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Uma filosofia de sucesso mais bondosa e delicada

  • 0:01 - 0:03
    Normalmente, acontecem-me
    estas crises de carreira,
  • 0:03 - 0:06
    muitas vezes, aliás, aos domingos à tarde,
  • 0:06 - 0:08
    à medida que o sol se põe,
  • 0:08 - 0:10
    e o fosso entre aquilo
    que espero para mim,
  • 0:10 - 0:14
    e a realidade da minha vida,
    divergem tão dolorosamente
  • 0:14 - 0:17
    que normalmente acabo a chorar
    agarrado a uma almofada.
  • 0:17 - 0:19
    Estou a falar disto,
  • 0:19 - 0:23
    porque acho que não é meramente
    um problema pessoal.
  • 0:23 - 0:24
    Podem achar que estou errado
  • 0:24 - 0:26
    mas acho que vivemos numa era
    em que as nossas vidas
  • 0:26 - 0:29
    são regularmente marcadas
    por crises de carreira,
  • 0:29 - 0:31
    por momentos em que aquilo
    que pensávamos saber,
  • 0:31 - 0:33
    sobre a nossas vida e carreira,
  • 0:33 - 0:36
    entra em contacto
    com a ameaçadora realidade.
  • 0:36 - 0:40
    Talvez seja mais fácil agora,
    mais do que nunca, viver bem.
  • 0:40 - 0:42
    Talvez seja mais díficil do que antes,
  • 0:42 - 0:45
    ficar calmo, estar livre de ansiedade
    relacionada com a carreira.
  • 0:45 - 0:47
    Quero analisar agora, se possível,
  • 0:47 - 0:49
    algumas das razões pelas quais
  • 0:49 - 0:52
    podemos sentir ansiedade
    em relação às nossas carreiras.
  • 0:52 - 0:55
    Porque poderemos ser vítimas
    destas crises de carreira,
  • 0:55 - 0:58
    enquanto choramos nas nossas almofadas.
  • 0:58 - 1:01
    Uma das razões por que podemos
    estar a sofrer
  • 1:01 - 1:03
    é estarmos rodeados de snobes.
  • 1:04 - 1:06
    De certa forma, tenho más notícias,
  • 1:06 - 1:09
    especialmente para quem
    tenha vindo a Oxford do estrangeiro.
  • 1:09 - 1:11
    Há um problema sério com o snobismo
  • 1:11 - 1:13
    porque, às vezes, pessoas de fora
    do Reino Unido
  • 1:13 - 1:16
    imaginam que o snobismo
    é um fenómeno distintamente britânico
  • 1:16 - 1:18
    obcecado por mansões e títulos.
  • 1:18 - 1:20
    O pior é que isso não é verdade.
  • 1:20 - 1:22
    O snobismo é um fenómeno global.
  • 1:22 - 1:24
    Somos uma organização global.
    É um fenómeno global.
  • 1:24 - 1:26
    Existe. O que é um snobe?
  • 1:26 - 1:29
    Um snobe é alguém que usa
    uma pequena parte de nós
  • 1:29 - 1:33
    para determinar de forma completa
    a pessoa que nós somos.
  • 1:33 - 1:34
    Isso é snobismo.
  • 1:34 - 1:37
    O tipo de snobismo dominante hoje em dia
  • 1:37 - 1:39
    é snobismo relacionado com o emprego.
  • 1:39 - 1:41
    Encontramo-lo rapidamente numa festa,
  • 1:41 - 1:45
    quando nos fazem
    a pergunta sacramental do século XXI:
  • 1:45 - 1:46
    "O que é que fazes?"
  • 1:46 - 1:48
    De acordo com a nossa resposta,
  • 1:48 - 1:51
    as pessoas ou ficam
    encantadas em nos ver,
  • 1:51 - 1:53
    ou olham para o relógio
    e inventam desculpas.
  • 1:53 - 1:54
    (Risos)
  • 1:54 - 1:56
    O oposto de um snobe é a nossa mãe.
  • 1:56 - 1:58
    (Risos)
  • 1:58 - 2:01
    Não necessariamente a vossa mãe,
    ou a minha.
  • 2:01 - 2:03
    Mas, por assim dizer, a mãe ideal.
