A solidão das mães especiais - seja rede, seja aldeia | Lau Patrón | TEDxUnisinos
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0:21 - 0:24É preciso uma aldeia inteira
pra educar uma criança. -
0:24 - 0:25Dizem.
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0:26 - 0:29Até que essa criança
tenha necessidades especiais. -
0:29 - 0:34Esse é o limite desse provérbio
bonito africano que se usa tanto hoje. -
0:35 - 0:40Quando se toca nessa maternidade especial,
na maternidade que ninguém quer, -
0:41 - 0:42ninguém vê,
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0:42 - 0:44e sobre a qual todos têm medo de falar,
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0:44 - 0:49a gente cruza uma linha importante
e do outro lado a aldeia se desfaz. -
0:51 - 0:55Segundo a ONU, 1 bilhão de pessoas
no mundo têm algum tipo de deficiência. -
0:56 - 1:00Um bilhão, dos 7,5 bilhões
que somos todos. -
1:01 - 1:02Vocês sabiam disso?
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1:03 - 1:04Eu não sabia.
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1:05 - 1:09Há cinco anos eu não sabia
muitas das coisas que eu sei hoje, -
1:09 - 1:11por uma razão bem simples:
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1:11 - 1:12eu não precisava saber.
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1:14 - 1:15Eu nunca quis ser mãe.
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1:15 - 1:18Nunca me achei capaz
de educar outro ser humano, -
1:18 - 1:22com a responsabilidade de ensinar
pra ele aquilo que eu mesma não sei. -
1:23 - 1:26Nunca achei que eu era boa o suficiente
pro cargo endeusado das mães. -
1:27 - 1:29Mas a vida sempre foi meio danada comigo.
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1:30 - 1:32E, com 22 anos e nenhuma vontade,
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1:32 - 1:33eu engravidei.
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1:34 - 1:38E senti a conexão mais potente
da minha vida começar. -
1:39 - 1:43No processo de gravidez, eu troquei muito
com o meu companheiro na época. -
1:43 - 1:46A gente tinha muitas dúvidas
sobre quem o nosso filho seria. -
1:47 - 1:50A gente debateu tudo, todos os tabus
que a gente encontrou pelo caminho. -
1:51 - 1:55A gente falou sobre afeto,
doação, entrega. -
1:55 - 1:58Falamos sobre uma educação
feminista, igualitária. -
1:59 - 2:05Pensamos em como abordaríamos assuntos
como sexualidade, raça, privilégio. -
2:07 - 2:09Pensamos também o que faríamos
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2:09 - 2:12se esse menino que estava
chegando no mundo -
2:12 - 2:14quisesse ser artista de circo,
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2:15 - 2:18ou tivesse uma opinião política
diferente da nossa, -
2:18 - 2:20ou gostasse de música sertaneja.
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2:23 - 2:27A gente pensou em diversidade,
mas de forma incompleta. -
2:27 - 2:32Nunca pensamos que o que aconteceria
com a gente seria um outro desafio, -
2:32 - 2:35que chegaria tão cedo
e que quase perderíamos o João. -
2:36 - 2:40Eu quis sempre ter a certeza
que o meu filho teria amor e espaço. -
2:41 - 2:43Mas eu não sabia o que estava por vir.
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2:45 - 2:47Então, quando o João
tinha um ano e oito meses, -
2:48 - 2:51e a essa altura era o sol, o meu sol,
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2:51 - 2:55e corria por tudo e falava bastante,
e aprontava muito, -
2:56 - 2:59o corpo dele colapsou, do nada.
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3:00 - 3:04A doença grave e muito violenta,
que hoje a gente conhece, -
3:04 - 3:07nos pegou desprevenidos
numa virada de esquina. -
3:07 - 3:12No domingo a gente estava no parque,
pulando numa cama elástica, se divertindo. -
3:12 - 3:15Na segunda, entrando em um hospital,
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3:15 - 3:18de onde a gente demoraria
71 dias pra sair. -
3:19 - 3:23Eu lembro ainda da sensação
de estar sendo levada pra UTI -
3:24 - 3:26e, naquele momento, ter certeza
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3:26 - 3:28que a nossa vida
nunca mais ia ser a mesma. -
3:29 - 3:33O João foi diagnosticado
com uma doença rara e sofreu um grave AVC. -
3:45 - 3:48É muito difícil falar
sobre isso ainda hoje, -
3:48 - 3:50porque são essas coisas
que a gente não espera -
3:50 - 3:52que vão acontecer na nossa vida.
