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A tecnologia não mudou o amor. Eis porquê

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    Eu estive recentemente a viajar
    nas terras altas da Nova Guiné.
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    E estava a falar com um homem
    que tinha três mulheres.
  • 0:07 - 0:10
    Eu perguntei-lhe:
    "Quantas mulheres gostaria de ter?"
  • 0:10 - 0:12
    Houve uma longa pausa,
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    e eu pensei:
  • 0:13 - 0:15
    "Vai dizer cinco?"
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    "Vai dizer 10?"
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    "Vai dizer 25?"
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    Ele aproximou-se e sussurrou:
  • 0:20 - 0:21
    "Nenhuma".
  • 0:22 - 0:23
    (Risos)
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    86% das sociedades permitem
    que um homem tenha várias mulheres.
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    Poligamia.
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    Mas na vasta maioria
    destas culturas,
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    só cerca de 5 ou 10% dos homens
    têm, de facto, várias mulheres.
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    Ter várias parceiras pode
    ser uma dor de cabeça.
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    Na verdade, as mulheres podem
    desentender-se entre si.
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    Por vezes, até podem envenenar
    os filhos umas das outras.
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    E é preciso ter muitas
    vacas, muitas cabras,
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    muito dinheiro, muita terra,
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    para construir um harém.
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    Somos uma espécie monógama.
  • 0:53 - 0:57
    97% dos mamíferos não formam
    pares para cuidar dos jovens.
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    Os seres humanos, sim.
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    Não estou a sugerir
  • 1:01 - 1:04
    que nós tenhamos que ser
    sexualmente fiéis aos nossos parceiros.
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    Estudei o adultério em 42 culturas,
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    E percebi, na verdade,
    parte da sua genética
  • 1:09 - 1:11
    e parte dos circuitos
    cerebrais envolvidos.
  • 1:11 - 1:13
    É muito comum em todo o mundo,
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    mas nós somos feitos para amar.
  • 1:16 - 1:19
    De que forma é que a tecnologia
    está a alterar o amor?
  • 1:20 - 1:22
    Eu digo que, praticamente,
    de forma nenhuma.
  • 1:23 - 1:24
    Eu estudo o cérebro.
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    Eu e os meus colegas submetemos mais
    de 100 pessoas a ressonâncias magnéticas,
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    pessoas que tinham acabado
    de se apaixonar,
  • 1:31 - 1:34
    pessoas que tinham acabado
    de ser rejeitadas no amor,
  • 1:34 - 1:36
    e pessoas apaixonadas a longo prazo.
  • 1:36 - 1:38
    É possível mantermo-nos
    "apaixonados" a longo prazo.
  • 1:39 - 1:41
    E tenho mantido, desde há muito tempo
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    que desenvolvemos três sistemas
    cerebrais diferentes
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    para acasalamento e reprodução:
  • 1:45 - 1:47
    Desejo sexual.
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    Sentimentos de intenso amor romântico.
  • 1:49 - 1:52
    E sentimentos de uma profunda ligação
    cósmica com um parceiro a longo prazo.
  • 1:52 - 1:55
    E juntos, estes três sistemas cerebrais,
  • 1:55 - 1:57
    juntamente com outras partes do cérebro,
  • 1:57 - 2:02
    orquestram a nossa vida sexual,
    romântica e familiar.
  • 2:02 - 2:06
    Mas estes estão bem abaixo do córtex,
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    bem abaixo do sistema límbico
    onde sentimos as nossas emoções,
  • 2:09 - 2:11
    onde geramos as emoções.
  • 2:11 - 2:15
    Eles estão nas partes mais primitivas
    do nosso cérebro, ligados à energia,
  • 2:15 - 2:20
    à atenção, aos anseios, à motivação,
    aos desejos e ao impulso.
  • 2:21 - 2:22
    Neste caso,
  • 2:22 - 2:24
    o impulso de ganhar
    o maior prémio na vida:
  • 2:24 - 2:26
    um parceiro para acasalamento.
  • 2:26 - 2:30
    Evoluíram durante 4,4 milhões de anos,
    entre os nossos primeiros antecessores
  • 2:30 - 2:35
    e não vão mudar por irmos
    para a direita ou esquerda no Tinder.