  • 2:03 - 2:05
    Alguém que não quer saber
    das nossas conquistas.
  • 2:05 - 2:08
    Infelizmente, a maioria das pessoas
    não são nossas mães.
  • 2:08 - 2:10
    A maioria das pessoas relacionam
    diretamente o tempo,
  • 2:10 - 2:13
    e, se quiserem, amor,
    amor não romântico,
  • 2:13 - 2:14
    embora também possa acontecer,
  • 2:14 - 2:16
    mas amor em geral, respeito,
  • 2:16 - 2:19
    que estão dispostos a conceder-nos,
    isso será definido rigorosamente
  • 2:19 - 2:22
    pela nossa posição na hierarquia social.
  • 2:22 - 2:24
    É por isso que nos importamos tanto
    com as nossas carreiras
  • 2:24 - 2:28
    e nos importamos tanto com bens materiais.
  • 2:28 - 2:31
    Dizem-nos muitas vezes que vivemos
    numa era muito materialista,
  • 2:31 - 2:33
    que somos todos pessoas gananciosas.
  • 2:33 - 2:35
    Eu não acredito
    que sejamos tão materialistas.
  • 2:35 - 2:37
    Acho que vivemos numa sociedade
  • 2:37 - 2:40
    que associou certas recompensas emocionais
  • 2:40 - 2:42
    à aquisição de bens materiais.
  • 2:42 - 2:45
    Não queremos os bens materiais.
    Queremos, sim, as recompensas.
  • 2:45 - 2:47
    É uma nova forma de olharmos
    para artigos de luxo.
  • 2:47 - 2:50
    Quando virem alguém
    com um Ferrari, não pensem:
  • 2:50 - 2:51
    "Este é um tipo ganancioso"
  • 2:51 - 2:54
    mas "Este é incrivelmente vulnerável,
    necessita de amor".
  • 2:54 - 2:55
    (Risos)
  • 2:55 - 2:58
    (Aplausos)
  • 2:58 - 2:59
    Por outras palavras,
  • 2:59 - 3:01
    sentir compaixão, em vez de desprezo.
  • 3:01 - 3:03
    Há outras razões.
  • 3:03 - 3:04
    (Risos)
  • 3:04 - 3:06
    Há outras razões para ser mais difícil,
  • 3:06 - 3:08
    hoje mais do que antes,
    sentirmo-nos calmos.
  • 3:08 - 3:12
    Uma delas, um paradoxo porque está ligada
    a algo que é bem positivo,
  • 3:12 - 3:14
    é aquilo que desejamos
    para as nossas carreiras.
  • 3:14 - 3:16
    Nunca tivemos expectativas tão altas
  • 3:16 - 3:19
    em relação ao que o ser humano
    pode atingir na sua vida.
  • 3:19 - 3:22
    Dizem-nos que qualquer um
    pode conseguir tudo.
  • 3:22 - 3:24
    Livrámo-nos do sistema de castas.
  • 3:24 - 3:26
    Vivemos num sistema
    em que qualquer um
  • 3:26 - 3:28
    pode alcançar a posição que deseje.
  • 3:28 - 3:30
    É uma belíssima ideia.
  • 3:30 - 3:34
    Juntamente com isso há um espírito de igualdade.
    Basicamente, somos todos iguais.
  • 3:34 - 3:38
    Não há quaisquer hierarquias
    definidas de forma rigorosa.
  • 3:38 - 3:40
    Há um grande problema nisto.
  • 3:40 - 3:42
    Esse problema é a inveja.
  • 3:42 - 3:45
    É um verdadeiro tabu falar em inveja,
  • 3:45 - 3:48
    mas se há uma emoção dominante
    na sociedade moderna, é a inveja.
  • 3:48 - 3:52
    E está ligada ao espírito de igualdade.
    Eu explico.
  • 3:52 - 3:56
    Acho que seria pouco comum alguém aqui,
    ou alguém que nos esteja a ver,
  • 3:56 - 3:57
    ter inveja da Rainha de Inglaterra.
  • 3:57 - 4:00
    Apesar de ela ser muito mais rica
    do que qualquer um de nós
  • 4:00 - 4:03
    e ee ter uma casa muito grande,
  • 4:03 - 4:05
    não a invejamos
    porque ela é muito estranha.
