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Dilemas de valores nas culturas | Fernando Lanzer | TEDxLaçador

  • 0:09 - 0:12
    Eu morei nos Estados Unidos,
  • 0:12 - 0:14
    no Brasil e na Holanda.
  • 0:15 - 0:21
    E, se eu tivesse que resumir a cultura
    desses três países numa palavra,
  • 0:22 - 0:26
    essa palavra, pros Estados Unidos,
    seria "competição";
  • 0:27 - 0:30
    pro Brasil, ela seria "esperança";
  • 0:30 - 0:33
    pra Holanda, seria "respeito".
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    Os Estados Unidos são
    o país da competição,
  • 0:37 - 0:42
    porque lá as pessoas acreditam
    que a vida é uma competição
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    e que é preciso vencer, ser um vencedor.
  • 0:47 - 0:51
    Na Holanda, o importante é o respeito:
  • 0:51 - 0:56
    eu sou diferente de ti,
    mas eu respeito a tua opinião,
  • 0:56 - 0:58
    mesmo sendo diferente.
  • 0:58 - 1:00
    A gente concorda em discordar.
  • 1:01 - 1:05
    A gente vê esse respeito,
    muito, até no trânsito,
  • 1:05 - 1:11
    onde a posição normal é você parar
    pra dar passagem pro outro,
  • 1:11 - 1:14
    mesmo que você esteja na preferencial.
  • 1:15 - 1:21
    E o pedestre sempre é respeitado,
    não só na faixa de segurança,
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    mas em qualquer [parte da] rua
    que ele quiser atravessar.
  • 1:24 - 1:28
    Os carros param pra que o pedestre
    possa atravessar.
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    O Brasil é o país da esperança.
  • 1:33 - 1:36
    A gente vive de crise em crise,
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    mas sempre com a esperança
    de que vai dar certo.
  • 1:42 - 1:44
    "O Brasil é o país do futuro!"
  • 1:45 - 1:47
    "Olha o futuro chegando aí,
    gente, agora vai!"
  • 1:51 - 1:56
    Uns anos atrás, eu me mudei
    com a família pra Amsterdã.
  • 1:57 - 2:01
    E quando a gente chegou lá,
    foi procurar apartamento pra alugar.
  • 2:02 - 2:05
    Nós vimos um anúncio duma senhora
  • 2:05 - 2:07
    que estava alugando
    um apartamento no mesmo prédio.
  • 2:08 - 2:11
    A gente foi conhecer o apartamento,
  • 2:11 - 2:13
    fomos no apartamento dela e ela disse:
  • 2:13 - 2:18
    "O apartamento é aqui do lado,
    no mesmo andar, ele está sendo pintado,
  • 2:18 - 2:20
    mas vocês podem ver o apartamento.
  • 2:20 - 2:22
    Eu levo vocês até lá".
  • 2:22 - 2:28
    A gente foi, bateu na porta,
    e atendeu um senhor,
  • 2:28 - 2:32
    mais ou menos da mesma idade dela,
    só que todo coberto de tinta.
  • 2:33 - 2:36
    E ele disse: "Ah, por favor,
    sejam bem-vindos.
  • 2:36 - 2:41
    Entrem, fiquem à vontade. Eu acabei
    de fazer um café, vocês aceitam?"
  • 2:42 - 2:47
    E eu e minha mulher,
    educadamente, agradecemos:
  • 2:47 - 2:50
    "Não, nós só queremos ver
    o apartamento. Nós temos que ir".
  • 2:50 - 2:53
    E a proprietária disse:
    "Ah, eu vou aceitar".
  • 2:53 - 2:56
    E entrou na cozinha com o homem,
    eles ficaram conversando animadamente,
  • 2:56 - 3:01
    a gente viu o apartamento,
    na hora de sair nos despedimos,
  • 3:01 - 3:05
    o pintor veio até a porta,
    se despediu de nós,
  • 3:05 - 3:07
    e, na saída, eu perguntei pra ela:
  • 3:07 - 3:09
    "É o seu marido?"
  • 3:09 - 3:12
    Ela disse: "Não, é um pintor
    que eu contratei".
