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Inspirando uma vida de envolvimento

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    Tenho passado muito tempo
    a viajar à volta do mundo, ultimamente,
  • 0:04 - 0:07
    falando a grupos
    de estudantes e profissionais.
  • 0:08 - 0:11
    E tenho descoberto que,
    em toda a parte, ouço temas semelhantes.
  • 0:11 - 0:12
    Por um lado, as pessoas dizem:
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    "O tempo da mudança é agora."
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    Querem fazer parte disso.
  • 0:16 - 0:19
    Falam de quererem uma vida
    com um objetivo e com maior significado.
  • 0:20 - 0:21
    Mas por outro lado,
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    eu ouço pessoas falar de medo,
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    de um sentimento de aversão ao risco:
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    "Eu quero seguir uma vida com objetivo,
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    mas não sei por onde começar.
  • 0:30 - 0:33
    "Não quero desiludir
    a minha família ou amigos."
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    Eu trabalho na área
    da pobreza global e elas dizem:
  • 0:35 - 0:37
    "Quero trabalhar em pobreza global,
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    "mas o que vai acontecer à minha carreira?
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    "Serei marginalizado?
    Irei ganhar dinheiro suficiente?
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    "Será que nunca me vou casar
    ou ter filhos?"
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    Eu não me casei
    até ser bastante mais velha
  • 0:48 - 0:50
    — ainda bem que esperei —
  • 0:50 - 0:51
    (Risos)
  • 0:52 - 0:53
    e não tenho filhos.
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    Olho para estes jovens e digo:
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    "O teu trabalho não é ser perfeito.
  • 0:58 - 1:00
    "O teu trabalho é ser simplesmente humano.
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    "Nada de importante acontece na vida
  • 1:03 - 1:05
    "que não tenha um preço."
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    Estas conversas refletem
    o que está a acontecer
  • 1:08 - 1:10
    a nível nacional e internacional.
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    Os nossos líderes e nós mesmos
    queremos tudo,
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    mas não falamos do preço,
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    não falamos do sacrifício.
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    Uma das minhas citações
    preferidas na literatura
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    foi escrita por Tillie Olsen,
  • 1:22 - 1:25
    a grande escritora americana do Sul.
  • 1:25 - 1:27
    Num conto chamado "Oh Yes"
  • 1:27 - 1:31
    ela fala de uma mulher branca,
    nos anos 50, que tem uma filha
  • 1:31 - 1:35
    que se torna amiga
    de uma rapariguinha afro-americana.
  • 1:35 - 1:38
    Ela olha para a sua filha
    com um sentimento de orgulho,
  • 1:38 - 1:40
    mas também se interroga:
  • 1:40 - 1:42
    "Qual é o preço que ela irá pagar?
  • 1:42 - 1:45
    "É melhor viver envolvida
    do que viver intocada."
  • 1:46 - 1:48
    Mas a verdadeira questão é:
  • 1:48 - 1:50
    Qual é o preço de não ousar?
  • 1:50 - 1:52
    Qual é o custo de não tentar?
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    Eu tenho sido privilegiada
    na minha vida
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    por conhecer líderes extraordinários
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    que escolheram viver
    vidas de envolvimento.
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    Uma mulher que eu conheci
    e que era membro num programa
  • 2:02 - 2:04
    que eu geria na Fundação Rockefeller
  • 2:04 - 2:06
    chamava-se Ingrid Washinawatok.
  • 2:06 - 2:08
    Ela era uma líder da tribo Menominee,
  • 2:08 - 2:10
    um povo nativo americano.
  • 2:10 - 2:13
    E quando nos reuníamos enquanto colegas
  • 2:13 - 2:16
    ela obrigava-nos a pensar
  • 2:16 - 2:19
    como os anciãos,
    na cultura nativa americana,
  • 2:19 - 2:20
    tomam decisões.