  • 2:35 - 2:36
    (Risos)
  • 2:36 - 2:39
    (Aplausos)
  • 2:39 - 2:43
    Não há dúvidas que a tecnologia
    está a mudar a forma como cortejamos:
  • 2:43 - 2:45
    emails, mensagens,
  • 2:45 - 2:47
    "emojis" para exprimir as nossas emoções,
  • 2:47 - 2:49
    mensagens eróticas.
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    Pôr "gosto" numa fotografia,
    as "selfies"...
  • 2:51 - 2:55
    Estamos a ver as novas regras
    e os tabus para fazer a corte.
  • 2:56 - 2:58
    Mas, sabem...
  • 2:58 - 3:01
    Estará, de facto, a mudar
    drasticamente o amor?
  • 3:02 - 3:04
    Então e quanto ao final
    da década de 40
  • 3:04 - 3:07
    quando os carros
    se tornaram muito populares
  • 3:07 - 3:09
    e, de repente, tínhamos
    camas rolantes?
  • 3:09 - 3:11
    (Risos)
  • 3:11 - 3:15
    E aquando da introdução da pílula?
  • 3:16 - 3:21
    Libertadas da grande ameaça
    da gravidez a da ruína social,
  • 3:21 - 3:25
    as mulheres puderam finalmente
    expressar a sua sexualidade primitiva.
  • 3:26 - 3:29
    Nem os "sites" de encontros
    estão a mudar o amor.
  • 3:29 - 3:31
    Eu sou consultora científica
    chefe do Match.com
  • 3:31 - 3:33
    já há 11 anos.
  • 3:33 - 3:35
    Eu continuo a dizer-lhes,
    e eles concordam,
  • 3:35 - 3:38
    que estes não são "sites" de encontros
  • 3:38 - 3:39
    mas de apresentação.
  • 3:39 - 3:41
    Quando nos sentamos num bar,
  • 3:41 - 3:43
    num café,
  • 3:43 - 3:44
    num banco de jardim,
  • 3:44 - 3:49
    o nosso cérebro antigo entra em ação
    como um gato que é acordado
  • 3:49 - 3:51
    e sorrimos
  • 3:51 - 3:52
    e rimos
  • 3:52 - 3:53
    e ouvimos
  • 3:53 - 3:59
    e desfilamos da mesma forma que os
    nossos antecessores faziam há 100 mil anos.
  • 3:58 - 4:00
    Podemos apresentar-vos várias pessoas,
  • 4:00 - 4:02
    todos os sites de encontros o fazem.
  • 4:02 - 4:06
    Mas o único algoritmo real
    é o nosso cérebro humano.
  • 4:06 - 4:09
    A tecnologia não irá mudar isso.
  • 4:09 - 4:14
    E também não vai mudar as pessoas
    por quem nos apaixonamos.
  • 4:14 - 4:16
    Eu estudo a biologia da personalidade,
  • 4:16 - 4:18
    e tenho vindo a acreditar
  • 4:18 - 4:22
    que desenvolvemos 4 estilos diferentes
    de pensamento e comportamento
  • 4:22 - 4:25
    ligados aos sistemas de
    dopamina, de serotonina,
  • 4:25 - 4:26
    de testosterona e de estrogénio.
  • 4:26 - 4:31
    Por isso, criei um questionário,
    diretamente do cérebro da ciência,
  • 4:31 - 4:34
    para determinar o grau
    em que expressamos os traços,
  • 4:34 - 4:35
    a constelação de traços,
  • 4:35 - 4:38
    ligados a estes quatro sistemas cerebrais.
  • 4:39 - 4:44
    Depois, colocámos o questionário
    em vários "sites" de encontros,
  • 4:44 - 4:45
    em 40 países.
  • 4:46 - 4:50
    Mais de 14 milhões de pessoas,
    já responderam ao questionário
  • 4:50 - 4:54
    e comecei a perceber quem é
    naturalmente compatível com quem.
  • 4:54 - 4:56
    No final de contas,
  • 4:56 - 4:59
    aqueles cujo sistema de dopamina
    é mais expressivo
  • 4:59 - 5:02
    tendem a ser mais curiosos, criativos,
    espontâneos e enérgicos.