  • 3:14 - 3:17
    E eu e minha mulher
    ficamos muito espantados,
  • 3:17 - 3:19
    porque eles se trataram como iguais.
  • 3:20 - 3:24
    A gente pensou: "No Brasil,
    a gente não faz assim".
  • 3:26 - 3:31
    No Brasil a gente tende
    a colocar o pintor, o operário,
  • 3:31 - 3:33
    numa outra classe social.
  • 3:34 - 3:39
    A gente não trata eles como iguais,
    e eles não tratam a gente como iguais.
  • 3:40 - 3:43
    A Holanda é extremamente igualitária,
  • 3:45 - 3:48
    e isso despertou
    o meu interesse em cultura.
  • 3:50 - 3:55
    Então eu comecei a pesquisar
    esse assunto, cultura,
  • 3:55 - 4:01
    e descobri que países diferentes,
    comunidades diferentes,
  • 4:02 - 4:06
    ensinam versões diferentes
    do que é certo e o que é errado,
  • 4:06 - 4:09
    o que é adequado e o que não é adequado.
  • 4:10 - 4:15
    E, nessa minha busca por cultura,
    eu descobri um iceberg.
  • 4:17 - 4:19
    O iceberg da cultura.
  • 4:20 - 4:22
    Eu descobri que a cultura
    tem uma parte visível,
  • 4:22 - 4:25
    que fica na superfície do iceberg,
  • 4:25 - 4:30
    que são os rituais, os símbolos,
    os heróis de cada cultura,
  • 4:30 - 4:35
    o jeito como a gente se veste,
    o tipo de comida que a gente come.
  • 4:36 - 4:38
    Mas existe uma parte muito mais importante
  • 4:38 - 4:41
    que fica abaixo da superfície;
  • 4:41 - 4:42
    que não se vê.
  • 4:43 - 4:45
    E essa parte são os valores.
  • 4:46 - 4:49
    Os valores de cada cultura
    é que determinam
  • 4:49 - 4:51
    como a gente se comunica
  • 4:51 - 4:53
    e qual é o nosso estilo de trabalho
  • 4:53 - 4:55
    e estilo de relacionamento.
  • 4:57 - 5:02
    E do lado desse iceberg da cultura,
    eu descobri um pesquisador holandês,
  • 5:03 - 5:05
    o Geert Hofstede.
  • 5:05 - 5:09
    O Hofstede fez pesquisa estatística
  • 5:09 - 5:13
    sobre valores em diferentes culturas.
  • 5:13 - 5:19
    E ele basicamente concluiu
    que existem cinco dilemas básicos
  • 5:19 - 5:22
    que todas as culturas precisam resolver,
  • 5:22 - 5:25
    e resolvem de um jeito ou de outro.
  • 5:28 - 5:31
    Esses cinco dilemas básicos são:
  • 5:31 - 5:34
    hierarquia versus igualdade,
  • 5:34 - 5:37
    individualismo versus coletivismo,
  • 5:37 - 5:43
    desempenho versus qualidade de vida
    e cuidar dos outros,
  • 5:43 - 5:47
    controle da incerteza
    versus "deixa correr",
  • 5:47 - 5:52
    e flexibilidade versus normativismo.
  • 5:56 - 5:59
    Aí tudo começou a fazer mais sentido.
  • 6:00 - 6:03
    Com esses cinco dilemas,
    eu comecei a entender a cultura.
  • 6:03 - 6:06
    Mas vamos ver como é
    que isso funciona na prática.
  • 6:08 - 6:14
    Esta pessoa aqui, de branco,
    é o primeiro-ministro da Tailândia.
  • 6:15 - 6:17
    Então por que ele está sentado no chão?
  • 6:18 - 6:22
    Porque a pessoa atrás da mesinha
    é o rei da Tailândia.
  • 6:23 - 6:27
    A Tailândia é uma cultura
    muito hierárquica.
  • 6:27 - 6:32
    E nas culturas hierárquicas existe
    o que se chama "distância de poder".
  • 6:33 - 6:35
    A distância de poder é muito grande.
  • 6:35 - 6:39
    Os símbolos de status são muito evidentes.
