Porque mudei meu pensamento sobre a cânabis medicinal | Hugh Hempel | TEDxUniversityofNevada

Hugh Hempel é um veterano da indústria de tecnologia que se tornou um empreendedor de saúde. Nesta palestra marcante, ele discute como a cânabis medicinal tem melhorado a angustiante vida de suas filhas de 11 anos. Esta palestra irá desafiar a sua opinião sobre a maconha medicinal.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx que utiliza o formato de conferências do TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais acesse http://ted.com/tedx

O que passa na sua cabeça quando eu digo
que minhas filhas gêmeas de 11 anos

estão usando maconha.

Vocês devem pensar:

"Meu Deus, o problema de drogas nos EUA
é pior do que eu pensava?"

Como é possível que crianças de 11 anos
tenham acesso a maconha?

Talvez alguns de vocês pensem:

"Nossa, qual será a doença
que essas crianças têm".

A bem da verdade é

que não pensamos sobre remédio
quando escutamos a palavra "maconha".

Eu admito, fico envergonhado
em admitir que até dois anos atrás

eu era completamente
desinformado sobre a maconha,

e acredito que nossa população
também o seja.

Eu me lembro muito bem, no sexto ano,
de ser levado para um auditório

para ver um "documentário"
do governo sobre a maconha.

Foi a coisa mais assustadora
que já tinha visto.

Pessoas se atirando dos prédios,
batidas de carro... foi o caos.

Em nenhum momento,
foi mencionada a possibilidade

da maconha ser útil como medicamento.

Honestamente, recapitulando,

eu fico irritado com a informação
que o governo empurra pra gente;

e continua acontecendo atualmente.

A grande ideia que compartilho
é que a cânabis medicinal pode ser

a história de sucesso
da saúde de nossas vidas,

mas apenas se nós todos nos engajarmos
em conhecer a realidade

e pedirmos ao governo
o fim da proibição da cânabis.

Eu gostaria de apresentar a vocês
as minhas gêmeas, Addison e Cassidy.

Acreditem ou não,
hoje é aniversário delas.

Onze anos atrás, na data de hoje,
a apenas um quilômetro e meio daqui,

elas nasceram e entraram em nossas vidas.

O dia mais feliz da minha vida.
Eu amo esta data: janeiro, 23, 2004.

Um, dois, três, quatro.

Infelizmente, Addie e Cassie
sofrem de uma desordem genética muito rara

chamada Niemann-Pick Tipo C.

Essa doença horrível geralmente é chamada,

ou melhor, nós a chamamos
de Alzheimer infantil.

Seus pequenos cérebros
se afogam em colesterol.

Eles não têm uma proteína
que permite processar o colesterol

dentro e fora de suas células cerebrais.

Isso causa a neurodegeneração.

Elas não andam mais e não falam mais.

Fomos informados que Addie e Cassie
teriam sorte se chegassem aos 12 anos.

(Suspiro)

Após digerir esse diagnóstico devastador,

minha esposa e eu nos dedicamos

a achar tratamento para nossas gêmeas
em seu tempo de vida.

Abrimos mão de boas carreiras
em tecnologia no Vale do Silício

e nos tornamos filantropos,
arrecadando dinheiro para pesquisa,

e, recentemente, nos tornamos
empreendedores de biotecnologia

desenvolvendo um composto.

Esse composto foi a ciclodextrina,

e nós a encontramos com um incrível grupo
de cientistas, pesquisadores e médicos

de todo o mundo, inclusive aqui em Reno.

Toda semana, as garotas
recebem uma infusão.

Dura oito horas, a ciclodextrina
vai direto em suas veias.

A cada duas semanas, como ontem,
as garotas vão para o hospital

e recebem uma punção lombar na espinha

com o intuito de levar a ciclodextrina
diretamente para seus cérebros.

Achamos que a combinação
dessas duas vias de administração

está diminuindo o progresso
da neurodegeneração

e talvez, até interrompendo-o totalmente.

Addie e Cassie são as pequenas pioneiras
a tentar esse tratamento assustador.

Posso lhes dizer, como pai,

sem ninguém à sua frente
para preparar o caminho,

é realmente assustador.

Felizmente, algumas crianças
ao redor do mundo,

incluindo algumas no INH,

estão comprometidas na ciência e pesquisa

desse tratamento experimental.