  • 5:02 - 5:05
    Imagino que uma grande parte das
    pessoas neste auditório seja assim,
  • 5:05 - 5:07
    São atraídas por pessoas como elas.
  • 5:07 - 5:10
    As pessoas curiosas e criativas
    precisam de pessoas como elas.
  • 5:10 - 5:13
    Pessoas muito expressivas,
    dado o sistema de serotonina,
  • 5:13 - 5:16
    tendem a ser mais tradicionais,
    convencionais e cumpridores.
  • 5:16 - 5:18
    Respeitam a autoridade.
  • 5:18 - 5:21
    Tendem a ser mais religiosos
    — isso está no sistema de serotonina.
  • 5:21 - 5:25
    E as pessoas tradicionais
    vão ao encontro de outras iguais.
  • 5:25 - 5:27
    Neste sentido, os
    semelhantes atraem.
  • 5:28 - 5:30
    Nos outros dois casos,
    os opostos atraem.
  • 5:30 - 5:32
    Pessoas muito expressivas
    no sistema de testosterona
  • 5:32 - 5:36
    tendem a ser analíticas, lógicas,
    diretas e decisivas
  • 5:36 - 5:37
    e vão ao encontro do seu oposto.
  • 5:37 - 5:40
    Procuram alguém cujo nível
    de estrogénio é elevado.
  • 5:40 - 5:42
    Alguém cujas competências
    verbais sejam elevadas
  • 5:42 - 5:43
    e competências sociais.
  • 5:43 - 5:45
    Alguém muito intuitivo
  • 5:45 - 5:48
    que é acolhedor
    e emocionalmente expressivo.
  • 5:49 - 5:51
    Temos padrões naturais
    para a escolha de parceiros.
  • 5:51 - 5:57
    A tecnologia moderna não vai
    mudar por quem nos apaixonamos.
  • 5:57 - 6:00
    Mas a tecnologia está a criar
    uma tendência
  • 6:00 - 6:02
    que me parece particularmente importante.
  • 6:02 - 6:06
    Está associada ao conceito
    do paradoxo da escolha.
  • 6:06 - 6:08
    Durante milhares de anos
  • 6:08 - 6:10
    vivemos em pequenos grupos
    de caçadores-recoletores.
  • 6:10 - 6:13
    Não tínhamos a possibilidade de escolha
  • 6:13 - 6:16
    entre mil pessoas num "site" de encontros.
  • 6:16 - 6:18
    De facto, tenho estudado
    isto recentemente.
  • 6:18 - 6:22
    E acho que há um lugar
    específico no cérebro.
  • 6:22 - 6:25
    Não sei qual é, mas parece
    que, pela leitura de dados,
  • 6:25 - 6:30
    podemos incluir
    cerca de 5 a 9 alternativas,
  • 6:30 - 6:33
    e depois, podemos entrar naquilo
    a que os académicos chamam
  • 6:33 - 6:34
    "excesso cognitivo".
  • 6:34 - 6:36
    E deixamos de escolher.
  • 6:36 - 6:39
    Por isso, cheguei a concluir que
    devido a este excesso cognitivo,
  • 6:39 - 6:43
    estamos a realizar
    uma nova forma de cortejar
  • 6:43 - 6:45
    a que eu chamo "amor lento".
  • 6:45 - 6:49
    Cheguei aqui através do
    meu trabalho com a Match.com.
  • 6:49 - 6:51
    Todos os anos, desde há 6 anos,
  • 6:51 - 6:54
    fazemos um estudo
    chamado "Solteiros na América".
  • 6:54 - 6:56
    Não questionamos o grupo do Match,
  • 6:56 - 6:58
    mas sim a população norte-americana.
  • 6:58 - 7:01
    Usamos mais de cinco mil pessoas,
  • 7:01 - 7:05
    uma amostra representativa dos EUA,
    com base nos censos norte-americanos.
  • 7:05 - 7:07
    Agora temos informação
    sobre mais de 30 mil pessoas.
  • 7:07 - 7:10
    E todos os anos,
  • 7:10 - 7:12
    vejo um mesmo padrão.