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3:52 - 3:54O diagnóstico parecia
uma ficção científica, -
3:54 - 3:57o nome da doença é SHUa
e eu não conhecia. -
3:57 - 4:00É uma doença raríssima e muito fatal,
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4:00 - 4:04que até dez anos atrás tinha
taxa de mortalidade de 100%. -
4:04 - 4:06E era isso que estava
acontecendo com o meu filho. -
4:06 - 4:08Ele estava morrendo.
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4:08 - 4:11Nos 71 dias, em muitos desses 71 dias,
ele estava morrendo. -
4:12 - 4:15E por isso, quando ele sobreviveu,
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4:16 - 4:19as sequelas do AVC
eram a parte do problema -
4:19 - 4:21que eu estava disposta a enfrentar.
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4:22 - 4:25Foi assim que o mundo totalmente estranho
das necessidades especiais -
4:25 - 4:26começou pra nós.
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4:27 - 4:29E o João se tornou parte dessa minoria
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4:29 - 4:30gigantesca
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4:30 - 4:32de 1 bilhão de pessoas.
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4:33 - 4:37Foi assim que a cadeira de rodas se tornou
a forma dele de navegar no mundo. -
4:37 - 4:41E eu aprendi a ler olhares e gestos,
e precisar menos das palavras. -
4:43 - 4:45Os meses da volta pra casa
foram devastadores. -
4:46 - 4:48O João não controlava mais
o próprio corpo, -
4:48 - 4:53ele não sentava, ele não falava,
ele não comia, ele não andava. -
4:53 - 4:57As melhoras eram pequenas
e muito graduais. -
4:57 - 4:59O tempo tinha outro ritmo.
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4:59 - 5:01Eu tive que reaprender a dançar.
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5:01 - 5:04Mas a ficha só caiu mesmo
na volta pra escola, -
5:04 - 5:08quando, numa reunião de pais
pra explicar a entrada do João na turma, -
5:08 - 5:13uma mãe ignorou a minha presença,
se virou para a professora e disse: -
5:13 - 5:17"O meu filho é pequeno demais
pra conviver com esse problema". -
5:17 - 5:20E "esse problema" era o João.
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5:21 - 5:23Com dois anos, o meu filho
deixou de ser um menino -
5:23 - 5:25pra virar um problema.
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5:25 - 5:29E passou a saber o que é
não ser desejado cedo demais. -
5:32 - 5:36Um dia uma médica me disse:
"O cérebro é sagrado. -
5:36 - 5:40Ainda tem muita vida pela frente,
umas mil possibilidades". -
5:41 - 5:45No meio de tantos diagnósticos péssimos
e nossos medos, e as nossas inseguranças, -
5:45 - 5:48e um reencontro com a sociedade tão duro,
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5:48 - 5:52eu não sei dizer de onde
a gente tirou tanta força. -
5:52 - 5:55Mas eu sei dizer uma coisa
sobre as palavras ditas com afeto: -
5:55 - 6:00elas têm o poder de ecoar
dentro da gente por tempo indeterminado. -
6:01 - 6:03E assim passaram cinco anos.
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6:04 - 6:07Cinco anos de tratamentos
intensos de reabilitação, -
6:07 - 6:11que nos exigiram muito esforço,
muito estudo, muita coragem. -
6:12 - 6:15Cinco anos assistindo ao João tentar,
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6:15 - 6:16no passo dele,
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6:16 - 6:18voltar a conversar com o próprio corpo.
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6:19 - 6:21E passar de todas
as barreiras que disseram -
6:21 - 6:24que pra ele seriam impossíveis.
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6:25 - 6:26Ele reaprendeu a sentar.
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6:27 - 6:30Liberou as mãozinhas de novo,
que hoje amam desenhar. -
6:31 - 6:34Ele encontrou de novo
o caminho das palavras, -
6:34 - 6:37que são poucas hoje ainda,
mas que mudaram o nosso mundo. -
6:38 - 6:42Fica de pé milésimos a mais,
a cada mês que passa. -
6:42 - 6:44Passou pra primeira série
em tempo regular. -
6:45 - 6:50E é esse menino, amoroso,
corajoso e muito inteligente -
6:50 - 6:52que faz parecer ser fácil
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6:52 - 6:53o que não é.