Mas o tratamento parece que não
estava ajudando com suas convulsões.

Como resultado da neurodegeneração,
minhas filhas têm convulsões diariamente.

Há alguns anos elas ocorriam
mais que diariamente,

eram várias em um único dia.

Começamos dando a elas

remédios tradicionais
para essas convulsões.

E alguns deles funcionaram, outros não,

mas o maior problema
é que a maioria dos remédios

transforma seus filhos em zumbis.

O grande princípio do remédio
é, essencialmente,

atenuar o estresse ou os gatilhos
que causam convulsões.

Ficamos sabendo de um pai na Califórnia
que estava tratando seu jovem filho,

que tinha convulsões intratáveis,
constantemente, durante todo o dia,

e ele estava utilizando cânabis medicinal.

Nós ficamos interessados.

Nós o contatamos;
aprendemos mais a respeito da droga.

E, finalmente, decidimos
seriamente ir atrás da cânabis.

Você sabia que a planta da cânabis

foi usada como remédio
em meados de 2900 AC na China?

Você sabia que nós, nos Estados Unidos,
nos anos 1800, por um século,

usamos cânabis para tratar
uma série de males.

Mas, no começo dos anos 1900,
como provavelmente sabem,

a cânabis foi proibida

e, consequentemente, demonizada
e isso se transformou em uma guerra.

É uma pena. É realmente uma pena.

Mas nós nos convencemos
que o óleo funcionaria.

Então fomos atrás de um suprimento
de óleo, certamente.

Há quase uma década, a cânabis
foi legalizada no grande estado de Nevada.

Poderíamos ir lá, comprar
óleo e dar às nossas filhas.

Não é tão simples; não existe óleo
disponível em nosso grande estado.

Então nos preparamos
para fazermos nós mesmos.

Primeiro, conseguimos aprovação médica
para o tratamento com cânabis,

e nos tornamos cuidadores,

cuidadores licenciados em Nevada,

o que nos permitia cultivar
e extrair óleo da cânabis

para dar às nossas filhas.

Todos os dias, três vezes ao dia,
as meninas recebem um pouco de óleo

como este que vocês veem aqui.

O óleo é extraído de uma
variedade especial de cânabis

que é rica em canabidiol,
ou como chamamos, CBD.

Infelizmente, esse óleo sozinho,

não impede totalmente
que nossas filhas tenham convulsão

então usamos um pouco
de remédios tradicionais,

mas usamos bem menos, reduzimos
o número de drogas que as crianças ingerem

e reduzimos a quantidade de doses
das poucas drogas que damos a elas.

E consequentemente nossas filhas
não somente estão tendo menos convulsões

e convulsões mais curtas,

elas estão com os olhos brilhantes
e são crianças felizes novamente,

elas não são mais pequenos zumbis.

Isso foi um grande progresso,
mas eu pensei comigo:

"Caramba, 2 milhões de pessoas sofrem
de epilepsia ou convulsão nos EUA,

quem vai ajudar essas pessoas,

essas crianças, esses adultos
com esses distúrbios?"

E foi aí que decidimos pegar tudo
que aprendemos para nossas filhas

e transformar em um negócio comercial
aqui no estado de Nevada,

que estava apenas se preparando para isso;

e, como Kylie mencionou,
nós nos esforçamos muito,

e agora somos licenciados para plantar,
extrair, vender e distribuir cânabis

aqui no estado de Nevada.

Algum dia o governo federal
irá acabar com a proibição.

Mas quantas vidas serão
perdidas, potencialmente,

ou quantas serão severamente
afetadas nesse meio tempo?

Quantas crianças com convulsões
como as minhas

farão com que as famílias se mudem para
o Colorado ou Nevada para ter tratamento?

Quantos pacientes com câncer
terão acesso negado

a remédio barato e eficiente

para tratar efeitos colaterais como dores
e náuseas que vêm com a quimioterapia?

Existem pessoas experientes como eu
que entendem esse potencial da cânabis

e sou grato por isso.

A ironia de tudo é que alguns
de meus amigos e familiares,

incluindo até minha própria mãe,

ainda não estão convencidos.

Minha mãe se preocupa que o acesso livre
à cânabis seja uma ameaça à sociedade

e que talvez o valor medicinal
não compense essa ameaça.