  • 6:39 - 6:42
    A diferença de status é muito evidente.
  • 6:42 - 6:47
    Mesmo entre as duas
    principais posições do país.
  • 6:51 - 6:53
    Este aqui
  • 6:55 - 6:57
    é o primeiro-ministro da Suécia.
  • 6:58 - 7:01
    A Suécia é uma cultura igualitária.
  • 7:02 - 7:07
    O primeiro-ministro da Suécia
    está na fila do caixa automático,
  • 7:07 - 7:10
    esperando a sua vez, como todo mundo.
  • 7:10 - 7:15
    Nas culturas igualitárias,
    até existe hierarquia também,
  • 7:15 - 7:17
    mas ela é mais sutil,
  • 7:17 - 7:19
    ela é mais discreta.
  • 7:19 - 7:20
    A distância de poder é menor.
  • 7:25 - 7:26
    Esta aqui
  • 7:27 - 7:29
    é a princesa da Dinamarca.
  • 7:30 - 7:34
    A Dinamarca também é
    uma sociedade igualitária,
  • 7:34 - 7:36
    de baixa distância de poder.
  • 7:37 - 7:42
    Então por que esta princesa
    está sendo tratada com tapete vermelho
  • 7:42 - 7:46
    e com as pessoas jogando
    pétalas de flores aos seus pés?
  • 7:48 - 7:50
    Porque ela não está na Dinamarca.
  • 7:50 - 7:53
    Ela está visitando a Tailândia,
  • 7:55 - 7:59
    e é assim que os tailandeses
    tratam a realeza,
  • 7:59 - 8:03
    mesmo a realeza de outros países,
    que não seja a deles.
  • 8:05 - 8:09
    Esta foto é muito importante
    porque ela demonstra
  • 8:09 - 8:11
    que quem determina
  • 8:11 - 8:16
    se uma sociedade é hierárquica
    ou se ela é igualitária
  • 8:16 - 8:19
    não é quem está no topo da pirâmide,
  • 8:19 - 8:21
    é quem está na base da pirâmide.
  • 8:23 - 8:26
    Quem faz a ditadura não é o ditador.
  • 8:27 - 8:30
    É o povo que aceita uma ditadura
  • 8:30 - 8:34
    ou que às vezes até deseja
    uma ditadura ou um governo forte.
  • 8:36 - 8:41
    A princesa da Dinamarca jamais
    seria tratada dessa forma na Dinamarca.
  • 8:42 - 8:44
    Talvez por isso ela goste
    de visitar a Tailândia.
  • 8:44 - 8:45
    (Risos)
  • 8:49 - 8:51
    Isso tudo começa na infância.
  • 8:52 - 8:55
    Quando a gente tem
    menos de dez anos de idade,
  • 8:55 - 9:00
    é que a gente aprende a noção
    do que é certo e o que é errado,
  • 9:00 - 9:02
    como se relacionar com as pessoas,
  • 9:02 - 9:04
    se existe distância de poder ou não.
  • 9:05 - 9:12
    E a gente aprende isso
    não com o que as pessoas dizem pra gente,
  • 9:12 - 9:15
    mas a gente aprende por observação.
  • 9:16 - 9:21
    A gente vê o que os pais,
    o que os vizinhos,
  • 9:21 - 9:24
    o que os professores,
    o que os colegas estão fazendo,
  • 9:24 - 9:27
    e a gente aprende por imitação.
  • 9:28 - 9:32
    Quando eu era pequeno, em Porto Alegre,
  • 9:32 - 9:36
    e os meus pais estavam
    recebendo visitas na sala,
  • 9:36 - 9:39
    e eu e a minha irmã
    entrávamos na sala pra brincar,
  • 9:39 - 9:45
    eles diziam: "Vão brincar lá fora.
    Nós vamos ter uma conversa de adultos".
  • 9:45 - 9:47
    E a gente ia.
  • 9:47 - 9:49
    E a gente aprendeu que neste mundo
  • 9:49 - 9:54
    existem algumas pessoas
    que têm mais poder, os adultos,
  • 9:54 - 9:58
    e outras pessoas têm menos, as crianças.