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6:54 - 6:57Ele faz parecer ser fácil porque o João
tem um movimento muito natural -
6:57 - 7:00de deixar a dor vir e não se abraçar nela.
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7:01 - 7:04E uma alegria que é a mais honesta
que eu já conheci. -
7:04 - 7:07E é o modo operante
que ele escolheu de estar no mundo. -
7:08 - 7:11Toda vez que alguém descreve
o caso do João como milagre, -
7:11 - 7:17eu me lembro que esse milagre foi
e ainda é feito de muito suor. -
7:17 - 7:19E falo no ouvido dele baixinho
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7:19 - 7:21o quanto eu me orgulho
do menino que ele se tornou. -
7:24 - 7:27Alguns meses atrás eu comecei
um processo de estudo -
7:27 - 7:29pra escrever um livro sobre inclusão.
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7:30 - 7:33Comecei a entrevistar outras mães
e profissionais da área, educadores. -
7:34 - 7:38E nessas entrevistas um assunto voltava
recorrentemente e me incomodava. -
7:39 - 7:41A solidão das mães ditas especiais.
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7:42 - 7:46Não que eu não tenha sentido essa solidão
em nenhum momento, muito pelo contrário. -
7:46 - 7:49Eu acho que a gente sente tanto
que se acostuma. -
7:50 - 7:52Mas eu estava ignorando o assunto.
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7:52 - 7:55Aquela velha coisa de botar
nossos problemas pra baixo do tapete -
7:55 - 7:57e pensar depois.
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7:57 - 7:59Outra hora. Quem sabe amanhã.
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8:00 - 8:02É preciso uma aldeia inteira
pra educar uma criança, -
8:02 - 8:05mas nos nossos casos,
na maioria das vezes, -
8:05 - 8:09o que temos são amigos
que não querem se aproximar. -
8:09 - 8:11Parentes que têm medo
e não querem se envolver. -
8:11 - 8:17Tios que não vão levar essa criança
pra passear, nunca, num sábado de tarde. -
8:18 - 8:21Mães de colegas que não convidam
pra dormir na sua casa, -
8:21 - 8:24convites de aniversário que não chegam.
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8:24 - 8:26Avós que dizem não ter mais idade.
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8:27 - 8:29Pais que estão, mas não muito.
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8:29 - 8:30Pais que vão embora.
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8:32 - 8:35Olhando profundamente,
a verdade é que muitas vezes -
8:35 - 8:38a mãe é a aldeia inteira dessa criança.
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8:38 - 8:41E ela vai tentar ser
com toda a força dela. -
8:41 - 8:46E ela vai se esforçar e se cobrar
pra dar conta de todos aqueles papéis. -
8:46 - 8:48E ela vai falhar,
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8:48 - 8:49invariavelmente.
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8:49 - 8:51Ela não tem nenhuma chance.
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8:53 - 8:56Esses tempos eu recebi um convite
de aniversário de um colega do João. -
8:56 - 8:58Era uma festa do pijama.
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8:58 - 9:02Dessas que tem as cabaninhas
e as crianças dormem na festa. -
9:02 - 9:03Eu gelei.
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9:04 - 9:06Porque já está em mim saber
que pro meu filho -
9:06 - 9:08os convites são diferentes.
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9:09 - 9:11Eu não respondi pra mãe, demorei dias,
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9:11 - 9:15deixei passar aquele prazo
de confirmação pra festinha. -
9:15 - 9:18E uns dois dias antes da festa,
eu procurei ela. -
9:18 - 9:19Mandei uma mensagem.
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9:19 - 9:23"Escuta, vou... acho que vou levar o João
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9:23 - 9:26pelo menos para que ele fique
três horinhas com os colegas. -
9:26 - 9:29Que ele possa estar com os amigos
num momento de celebração -
9:29 - 9:31e depois eu busco ele.
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9:31 - 9:32Não vai rolar dormir, né".
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9:33 - 9:38E ela me respondeu: "Se tu topar,
eu queria tentar que ele dormisse". -
9:40 - 9:43Eu fiquei meio chocada
porque eu não esperava a resposta dela. -
9:43 - 9:46Quantas mães no lugar dela
estariam dispostas? -
9:48 - 9:50Nós decidimos juntas tentar.