  • 4:05 - 4:07
    (Risos)
  • 4:07 - 4:09
    Ela é demasiado estranha.
  • 4:09 - 4:12
    Não nos conseguimos relacionar com ela.
    Fala de forma cómica.
  • 4:12 - 4:13
    Vem de um lugar bizarro.
  • 4:13 - 4:15
    Não nos relacionamos com ela.
  • 4:15 - 4:17
    Se não criamos uma relação,
    não sentimos inveja.
  • 4:17 - 4:20
    Quanto mais próximas estiverem
    duas pessoas, na idade, na origem,
  • 4:20 - 4:24
    no processo de identificação,
    maior é o risco de inveja.
  • 4:24 - 4:26
    Por isso, ninguém deve ir
    a uma reunião de ex-alunos.
  • 4:26 - 4:29
    Porque não há maior ponto de referência
  • 4:29 - 4:31
    que as pessoas com quem andámos na escola.
  • 4:31 - 4:35
    O problema da sociedade atual
    é que transforma toda a gente numa escola.
  • 4:35 - 4:37
    Todos usam "jeans", são todos iguais.
  • 4:37 - 4:38
    No entanto, não o são.
  • 4:38 - 4:42
    Há este espírito de igualdade,
    combinada com profundas diferenças.
  • 4:42 - 4:44
    o que permite que se criem
    situações de stress.
  • 4:44 - 4:46
    É tão pouco provável podermos vir a ser
  • 4:46 - 4:49
    tão ricos e famosos como o Bill Gates,
  • 4:49 - 4:53
    como, no século XVII, tornarmo-nos
    membros da aristocracia francesa.
  • 4:53 - 4:55
    Mas acontece que não sentimos isso.
  • 4:55 - 4:58
    As revistas e outros media
    fazem-nos sentir
  • 4:58 - 5:01
    que, se tivermos energia,
    umas ideias brilhantes sobre tecnologia,
  • 5:01 - 5:05
    e uma garagem, podemos
    criar algo grandioso.
  • 5:05 - 5:06
    (Risos)
  • 5:06 - 5:09
    As consequências deste problema
    fazem-se sentir até nas livrarias.
  • 5:09 - 5:13
    Quando vamos a uma livraria e olhamos
    para as secções de auto-ajuda,
  • 5:13 - 5:14
    como eu, por vezes, faço,
  • 5:14 - 5:17
    se analisarmos os livros de auto-ajuda
    produzidos hoje em dia,
  • 5:17 - 5:19
    existem basicamente dois tipos.
  • 5:19 - 5:21
    O primeiro diz-nos:
    "Vão conseguir! Tudo é possível!"
  • 5:21 - 5:23
    O outro tipo diz-nos como lidar
  • 5:23 - 5:27
    com aquilo a que chamamos
    educadamente a "baixa auto-estima",
  • 5:27 - 5:30
    ou, popularmente,
    "sentirem-se mal com vocês próprios".
  • 5:30 - 5:31
    Há uma verdadeira correlação,
  • 5:31 - 5:35
    entre uma sociedade que diz às pessoas
    que podem conseguir tudo,
  • 5:35 - 5:37
    e a existência de baixa auto-estima.
  • 5:37 - 5:39
    Este é outro exemplo
    de como uma coisa positiva
  • 5:39 - 5:41
    pode ter um efeito pernicioso.
  • 5:41 - 5:44
    Há outra razão para podermos
    sentir cada vez mais ansiedade,
  • 5:44 - 5:47
    com a nossa carreira,
    com o nosso estatuto no mundo.
  • 5:48 - 5:50
    E está, novamente,
    ligada a um coisa positiva.
  • 5:50 - 5:53
    Essa coisa positiva
    chama-se "meritocracia".
  • 5:53 - 5:55
    Todos os politicos,
    à esquerda e à direita,
  • 5:55 - 5:57
    concordam que a meritocracia
    é uma coisa boa,
  • 5:57 - 6:01
    e que todos devemos tentar tornar
    as nossas sociedades muito meritocráticas.
  • 6:01 - 6:05
    Por outras palavras, o que é
    uma sociedade meritocrática?
  • 6:05 - 6:07
    Uma sociedade meritocrática
    é uma sociedade
  • 6:07 - 6:10
    em que, se tiverem talento, energia
    e habilidade, chegarão ao topo.
