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Lições sobre o Jornalismo Investigativo| Carol Marin | TEDxMidwest

  • 0:08 - 0:10
    Muito obrigada!
  • 0:10 - 0:15
    Aprendi muitas lições
    como repórter investigativa,
  • 0:15 - 0:18
    e achei melhor ir direto ao ponto.
  • 0:18 - 0:22
    Lição número um: você pode colocar
    a vida de alguém em risco.
  • 0:22 - 0:24
    (Risos)
  • 0:24 - 0:27
    Trabalhei por muito tempo cobrindo
    o crime organizado
  • 0:27 - 0:32
    e em 1980 em particular, cobri
    o crime organizado em Chicago,
  • 0:32 - 0:38
    e um agenciador de apostas mafioso
    multi milionário, William "B.J." Jahoda.
  • 0:38 - 0:41
    Ele trabalhava para a gangue do Cicero.
  • 0:41 - 0:45
    Nós de Chicago sabemos que naquela época
    isso era território do Al Capone.
  • 0:45 - 0:48
    Ele trabalhava para a máfia.
  • 0:49 - 0:51
    O que podemos dizer de Rocky Infelice?
  • 0:51 - 0:53
    Um cara muito mau.
  • 0:53 - 0:57
    Era uma das gangues
    mais cruéis, duras e más
  • 0:57 - 1:01
    e Rocky Infelice era muito perigoso.
  • 1:01 - 1:04
    "B" era como todos chamavam Jahoda.
  • 1:04 - 1:08
    Ele era jornalista, e era brilhante
    ao trabalhar as palavras,
  • 1:08 - 1:12
    e era um operador,
    podia calcular de cabeça.
  • 1:12 - 1:14
    Ele podia memorizar livros,
  • 1:14 - 1:19
    avaliar as possibilidades
    e entendia tudo.
  • 1:19 - 1:22
    Mas, no fundo, era um homem decente.
  • 1:22 - 1:25
    Durante os muitos anos rentáveis,
    Rocky foi ficando irritado,
  • 1:25 - 1:28
    pois eles eram agenciadores de apostas
    renegados em Chicago.
  • 1:28 - 1:31
    Eram caras independentes,
    não dependiam do "Outfit",
  • 1:31 - 1:32
    e isso era um péssimo negócio.
  • 1:32 - 1:37
    Rocky mandou Jahoda pegar alguns dos caras
  • 1:37 - 1:41
    enganá-los e depois,
    deixá-los em algum lugar.
  • 1:41 - 1:45
    "Deixe-os lá", Rocky disse,
    "e não olhe para trás!"
  • 1:45 - 1:49
    Bom, um desses agenciadores
    foi morto na cozinha do B.J. Jahoda.
  • 1:49 - 1:51
    Foi um caos.
  • 1:51 - 1:54
    Ele não aguentava mais e em 1989,
  • 1:54 - 1:57
    aceitou usar um grampo e ajudar a polícia
  • 1:57 - 1:59
    a prender Rocky e sua gangue,
  • 1:59 - 2:03
    e acreditem, isso nunca
    havia acontecido em Chicago.
  • 2:03 - 2:07
    Ninguém havia penetrado o Chicago Outfit
    e toda a gangue antes,
  • 2:07 - 2:11
    mas Bill Jahoda sim,
    colocando sua vida em risco.
  • 2:11 - 2:14
    A primeira vez que colocaram
    uma escuta nele,
  • 2:14 - 2:17
    ele achou que seria como
    um mini rádio transistor,
  • 2:17 - 2:22
    mas era do tamanho de um maço de cigarros
    e foi colocado em sua lombar.
  • 2:22 - 2:24
    Ele disse que parecia um tijolo.
  • 2:24 - 2:28
    E disse que quando foi para
    sua primeira reunião com a escuta,
  • 2:28 - 2:31
    ele se sentiu como o mascote
    de San Diego numa casa funerária;
  • 2:31 - 2:33
    e achou que todos sabiam.