  • 10:01 - 10:04
    Hoje, eu moro na Holanda,
  • 10:04 - 10:09
    quando eu vou visitar
    o meu vizinho na casa do lado
  • 10:09 - 10:12
    e os filhos dele
    entram na sala pra brincar,
  • 10:12 - 10:17
    ele para de conversar comigo
    e inclui as crianças na conversa.
  • 10:19 - 10:23
    Então essas crianças
    aprendem que, neste mundo,
  • 10:23 - 10:27
    todo mundo tem
    mais ou menos o mesmo poder.
  • 10:28 - 10:33
    O poder está distribuído de uma forma
    mais igualitária na comunidade.
  • 10:37 - 10:40
    Eventualmente, na Holanda,
    nós encontramos uma casa,
  • 10:40 - 10:42
    mudamos pra essa casa
  • 10:42 - 10:46
    e um dia bateu na porta um sujeito
  • 10:46 - 10:48
    que se identificou
    como sendo da prefeitura.
  • 10:49 - 10:55
    E ele disse: "Existe um parquinho aqui
    no fim da rua e nós vamos reformá-lo,
  • 10:55 - 10:58
    a prefeitura vai reformar o parquinho.
  • 10:58 - 11:01
    Nós estamos fazendo
    uma pesquisa aqui na rua
  • 11:01 - 11:07
    pra saber quais são os brinquedos
    preferidos das crianças deste bairro,
  • 11:07 - 11:10
    pra que a gente possa garantir
    que esses brinquedos,
  • 11:10 - 11:11
    que são os preferidos,
  • 11:11 - 11:14
    vão ser colocados no parquinho novo.
  • 11:15 - 11:17
    O senhor tem crianças pequenas em casa?"
  • 11:18 - 11:22
    Eu disse: "Sim. Eu tenho duas meninas
    de quatro e cinco anos de idade.
  • 11:22 - 11:27
    Elas gostam do escorregador, da roda..."
  • 11:27 - 11:29
    E ele disse: "Não.
  • 11:29 - 11:33
    Por favor, elas estão em casa?
    Eu quero falar com elas".
  • 11:34 - 11:36
    (Risos)
  • 11:37 - 11:40
    O meu queixo caiu no chão
    e rolou pela calçada.
  • 11:42 - 11:44
    Isso jamais aconteceria no Brasil.
  • 11:45 - 11:47
    Ele não queria falar comigo.
  • 11:47 - 11:50
    Ele queria falar diretamente
    com as minhas filhas.
  • 11:52 - 11:54
    Agora imaginem
  • 11:54 - 11:56
    que tipo de sociedade é criada
  • 11:59 - 12:02
    quando se tem esse tipo
    de atitude com as crianças?
  • 12:02 - 12:07
    As crianças são tratadas
    como gente desde pequeninhas,
  • 12:07 - 12:10
    e não como projeto de gente,
    como a gente gosta de falar.
  • 12:15 - 12:20
    O outro dilema que existe,
    de valores na cultura,
  • 12:20 - 12:23
    é individualismo versus coletivismo.
  • 12:23 - 12:26
    No individualismo,
  • 12:26 - 12:29
    as pessoas assumem
    mais responsabilidade individual.
  • 12:30 - 12:33
    Elas expressam a sua opinião individual,
  • 12:33 - 12:39
    mesmo que isso possa ferir outra pessoa,
    porque o mais importante é você cumprir
  • 12:39 - 12:42
    a sua responsabilidade
    para com a sua própria consciência;
  • 12:45 - 12:49
    e a opinião dissidente
    é problema do outro.
  • 12:51 - 12:56
    Nessas comunidades, a tarefa
    é mais importante do que o relacionamento.
  • 12:59 - 13:02
    Na sociedade coletivista, é o oposto.
  • 13:02 - 13:05
    O grupo é mais importante
    do que o indivíduo.
  • 13:06 - 13:10
    As pessoas pertencem a diferentes grupos,
  • 13:10 - 13:15
    e dentro de cada grupo
    se evita o confronto,
  • 13:15 - 13:18
    se evita expressar opiniões dissidentes.