E ela vê o valor medicinal em suas netas.

O problema, acredito eu, é que, realmente,

ainda não temos evidências sólidas
para convencer os céticos.

Ainda não há pesquisa o suficiente

para fundamentar
que o tratamento funciona,

que a eficiência do tratamento serve
para uma grande quantidade de pessoas.

Isso não significa
que não existe pesquisa,

existem muitas evidências
de que a cânabis é útil.

Mas não existem muitos estudos,
estudos sólidos com esse resultado.

Esse é o enigma,
o problema da galinha e do ovo.

Até que a proibição federal
da cânabis acabe,

até tirarmos a cânabis
da lista de drogas nocivas

como LSD e metanfetamina,
que não possuem valor medicinal,

até removermos a cânabis dessa lista,

na qual nem deveria estar,

até removermos ela da lista,
a pesquisa não será feita.

Se eu for até a Universidade de Nevada,
no Centro Médico de Reno amanhã

com US$ 1 milhão para estudar a cânabis,

eu provavelmente não terei sucesso.

Não é que os cientistas
não queiram estudar a planta,

é que eles têm medo
de perder incentivo federal.

É porque eles vão precisar lidar com o DEA

e outras agências regulatórias
a nível federal,

o que é um processo caro e complexo.

Esse é um dos vários tentáculos
da proibição da cânabis

que de fato nos impede de seguir adiante.

Minha experiência pessoal com cânabis,

junto com as evidências
científicas que eu conheço,

me fazem ter absoluta certeza
do que compartilhei há pouco.

A cânabis tem o potencial

de se tornar a maior história de sucesso
de tratamento de nossas vidas,

mas somente se nós deixarmos.

Aqui estão Addie e Cassie
em uma foto mais recente.

Para alguns de vocês
que ainda estão céticos,

talvez para aqueles iguais à minha mãe,

que ainda se preocupam
com a degradação social com a cânabis,

peço que olhem esta imagem
e considerem o seguinte:

ao limitar o acesso à cânabis
para pais como eu,

vocês me forçam a tomar uma decisão

entre a vida e o bem-estar
de minhas filhas

e ir para a cadeia.

Como isso pode ser um raciocínio
justo ou racional numa sociedade moderna?

Nosso 16º presidente,
o famoso 16º presidente,

tinha opiniões bem fortes sobre o assunto.

Ele dizia: "A proibição...
vai além dos limites da razão

na medida em que tenta controlar
o apetite de um homem pela legislação

e torna crime coisas que não são crimes.

Uma lei de proibição atinge em cheio
os próprios princípios

em que nosso governo foi fundado".

Esse foi Abraham Lincoln.

E ele disse essas palavras
antes de termos a experiência

que tivemos com a proibição
do álcool ou da maconha.

Algum dia o governo federal
vai investir em pesquisa.

Algum dia o NIH vai ter mais interesse
em tratar a cânabis como remédio.

Até esse dia chegar, um grupo de pessoas
criou uma organização não lucrativa

para organizar e financiar pesquisas
com a cânabis no setor privado,

até podermos usar institutos acadêmicos.

Nós chamamos a fundação de PeopleCann,
em homenagem aos defensores como eu

que, ao longo das últimas décadas,
vêm dizendo o que eu estou dizendo agora

e cujas palavras eu não escutava
até que minha própria situação demandasse.

Nunca em sua imaginação mais louca,
me desculpe, minha esposa imaginaria

que hoje ela se tornaria
uma defensora da maconha.

Ela também estava "mal informada",
digamos assim, sobre essa planta

até sermos obrigados a aprender.

Nenhum de nós acreditaria
que nossas pequenas filhas

se tornariam a próxima geração
de defensoras da maconha.

(Suspiro)

Gostaria que vocês as conhecessem.

Por favor deem uma salva de palmas
de aniversário para minha esposa

e para minhas filhas,
Addie e Cassie Hempel.

(Aplausos)

Oi.

(Aplausos)

Seria pedir muito se eu pedir
para cantarmos "Parabéns pra você"?

♪ Parabéns pra você

Parabéns pra você

Parabéns querida Cassie

Parabéns pra você ♪

Isso! Boas garotas!

(Aplausos)