  • 2:33 - 2:37
    Depois de seis semanas de depoimentos
    inacreditáveis na Corte Federal,
  • 2:37 - 2:41
    incluindo o momento
    mais memorável que presenciei,
  • 2:41 - 2:43
    quando até o juiz deu risada,
  • 2:43 - 2:47
    porque B estava descrevendo Rose Laws,
    famosa madame de Chicago,
  • 2:47 - 2:51
    e como ela fornecia "suas garotas"
    para a gangue do Rocky.
  • 2:51 - 2:55
    Jahoda chamou isso
    de "refresco horizontal".
  • 2:55 - 2:56
    (Risos)
  • 2:56 - 3:00
    B.J. Jahoda incriminou todos
    os integrantes da gangue de rua.
  • 3:00 - 3:06
    Rocky foi preso, e B ingressou
    no programa de proteção às testemunhas.
  • 3:06 - 3:09
    Quando ele decidiu me conceder
    sua primeira entrevista para TV
  • 3:09 - 3:11
    ficamos morrendo de medo.
  • 3:11 - 3:13
    A máfia queria matá-lo.
  • 3:13 - 3:16
    Fomos cuidadosos em escolher
    um ponto de encontro.
  • 3:16 - 3:20
    Decidimos ir a um hotel em Wisconsin,
    fora do distrito de Illinois.
  • 3:20 - 3:22
    Mas nossa bagagem é pesada.
  • 3:22 - 3:26
    Levamos duas camêras, três produtores, eu
  • 3:26 - 3:31
    e alguém que assistisse Channel 5
    poderia me reconhecer.
  • 3:31 - 3:35
    Estávamos com muito medo de sermos
    responsáveis pela morte dele,
  • 3:35 - 3:37
    e acho que B estava
    muito preocupado também.
  • 3:38 - 3:40
    Graças a Deus, ele não foi assassinado!
  • 3:40 - 3:43
    E a entrevista, preciso contar a vocês,
  • 3:43 - 3:44
    foi incrível!
  • 3:45 - 3:49
    Porque as pessoas o chamavam de rato,
    chamamos a matéria de "Diário do Rato".
  • 3:49 - 3:53
    B.J. Jahoda cumpriu
    sua tarefa como cidadão,
  • 3:53 - 3:55
    e parou de ajudar
    que pessoas fossem mortas,
  • 3:55 - 3:57
    mas foi muito difícil.
  • 3:57 - 4:00
    Quando a entrevista estava
    quase terminando disse:
  • 4:01 - 4:04
    "Você ainda teme por sua vida
    todos os dias?"
  • 4:04 - 4:07
    E ele disse: "Vou dizer o seguinte:
  • 4:07 - 4:11
    eles começariam a festa removendo
    meus olhos com uma colher de chá".
  • 4:12 - 4:17
    Lição dois: alguém pode querer matar você.
  • 4:17 - 4:21
    Minha vizinha me chamou
    uma manhã, frenética e disse:
  • 4:21 - 4:25
    "Quem são os caras armados no seu jardim?"
  • 4:25 - 4:26
    (Risos)
  • 4:27 - 4:31
    É uma longa história, mas começa
    com um cara chamado Jeff Fort.
  • 4:31 - 4:33
    Fort está preso agora.
  • 4:33 - 4:36
    Entrou e saiu da cadeia
    durante todos estes anos,
  • 4:36 - 4:39
    mas até hoje continua sendo
  • 4:39 - 4:43
    um dos líderes de gangue
    mais conhecidos e temidos de Chicago.
  • 4:43 - 4:45
    Era um dos filhos da Grande Imigração.
  • 4:45 - 4:48
    Ele veio de Abeerden, Mississippi
  • 4:49 - 4:53
    para Woodlawn, no sul de Chicago
    nos anos 50.
  • 4:53 - 4:55
    Ele era estranho porque era magrinho,
  • 4:55 - 4:58
    semi-alfabetizado no máximo,
  • 4:58 - 4:59
    mas ele era mágico.
  • 4:59 - 5:01
    Era um líder.