  • 13:18 - 13:21
    Pode haver conflito
    entre um grupo e outro,
  • 13:21 - 13:25
    mas dentro do mesmo grupo
    se evita o conflito.
  • 13:28 - 13:33
    O terceiro dilema que eu quero mencionar
    é entre desempenho ou qualidade de vida.
  • 13:33 - 13:35
    As duas coisas são importantes.
  • 13:35 - 13:38
    Em todas as sociedades têm desempenho
  • 13:38 - 13:43
    e têm a necessidade de ter
    qualidade de vida e de cuidar dos outros.
  • 13:43 - 13:47
    Mas, se você tem que escolher
  • 13:47 - 13:51
    entre desempenho ou
    qualidade de vida numa situação,
  • 13:51 - 13:55
    dependendo da cultura você cai
    pro lado do desempenho
  • 13:55 - 13:58
    ou você vai pro lado da qualidade de vida.
  • 13:59 - 14:02
    Eu não vou falar
    sobre os outros dois dilemas,
  • 14:02 - 14:04
    porque senão não dá pra fechar 18 minutos,
  • 14:04 - 14:07
    mas vamos dar uma olhadinha
  • 14:07 - 14:09
    em alguns dados de pesquisa.
  • 14:13 - 14:15
    Este é o perfil do Brasil.
  • 14:16 - 14:21
    O Brasil é uma cultura
    de alta distância de poder;
  • 14:22 - 14:26
    é uma cultura mais coletivista
    do que individualista,
  • 14:26 - 14:29
    o individualismo é relativamente baixo;
  • 14:30 - 14:35
    está bem equilibrado em termos
    de desempenho ou qualidade de vida,
  • 14:35 - 14:39
    está mais ou menos
    no equilíbrio entre os dois;
  • 14:39 - 14:41
    nós temos alto controle da incerteza;
  • 14:41 - 14:43
    e nós temos alta flexibilidade.
  • 14:46 - 14:49
    Vamos comparar com os Estados Unidos.
  • 14:50 - 14:51
    É bem diferente.
  • 14:52 - 14:55
    Os Estados Unidos têm
    baixa distância de poder,
  • 14:55 - 14:59
    é uma sociedade mais igualitária
    do que o Brasil.
  • 14:59 - 15:02
    Os Estados Unidos têm alto individualismo,
  • 15:02 - 15:05
    é o país mais individualista do mundo.
  • 15:07 - 15:11
    Os Estados Unidos também têm
    maior orientação pra desempenho
  • 15:11 - 15:14
    do que pra qualidade de vida,
    comparado com o Brasil,
  • 15:14 - 15:18
    e têm menos necessidade
    de controlar a incerteza
  • 15:18 - 15:20
    e têm menos flexibilidade do que o Brasil.
  • 15:22 - 15:26
    Mas vamos ver a Holanda,
    só pra ter uma outra comparação.
  • 15:27 - 15:29
    Aí vocês veem que a Holanda
  • 15:29 - 15:33
    é semelhante aos Estados Unidos
    em termos de distância de poder,
  • 15:33 - 15:34
    é igualitária.
  • 15:34 - 15:38
    Também é bastante individualista,
    quase tanto quanto os americanos,
  • 15:38 - 15:41
    agora, em termos
    de orientação pra desempenho
  • 15:41 - 15:43
    é muito mais baixo.
  • 15:43 - 15:48
    Claramente os holandeses
    preferem, privilegiam
  • 15:48 - 15:51
    a qualidade de vida do que o desempenho.
  • 15:51 - 15:53
    Em termos de controle da incerteza
  • 15:53 - 15:56
    é um pouquinho mais alto
    que os americanos.
  • 15:56 - 15:58
    Em termos de flexibilidade,
  • 15:58 - 16:01
    está no meio-termo
    entre Brasil e Estados Unidos.
  • 16:03 - 16:06
    O que tudo isso significa na prática?
  • 16:08 - 16:10
    Imaginem uma reunião de trabalho.
  • 16:10 - 16:12
    Uma reunião de trabalho nos Estados Unidos
  • 16:12 - 16:16
    é voltada pra ação,
    pra discutir e decidir.