  • 7:13 - 7:15
    Todos os anos, quando pergunto,
  • 7:15 - 7:18
    mais de 50% das pessoas
    já tiveram casos de uma noite
  • 7:18 - 7:21
    — não necessariamente nesse ano,
    mas na sua vida —
  • 7:21 - 7:23
    50% dos inquiridos já tiveram
    amigos com benefícios
  • 7:23 - 7:25
    ao longo da sua vida.
  • 7:25 - 7:28
    E mais de 50% tiveram
    uma relação duradoura
  • 7:28 - 7:30
    antes de casarem.
  • 7:30 - 7:32
    Os norte-americanos pensam
    que isto é irresponsável.
  • 7:32 - 7:35
    Eu duvidei disso por muito tempo.
  • 7:35 - 7:37
    Os padrões são demasiado fortes.
  • 7:37 - 7:40
    Tem de haver uma qualquer
    explicação darwiniana.
  • 7:40 - 7:42
    Não há assim tantas pessoas loucas.
  • 7:42 - 7:46
    E encontrei uma estatística
    que me fez pensar.
  • 7:46 - 7:49
    Era um artigo académico muito interessante
  • 7:49 - 7:54
    no qual descobri que 67%
    dos solteiros nos EUA,
  • 7:54 - 7:56
    que estão hoje
    numa relação duradoura,
  • 7:56 - 8:00
    ainda não casaram
    por terem medo do divórcio.
  • 8:00 - 8:03
    Têm medo das consequências sociais,
  • 8:03 - 8:04
    legais, emocionais
  • 8:04 - 8:07
    e económicas do divórcio.
  • 8:07 - 8:11
    Vim a perceber que isto
    não é irresponsabilidade,
  • 8:11 - 8:13
    acho que é precaução.
  • 8:13 - 8:18
    Os solteiros querem saber
    tudo sobre os seus parceiros
  • 8:18 - 8:19
    antes de casarem.
  • 8:19 - 8:21
    Aprendemos muito entre os lençóis,
  • 8:21 - 8:24
    não só sobre a forma
    como fazem amor,
  • 8:24 - 8:25
    mas se são amáveis.
  • 8:25 - 8:27
    se sabem ouvir.
  • 8:27 - 8:30
    E, na minha idade,
    se têm ou não sentido de humor.
  • 8:30 - 8:31
    (Risos)
  • 8:31 - 8:35
    Numa idade em que
    temos demasiadas escolhas,
  • 8:35 - 8:38
    não temos medo
    da gravidez e da doença
  • 8:38 - 8:42
    e não temos vergonha
    do sexo antes do casamento,
  • 8:42 - 8:46
    acho que as pessoas estão
    a tomar o seu tempo para amar.
  • 8:46 - 8:48
    E, de facto, o que está a acontecer
  • 8:48 - 8:52
    é uma expansão do estado
    de pré-compromisso
  • 8:52 - 8:54
    antes de dar o nó,
  • 8:54 - 8:57
    em que o casamento
    era o início de uma relação
  • 8:57 - 8:58
    e agora é o final.
  • 8:59 - 9:01
    Mas o cérebro humano...
  • 9:01 - 9:03
    (Risos)
  • 9:03 - 9:05
    O cérebro humano triunfa sempre.
  • 9:05 - 9:07
    E, de facto, hoje nos EUA,
  • 9:07 - 9:11
    86% dos norte-americanos
    irá casar antes dos 49 anos.
  • 9:11 - 9:14
    E até em culturas por todo o mundo,
    onde não há tantos casamentos,
  • 9:14 - 9:17
    eles vão acabar por assentar
    com um parceiro a longo prazo.
  • 9:17 - 9:19
    Então comecei a pensar
  • 9:19 - 9:24
    que, durante a longa extensão
    da fase de pré-compromisso,
  • 9:24 - 9:27
    se nos conseguimos livrar
    de más relações antes de casar,
  • 9:27 - 9:30
    é possível começar a ver
    casamentos mais felizes.
  • 9:30 - 9:35
    Por isso fiz um estudo sobre
    1100 pessoas casadas nos EUA,
  • 9:35 - 9:37
    não através do 'Match.com, claro.
  • 9:37 - 9:39
    Fiz uma série de perguntas,
  • 9:39 - 9:40
    mas uma das perguntas era:
  • 9:40 - 9:45
    "Voltaria a casar com a pessoa
    com quem está agora casada?"