  • 5:01 - 5:05
    Teve milhares de seguidores
    nos anos 60 e 70,
  • 5:05 - 5:07
    e eles o chamavam de "Anjo".
  • 5:07 - 5:10
    E na guerra contra a pobreza lançada
    pelo presidente Lyndon Johnson,
  • 5:10 - 5:14
    Jeff Fort conseguiu cerca de US$ 1 milhão
    do governo federal,
  • 5:14 - 5:19
    dinheiro que iria para organizações
    da comunidade e potenciais líderes.
  • 5:19 - 5:23
    Ele enganou o governo,
    roubou o dinheiro e foi para a prisão,
  • 5:24 - 5:28
    mas foi inteligente o suficiente
    para perceber na prisão
  • 5:28 - 5:34
    que as organizações religiosas tinham
    um certo tipo de proteção constitucional.
  • 5:34 - 5:37
    Então ele pensou: "Aha, vou criar
    uma religião, não uma gangue!"
  • 5:37 - 5:43
    O grupo ficou conhecido como "El Rukns",
    uma organização religiosa muçulmana.
  • 5:43 - 5:47
    E fora da prisão Jeff volta
    para as ruas de Chicago
  • 5:47 - 5:49
    com sua El Rukns.
  • 5:49 - 5:55
    A organização não era apenas perigosa.
    Era pequena e super secreta.
  • 5:55 - 6:00
    E o governo lutou para penetrar
    a organização por muitos anos.
  • 6:00 - 6:04
    Jeff rapidamente voltou para a cadeia
    por outra denúncia,
  • 6:04 - 6:06
    ligada ao narcotráfico,
  • 6:06 - 6:10
    e além de ser um líder religioso,
    era muito bom no telefone público.
  • 6:10 - 6:13
    Então, do telefone público de outro lugar
  • 6:14 - 6:17
    durante as 3.500 horas que a polícia
    conseguiu grampear,
  • 6:17 - 6:19
    puderam escutar suas instruções
    aos seus seguidores
  • 6:19 - 6:24
    para fazer um acordo com Muammar Gaddafi
    e eles iriam para a Líbia,
  • 6:24 - 6:27
    pois eles eram muçulmanos
    e conseguiriam conhecer o Gaddafi.
  • 6:27 - 6:31
    E por US$ 2,5 milhões
    o grupo de Jeff prometeu
  • 6:31 - 6:37
    cometer atos de terrorismo doméstico
    e derrubar aviões em pleno voo.
  • 6:37 - 6:40
    E a polícia o pegou.
  • 6:40 - 6:44
    Ele estava metido em sérios problemas
    naquele julgamento.
  • 6:44 - 6:47
    Nesse meio tempo, eu estava filmando
    o documentário "Anjo do Medo", sobre ele.
  • 6:47 - 6:49
    E o telefone de casa toca,
  • 6:49 - 6:51
    e era um capanga do El Rukn
    chamado Billy Doyle,
  • 6:51 - 6:56
    e eles não ligam para casa de repórter,
    então eu sabia que estava encrencada.
  • 6:56 - 7:00
    Liguei para a NBC e para a polícia.
  • 7:00 - 7:03
    Não queria ligar para ninguém,
    pois sendo repórter,
  • 7:03 - 7:04
    não faço parte de nenhum clube.
  • 7:04 - 7:06
    NBC mandou seguranças,
  • 7:06 - 7:09
    a polícia ficou vigiando a casa.
  • 7:09 - 7:12
    Instalaram um sistema de segurança
    que vinha com um botão do pânico
  • 7:12 - 7:15
    que lembra um botão de abrir a garagem,
  • 7:15 - 7:17
    e se você bater nele com seu dedo
  • 7:17 - 7:20
    ele dispara um alarme de emergência
    e a polícia vem a sua casa.
  • 7:20 - 7:23
    Uma manhã, eu estava na banheira
    com meu filho de seis meses
  • 7:23 - 7:27
    e meu outro filho de dois anos
    entra e diz: "Olha mãe!"