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9:50 - 9:52E o João não voltou pra casa
naquele sábado. -
9:54 - 9:58Diz que ele aproveitou muito,
que estava feliz e muito bagunceiro. -
9:58 - 10:00Diz que comeu bastante cachorro-quente,
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10:00 - 10:03derrubou várias cabaninhas por gosto.
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10:03 - 10:08Rolou pra dentro de reuniões secretas
das meninas sem autorização. -
10:09 - 10:11E foi o último a dormir.
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10:11 - 10:12Feliz.
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10:13 - 10:17Naquela noite, eu me senti uma mãe normal.
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10:18 - 10:21Grudada no celular,
acordada a madrugada inteira, -
10:21 - 10:24cuidando para ver se algum fenômeno
da natureza tinha tirado o meu celular, -
10:24 - 10:26tinha botado no silencioso,
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10:26 - 10:27mas normal.
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10:28 - 10:30E esse dia me ensinou muitas coisas.
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10:30 - 10:33Sobre a normalidade do meu próprio filho.
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10:33 - 10:37Sobre como medos nos impedem
de viver experiências importantes. -
10:37 - 10:39Sobre a minha coragem e a coragem do outro
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10:39 - 10:42que quando se encontram
podem ser tão potentes. -
10:42 - 10:44E sobre ter uma rede.
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10:44 - 10:46Disposta, a fim de tentar.
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10:47 - 10:50Inclusão parece uma palavra difícil.
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10:51 - 10:55Um movimento grande
que cabe a grandes esferas -
10:55 - 10:57e se ensina em livros complicados.
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10:57 - 11:00Mas a verdade é que a mudança
cabe na mão de cada um de nós. -
11:01 - 11:04Na escolha de pequenos
gestos com gentileza, -
11:04 - 11:06na empatia pela dor do outro,
-
11:06 - 11:09numa abertura pela
diversidade como um todo. -
11:10 - 11:12Precisamos mudar o nosso ponto de vista
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11:12 - 11:18e entender que lugares são deficientes,
ideias são deficientes. -
11:18 - 11:21O marketing, o planejamento,
o design é deficiente. -
11:21 - 11:22Não as pessoas.
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11:23 - 11:26E ultrapassar barreiras óbvias, por afeto.
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11:32 - 11:35As pessoas me perguntam:
"Por onde eu posso começar?" -
11:35 - 11:37Você já olhou sua calçada hoje?
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11:38 - 11:42Você conseguiria atravessar ela
se estivesse numa cadeira de rodas? -
11:43 - 11:45Esqueçam as vagas prioritárias.
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11:45 - 11:48Nem por cinco minutos,
nem por cinco segundos. -
11:48 - 11:51Elas não foram feitas pra vocês.
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11:51 - 11:54Foram feitas para 1 bilhão
de pessoas, lembra? -
11:55 - 11:59Perguntem na escola do filho de vocês
qual é o posicionamento sobre inclusão. -
11:59 - 12:02Uma escola que não tem
capacidade e desejo de olhar -
12:02 - 12:04pras diferenças gritantes do meu filho
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12:04 - 12:08não vai ter sensibilidade
pra olhar pras sutis do seu. -
12:10 - 12:11O meu convite vai além.
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12:12 - 12:14Sejam aldeia, sejam rede.
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12:15 - 12:18Sabe aquela amiga que tem um filho
com paralisia cerebral? -
12:18 - 12:19Liga pra ela hoje.
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12:19 - 12:22Pergunta como é que ela está,
com disponibilidade pra escutar. -
12:23 - 12:26Parece simples, mas me acontece raramente.
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12:27 - 12:29Ou aquela mãe de um coleguinha
que tem uma doença rara. -
12:30 - 12:32Convida pro parquinho.
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12:32 - 12:36Pega essa criança no colo,
tenta olhar com alguma normalidade. -
12:36 - 12:38Às vezes não é tão ruim.
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12:38 - 12:40É só diferente.
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12:40 - 12:42Inclusão não é um favor.