  • 2:20 - 2:24
    Ela disse-nos que eles, literalmente,
    visualizam as caras das crianças
  • 2:24 - 2:26
    até sete gerações no futuro,
  • 2:26 - 2:29
    a olharem para eles desde a Terra.
  • 2:29 - 2:32
    Elas olhavam para eles,
    tornando-os responsáveis
  • 2:32 - 2:34
    por aquele futuro.
  • 2:34 - 2:36
    A Ingrid sabia que estamos
    ligados uns aos outros,
  • 2:36 - 2:38
    não só enquanto seres humanos,
  • 2:38 - 2:40
    mas a todos os seres vivos no planeta.
  • 2:41 - 2:44
    Tragicamente, em 1999,
  • 2:44 - 2:46
    quando estava na Colômbia
    a trabalhar com o povo U'wa,
  • 2:46 - 2:50
    empenhada em preservar
    a sua cultura e linguagem,
  • 2:50 - 2:54
    ela e dois colegas
    foram raptados, torturados
  • 2:54 - 2:55
    e mortos pelas FARC.
  • 2:55 - 2:58
    Desde então, sempre
    que reuníamos os membros,
  • 2:58 - 3:01
    deixávamos uma cadeira vazia
    para o espírito dela.
  • 3:02 - 3:04
    Mais de uma década depois,
  • 3:04 - 3:06
    quando falo para membros de ONG,
  • 3:06 - 3:10
    quer seja em Trenton, Nova Jérsei,
    ou no gabinete da Casa Branca,
  • 3:10 - 3:12
    e quando falamos acerca da Ingrid,
  • 3:12 - 3:16
    todos eles dizem que estão a tentar
    integrar a sua sabedoria e o seu espírito
  • 3:17 - 3:20
    e continuar, verdadeiramente,
    o trabalho inacabado
  • 3:20 - 3:22
    da missão da sua vida.
  • 3:22 - 3:23
    Quando pensamos em legado,
  • 3:23 - 3:26
    eu não consigo imaginar
    nenhum mais poderoso,
  • 3:26 - 3:29
    apesar de a vida dela ter sido tão curta.
  • 3:30 - 3:32
    Também fui tocada por mulheres cambojanas,
  • 3:32 - 3:37
    mulheres lindas, que mantiveram
    a tradição da dança clássica no Camboja.
  • 3:37 - 3:39
    Conheci-as no início dos anos 90.
  • 3:39 - 3:42
    Na década de 70,
    sob o regime de Pol Pot,
  • 3:42 - 3:44
    o Khmer Vermelho matou
    mais de um milhão de pessoas.
  • 3:45 - 3:48
    Escolheram como alvo
    as elites e os intelectuais,
  • 3:48 - 3:50
    os artistas, os bailarinos.
  • 3:50 - 3:55
    No final da guerra, só estavam vivas
    30 destas bailarinas clássicas.
  • 3:55 - 3:58
    As mulheres que eu tive
    o privilégio de conhecer,
  • 3:58 - 4:00
    quando só havia três sobreviventes,
  • 4:00 - 4:02
    contaram-me que ficavam
    deitadas nos seus colchões
  • 4:02 - 4:04
    nos campos de refugiados.
  • 4:04 - 4:06
    Disseram-me que se esforçavam
  • 4:06 - 4:08
    por se recordar de fragmentos da dança,
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    na esperança que outras estivessem vivas,
    e fizessem o mesmo.
  • 4:11 - 4:15
    E houve uma mulher que ficou
    inerte numa postura perfeita,
  • 4:15 - 4:17
    com as mãos descaídas,
  • 4:17 - 4:21
    e falou da reunião das 30 mulheres
    depois da guerra,
  • 4:21 - 4:23
    de como tinha sido extraordinário.
  • 4:23 - 4:25
    Caiam-lhe as lágrimas pela cara,
  • 4:25 - 4:28
    mas ela nunca ergueu as mãos
    para as limpar.