  • 7:27 - 7:28
    (Risos)
  • 7:28 - 7:31
    Eu sabia que tinha 30 segundos
  • 7:31 - 7:35
    para tirar a maquiagem borrada
    dos olhos ou colocar um roupão,
  • 7:35 - 7:39
    porque em 30 segundos a polícia
    estava na porta, tocando a campainha.
  • 7:39 - 7:44
    Quando abri a porta vi dois homens
    apontando suas armas;
  • 7:44 - 7:49
    eles haviam corrido pelo cimento
    fresco da casa ao lado,
  • 7:49 - 7:52
    pois estavam reformando as calçadas,
    então tinham cimento nos sapatos.
  • 7:52 - 7:55
    E eu disse: "Sinto muitíssimo!"
  • 7:55 - 7:58
    No dia seguinte, liguei
    para o advogado do Jeff e disse:
  • 7:58 - 8:01
    "Diga a ele que foi
    um grande erro fazer isso".
  • 8:01 - 8:03
    O advogado disse: "Jeff pede desculpas".
  • 8:03 - 8:06
    Sabia que tinha de pedir
    desculpas a outra pessoa.
  • 8:06 - 8:07
    Na manhã seguinte,
  • 8:07 - 8:11
    arrumei as bolsas das crianças, o bebê
    nas minhas costas e o Josh do meu lado.
  • 8:11 - 8:15
    Pegamos um táxi e fomos
    pegar 12 dúzias de rosquinhas,
  • 8:15 - 8:18
    entramos no táxi e fomos até a delegacia.
  • 8:18 - 8:22
    Uma prostituta e um bêbado abrem a porta;
    tinham acabado de ser liberados.
  • 8:22 - 8:26
    Entramos na delegacia,
    coloquei o Josh na mesa
  • 8:26 - 8:29
    e disse: "Josh, pede desculpas
    para o sargento".
  • 8:29 - 8:30
    (Risos)
  • 8:30 - 8:33
    E o policial, com sotaque irlandês, diz:
  • 8:33 - 8:35
    "Oh senhora não seja tão dura
    com o menino!"
  • 8:35 - 8:36
    (Risos)
  • 8:36 - 8:39
    Lição número três:
    prepare-se para ser impopular.
  • 8:39 - 8:42
    Ao longo dos anos fizemos reportagens
    sobre pessoas muito populares.
  • 8:42 - 8:45
    Isso inclui Michael Jordan,
    no ápice de sua carreira,
  • 8:45 - 8:49
    Barack Obama no começo de sua
    ascendência à presidência da república,
  • 8:49 - 8:52
    e agora estamos trabalhando
    no "Sun-Times",
  • 8:52 - 8:55
    com outra história sobre
    o sobrinho de Daley Clan,
  • 8:55 - 8:57
    e se ele realmente
    teve tratamento especial
  • 8:57 - 9:00
    numa briga que resultou na morte
    de um jovem rapaz em 2004,
  • 9:00 - 9:03
    pela qual ele nem foi indiciado.
  • 9:03 - 9:06
    Essas três histórias geraram
    muita controvérsia.
  • 9:06 - 9:11
    A instituição de caridade de Jordan foi
    criada para ser sua relações públicas;
  • 9:11 - 9:16
    dar dinheiro para os pobres representava
    uma pequena porcentagem de suas funções.
  • 9:16 - 9:19
    Obama tinha um coletor de fundos
    com boas conexões chamado Tony Rezko,
  • 9:19 - 9:22
    sobre o qual ele não quis falar
    durante sua primeira campanha,
  • 9:22 - 9:24
    e nós falamos.
  • 9:24 - 9:28
    Demorou 18 meses para convencê-lo
    a vir ao grupo editorial dar explicações.
  • 9:29 - 9:34
    Um promotor especial foi indicado
    para o caso do sobrinho do Daley
  • 9:34 - 9:37
    e do menino que morreu, David Koschman.
  • 9:37 - 9:40
    Houve rejeição às três histórias,
  • 9:40 - 9:44
    por todo tipo de pessoas,
    mas as publicamos assim mesmo,
  • 9:44 - 9:48
    porque é um privilégio ser repórter.