  • 6:10 - 6:13
    Nada vos poderá parar.
    É uma bonita ideia.
  • 6:13 - 6:16
    O problema é que,
    se acreditarmos numa sociedade
  • 6:16 - 6:19
    em que os que merecem chegar ao topo,
    chegam ao topo,
  • 6:19 - 6:22
    implicitamente, e de uma forma
    bem mais infame,
  • 6:22 - 6:26
    também acreditamos numa sociedade
    em que os que merecem bater no fundo
  • 6:26 - 6:28
    também batem no fundo e por lá ficam.
  • 6:28 - 6:31
    Ou seja, a nossa posição na vida
    deixa de parecer acidental,
  • 6:31 - 6:33
    mas sim merecida.
  • 6:33 - 6:36
    Isso faz com que o fracasso
    pareça muito mais esmagador.
  • 6:36 - 6:38
    Na Idade Média, em Inglaterra,
  • 6:38 - 6:40
    quando se via uma pessoa muito pobre,
  • 6:40 - 6:43
    essa pessoas era descrita
    como uma "desafortunada".
  • 6:43 - 6:47
    Literalmente, alguém que não tinha sido
    abençoado pela fortuna.
  • 6:47 - 6:49
    Hoje em dia, especialmente nos EUA,
  • 6:49 - 6:51
    alguém que esteja no fundo da sociedade,
  • 6:51 - 6:54
    poderá, cruelmente, ser descrito
    como um "perdedor".
  • 6:54 - 6:57
    E há uma grande diferença
    entre um desafortunado e um perdedor.
  • 6:57 - 7:00
    Isso revela 400 anos
    de evolução da sociedade,
  • 7:00 - 7:03
    e da nossa crença em quem
    é responsável pela nossa vida.
  • 7:03 - 7:06
    Já não são os deuses, somos nós.
    Nós estamos no comando.
  • 7:06 - 7:08
    Isso é entusiasmante, se tivermos sucesso,
  • 7:08 - 7:10
    mas é esmagador se não tiverem.
  • 7:10 - 7:13
    No pior dos casos, de acordo
    com a análise de sociólogos
  • 7:13 - 7:17
    como Émile Durkheim,
    leva a maiores taxas de suicídio.
  • 7:17 - 7:20
    Há mais suicídios nos países
    desenvolvidos e individualistas
  • 7:20 - 7:22
    do que em qualquer outra parte do mundo.
  • 7:22 - 7:25
    Isso também acontece porque as pessoas
    encaram o que lhes acontece
  • 7:25 - 7:27
    de forma extremamente pessoal.
  • 7:27 - 7:30
    São responsáveis pelo seu sucesso.
    Mas também pelo seu fracasso.
  • 7:30 - 7:32
    Haverá algum alívio
    para algumas das pressões
  • 7:32 - 7:34
    que estive a referir?
  • 7:34 - 7:36
    Acho que sim. Quero abordar algumas delas.
  • 7:36 - 7:38
    Vejamos a meritocracia,
  • 7:38 - 7:41
    essa ideia de que todos
    merecem ter aquilo que têm.
  • 7:41 - 7:44
    Acho que é uma ideia louca,
    totalmente louca.
  • 7:44 - 7:47
    Eu apoio qualquer político
    de esquerda ou de direita,
  • 7:47 - 7:49
    com uma ideia minimamente meritocrática.
  • 7:49 - 7:50
    Eu sou um meritocrata.
  • 7:50 - 7:53
    Mas penso que é demente
    acreditar que alguma vez
  • 7:53 - 7:56
    consigamos uma sociedade
    genuinamente meritocrática.
  • 7:56 - 7:57
    É um sonho impossível.
  • 7:57 - 8:00
    A ideia de que faremos uma sociedade
    em que todos são classificados,
  • 8:00 - 8:02
    os bons no topo, e os maus no fundo,
  • 8:02 - 8:04
    feito exatamente como deve ser,
    é impossível.
  • 8:04 - 8:07
    Há demasiados factores aleatórios.
  • 8:07 - 8:08
    Acidentes, acidentes de nascimento,
  • 8:08 - 8:11
    coisas que caem nas cabeças
    das pessoas, doenças, etc.