  • 9:45 - 9:48
    E 81% disse que sim.
  • 9:49 - 9:55
    De facto, a maior diferença
    na vida romântica e familiar
  • 9:55 - 9:57
    não é a tecnologia
  • 9:57 - 9:59
    nem sequer é o "amor demorado",
  • 9:59 - 10:02
    mas sim a entrada das mulheres
    no mercado de trabalho
  • 10:02 - 10:04
    nas culturas de todo o mundo.
  • 10:04 - 10:05
    Durante milhares de anos,
  • 10:05 - 10:08
    os nossos antecessores viviam
    em pequenos grupos de caçadores.
  • 10:08 - 10:11
    As mulheres deslocavam-se diariamente
    para recolher fruta e vegetais.
  • 10:11 - 10:14
    Voltavam para casa com 60 a 80%
    da refeição da noite.
  • 10:14 - 10:17
    A família com duplo rendimento
    era a regra.
  • 10:17 - 10:22
    E as mulheres eram consideradas
    económica, social e sexualmente
  • 10:22 - 10:24
    tão poderosas como os homens.
  • 10:24 - 10:27
    Mas o ambiente começou a alterar-se
    há cerca de 10 mil anos.
  • 10:27 - 10:30
    Começámos a assentar em quintas.
  • 10:30 - 10:32
    E tanto os homens como as mulheres
  • 10:32 - 10:34
    eram obrigados a casar
    com a pessoa certa,
  • 10:34 - 10:37
    com o melhor contexto familiar,
  • 10:37 - 10:38
    da religião certa
  • 10:38 - 10:41
    e com os parentes certos
    e contactos sociais e políticos certos,
  • 10:41 - 10:43
    O trabalho dos homens
    tornou-se mais importante:
  • 10:43 - 10:45
    afastar pedras, derrubar árvores,
    cultivar as terras.
  • 10:45 - 10:48
    Levavam o produto aos mercados
    locais e voltavam para casa
  • 10:48 - 10:50
    com o equivalente em dinheiro.
  • 10:50 - 10:52
    Juntamente com isto,
  • 10:52 - 10:54
    assistimos a um aumento
    de uma série crenças.
  • 10:54 - 10:57
    A crença na virgindade até ao casamento,
  • 10:57 - 10:59
    casamentos estritamente arranjados,
    .
  • 10:59 - 11:02
    A crença que o homem
    é o chefe da casa
  • 11:02 - 11:04
    e que o lugar da mulher é em casa.
  • 11:04 - 11:06
    E o mais importante,
  • 11:06 - 11:09
    honrar o marido
    até a que a morte os separe.
  • 11:09 - 11:11
    Estas ideias desaparecerem.
  • 11:11 - 11:12
    Estão a desaparecer,
  • 11:12 - 11:14
    e em muitos sítios já desapareceram.
  • 11:14 - 11:18
    Estamos a viver uma
    revolução no casamento.
  • 11:18 - 11:22
    Estamos a mudar 10 mil anos
    da nossa tradição de quinta
  • 11:23 - 11:28
    e a mover-nos em direção à igualdade
    nas relações entre os sexos.
  • 11:28 - 11:33
    Algo que considero altamente compatível
    com o espírito humano antigo.
  • 11:34 - 11:35
    Não sou uma Poliana.
  • 11:35 - 11:37
    Há muito por que chorar.
  • 11:37 - 11:39
    Já estudei o divórcio
    em 80 culturas.
  • 11:39 - 11:41
    Estudei, como disse, o adultério.
  • 11:41 - 11:43
    Há toda uma pilha de problemas.
  • 11:43 - 11:46
    Como disse o poeta Butler Yeats:
  • 11:46 - 11:49
    "O amor é uma coisa tortuosa"
  • 11:49 - 11:52
    E eu acrescentaria:
    "Ninguém sai vivo".
  • 11:52 - 11:53
    (Risos)
  • 11:53 - 11:55
    Todos temos problemas.
  • 11:55 - 11:59
    Mas acredito que o poeta Randall Jarrell
    resume bem esta questão.
  • 11:59 - 12:04
    Ele disse: "O mundo escuro e inquieto
    da vida familiar,
  • 12:04 - 12:08
    "onde o melhor pode falhar,
    e o mais humilde vingar".