  • 9:48 - 9:52
    Em troca desse privilégio,
    sempre digo aos meus alunos,
  • 9:52 - 9:54
    abrimos mão de alguns direitos
    que temos como cidadãos.
  • 9:54 - 9:57
    O que significa que você
    não pertence a um partido político,
  • 9:57 - 10:00
    nem a nenhum grupo específico,
  • 10:00 - 10:05
    e nem sempre é convidado para jantares,
    porque ninguém quer falar com você.
  • 10:05 - 10:06
    E querem saber?
  • 10:06 - 10:07
    Tudo bem.
  • 10:08 - 10:10
    Lição número [quatro]:
  • 10:10 - 10:12
    prepare-se para obter mais crédito
    do que você merece.
  • 10:12 - 10:16
    Em 1997 pedi demissão na NBC
  • 10:16 - 10:19
    e meu co-âncora também, Ron Magers.
  • 10:19 - 10:23
    Naquele tempo, a diretoria da NBC
    era bem diferente da de hoje em dia.
  • 10:23 - 10:27
    Decidiram inovar a nossa equipe,
  • 10:27 - 10:31
    e acreditavam que teriam mais sucesso
  • 10:31 - 10:33
    contratando Jerry Springer
    como comentarista
  • 10:33 - 10:35
    e o apresentaríamos no jornal das dez.
  • 10:35 - 10:41
    Ron e eu sentimos que isso arruinaria
    nossa integridade e credibilidade.
  • 10:43 - 10:46
    Protestamos dizendo que seria um erro.
  • 10:46 - 10:49
    Nós perdemos, eles ganharam.
  • 10:49 - 10:50
    Pedimos demissão.
  • 10:50 - 10:51
    Nossa audiência se revoltou.
  • 10:51 - 10:54
    Houve tantas ligações
    que o painel derreteu.
  • 10:54 - 10:56
    Foram dez mil ligações.
  • 10:56 - 10:58
    Ron e eu recebemos muita atenção.
  • 10:58 - 11:03
    Histórias sobre nós foram publicadas
    nos jornais, fomos muito elogiados.
  • 11:03 - 11:05
    O ponto disso é
  • 11:05 - 11:09
    que pessoas pedem demissão
    todos os dias por questões de princípios.
  • 11:09 - 11:12
    Eu recebi umas 2 mil cartas,
  • 11:12 - 11:15
    uma delas da esposa de um cara do DACF,
  • 11:15 - 11:17
    Departamento Social
    de Crianças e Famílias,
  • 11:17 - 11:23
    que se recusou a alocar crianças vítimas
    de maus-tratos num abrigo em Chicago,
  • 11:23 - 11:26
    porque ele acreditava que lá
    elas poderiam ser abusadas sexualmente.
  • 11:26 - 11:27
    Ele foi demitido.
  • 11:28 - 11:32
    Fui ao mercado um dia,
    e o açougueiro, Bruno,
  • 11:32 - 11:35
    me contou como ele sozinho
    sustentava a esposa e os filhos,
  • 11:35 - 11:38
    e se recusou a falsear o peso da carne
    no último local em que trabalhou
  • 11:38 - 11:42
    colocando seu dedo na balança.
  • 11:43 - 11:45
    E ele foi mandado embora.
  • 11:45 - 11:50
    O assistente social e o açougueiro não
    receberam a mesma atenção que nós,
  • 11:50 - 11:53
    ninguém escreveu
    uma reportagem sobre eles.
  • 11:53 - 11:58
    E eles se arriscaram
    muito mais do que nós,
  • 11:58 - 12:02
    por recompensas bem menores
    do que Ron e eu tivemos.
  • 12:03 - 12:08
    No dia seguinte ao meu pedido demissão,
    recebi uma carta em casa.
  • 12:08 - 12:11
    Sem selo nem remetente.
  • 12:11 - 12:14
    Era de B.J. Jahoda, que soube da notícia.