  • 8:11 - 8:13
    Nunca as iremos classificar.
  • 8:13 - 8:16
    Nunca se poderão classificar
    como deve ser.
  • 8:16 - 8:19
    Gosto muito duma citação de Santo Agostinho
    em "A Cidade de Deus":
  • 8:19 - 8:22
    "É pecado julgar
    qualquer homem pelo seu posto".
  • 8:22 - 8:24
    Em linguagem atual, isto significa
  • 8:24 - 8:27
    que é pecado concluir
    se devemos falar com uma pessoa
  • 8:27 - 8:28
    consoante o seu cartão de visita.
  • 8:28 - 8:30
    Não é o posto que deveria contar.
  • 8:30 - 8:32
    De acordo com Santo Agostinho,
  • 8:32 - 8:34
    apenas Deus pode colocar todos
    no seu devido lugar.
  • 8:34 - 8:36
    E Ele vai fazê-lo
    no Dia do Juízo Final
  • 8:36 - 8:39
    com anjos e trombetas,
    e os ceús vão abrir.
  • 8:39 - 8:41
    Uma ideia louca,
    se forem seculares como eu.
  • 8:41 - 8:44
    Apesar de tudo, há algo
    muito valioso nessa ideia.
  • 8:44 - 8:47
    Ou seja, aguentem os cavalos
    quando forem julgar alguém.
  • 8:47 - 8:50
    Não sabem necessariamente
    o valor que alguém tem.
  • 8:50 - 8:52
    Essa parte não é conhecida.
  • 8:52 - 8:55
    Não nos devemos comportar como se fosse.
  • 8:55 - 8:58
    Há outra fonte de alívio
    e consolo para tudo isto.
  • 8:58 - 9:01
    Quando pensamos em falhar na vida,
    quando pensamos no fracasso,
  • 9:01 - 9:03
    nós tememos falhar não é apenas
  • 9:03 - 9:05
    por causa da perda de rendimento
    ou de estatuto.
  • 9:05 - 9:09
    Tememos ser julgados e ridicularizados
    pelos outros. Esse medo existe.
  • 9:09 - 9:13
    O grande responsável pelo ridículo,
    hoje em dia, é o jornal.
  • 9:13 - 9:15
    Se abrirem o jornal
    em qualquer dia da semana,
  • 9:15 - 9:17
    está cheio de pessoas
    que estragaram a sua vida.
  • 9:17 - 9:20
    Dormiram com a pessoa errada.
    Tomaram a substância errada.
  • 9:20 - 9:22
    Aprovaram a lei errada. Seja lá o que for.
  • 9:22 - 9:25
    E estão expostas ao ridículo.
  • 9:25 - 9:28
    Ou seja, fracassaram
    e são descritas como "perdedores".
  • 9:28 - 9:30
    Há alguma alternativa a tudo isto?
  • 9:30 - 9:33
    Penso que a tradição ocidental
    nos mostra uma alternativa gloriosa
  • 9:33 - 9:34
    que é a tragédia.
  • 9:35 - 9:38
    A arte trágica, tal como desenvolvida
    pelo teatro da Grécia antiga,
  • 9:38 - 9:41
    no século V a.C., era essencialmente
    uma forma de arte
  • 9:41 - 9:43
    dedicada a mostrar
    como as pessoas fracassam.
  • 9:43 - 9:47
    E mostrando-lhes, também,
    alguma compaixão.
  • 9:47 - 9:51
    que a vida comum não lhes iria
    necessariamente mostrar.
  • 9:51 - 9:53
    Lembro-me que, há uns anos,
    eu pensava nisto tudo
  • 9:53 - 9:54
    Fui ver o "The Sunday Sport",
  • 9:54 - 9:57
    um tabloide que não recomendo
    a ninguém que comece a ler,
  • 9:57 - 10:00
    se não estiverem já
    familiarizados com ele.
  • 10:00 - 10:01
    Eu fui falar com eles
  • 10:01 - 10:04
    sobre certas grandes tragédias
    da arte ocidental.
  • 10:04 - 10:07
    Queria ver como eles conseguiriam
    apanhar os traços gerais
  • 10:07 - 10:09
    de algumas histórias
    se fossem peças jornalísticas
  • 10:09 - 10:12
    que lhes chegassem à secretária
    num sábado à tarde.