  • 12:09 - 12:11
    Mas deixo-vos com o seguinte:
  • 12:11 - 12:13
    O amor e o compromisso prevalecerão.
  • 12:13 - 12:16
    A tecnologia não consegue mudar isso.
  • 12:16 - 12:18
    E concluo dizendo:
  • 12:18 - 12:23
    Qualquer compreensão das relações
    humanas deve ter em conta
  • 12:23 - 12:27
    um dos determinantes mais
    poderosos do comportamento humano:
  • 12:27 - 12:29
    o insaciável,
  • 12:29 - 12:30
    adaptável,
  • 12:31 - 12:34
    e primordial impulso para amar.
  • 12:34 - 12:35
    Obrigada.
  • 12:35 - 12:38
    (Aplausos)
  • 12:40 - 12:42
    Kelly Stoetzel: Muito obrigada, Helen.
  • 12:42 - 12:45
    Como sabe, está aqui outra
    oradora connosco.
  • 12:45 - 12:47
    Ela trabalha no mesmo campo
    que a Helen.
  • 12:47 - 12:49
    E aborda a questão de uma
    perspetiva diferente.
  • 12:49 - 12:53
    Esther Perel é psicoterapeuta
    que trabalha com casais.
  • 12:54 - 12:56
    A Helen estuda dados.
  • 12:56 - 12:58
    A Esther estuda as histórias
    que os casais lhe contam,
  • 12:58 - 13:00
    quando lhe pedem ajuda.
  • 13:00 - 13:01
    Vamos chamá-la ao palco.
  • 13:01 - 13:03
    Esther?
  • 13:03 - 13:06
    (Aplausos)
  • 13:10 - 13:11
    Então, Esther,
  • 13:12 - 13:14
    enquanto via a palestra da Helen,
  • 13:14 - 13:16
    houve alguma parte
    que tenha tido impacto,
  • 13:16 - 13:18
    segundo a sua perspetiva de trabalho,
  • 13:18 - 13:20
    que gostasse de comentar?
  • 13:20 - 13:24
    Esther Perel: É interessante
    porque, por um lado,
  • 13:24 - 13:27
    a necessidade para amar
    é omnipresente e universal.
  • 13:28 - 13:30
    Mas a forma como amamos,
  • 13:30 - 13:32
    o significado que daí retiramos.
  • 13:32 - 13:34
    as regras que, para mim,
    governam as nossas relações
  • 13:34 - 13:36
    estão fundamentalmente a mudar.
  • 13:36 - 13:39
    Nós advimos de um modelo
    que, até agora,
  • 13:39 - 13:42
    foi primariamente regulado
    em torno de dever e obrigação,
  • 13:42 - 13:45
    das necessidades
    de coletividade e lealdade.
  • 13:45 - 13:46
    E alterámos isso
  • 13:46 - 13:50
    para um modelo de escolha livre
    e sob iguais direitos,
  • 13:50 - 13:53
    bem como de satisfação
    própria e felicidade.
  • 13:53 - 13:56
    E assim, foi a primeira coisa que pensei.
  • 13:56 - 13:58
    Que a necessidade não muda,
  • 13:58 - 14:01
    Mas o contexto e a forma
    como regulamos as relações
  • 14:01 - 14:03
    muda muito.
  • 14:03 - 14:05
    Quanto ao paradoxo da escolha,
  • 14:07 - 14:08
    sabemos que, por um lado,
  • 14:08 - 14:11
    apreciamos a novidade
    e a alegria, penso eu,
  • 14:11 - 14:13
    por termos várias opções.
  • 14:13 - 14:15
    E, ao mesmo tempo,
  • 14:15 - 14:17
    enquanto fala deste excesso cognitivo,
  • 14:17 - 14:20
    vejo muitas, muitas pessoas,
  • 14:22 - 14:26
    que temem a incerteza e a dúvida
  • 14:27 - 14:29
    que advêm da quantidade de escolhas,
  • 14:29 - 14:31
    criando um caso de FOMO,
  • 14:31 - 14:33
    e levando-nos a...
  • 14:33 - 14:36
    FOMO é o medo de perder
    oportunidades.
  • 14:36 - 14:39
    É algo como: "Como é que eu
    sei que encontrei 'o tal'
  • 14:39 - 14:41
    " 'O tal' certo?"