  • 4:28 - 4:30
    As mulheres decidiram que iriam treinar
  • 4:30 - 4:34
    não a geração seguinte de raparigas,
    porque elas já eram demasiado crescidas,
  • 4:34 - 4:36
    mas a geração seguinte.
  • 4:36 - 4:40
    Sentei-me no estúdio a observar
    aquelas mulheres a baterem palmas
  • 4:41 - 4:42
    — ritmos maravilhosos —
  • 4:42 - 4:46
    enquanto pequenas fadinhas
    dançavam à sua volta,
  • 4:46 - 4:48
    usando sedas de cores lindas.
  • 4:48 - 4:50
    E pensei que, depois
    de toda aquela atrocidade,
  • 4:50 - 4:53
    aquela era a forma
    como os seres humanos rezam.
  • 4:54 - 4:56
    Porque estão focados em honrar
  • 4:56 - 4:59
    o que há de mais belo
    no nosso passado
  • 4:59 - 5:04
    e desenvolvê-lo numa promessa
    para o nosso futuro.
  • 5:03 - 5:05
    O que aquelas mulheres compreendiam
  • 5:05 - 5:08
    é que, por vezes,
    as coisas mais importantes que fazemos
  • 5:08 - 5:10
    e em que gastamos o nosso tempo
  • 5:10 - 5:12
    é naquelas coisas
    que não conseguimos medir.
  • 5:14 - 5:19
    Eu também tenho sido tocada
    pelo lado negro do poder e da liderança.
  • 5:19 - 5:21
    E aprendi que o poder,
  • 5:21 - 5:23
    particularmente na sua forma absoluta,
  • 5:23 - 5:25
    fornece-nos oportunidades semelhantes.
  • 5:25 - 5:27
    Em 1986, mudei-me para o Ruanda,
  • 5:27 - 5:30
    e trabalhei com um pequeno grupo
    de mulheres do Ruanda
  • 5:30 - 5:33
    para iniciar o banco
    de microfinanciamento desse país.
  • 5:33 - 5:36
    Uma destas mulheres era a Agnes
  • 5:36 - 5:38
    — ali, na extrema esquerda.
  • 5:38 - 5:41
    Ela foi uma das primeiras três mulheres
    no parlamento do Ruanda,
  • 5:41 - 5:47
    e o seu legado deveria ter sido
    ser uma das mães do Ruanda.
  • 5:46 - 5:49
    Desenvolvemos esta instituição
    baseada na justiça social,
  • 5:49 - 5:51
    na igualdade de sexos,
  • 5:51 - 5:54
    na ideia de dar poder às mulheres.
  • 5:54 - 5:58
    Mas a Agnes preocupava-se mais
    com a pompa do poder
  • 5:58 - 6:00
    do que com os princípios, no final.
  • 6:00 - 6:03
    E apesar de ter feito parte
    da criação do partido liberal,
  • 6:03 - 6:07
    um partido politico focado
    na diversidade e na tolerância
  • 6:07 - 6:10
    cerca de três meses antes de genocídio,
    ela mudou de partido
  • 6:10 - 6:13
    e aliou-se ao partido extremista,
    Poder Hutu,
  • 6:13 - 6:17
    e veio a ser ministra da Justiça
    no regime genocida.
  • 6:16 - 6:20
    Tornou-se conhecida por incitar os homens
    a matar mais rapidamente
  • 6:20 - 6:23
    e deixarem de se comportar como mulheres.
  • 6:23 - 6:27
    Foi condenada por crimes
    de genocídio em primeiro grau.
  • 6:27 - 6:30
    Visitei-a nas prisões,
  • 6:30 - 6:33
    sentadas lado a lado,
    os joelhos a tocar-se.
  • 6:33 - 6:35
    Eu tive de reconhecer,
    para mim mesma,
  • 6:35 - 6:37
    que há monstros em todos nós,
  • 6:37 - 6:40
    mas que talvez não sejam
    exatamente monstros,
  • 6:40 - 6:43
    mas partes quebradas de nós mesmos,
  • 6:43 - 6:46
    as tristezas, a vergonha secreta.