  • 16:18 - 16:20
    E o chefe decide quem vai fazer o quê.
  • 16:22 - 16:24
    Na Holanda,
  • 16:24 - 16:26
    a reunião é voltada pra descobrir
  • 16:26 - 16:29
    quais são as opiniões
    das diferentes pessoas.
  • 16:30 - 16:32
    O resultado é secundário,
  • 16:32 - 16:35
    o importante é que todo mundo seja ouvido,
  • 16:35 - 16:40
    e o chefe é mais um coordenador
    que ajuda o grupo todo a decidir.
  • 16:42 - 16:45
    Como é uma reunião de trabalho
    típica no Brasil?
  • 16:47 - 16:48
    A reunião é uma plataforma
  • 16:48 - 16:53
    pro chefe anunciar a decisão
    que ele já tomou antes da reunião.
  • 16:54 - 16:59
    E ninguém discute
    o que o chefe já decidiu.
  • 17:00 - 17:02
    Se você quiser influenciar a decisão,
  • 17:02 - 17:05
    você tem que falar com o chefe
    antes da reunião.
  • 17:06 - 17:08
    Na reunião não dá pra contrariar.
  • 17:11 - 17:14
    Então isso dá um estilo
    de trabalho diferente.
  • 17:17 - 17:20
    O Brasil é hierárquico
  • 17:20 - 17:23
    e, como ele tem uma cultura hierárquica,
  • 17:23 - 17:27
    o Brasil também tende a achar que existe
    uma hierarquia entre os países.
  • 17:27 - 17:31
    Então a gente acha que alguns países
    são mais bacanas do que outros.
  • 17:31 - 17:35
    A gente tende a admirar
    os Estados Unidos, a Europa,
  • 17:35 - 17:40
    e a gente tende a desprezar
    a África e o resto da América Latina.
  • 17:42 - 17:47
    A gente gosta de imitar os americanos,
  • 17:47 - 17:49
    os franceses, os alemães,
  • 17:50 - 17:53
    e, por exemplo, quando a gente
    estuda administração na faculdade,
  • 17:53 - 17:57
    quase tudo que a gente estuda
    veio dos Estados Unidos.
  • 18:00 - 18:03
    Só que alguns conceitos
  • 18:04 - 18:05
    precisam ser adaptados.
  • 18:05 - 18:07
    Por exemplo: feedback.
  • 18:08 - 18:11
    Feedback, a gente aprende
    que é uma coisa legal,
  • 18:11 - 18:14
    que todo mundo deve praticar.
  • 18:14 - 18:16
    Nos Estados Unidos, funciona.
  • 18:17 - 18:20
    No Brasil, o feedback é diferente.
  • 18:22 - 18:25
    Você não dá feedback pro seu chefe.
  • 18:25 - 18:30
    Quando seu chefe dá feedback pra você,
  • 18:30 - 18:33
    é porque alguma coisa
    você fez que ele não gostou.
  • 18:34 - 18:37
    E você não vai se arriscar
    e dar feedback pro seu chefe,
  • 18:37 - 18:40
    porque se ele não gostar do feedback,
    ele te bota na rua.
  • 18:41 - 18:44
    Então isso precisa ser adaptado;
  • 18:44 - 18:47
    antes de se fazer alguma coisa
    noutra cultura.
  • 18:50 - 18:53
    O Brasil não precisa imitar os outros,
  • 18:53 - 18:58
    tem muita coisa que a gente faz melhor
    do que os americanos e os holandeses.
  • 18:58 - 19:01
    Por exemplo, esse conceito de mutirão.
  • 19:02 - 19:03
    Se a gente quiser mobilizar as pessoas,
  • 19:03 - 19:06
    é muito mais fácil
    mobilizar as pessoas no Brasil.
  • 19:08 - 19:12
    Se eu precisasse da ajuda de vocês
    aqui, pra reorganizar o palco,
  • 19:12 - 19:14
    tirar este X daqui e botar lá no fundo,
  • 19:14 - 19:17
    era só pedir que logo iam aparecer
    três ou quatro pra fazer isso.