  • 12:14 - 12:18
    Ele estava no programa de proteção
    às testemunhas e a carta dizia:
  • 12:18 - 12:24
    "Querida boneca, às vezes temos de deixar
    algumas coisas para trás. Com amor, B".
  • 12:26 - 12:28
    Lição cinco:
  • 12:28 - 12:33
    prepare-se para o que você
    não pode prever.
  • 12:34 - 12:40
    Há um sentido na maioria das missões
    no meu trabalho, um propósito.
  • 12:40 - 12:45
    Como em um pronto-socorro quando
    uma enfermeira corre para ajudar,
  • 12:45 - 12:49
    ou um bombeiro quando escuta
    o alarme de incêndio.
  • 12:50 - 12:54
    Não é só porque devem fazer isso,
    porque são treinados,
  • 12:54 - 12:58
    é porque querem fazer isso,
    por acreditam no que fazem.
  • 12:58 - 13:01
    No dia 11 de setembro
    eu estava em Nova York,
  • 13:01 - 13:04
    trabalhando para o "60 Minutes"
    e "60 Minutes II".
  • 13:04 - 13:06
    Por ser do meio-oeste,
    eu sempre estava lá super cedo;
  • 13:06 - 13:08
    os nova-iorquinos sempre se atrasam.
  • 13:08 - 13:12
    E claro que havia monitores
    em todos os lugares nos estúdios,
  • 13:12 - 13:14
    e só havia alguns de nós lá,
  • 13:14 - 13:16
    então alguém gritou: "Oh meu Deus!",
  • 13:16 - 13:20
    ao ver o primeiro avião se chocar
    com a primeira torre.
  • 13:21 - 13:27
    Eu já era repórter há tempo suficiente
    para saber quando algo grande acontece,
  • 13:27 - 13:30
    sim, você vai até o local
    o mais rápido possível,
  • 13:30 - 13:33
    porque a polícia vai isolá-lo
  • 13:33 - 13:37
    e você não chegará
    perto o suficiente para ver.
  • 13:37 - 13:42
    Fui até o World Trade Center
    com apenas meu telefone celular.
  • 13:42 - 13:45
    A segunda torre já havia sido atingida.
  • 13:45 - 13:51
    E estou no lado direito da pista
    e milhares estavam voltando,
  • 13:51 - 13:53
    Lembro que alguém disse:
    "Pare, dê a volta!"
  • 13:53 - 13:57
    Nessa sensação louca de invencibilidade
    que temos quando há um trabalho
  • 13:57 - 14:01
    eu disse: "CBS News, não se preocupa!"
  • 14:01 - 14:02
    (Risos)
  • 14:02 - 14:04
    E continuei indo.
  • 14:04 - 14:06
    Imaginei que meu celular funcionaria,
  • 14:06 - 14:12
    mas milhares de celulares tocando
    freneticamente derrubaram o sistema.
  • 14:13 - 14:19
    Estava na rodovia West Side
    quando vi a primeira torre desabar.
  • 14:21 - 14:23
    E continuei seguindo.
  • 14:23 - 14:28
    Cheguei na West Street
    e havia cinzas no chão
  • 14:28 - 14:31
    e bombeiros, e lhes mostrei
    minha credencial,
  • 14:31 - 14:33
    e um dos bombeiros disse:
  • 14:33 - 14:37
    "Ande no meio da rua porque
    tem muitas coisas caindo".
  • 14:37 - 14:40
    E havia macas sem nenhum ferido
    e os paramédicos aguardavam.
  • 14:40 - 14:45
    Foi então que senti o chão tremer.
  • 14:45 - 14:51
    O bombeiro na minha frente
    se virou e gritou: "Corra!"
  • 14:51 - 14:55
    Pude ver uma bola de fogo
    vindo da base do edifício,
  • 14:55 - 14:57
    provavelmente a ignição
    do combustível do avião,
  • 14:57 - 15:00
    enquanto o prédio começava a desabar.
  • 15:00 - 15:03
    Mas você não tem tempo para ver tudo.
  • 15:03 - 15:08
    Virei, caí, e o bombeiro me pegou
    pela cintura e me colocou em pé.