  • 6:46 - 6:48
    É isso que, no final,
    torna fácil aos demagogos
  • 6:48 - 6:52
    aproveitarem-se dessas partes,
    desses fragmentos, se preferirem,
  • 6:53 - 6:56
    e fazerem-nos olhar
    para outros seres humanos,
  • 6:56 - 6:58
    como menos do que nós próprios
  • 6:58 - 7:01
    e, no extremo, fazer coisas terríveis.
  • 7:02 - 7:06
    Não há nenhum grupo mais vulnerável
    a esse tipo de manipulações
  • 7:06 - 7:08
    do que os rapazes.
  • 7:08 - 7:11
    Eu ouvi dizer que o animal
    mais perigoso do planeta
  • 7:11 - 7:13
    é o adolescente.
  • 7:14 - 7:17
    Por isso, num encontro
    em que estamos focados nas mulheres,
  • 7:18 - 7:21
    apesar de ser essencial
    investir nas raparigas
  • 7:21 - 7:23
    equilibrar os campos,
  • 7:23 - 7:25
    e descobrir formas de as honrar,
  • 7:25 - 7:28
    temos de nos lembrar
    que as raparigas e as mulheres
  • 7:28 - 7:30
    são mais isoladas, violadas
  • 7:30 - 7:33
    vitimizadas, e tornadas invisíveis
  • 7:33 - 7:36
    nas mesmas sociedades em que
    os homens e os rapazes
  • 7:36 - 7:38
    se sentem sem poder,
  • 7:38 - 7:41
    incapazes de providenciar.
  • 7:41 - 7:44
    Então, quando eles se sentam
    nas esquinas das ruas,
  • 7:44 - 7:46
    só conseguindo pensar no futuro,
  • 7:46 - 7:50
    na falta de emprego, de ensino,
    de oportunidades,
  • 7:50 - 7:52
    é fácil compreender
  • 7:52 - 7:54
    como a maior fonte de estatuto
  • 7:54 - 7:56
    pode vir de um uniforme
    e de uma arma.
  • 7:57 - 7:59
    Por vezes, investimentos muito pequenos
  • 7:59 - 8:02
    podem libertar um potencial
    enorme, infinito
  • 8:02 - 8:04
    que existe em todos nós.
  • 8:04 - 8:06
    Um dos membros do Fundo Acumen
    na minha organização,
  • 8:06 - 8:08
    Suraj Sudhakar,
  • 8:08 - 8:10
    tem aquilo a que chamamos
    imaginação moral
  • 8:10 - 8:13
    a capacidade de se colocar
    no lugar da outra pessoa
  • 8:13 - 8:15
    e liderar a partir dessa perspetiva.
  • 8:15 - 8:18
    Tem estado a trabalhar
    com um grupo de jovens
  • 8:18 - 8:21
    que vêm da maior favela do mundo, Kibera.
  • 8:22 - 8:24
    São rapazes excecionais.
  • 8:24 - 8:26
    Em conjunto, começaram
    um clube de leitura
  • 8:26 - 8:28
    para uma centena de pessoas nas favelas,
  • 8:28 - 8:31
    e estão a ler muitos
    dos autores TED, e a gostar.
  • 8:31 - 8:34
    Depois, criaram um concurso
    de planos de negócios.
  • 8:34 - 8:37
    Depois, decidiram que iam fazer TEDx's.
  • 8:37 - 8:41
    Eu aprendi tanto com o Chris e o Kevin
  • 8:41 - 8:44
    com o Alex e o Herbert
    e todos estes jovens.
  • 8:45 - 8:47
    O Alex disse-o da melhor forma:
  • 8:47 - 8:49
    "Costumávamos sentir-nos
    como zés-ninguém,
  • 8:49 - 8:51
    "mas agora sentimo-nos
    como alguém."
  • 8:51 - 8:53
    Acho que estamos errados
    quando pensamos
  • 8:53 - 8:55
    que a solução é o rendimento.