  • 14:41 - 14:44
    Por isso, criámos aquilo a que
    chamo "ambiguidade estável".
  • 14:45 - 14:48
    Esta ambiguidade ocorre quando temos
    demasiado medo de estar sozinhos
  • 14:48 - 14:51
    mas também não estamos dispostos
    a empenharmo-nos
  • 14:51 - 14:52
    na construção de intimidade.
  • 14:52 - 14:58
    É um conjunto de táticas que prolongam
    a incerteza de uma relação
  • 14:58 - 15:00
    mas também a incerteza de uma rotura.
  • 15:00 - 15:03
    Por isso, na Internet temos
    três ideias principais.
  • 15:03 - 15:06
    Uma é de cobertura e latência
  • 15:06 - 15:09
    que são grandes táticas de empate
  • 15:09 - 15:11
    que fornecem uma espécie
    de circuito de espera,
  • 15:11 - 15:15
    enfatizando a natureza indefinida
    de uma relação.
  • 15:15 - 15:19
    Mas ao mesmo tempo dá-nos
    uma consistência reconfortante suficiente
  • 15:19 - 15:22
    e liberdade suficiente
    nos limites indefinidos.
  • 15:22 - 15:24
    (Risos)
  • 15:24 - 15:25
    Sim?
  • 15:25 - 15:28
    E depois vem a "evaporação"
  • 15:28 - 15:29
    que consiste, basicamente
  • 15:29 - 15:33
    em desaparecer do núcleo
    de conversações no momento
  • 15:33 - 15:37
    e, assim, não temos de lidar
    com a dor que infligimos no outro,
  • 15:37 - 15:40
    porque estamos a torná-lo
    invisível até para nós próprios.
  • 15:40 - 15:41
    (Risos)
  • 15:41 - 15:42
    Sim?
  • 15:42 - 15:47
    Estava aqui a pensar — estas palavras
    surgiram-me enquanto a ouvia.
  • 15:47 - 15:52
    A forma como um vocabulário
    também cria uma realidade
  • 15:52 - 15:54
    e, ao mesmo tempo,
  • 15:54 - 15:55
    esta é a minha pergunta:
  • 15:55 - 15:58
    Acha que quando o contexto se altera,
  • 15:58 - 16:02
    continua a significar que a
    natureza do amor se mantém igual?
  • 16:02 - 16:06
    Você estuda o cérebro e eu estudo
    as relações e histórias das pessoas.
  • 16:06 - 16:10
    Por isso, acho que é tudo
    o que você disse, mais:
  • 16:11 - 16:15
    Mas nem sempre sei o grau
    de variação de determinado contexto...
  • 16:15 - 16:18
    Há algum momento em que
    começa a alterar-se...
  • 16:18 - 16:21
    Se o significado se altera,
    também muda a necessidade
  • 16:21 - 16:23
    ou a necessidade é separada
    de todo o contexto?
  • 16:24 - 16:25
    Helen: Uau. Bem...
  • 16:25 - 16:27
    (Risos)
  • 16:28 - 16:30
    (Aplausos)
  • 16:31 - 16:34
    Bem, estão aí três perguntas, certo?
  • 16:35 - 16:37
    Em primeiro lugar:
  • 16:37 - 16:40
    Não há dúvida que mudámos,
    agora queremos uma pessoa para amar,
  • 16:40 - 16:43
    Durante milhares de anos,
    tínhamos de casar com a pessoa certa,
  • 16:43 - 16:45
    com o histórico certo
    e os contactos certos.
  • 16:45 - 16:49
    E, de facto, nos meus estudos com
    5000 pessoas, todos os anos,
  • 16:49 - 16:51
    eu pergunto: "O que é que procuram?"
  • 16:51 - 16:54
    E todos os anos,
    mais de 97% responde:
  • 16:54 - 16:55
    EP: A lista vai crescendo.
  • 16:55 - 16:59
    HF: Não. O principal
    é que 97% das pessoas
  • 16:59 - 17:02
    querem alguém que os respeite,
  • 17:02 - 17:04
    alguém em quem possam
    confiar e confidenciar,
  • 17:04 - 17:06
    alguém que os faça rir,
  • 17:06 - 17:07
    alguém que arranje tempo para eles
  • 17:07 - 17:11
    e alguém que achem fisicamente atraente.