  • 10:12 - 10:14
    Falei-lhes de Otelo. Não conheciam
    mas ficaram fascinados.
  • 10:14 - 10:16
    (Risos)
  • 10:16 - 10:19
    Pedi-lhes que escrevessem
    o título para a história de Otelo.
  • 10:19 - 10:22
    Eles poriam: "Emigrante Louco e Apaixonado
    Mata Filha de Senador",
  • 10:22 - 10:23
    como cabeçalho.
  • 10:23 - 10:25
    Falei-lhes do enredo de Madame Bovary,
  • 10:25 - 10:28
    um livro que ficaram
    encantados em descobrir.
  • 10:28 - 10:32
    Escreveram: "Adúltera Louca Por Compras
    Engole Arsénio Após Fraude Bancária"
  • 10:32 - 10:33
    (Risos)
  • 10:33 - 10:35
    O meu preferido
  • 10:35 - 10:37
    — eles têm uma certa genialidade própria —
  • 10:37 - 10:40
    o meu preferido é "Édipo Rei", de Sófocles.
  • 10:40 - 10:42
    "Sexo Com Mãe Foi Cegante".
  • 10:42 - 10:45
    (Risos)
  • 10:45 - 10:47
    (Aplausos)
  • 10:47 - 10:50
    De certa forma, numa das pontas
    do espetro da compaixão,
  • 10:50 - 10:52
    têm os tablóides.
  • 10:52 - 10:55
    No outro extremo do espetro,
    temos a tragédia e a arte trágica.
  • 10:55 - 10:58
    Acho que estou a recomendar
    aprendermos um pouco
  • 10:58 - 11:00
    sobre o que está a acontecer
    à arte trágica.
  • 11:00 - 11:03
    Seria uma loucura
    chamar perdedor a Hamlet.
  • 11:03 - 11:05
    Não é um perdedor, embora tenha perdido.
  • 11:05 - 11:07
    Penso que essa é a mensagem
    que a tragédia nos passa,
  • 11:07 - 11:10
    e a razão pela qual é tão importante.
  • 11:10 - 11:12
    Outro aspecto da sociedade moderna,
  • 11:12 - 11:14
    e porque é que ela causa ansiedade,
  • 11:14 - 11:17
    é que ela não tem nada no seu centro
    que seja não-humano.
  • 11:17 - 11:20
    Somos a primeira sociedade
    que vive num mundo
  • 11:20 - 11:22
    em que não adoramos nada
    além de nós mesmos.
  • 11:22 - 11:24
    Achamos que somos os maiores.
    E temos razão.
  • 11:24 - 11:27
    Colocámos pessoas na lua.
    Fizemos coisas extraordinárias.
  • 11:27 - 11:29
    Temos tendência para nos adorarmos.
  • 11:29 - 11:31
    Os nossos heróis são heróis humanos.
  • 11:31 - 11:33
    É uma situação nova.
  • 11:33 - 11:35
    A maioria das outras sociedades
    teve, no seu centro,
  • 11:35 - 11:37
    a adoração de algo transcendente,
  • 11:37 - 11:40
    um deus, um espírito,
    uma força natural, o universo,
  • 11:40 - 11:42
    qualquer coisa que fosse adorada.
  • 11:42 - 11:44
    Perdemos o hábito de fazer isso.
  • 11:44 - 11:46
    Penso que isso nos faz sentir
    atraídos pela natureza.
  • 11:46 - 11:50
    Não para bem da nossa saúde,
    embora muitas vezes seja colocado assim.
  • 11:50 - 11:53
    Mas porque é um escape
    do formigueiro humano.
  • 11:53 - 11:55
    É um escape da nossa competição
  • 11:55 - 11:57
    e dos nossos dramas.
  • 11:57 - 12:00
    É por isso que gostamos de olhar
    para glaciares e oceanos,
  • 12:00 - 12:03
    de contemplar a Terra
    de fora do seu perímetro, etc.
  • 12:03 - 12:07
    Gostamos de nos sentir em contacto
    com algo não-humano.
  • 12:07 - 12:11
    Isso é profundamente importante para nós.
  • 12:11 - 12:14
    Tenho estado a falar
    sobre sucesso e fracasso.