  • 8:55 - 8:57
    O que desejamos,
    enquanto seres humanos,
  • 8:57 - 8:59
    é sermos visíveis uns para os outros.
  • 9:00 - 9:03
    Estes jovens disseram-me
    que fazem estas TEDx's
  • 9:04 - 9:06
    porque estavam fartos e cansados
  • 9:06 - 9:11
    de os únicos "workshops" nas favelas
    serem sempre sobre o VIH.
  • 9:11 - 9:13
    ou, quando muito, em microfinança.
  • 9:13 - 9:15
    Eles queriam festejar
  • 9:15 - 9:18
    o que era belo em Kibera e Mathare
  • 9:18 - 9:20
    — os fotojornalistas e os criativos,
  • 9:20 - 9:24
    os artistas de graffiti, os professores
    e os empresários.
  • 9:24 - 9:25
    E estão a fazê-lo.
  • 9:25 - 9:28
    Eu tiro o meu chapéu a vocês, em Kibera.
  • 9:29 - 9:33
    O meu trabalho foca-se em tornar
    a filantropia mais eficaz
  • 9:33 - 9:36
    e o capitalismo mais inclusivo.
  • 9:36 - 9:39
    No Fundo Acumen,
    pegamos em recursos filantrópicos
  • 9:39 - 9:42
    e investimos no que chamamos
    "capital paciente",
  • 9:42 - 9:45
    dinheiro que será investido em empresários
  • 9:45 - 9:48
    que não veem os pobres,
    como recipientes passivos de caridade,
  • 9:48 - 9:49
    mas como agentes de mudança
  • 9:49 - 9:53
    que querem resolver os seus problemas
    e tomar as suas decisões.
  • 9:53 - 9:54
    Deixamos o dinheiro 10 a 15 anos,
  • 9:54 - 9:57
    e quando somos reembolsados,
    investimos noutras inovações
  • 9:57 - 9:59
    que se foquem em mudança.
  • 9:59 - 10:00
    Eu sei que funciona.
  • 10:00 - 10:03
    Investimos mais de 50 milhões de dólares
    em 50 empresas.
  • 10:04 - 10:06
    Essas empresas criaram
    mais 200 milhões de dólares
  • 10:06 - 10:08
    nesses mercados esquecidos.
  • 10:08 - 10:11
    Só neste ano, eles prestaram
    40 milhões de serviços
  • 10:11 - 10:14
    em cuidados de saúde maternos
    e alojamento,
  • 10:14 - 10:17
    serviços de emergência, energia solar,
  • 10:17 - 10:19
    para que as pessoas
    pudessem ter mais dignidade
  • 10:19 - 10:21
    na resolução dos seus problemas.
  • 10:22 - 10:24
    O capital paciente é incómodo
    para as pessoas
  • 10:24 - 10:27
    que procuram soluções simples,
    categorias fáceis,
  • 10:28 - 10:31
    porque não vemos o lucro
    como um instrumento cego.
  • 10:31 - 10:33
    Mas encontramos empresários
  • 10:33 - 10:36
    que colocam as pessoas e o planeta
    à frente do lucro.
  • 10:37 - 10:40
    No final, queremos fazer parte
    de um movimento
  • 10:40 - 10:42
    que trata de avaliar o impacto,
  • 10:42 - 10:45
    avaliar o que é mais importante para nós.
  • 10:45 - 10:47
    O meu sonho é que um dia
    tenhamos um mundo
  • 10:47 - 10:50
    em que não honramos apenas
    aqueles que recebem dinheiro
  • 10:50 - 10:52
    e fazem mais dinheiro a partir daí,
  • 10:52 - 10:55
    mas encontremos os indivíduos
    que recebem os nossos recursos
  • 10:55 - 10:58
    e os convertem para mudar o mundo
    das formas mais positivas.