  • 19:18 - 19:23
    Se eu pedisse a mesma coisa na Holanda,
    as pessoas iam me olhar e dizer assim:
  • 19:24 - 19:28
    "Será que isso é uma boa ideia?
    Mas por que você quer fazer isso?
  • 19:28 - 19:29
    Vamos discutir".
  • 19:32 - 19:36
    E iam discutir duas horas
    e sem chegar à conclusão nenhuma.
  • 19:37 - 19:42
    Então, nós temos muita coisa
    a aprender com outros,
  • 19:42 - 19:45
    mas nós temos também
    muita coisa a ensinar.
  • 19:45 - 19:48
    Não existe nenhuma cultura
    que seja melhor do que outra.
  • 19:50 - 19:55
    O importante é que a gente
    precisa ter a mente aberta.
  • 19:56 - 19:59
    O que eu aprendi, indo
    de uma cultura pra outra,
  • 19:59 - 20:01
    trabalhando em diferentes países,
  • 20:01 - 20:05
    é que é importante perguntar pra aprender.
  • 20:06 - 20:09
    Escutar mais do que falar.
  • 20:09 - 20:11
    E as próprias perguntas devem ser curtas.
  • 20:12 - 20:15
    Tipo: "Por quê?", "Como?"
  • 20:16 - 20:19
    Dessa forma, a gente consegue
    se colocar no lugar do outro,
  • 20:20 - 20:22
    e realmente aprender.
  • 20:23 - 20:24
    Isso tudo é importante,
  • 20:24 - 20:29
    porque a gente precisa aprender
    a olhar pro problema certo.
  • 20:30 - 20:33
    Se a gente discutir problemas de cultura,
  • 20:33 - 20:35
    sem olhar pros valores,
  • 20:35 - 20:37
    a gente pode estar olhando
    pro lado errado.
  • 20:40 - 20:45
    E, se a gente quiser mudar a cultura,
    a gente precisa reeducar os adultos,
  • 20:45 - 20:51
    mas a gente precisa, principalmente,
    mudar o estilo de educação das crianças.
  • 20:52 - 20:54
    Em casa e na escola.
  • 20:55 - 21:00
    Enquanto a gente continuar educando
    as crianças de uma forma autoritária,
  • 21:00 - 21:05
    nós vamos continuar criando
    uma sociedade hierárquica.
  • 21:05 - 21:09
    Se quisermos uma sociedade
    mais igualitária,
  • 21:09 - 21:14
    nós precisamos mudar o estilo de educação
    pra que seja mais igualitário.
  • 21:17 - 21:19
    Pra isso a gente precisa
    mexer nos valores.
  • 21:19 - 21:23
    Os valores são o caminho das pedras
    pra gente poder mudar a cultura.
  • 21:26 - 21:31
    No fundo, nós somos todos diferentes,
    nós não somos iguais,
  • 21:32 - 21:37
    mas nós temos o mesmo valor,
    nós somos equivalentes.
  • 21:40 - 21:41
    Obrigado.
  • 21:41 - 21:44
    (Aplausos)
Title:
Dilemas de valores nas culturas | Fernando Lanzer | TEDxLaçador
Description:

Fernando fala sobre as diferentes formas de agir em cada cultura.

Consultor de empresas em assuntos de Liderança e Cultura Organizacional. Foi executivo de Recursos Humanos no Banco Sulbrasileiro e no Banco Iochpe. No ABN AMRO, foi responsável por RH no Brasil, América Latina e Caribe, chegando a Executive Vice President, Group Head de Leadership Development & Learning na “holding” em Amsterdam.

É autor de diversos artigos e dos livros “Take Off Your Glasses” (2012), traduzido para o português como “Tire Os Seus Óculos”, “Cruzando Culturas Sem Ser Atropelado: Gestão Transcultural Para Um Mundo Globalizado” (2013) e “Clima e Cultura Organizacionais: Entender, Manter e Mudar” (no prelo). Durante dez anos foi membro (e depois presidente) do Supervisory Group da AIESEC International, a maior associação organizadora de estágios internacionais do mundo.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
Portuguese, Brazilian
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
21:48

Portuguese, Brazilian subtitles

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