  • 12:14 - 12:17
    Uma das coisas interessantes do sucesso
  • 12:17 - 12:19
    é que nós achamos
    que sabemos o que significa.
  • 12:19 - 12:21
    S eu vos disser que há alguém
    por trás do ecrã
  • 12:21 - 12:24
    que tem muito êxito,
    vêm logo à cabela certas ideias.
  • 12:24 - 12:27
    Vão pensar que essa pessoa
    terá ganho muito dinheiro,
  • 12:27 - 12:29
    conseguido renome nalguma área.
  • 12:29 - 12:32
    Eu sou uma pessoa
    muito interessada no sucesso.
  • 12:32 - 12:34
    Quero muito ter sucesso.
    Estou sempre a pensar:
  • 12:34 - 12:36
    "Como posso ter mais sucesso?"
  • 12:36 - 12:38
    Mas à medida que envelheço,
    surgem nuances
  • 12:38 - 12:41
    na minha definição da palavra "sucesso".
  • 12:41 - 12:43
    Tive uma intuição acerca do sucesso.
  • 12:43 - 12:45
    Não se pode ter sucesso em tudo.
  • 12:45 - 12:48
    Ouvimos falar muito
    de equilíbrio trabalho-vida.
  • 12:48 - 12:50
    Absurdo. Não é possível ter tudo. Não é.
  • 12:50 - 12:52
    Por isso, qualquer visão de sucesso
  • 12:52 - 12:55
    tem que admitir aquilo em que perde,
  • 12:55 - 12:57
    onde está o elemento de perda.
  • 12:57 - 12:59
    Creio que qualquer vida sábia aceitará,
  • 12:59 - 13:02
    que haverá um elemento
    em que não teremos sucesso.
  • 13:02 - 13:04
    Quando falamos de vida bem sucedida,
  • 13:04 - 13:06
    muitas vezes, as nossas ideias
  • 13:06 - 13:09
    do que significa viver
    com sucesso, não são nossas.
  • 13:09 - 13:11
    São absorvidas de outras pessoas.
  • 13:11 - 13:13
    Se forem homens, do vosso pai.
  • 13:13 - 13:15
    Se forem mulheres, da vossa mãe.
  • 13:15 - 13:18
    A psicanálise tem abordado este tema
    ao longo de quase 80 anos.
  • 13:18 - 13:21
    Ninguém está a pestar atenção.
    Mas acredito que isso é verdade.
  • 13:21 - 13:24
    Também absorvemos mensagens em tudo,
  • 13:24 - 13:25
    da televisão à publicidade,
  • 13:25 - 13:27
    ao marketing, etc.
  • 13:27 - 13:29
    São forças muito poderosas
  • 13:29 - 13:33
    que definem o que queremos
    e como nos vemos.
  • 13:33 - 13:36
    Quando nos dizem que
    bancário é uma profissão de respeito
  • 13:36 - 13:38
    muitos de nós querem trabalhar na banca.
  • 13:38 - 13:41
    Quando a banca deixar de ser respeitável,
    perdemos interesse nela.
  • 13:41 - 13:44
    Somos altamente vulneráveis à sugestão.
  • 13:44 - 13:47
    Mas eu defendo que, sem desistirmos
  • 13:47 - 13:49
    das nossas ideias de sucesso,
  • 13:49 - 13:51
    devemos certificar-nos
    que são mesmo nossas.
  • 13:51 - 13:54
    Devemos concentrar-nos nas nossas ideias
  • 13:54 - 13:56
    e devemos ter certeza que são nossas,
  • 13:56 - 13:58
    que somos os verdadeiros autores
    das nossas ambições.
  • 13:58 - 14:01
    Porque já é bastante mau
    não conseguirmos o que queremos.
  • 14:01 - 14:03
    Mas pior ainda é termos uma ideia
  • 14:03 - 14:06
    daquilo que queremos
    e descobrirmos no fim da viagem
  • 14:06 - 14:09
    que, afinal, não era aquilo que queríamos.
  • 14:09 - 14:11
    Por isso, vou acabar por aqui.
  • 14:11 - 14:14
    Mas aquilo que quero sublinhar é,
  • 14:14 - 14:16
    sucesso, claro, sim.