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12:42 - 12:45É um processo de melhora
do mundo para todos. -
12:46 - 12:49É entender a diversidade como força
e não como fraqueza. -
12:55 - 13:00É buscar soluções de ensino,
de trânsito, de olhar, de convivência; -
13:00 - 13:03que abracem todas as pessoas
como elas são. -
13:05 - 13:09Respeito que subestima
não é respeito, é pena. -
13:09 - 13:13Inclusão, pra mim, é olhar
pras diferenças do outro, -
13:13 - 13:15respeitar as diferenças do outro,
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13:16 - 13:17olhando de igual pra igual.
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13:18 - 13:21Nós já passamos de muitas fronteiras
na nossa história. -
13:21 - 13:25Já ultrapassamos muitas
que desumanizaram o João, -
13:25 - 13:27que tiraram ele da caixinha do perfeito,
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13:27 - 13:30tiraram ele da caixinha
do bonito, do aceitável, -
13:30 - 13:32pra resumir ele a uma cadeira de rodas
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13:32 - 13:33ou a problema.
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13:33 - 13:39Aliás, por favor, nunca resumam
uma pessoa a problema. -
13:40 - 13:43Vocês correm o risco
dessa pessoa acreditar nisso. -
13:44 - 13:46Por outro lado, em contrapartida,
-
13:46 - 13:49essas mesmas fronteiras
nos fizeram crescer muito. -
13:50 - 13:53Nos desumanizando,
nos humanizaram muito mais. -
13:54 - 13:57Foi recebendo olhares tão duros
-
13:57 - 13:59que eu consegui olhar pro outro
com mais candura. -
14:00 - 14:03E ultrapassando linhas improváveis
e outras impossíveis -
14:03 - 14:07que eu achei a felicidade genuína,
porque não precisa esconder a dor. -
14:09 - 14:12A gente se sente frágil
quando precisa pedir, -
14:12 - 14:14mas a verdade é que toda mãe
precisa de uma rede. -
14:16 - 14:20E é preciso uma aldeia inteira
pra educar uma criança. Toda criança. -
14:21 - 14:24Mesmo aquela que diz "eu te amo"
apenas com um olhar. -
14:26 - 14:29Eu queria dividir uma coisa
com vocês agora, pra finalizar. -
14:29 - 14:33Faz cinco meses que o João voltou
a me chamar de mãe, que ele conseguiu. -
14:33 - 14:34Mama, na verdade.
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14:35 - 14:38Eu fiquei muito tempo
sem essa palavra, sem esse lugar. -
14:38 - 14:42E agora a gente estava fazendo uma viagem,
uma das nossas muitas viagens, -
14:42 - 14:45e ele me deu este presente aqui,
que eu queria dividir. -
14:46 - 14:47(Vídeo)
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14:48 - 14:49Lau Patrón: Eu...
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14:50 - 14:51João: Eu.
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14:51 - 14:52LP: Te...
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14:52 - 14:53J: Te.
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14:53 - 14:54LP: A...
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14:54 - 14:55J: A.
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14:56 - 14:57LP: Mo.
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14:57 - 14:58J: Ma.
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14:58 - 15:00(Beijos)
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15:01 - 15:03LP: Nós somos a diversidade.
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15:03 - 15:06Sejam a aldeia. Sejam a rede.
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15:06 - 15:07Obrigada.
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15:07 - 15:10(Aplausos) (Vivas)
- Title:
- A solidão das mães especiais - seja rede, seja aldeia | Lau Patrón | TEDxUnisinos
- Description:
-
Lau Patrón é publicitária, escritora e mãe do João Vicente, um menino sorridente e portador de uma síndrome autoimune raríssima, de causa genética, chamada SHUa. Uma das crises da doença provocou um AVC muito grave e João perdeu o controle do próprio corpo, mas não a alegria. Faz alguns anos que Lau criou a página Avante Leãozinho, onde divide com muitas pessoas suas reflexões sobre inclusão e seu processo de aceitação em textos esclarecedores, além de acolher outras famílias que vivem histórias parecidas. Lau vem desenvolvendo mais projetos nesse sentido, sonha alto, odeia a palavra "inclusão" e acredita apenas na mudança que passa pelo afeto. E em um novo entendimento da diversidade como força, e não como fraqueza. "Construiremos um mundo melhor e mais inovador quando ele for construído para abraçar todas as pessoas, como elas são." Quase lançando seu livro de estreia, se autodenomina uma "escritora por necessidade e vive dizendo "a vida é maravilhosa".
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx
- Video Language:
- Portuguese, Brazilian
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 15:13