforce
  • 12:32 - 12:34
    que foi o parlamentar,
    aqui na Grã-Bretanha,
  • 12:34 - 12:37
    que assumiu a posição
    a favor da abolição da escravatura
  • 12:38 - 12:40
    quando se ergueu e disse:
  • 12:40 - 12:43
    "Moralmente, a escravatura é um erro,
    temos de acabar com ela!",
  • 12:44 - 12:48
    enfrentou uma barragem de objeções.
  • 12:49 - 12:51
    A grande indústria disse:
  • 12:51 - 12:54
    "Não é possível, porque é uma necessidade.
  • 12:54 - 12:57
    "O público exige-a e, além disso,
  • 12:57 - 13:00
    "a economia desmoronar-se-á
    se acabarmos com a escravatura".
  • 13:01 - 13:04
    Essas 300 empresas
    que estavam envolvidas na escravatura
  • 13:04 - 13:06
    apareceram com diversas ideias.
  • 13:06 - 13:10
    Disseram: "Deixem-nos resolver,
    com os nossos mecanismos voluntários.
  • 13:10 - 13:12
    "Nós vamos regulamentar isso".
  • 13:12 - 13:13
    "Já há leis a mais".
  • 13:13 - 13:15
    (Risos)
  • 13:15 - 13:18
    "Além disso, vamos limitar os números,
    se for necessário".
  • 13:18 - 13:21
    "Podemos deixar que as forças
    de mercado resolvam isso".
  • 13:21 - 13:24
    "Criem um sistema de limites máximos,
    se quiserem".
  • 13:25 - 13:26
    O interessante
  • 13:26 - 13:30
    é que o parlamento britânico
    disse não a todas essas propostas.
  • 13:30 - 13:33
    Dois dias antes
    de William Wilberforce morrer,
  • 13:33 - 13:34
    foram aprovadas leis
  • 13:35 - 13:40
    que criaram reflexos em todo o mundo,
    para acabar com a escravatura.
  • 13:40 - 13:42
    Se olharmos para hoje,
  • 13:42 - 13:45
    o que vemos é um quadro muito semelhante.
  • 13:45 - 13:48
    O que mudou aqui é a imagem.
  • 13:48 - 13:51
    Isto são as areias betuminosas
    de Athabasca, no Canadá.
  • 13:51 - 13:53
    Quando vi estas imagens
    pela primeira vez,
  • 13:55 - 13:57
    o meu coração parou, de repente.
  • 13:58 - 14:02
    Olhei para o que se está a passar ali,
    e pensei: "Isto é realmente um crime".
  • 14:03 - 14:07
    O que vimos hoje é que a indústria
    está a dizer exatamente o mesmo.
  • 14:08 - 14:12
    A diferença é que já
    tentámos essas soluções,
  • 14:13 - 14:15
    e descobrimos que não funcionam.
  • 14:16 - 14:19
    Um dos êxitos com o fim da escravatura
  • 14:19 - 14:21
    é que foi gerido,
    gouve um período de transição.
  • 14:21 - 14:24
    Nenhuma das empresas
    deixou de funcionar.
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    William Wilberforce
    orientava-se por um princípio
  • 14:26 - 14:28
    pelo qual eu também me oriento.
  • 14:28 - 14:32
    Não se trata de acabar
    com a grande indústria.
  • 14:32 - 14:35
    Trata-se de transformar
    o problema na solução.
  • 14:35 - 14:37
    Nenhuma dessas 300 empresas
  • 14:37 - 14:41
    deixou de funcionar
    depois da abolição da escravatura.
  • 14:41 - 14:43
    Algumas delas continuaram
    o comércio do chá na China.
  • 14:43 - 14:45
    Receberam subsídios.
  • 14:45 - 14:48
    Outras tornaram-se os polícias do mar.
  • 14:48 - 14:51
    William Wilberforce disse:
    "Tem de haver três coisas fundamentais:
  • 14:51 - 14:53
    "Cortar nos subsídios,
    ilegalizar o problema
  • 14:53 - 14:56
    "e criar novos subsídios noutra direção".
  • 14:56 - 14:59
    É isso precisamente
    o que é necessário fazer hoje.
  • 15:00 - 15:02
    Mas, para além disso,
  • 15:02 - 15:05
    remonta aos anais do tempo
  • 15:05 - 15:09
    duma coisa conhecida
    pela Sagrada Confiança da Civilização.
  • 15:09 - 15:14
    Isto é um conceito que remonta,
    em documentos escritos
  • 15:14 - 15:17
    tanto quanto consegui encontrar,
    ao século XVI.
  • 15:17 - 15:21
    Foi consagrado
    na Carta das Nações Unidas
  • 15:21 - 15:25
    que é o nosso primeiro documento
    legal internacional de sucesso,
  • 15:25 - 15:27
    instituído depois da II Guerra Mundial.
  • 15:28 - 15:29
    O que nele se diz
  • 15:29 - 15:34
    é que os membros das Nações Unidas
    têm o dever, o dever legal
  • 15:34 - 15:36
    de colocar o interesse dos habitantes
  • 15:36 - 15:39
    — é essa palavra, de novo,
    "habitantes" —
  • 15:40 - 15:41
    em primeiro lugar,
  • 15:41 - 15:44
    o dever primário
    que temos, o dever de assistência
  • 15:44 - 15:47
    e que o aceitamos
    como uma confiança sagrada.
  • 15:48 - 15:49
    Confiança!
  • 15:49 - 15:53
    Trata-se de sermos curadores,
    administradores, guardiões,
  • 15:53 - 15:55
    temos uma obrigação
  • 15:55 - 15:59
    de promover o maior bem-estar
    dos habitantes.
  • 15:59 - 16:02
    É uma cláusula sobre saúde e bem-estar,
  • 16:02 - 16:05
    trata-se de pôr as pessoas
    e o planeta em primeiro lugar.