  • 10:59 - 11:03
    Só quando os honrarmos, os festejarmos
    e lhes atribuirmos importância
  • 11:03 - 11:06
    é que o mundo irá realmente mudar.
  • 11:06 - 11:09
    Em maio passado, tive um período
    extraordinário de 24 horas
  • 11:09 - 11:12
    em que vi duas visões do mundo
    a viverem lado a lado
  • 11:12 - 11:14
    — uma baseada na violência
  • 11:14 - 11:17
    e a outra na transcendência.
  • 11:17 - 11:19
    Por acaso, eu estava em Lahore, Paquistão
  • 11:19 - 11:22
    no dia em que duas mesquitas
    foram atacadas por bombistas suicidas.
  • 11:23 - 11:24
    Essas mesquitas foram atacadas
  • 11:24 - 11:27
    porque as pessoas que oravam lá dentro
  • 11:27 - 11:29
    eram de um setor específico do Islão
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    que os fundamentalistas não acreditam
    ser completamente muçulmano.
  • 11:32 - 11:36
    Esses bombistas suicidas não só
    mataram centenas de vidas,
  • 11:36 - 11:37
    mas fizeram mais que isso,
  • 11:37 - 11:41
    porque criaram mais ódio,
    mais raiva, mais medo
  • 11:41 - 11:43
    e certamente mais desespero.
  • 11:43 - 11:45
    Mas em menos de 24 horas,
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    eu estava a 20 km de distância
    dessas mesquitas,
  • 11:48 - 11:51
    a visitar um dos nossos
    investidores Acumen,
  • 11:51 - 11:53
    um homem incrível, Jawad Aslam,
  • 11:53 - 11:56
    que ousa viver uma vida de envolvimento.
  • 11:56 - 11:57
    Nascido e criado em Baltimore,
  • 11:57 - 12:00
    estudou negócios imobiliários,
    trabalhou no ramo do imobiliário,
  • 12:00 - 12:04
    e depois do 11 de Setembro,
    foi para o Paquistão para fazer a diferença.
  • 12:04 - 12:07
    Durante dois anos, pouco ganhou,
    tinha o bolso apertado,
  • 12:07 - 12:10
    mas aprendeu com um construtor
    imobiliário impressionante
  • 12:10 - 12:13
    chamado Tasneem Saddiqui.
  • 12:12 - 12:15
    Nós sonhávamos que ele ia construir
    uma comunidade
  • 12:15 - 12:19
    neste pedaço de terra agreste,
    utilizando capital paciente.
  • 12:19 - 12:21
    Mas ele continuou a pagar um preço.
  • 12:21 - 12:24
    Manteve os seus valores morais
    e recusou-se a pagar subornos.
  • 12:24 - 12:27
    Levou quase dois anos a registar a terra.
  • 12:27 - 12:30
    Mas eu vi quanto o nível
    dos padrões morais
  • 12:30 - 12:33
    pode aumentar, a partir
    da ação de uma pessoa.
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    Hoje, vivem 2000 pessoas em 300 casas
    nesta comunidade maravilhosa.
  • 12:38 - 12:41
    Há escolas, clínicas e lojas.
  • 12:42 - 12:43
    Mas há apenas uma mesquita.
  • 12:43 - 12:45
    Por isso, perguntei ao Jawad:
  • 12:45 - 12:48
    "Como é que vocês se governam?
    Isto é uma comunidade muito diversa.
  • 12:48 - 12:50
    "Quem usa a mesquita às sextas-feiras?"
  • 12:50 - 12:53
    Ele disse: "É uma longa história.
  • 12:53 - 12:55
    "Foi difícil, foi um percurso complicado,
  • 12:55 - 12:59
    "mas, no final, os líderes da comunidade
    chegaram a um acordo,
  • 12:59 - 13:02
    "ao aperceber-se que apenas
    nos temos uns aos outros.
  • 13:02 - 13:05
    "Então, decidimos eleger
    os três ímanes mais respeitados,
  • 13:06 - 13:07
    "e esses ímanes iriam alternar,
  • 13:07 - 13:10
    "quem diria a oração de sexta-feira.