  • 17:11 - 17:13
    Isso nunca muda.
  • 17:13 - 17:16
    E há certamente duas partes...
  • 17:16 - 17:18
    EP: Sabe o que eu chamo a isso?
  • 17:18 - 17:20
    Isso não é o que as pessoas
    costumavam dizer...
  • 17:20 - 17:21
    HF: Exatamente.
  • 17:21 - 17:24
    EP: Diziam que queriam alguém
    com quem tivessem companheirismo,
  • 17:24 - 17:26
    apoio económico, crianças.
  • 17:26 - 17:29
    Passámos de uma economia de produção
    para uma economia de serviço.
  • 17:29 - 17:32
    Fazíamo-lo numa cultura maior,
    e agora no casamento.
  • 17:32 - 17:34
    HF: Certo, sem dúvida.
  • 17:34 - 17:37
    Mas é curioso, os "milénios"
    querem ser excelentes pais,
  • 17:38 - 17:42
    enquanto que a geração anterior à deles,
    quer ter um maravilhoso casamento.
  • 17:42 - 17:45
    Mas que não são de todo
    focados em serem bons pais.
  • 17:45 - 17:46
    Vemos todas estas nuances.
  • 17:46 - 17:49
    Há duas partes básicas da personalidade:
  • 17:49 - 17:53
    Há a cultura — tudo à volta do qual
    crescemos e acreditamos e dizemos —
  • 17:53 - 17:54
    E há o temperamento.
  • 17:54 - 17:57
    Basicamente, eu tenho estado
    a falar do temperamento.
  • 17:57 - 18:00
    Esse temperamento vai certamente
    mudar com o passar do tempo
  • 18:00 - 18:02
    e mudar certas crenças.
  • 18:03 - 18:05
    Em termos do paradoxo da escolha,
  • 18:05 - 18:08
    não há dúvida que esta é
    uma questão complicada.
  • 18:08 - 18:11
    Durante milhares de anos,
    encontrávamos um rapaz querido
  • 18:11 - 18:12
    do outro lado do lago,
  • 18:12 - 18:13
    e íamos atrás dele.
  • 18:13 - 18:14
    EP: Sim, mas...
  • 18:14 - 18:16
    HF: Gostava de dizer mais uma coisa.
  • 18:16 - 18:19
    Nas sociedades caçadoras
    e recoletoras,
  • 18:19 - 18:23
    há a tendência para ter 2 ou 3
    parceiros durante a vida.
  • 18:22 - 18:24
    Eles não eram parvos.
  • 18:24 - 18:25
    Não estou a dizer que somos,
  • 18:25 - 18:29
    mas o importante aqui é
    que sempre tivemos alternativas.
  • 18:29 - 18:31
    O Homem é sempre...
  • 18:31 - 18:34
    O cérebro é bem construído de
    tal modo que chamamos "equilibrar",
  • 18:34 - 18:36
    para tentar decidir:
  • 18:36 - 18:38
    Devo ir ou ficar? Vou? Fico?
  • 18:38 - 18:41
    Quais são as oportunidades aqui?
    Como é que lido com isto?
  • 18:41 - 18:44
    Por isso, penso que estamos a
    ver uma repetição disso.
  • 18:44 - 18:46
    KS: Bem, muito obrigada às duas.
  • 18:46 - 18:49
    Acho que vai ter um milhão
    de parceiros para o jantar, hoje.
  • 18:49 - 18:51
    (Aplausos)
  • 18:51 - 18:52
    Obrigada, obrigada.
Title:
A tecnologia não mudou o amor. Eis porquê
Speaker:
Helen Fisher
Description:

No nosso mundo direcionado para a tecnologia, desenvolvemos novas formas e regras de namoro, mas mantiveram-se os princípios fundamentais do amor, isto segundo a antropóloga Helen Fisher. Nesta forma enérgica de contar tudo, aprendam de que forma os avanços mais rápidos nas relações, estão na verdade a conduzir a relações mais demoradas e íntimas. Vejam até ao final para assistirem a uma animada discussão com a especialista do amor, Esther Perel.

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English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
19:05

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