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    Uma lei do ecocídio dá validade legal
  • 16:08 - 16:12
    a esta secção na Carta das Nações Unidas.
  • 16:13 - 16:15
    E isso é muito importante.
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    Porque uma lei internacional do ecocídio
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    estipula que é um crime
    contra a humanidade
  • 16:20 - 16:21
    mas é mais do que isso,
  • 16:21 - 16:25
    é um crime contra a Natureza,
    é um crime contra as gerações futuras.
  • 16:25 - 16:29
    Em última análise, o mais importante
    é que é um crime contra a paz.
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    Trata-se de dar prioridade
    às pessoas e ao planeta
  • 16:34 - 16:36
    acima de quaisquer lucros,
  • 16:37 - 16:39
    mas é também o reconhecimento
    de que, quando fizermos isso,
  • 16:40 - 16:43
    quando abrirmos a porta
    a um mundo livre de conflitos,
  • 16:43 - 16:46
    podemos criar inovação
    numa direção muito diferente
  • 16:47 - 16:50
    que nos dê abundância
    de muitas maneiras.
  • 16:50 - 16:54
    Eu não sou anti lucros, longe disso,
    pelo contrário, sou a favor deles.
  • 16:54 - 16:56
    Mas o que eu pretendo fazer
  • 16:56 - 17:01
    é fechar a porta aos que causem
    a destruição da vida
  • 17:01 - 17:06
    e abrir a porta aos que afirmem
    a própria vida.
  • 17:09 - 17:12
    Isso leva-me a recuar sete anos
  • 17:12 - 17:14
    quando comecei
    com um pensamento poderoso
  • 17:15 - 17:18
    e como isso me levou a um percurso
    e continua a fazê-lo.
  • 17:18 - 17:21
    Não se trata apenas de propor
    uma lei internacional do ecocídio,
  • 17:22 - 17:26
    mas também me está
    a levar a examinar
  • 17:26 - 17:28
    o que é que precisamos aqui?
  • 17:28 - 17:31
    Liderança, uma liderança flexível
    — temos uma época de rápida mudança.
  • 17:31 - 17:35
    Também me levou a um livro,
    "Eradicating Ecocide"
  • 17:35 - 17:36
    que define esta lei
  • 17:36 - 17:40
    e explica porque é que foia a lei
    que provocou este problema.
  • 17:40 - 17:42
    Sabiam disto?
  • 17:42 - 17:47
    É a lei de as empresas
    porem os lucros em primeiro lugar.
  • 17:48 - 17:52
    Uma empresa tem o dever legal
    de maximizar os lucros
  • 17:52 - 17:53
    para os seus acionistas.
  • 17:54 - 17:56
    Isso também nos agradava.
  • 17:56 - 17:59
    Mas, infelizmente, não olhámos
    para as consequências.
  • 18:00 - 18:05
    Uma lei do ecocídio suplantará
    e instituirá uma peça de legislação
  • 18:05 - 18:09
    que nos permitirá
    olhar para as consequências.
  • 18:09 - 18:12
    Uma disposição de "pensem, antes de agir"
  • 18:13 - 18:16
    que atue como uma grande chave na mão.
  • 18:16 - 18:18
    Em conclusão, só queria dizer isto:
  • 18:18 - 18:21
    Martin Luther King disse um dia
  • 18:21 - 18:26
    que, quando as nossas leis se alinharem
  • 18:26 - 18:29
    pela igualdade e pela justiça,
  • 18:29 - 18:31
    teremos uma verdadeira paz
    neste mundo.
  • 18:31 - 18:37
    Quando as nossas leis se alinharem
    por uma compreensão mais elevada,
  • 18:37 - 18:40
    teremos essa verdadeira
    qualidade na justiça.
  • 18:40 - 18:45
    O ecocídio é uma lei que nos permite
    alinharmo-nos com a justiça natural.
  • 18:45 - 18:48
    Acredito que, na minha vida,
  • 18:48 - 18:53
    isso é uma coisa por que vale
    a pena consagrar a minha vida
  • 18:53 - 18:54
    para que isso aconteça.
  • 18:55 - 18:56
    Muito obrigada.
  • 18:56 - 18:59
    (Aplausos)
Title:
Ecocídio, o quinto crime contra a paz |Polly Higgins | TEDxExeter
Description:

Olhando pela janela, esperando o veredito duma injustiça feita à sua cliente, a advogada Polly Higgins pensou que a própria Terra também precisa de um advogado de defesa. Leis contra o ecocídio, "o quinto crime contra a paz", merecem um lugar na lei internacional, nessas leis abrangentes que protegem "a sacralidade da própria vida".

Polly começou a sua carreira de advogada em Londres onde foi advogada especializada em leis empresariais e laborais. A sua formação começou nos tribunais criminais e subsequentemente alargou-se à prática da lei civil. Foi só depois de se ter interrogado "Como criamos um dever legal de proteger a Terra?" que Polly virou a sua atenção a tempo inteiro para examinar de que lei se precisava. Renunciando ao seu trabalho nos tribunais para defender um só cliente, a Terra, Polly iniciou o processo de examinar as leis existentes para determinar a melhor forma legal de proteger a Terra.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
19:03

Portuguese subtitles

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