  • 13:10 - 13:11
    "Mas toda a comunidade,
  • 13:11 - 13:14
    "todas as diferentes seitas,
    incluindo os xiitas e os sunitas,
  • 13:14 - 13:17
    "sentavam-se juntos e oravam."
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    Precisamos deste tipo
    de liderança moral e coragem
  • 13:20 - 13:22
    nos nossos mundos.
  • 13:22 - 13:25
    Confrontamo-nos com problemas enormes
    enquanto mundo
  • 13:25 - 13:27
    — a crise financeira,
  • 13:27 - 13:29
    o aquecimento global
  • 13:29 - 13:31
    e este sentimento crescente
    de medo e disparidade.
  • 13:32 - 13:35
    Todos os dias temos uma escolha.
  • 13:35 - 13:38
    Podemos ir pelo caminho fácil,
    o caminho mais cínico,
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    que é um caminho baseado, por vezes,
  • 13:41 - 13:44
    em sonhos do passado
    que, na realidade, nunca existiu,
  • 13:44 - 13:46
    no medo uns dos outros,
  • 13:46 - 13:48
    no distanciamento e na culpa.
  • 13:48 - 13:52
    Ou podemos ir pelo caminho
    muito mais difícil
  • 13:52 - 13:55
    da transformação, da transcendência,
  • 13:55 - 13:56
    da compaixão e do amor,
  • 13:56 - 13:59
    mas também
    da responsabilidade e da justiça.
  • 14:00 - 14:02
    Eu tive a enorme honra de trabalhar
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    com o psicólogo infantil Dr. Robert Coles
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    que lutou pela mudança
  • 14:07 - 14:09
    durante o movimento
    dos Direitos Civis nos EUA.
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    Ele conta uma história incrível.
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    Trabalhou com uma menina de seis anos
    chamada Ruby Bridges,
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    a primeira criança em escolas
    sem segregação racial no Sul
  • 14:18 - 14:20
    — neste caso em Nova Orleães.
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    Ele dizia que todos os dias
  • 14:21 - 14:24
    esta menina de seis anos,
    vestida com o seu lindo vestido,
  • 14:24 - 14:26
    passava, com verdadeira graça,
  • 14:26 - 14:28
    através de uma multidão de pessoas brancas
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    que gritavam iradas,
    chamando-lhe um monstro,
  • 14:31 - 14:34
    ameaçando envenená-la,
    com caras distorcidas.
  • 14:34 - 14:36
    Ele observava-a todos os dias,
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    e parecia-lhe que ela
    falava com as pessoas.
  • 14:38 - 14:41
    E perguntou-lhe:
    "Ruby, o que é que estás a dizer?"
  • 14:41 - 14:43
    E ela respondeu: "Eu não estou a falar."
  • 14:43 - 14:45
    Por fim, ele disse:
    "Ruby, eu vejo que estás a falar.
  • 14:45 - 14:47
    "O que é que estás a dizer?"
  • 14:47 - 14:49
    Ela respondeu:
    "Dr. Coles, eu não estou a falar;
  • 14:49 - 14:51
    "estou a rezar."
  • 14:51 - 14:54
    E ele disse: "Então, o que estás a rezar?"
  • 14:54 - 14:55
    E ela: "Eu estou a rezar,
  • 14:55 - 14:58
    " 'Pai, perdoa-lhes
    pois não sabem o que fazem'."
  • 14:58 - 15:04
    Aos seis anos, esta criança
    estava a viver uma vida de envolvimento,
  • 15:03 - 15:05
    e a família dela pagou um preço por isso.
  • 15:05 - 15:09
    Mas ela passou a fazer da história
    e criou a ideia
  • 15:09 - 15:12
    de que todos nós devíamos
    ter acesso ao ensino.