  • 15:08 - 15:12
    Começamos a correr e pudemos ver
  • 15:12 - 15:16
    outro edifício com
    uma marquise de mármore,
  • 15:16 - 15:21
    e então ele me cobriu com seu corpo.
  • 15:21 - 15:28
    Eu podia sentir o coração dele batendo
    nas minhas costas, pois pulsava forte.
  • 15:29 - 15:34
    A luz da manhã se apagou
    e tudo escureceu em segundos.
  • 15:34 - 15:37
    Havia partículas em todos os lugares.
  • 15:37 - 15:39
    Partículas de pessoas,
  • 15:40 - 15:43
    de mesas e prédios,
  • 15:43 - 15:47
    e canetas, e coisas
    que não conseguíamos ver.
  • 15:47 - 15:51
    Estava tão escuro que não conseguia
    enxergar a um palmo de distância.
  • 15:51 - 15:55
    Pensei: "É assim que os bombeiros morrem".
  • 15:55 - 15:59
    Não é o fogo, é a fumaça
    porque você não consegue respirar.
  • 15:59 - 16:03
    Quando sentimos que o prédio
    já havia desabado,
  • 16:03 - 16:07
    o bombeiro me passou para um policial,
  • 16:07 - 16:12
    que segurou minha mão
    ao protegermos nossos rostos
  • 16:12 - 16:16
    para tentar seguir, tentar
    achar mais luz, uma saída.
  • 16:17 - 16:22
    Não pensei em perguntar
    o nome do bombeiro.
  • 16:22 - 16:26
    Não perguntei quem ele era.
  • 16:26 - 16:29
    Isso até hoje me assombra.
  • 16:30 - 16:34
    Que tipo de repórter eu era
    que sequer pegou o nome dele?
  • 16:34 - 16:36
    Peguei o nome de todos depois disso.
  • 16:36 - 16:40
    Peguei o nome do policial,
    das pessoas que me deram oxigênio.
  • 16:40 - 16:45
    Peguei o nome dos paramédicos
    que me levaram para o meio da rua,
  • 16:45 - 16:47
    peguei o nome do motorista do ônibus
  • 16:47 - 16:53
    que me deixou sequestrar seu ônibus
    para chegar até os estúdios da CBS.
  • 16:54 - 16:56
    Só faltou o nome do bombeiro.
  • 16:56 - 16:58
    Não sei se ele sobreviveu.
  • 16:58 - 17:03
    Ele se virou e retornou ao local
    onde a segunda torre caiu.
  • 17:03 - 17:06
    Procurei por ele,
    escrevi cartas às autoridades,
  • 17:06 - 17:10
    contei muitas vezes a história
    na esperança de que algum dia
  • 17:10 - 17:12
    alguém saberá quem ele é.
  • 17:13 - 17:16
    Cheguei nos estúdios da CBS,
    sentei-me ao lado do Dan Rather,
  • 17:16 - 17:21
    coberta em poeira
    e relatei o que havia visto.
  • 17:22 - 17:25
    A maior lição que aprendi
  • 17:25 - 17:29
    foi que em todas as histórias, todos
    os dias, todos os anos em que faço isso,
  • 17:30 - 17:34
    é um privilégio ser repórter.
  • 17:35 - 17:36
    Fazer esse trabalho.
  • 17:37 - 17:38
    Muito obrigada.
  • 17:38 - 17:40
    (Aplausos)
Title:
Lições sobre o Jornalismo Investigativo| Carol Marin | TEDxMidwest
Description:

Esta palestra foi dada em um evento TEDx local, produzido independentemente das conferências TED.

Carol Marin, uma veterana no jornalismo investigativo, conta um pouco sobre seu trabalho para uma plateia muito interessada em vilões e eventos catastróficos. Ela é muito cativante ao contar sobre o crime organizado e corrupção política em Chicago, e também sobre o medo e o caos que ela experienciou ao ir de encontro às Torres Gêmeas desmoronando em Nova York.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
17:47

Portuguese, Brazilian subtitles

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