  • 14:16 - 14:19
    Mas aceitemos a estranheza
    de algumas das nossas ideias.
  • 14:19 - 14:21
    Examinemos as nossas noções de sucesso.
  • 14:21 - 14:25
    Certifiquemo-nos que as nossas ideias
    de sucesso são mesmo nossas.
  • 14:25 - 14:27
    Muito obrigado.
  • 14:27 - 14:30
    (Aplausos)
  • 14:43 - 14:47
    Chris Anderson: Foi fascinante.
    Como é que concilia a ideia
  • 14:47 - 14:52
    de ser mau pensar
    que alguém é um perdedor,
  • 14:53 - 14:57
    com a ideia, que muitas pessoas gostam,
    de ter controlo sobre a própria vida?
  • 14:57 - 15:00
    Uma sociedade que encoraja isso
  • 15:00 - 15:03
    talvez tenha que ter
    vencedores e perdedores.
  • 15:03 - 15:06
    Alain de Botton: Sim.
    Penso que eu quis sublinhar
  • 15:06 - 15:08
    apenas o acaso do processo
    de vencer e perder.
  • 15:08 - 15:12
    Porque a ênfase, hoje em dia,
    é sempre na justiça de tudo.
  • 15:12 - 15:14
    Os políticos falam sempre sobre justiça.
  • 15:14 - 15:17
    Eu acredito muito na justiça.
    Mas acho que é impossível.
  • 15:17 - 15:18
    (Risos)
  • 15:18 - 15:21
    Por isso, todos devemos
    fazer o possível para a conseguir.
  • 15:21 - 15:23
    Mas, no fim, devemos todos lembrar-nos
  • 15:23 - 15:27
    que a pessoa à nossa frente,
    o que quer que lhe tenha acontecido,
  • 15:27 - 15:29
    terá sempre uma grande componente de acaso.
  • 15:29 - 15:31
    É para isso que estou
    a tentar criar espaço.
  • 15:31 - 15:34
    De outra forma,
    poderia tornar-se claustrofóbico.
  • 15:34 - 15:36
    CA: Acredita que é possível combinar
  • 15:36 - 15:38
    a sua filosofia de trabalho
    bondosa e delicada
  • 15:38 - 15:40
    com uma economia de sucesso?
  • 15:41 - 15:43
    Ou acha que não é possível,
  • 15:43 - 15:46
    mas não importa muito que estejamo
    a colocar muita ênfase nisso?
  • 15:46 - 15:48
    AB: Existe a terrível ideia
  • 15:48 - 15:52
    de que assustar as pessoas é a melhor forma
    de as motivar no trabalho.
  • 15:52 - 15:55
    E que, quanto mais cruel o ambiente,
  • 15:55 - 15:58
    mais as pessoas vão estar
    à altura do desafio.
  • 15:58 - 16:01
    Devemos pensar em quem quereríamos
    ter como pai ideal.
  • 16:01 - 16:04
    Um pai ideal é alguém
    que é duro mas gentil.
  • 16:04 - 16:06
    Isso é uma linha muito difícil de fazer.
  • 16:06 - 16:10
    Precisamos de pais, de figurais paternais
    exemplares na sociedade,
  • 16:10 - 16:12
    evitando os dois extremos.
  • 16:12 - 16:16
    Ou seja, o autoritário, disciplinador, por um lado.
  • 16:16 - 16:20
    E por outro, a opção
    do relaxado, sem regras.
  • 16:21 - 16:23
    CA: Alain de Botton.
  • 16:23 - 16:24
    Alain de Botton: Muito obrigado.
  • 16:24 - 16:28
    (Aplausos)
Title:
Uma filosofia de sucesso mais bondosa e delicada
Speaker:
Alain de Botton
Description:

Alain de Botton analisa as nossas ideias de sucesso e fracasso, e questiona os pressupostos subjacentes a estes dois juízos. Será que o sucesso é sempre conquistado? E o fracasso? Alain de Botton defende, de forma eloquente e espirituosa, a ideia de que devemos ultrapassar pretensiosismos para encontrarmos verdadeiro prazer no nosso trabalho.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
16:39
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for A kinder, gentler philosophy of success
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for A kinder, gentler philosophy of success
Sérgio Lopes added a translation

Portuguese subtitles

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