  • 15:14 - 15:17
    A minha última história
    é sobre um jovem lindo
  • 15:17 - 15:19
    chamado Josephat Byaruhanga,
  • 15:19 - 15:21
    outro membro do Fundo Acumen
  • 15:21 - 15:23
    que nos saúda do Uganda,
    de uma comunidade agrícola.
  • 15:23 - 15:27
    Colocámo-lo numa empresa
    no oeste do Quénia,
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    apenas a 300 milhas de distância.
  • 15:29 - 15:31
    No final deste ano, ele disse-me:
  • 15:31 - 15:34
    "Jacqueline, a experiência
    trouxe-me tanta humildade.
  • 15:34 - 15:36
    "porque eu pensava que,
    enquanto agricultor e africano,
  • 15:36 - 15:39
    "ia entender como transcender a cultura.
  • 15:39 - 15:42
    "Mas, sobretudo quando estava a falar
    com mulheres africanas,
  • 15:42 - 15:44
    "às vezes fazia erros
  • 15:44 - 15:46
    "— era-me tão difícil
    aprender como ouvir.
  • 15:46 - 15:48
    "Por isso, eu concluo que, de certa forma,
  • 15:48 - 15:51
    "a liderança é como uma espiga de arroz.
  • 15:51 - 15:54
    "Porque no pino da estação,
    no auge dos seus poderes,
  • 15:54 - 15:59
    "é linda, é verde, nutre o mundo,
    alcança os céus.
  • 16:00 - 16:02
    "Mas, mesmo antes da colheita,
  • 16:02 - 16:06
    "dobra-se com grande gratidão e humildade
  • 16:07 - 16:09
    "para tocar a terra de onde veio."
  • 16:10 - 16:12
    Precisamos de líderes.
  • 16:13 - 16:15
    Nós mesmos precisamos de liderar
  • 16:15 - 16:18
    de um sítio que tenha
    a audácia de acreditar
  • 16:18 - 16:22
    que podemos alargar
    o pressuposto fundamental
  • 16:22 - 16:24
    de que todos os homens são criados iguais,
  • 16:24 - 16:27
    a todo o homem, mulher e criança
    neste planeta.
  • 16:28 - 16:32
    Temos de ter a humildade de reconhecer
    que não o podemos fazer sozinhos
  • 16:33 - 16:35
    Robert Kennedy disse um dia:
  • 16:35 - 16:39
    "Poucos de nós temos a grandeza
    para modificar a história,
  • 16:39 - 16:41
    "mas cada um de nós pode trabalhar
  • 16:41 - 16:44
    "para mudar uma pequena
    porção dos acontecimentos.
  • 16:44 - 16:47
    "E é a totalidade desses atos
  • 16:47 - 16:50
    "que vai ser escrita
    na história desta geração."
  • 16:51 - 16:53
    A nossa vida é curta,
  • 16:54 - 16:57
    e o nosso tempo neste planeta
    é muito precioso.
  • 16:57 - 17:00
    Só nos temos uns aos outros.
  • 17:01 - 17:05
    Espero que cada um de vós
    possa viver vidas de envolvimento.
  • 17:05 - 17:08
    Não será necessariamente uma vida fácil.
  • 17:08 - 17:12
    mas no final, é tudo o que nos sustém.
  • 17:12 - 17:14
    Obrigada.
  • 17:14 - 17:17
    (Aplausos)
Title:
Inspirando uma vida de envolvimento
Speaker:
Jacqueline Novogratz
Description:

Cada um de nós quer viver com um objetivo, mas por onde começar? Nesta palestra, esclarecedora e abrangente, Jacqueline Novogratz apesenta-nos pessoas que conheceu no seu trabalho em "capital paciente" — pessoas que se envolveram profundamente numa causa, numa comunidade, na paixão pela justiça. Estas histórias de vidas humanas testemunham momentos poderosos de inspiração.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
17:25
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Inspiring a life of immersion
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Inspiring a life of immersion
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Inspiring a life of immersion
Gabriela Matias added a translation

Portuguese subtitles

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