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Podemos corrigir as memórias?

  • 0:01 - 0:05
    A memória é algo tão quotidiano
    que nós quase a subestimamos.
  • 0:06 - 0:08
    Lembramo-nos do que comemos
    hoje ao pequeno almoço,
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    do que fizemos no fim de semana passado.
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    Só quando a memória começa a falhar
  • 0:12 - 0:15
    é que apreciamos quão incrível ela é
  • 0:15 - 0:18
    e até que ponto permitimos que
    as experiências passadas nos definam.
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    Mas a memória
    nem sempre é uma coisa boa.
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    Como o poeta e clérigo americano
    John Lancaster Spalding disse:
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    "Tal como a memória pode ser um paraíso
    do qual não podemos ser expulsos
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    "também pode ser um inferno
    do qual não conseguimos fugir."
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    Muitos de nós passamos
    por capítulos da nossa vida
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    que melhor seria nem terem acontecido.
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    Calcula-se que quase 90% das pessoas
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    vão viver uma experiência
    traumática na sua vida.
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    Muitas vão sofrer intensamente após
    esses eventos e depois recuperam,
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    talvez até se tornem pessoas melhores
    depois dessas experiências,
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    mas alguns acontecimentos
    são tão difíceis que muitas delas
  • 1:01 - 1:05
    — mais de metade das que sobrevivem
    à violência sexual, por exemplo —
  • 1:05 - 1:08
    vão continuar a desenvolver
    perturbação de "stress" pós-traumático,
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    ou seja, PSPT.
  • 1:11 - 1:14
    A PSPT é uma situação mental debilitante
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    caracterizada por sintomas
    como medo intenso, ansiedade
  • 1:18 - 1:22
    e retrospetivas do incidente traumático.
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    Estes sintomas têm um grande impacto
    na qualidade de vida de uma pessoa
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    e são, geralmente, despertados
    por situações específicas
  • 1:29 - 1:32
    ou estímulos no ambiente dessa pessoa.
  • 1:33 - 1:38
    As reações a esses estímulos podem
    ter sido adaptadas quando aprendidos
  • 1:38 - 1:41
    — sentir o medo e procurar um abrigo
    numa zona de guerra, por exemplo —
  • 1:41 - 1:43
    mas na PSPT,
  • 1:43 - 1:47
    eles continuam a controlar o comportamento
    mesmo quando já não é necessário.
  • 1:47 - 1:50
    Se um veterano de combate regressa a casa
    e se esconde, procurando proteção,
  • 1:50 - 1:53
    quando ouve o detonar
    do escape de um automóvel
  • 1:53 - 1:56
    ou não consegue sair de casa
    devido a uma ansiedade intensa,
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    as reações a esses estímulos
    a essas memórias,
  • 2:00 - 2:04
    tornam-se naquilo a que chamamos
    padrão de má adaptação.
  • 2:05 - 2:11
    Neste sentido, podemos pensar na PSPT
    como o transtorno de memória mal adaptada.
  • 2:13 - 2:14
    Eu vou ficar por aqui,
  • 2:14 - 2:17
    porque estou a falar da memória
    como se ela fosse uma só coisa.
  • 2:17 - 2:19
    e não é.
  • 2:19 - 2:21
    Há vários tipos de memória,
  • 2:21 - 2:25
    que dependem de diferentes circuitos
    e regiões no cérebro.
  • 2:26 - 2:31
    Como vemos, há duas
    grandes categorias na nossa memória.
  • 2:32 - 2:34
    Há as memórias de que
    estamos plenamente conscientes,
  • 2:34 - 2:36
    em que sabemos que sabemos
  • 2:36 - 2:38
    e podemos transmiti-las por palavras.
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    Incluem as memórias
    de factos e de acontecimentos.
  • 2:41 - 2:43
    Como conseguimos contar essas memórias,
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    referimo-nos a elas
    como memórias declarativas.
  • 2:47 - 2:50
    O outro tipo de memória
    é a não declarativa.
  • 2:50 - 2:52
    São memórias em que habitualmente
  • 2:52 - 2:56
    não temos um acesso consciente
    ao conteúdo dessas memórias
  • 2:56 - 2:58
    que não podemos transmitir por palavras.
  • 2:59 - 3:01
    Um exemplo clássico
    de memória não declarativa
  • 3:01 - 3:04
    é a aptidão motriz de andar de bicicleta.
  • 3:04 - 3:08
    Como estamos em Cambridge,
    provavelmente vocês andam de bicicleta.
  • 3:08 - 3:10
    Por isso, sabem o que fazem
    em cima de duas rodas.
  • 3:10 - 3:13
    Mas se eu vos pedir para me escreverem
    uma lista de instruções
  • 3:13 - 3:16
    que me ensinassem a andar de bicicleta,
  • 3:16 - 3:18
    como fez o meu filho de quatro anos
  • 3:18 - 3:20
    quando lhe comprámos
    uma bicicleta no aniversário,
  • 3:20 - 3:23
    vocês com certeza
    iam ter muita dificuldade.
  • 3:23 - 3:26
    Como nos sentarmos na bicicleta
    para nos equilibrarmos?
  • 3:26 - 3:28
    A que velocidade é preciso
    pedalar para se manter estável?
  • 3:29 - 3:31
    Se apanharmos uma rajada de vento,
  • 3:31 - 3:33
    quais os músculos que devemos retesar
  • 3:33 - 3:36
    e durante quanto tempo,
    para não sermos arrastados?
  • 3:36 - 3:40
    Ficaria surpreendida se vocês
    me respondessem a estas perguntas.
  • 3:40 - 3:43
    Mas se vocês sabem andar de bicicleta,
    têm essas respostas,
  • 3:43 - 3:46
    só que não têm consciência delas.
  • 3:49 - 3:50
    Voltando à PSPT,
  • 3:50 - 3:53
    outro tipo de memória não declarativa
  • 3:53 - 3:55
    é a memoria emocional.
  • 3:55 - 3:58
    Isto tem um significado
    específico em psicologia
  • 3:58 - 4:01
    e refere-se à nossa capacidade
    de reconhecer sinais no nosso ambiente
  • 4:01 - 4:05
    e o seu significado
    emotivo e motivacional.
  • 4:05 - 4:06
    O que é que quero dizer com isto?
  • 4:06 - 4:11
    Pensem num estímulo
    como o cheiro do pão fresco,
  • 4:11 - 4:14
    ou em algo mais abstrato
    como uma nota de vinte euros.
  • 4:14 - 4:17
    Como estas pistas estão ligadas
    a coisas boas no passado,
  • 4:17 - 4:20
    nós gostamos delas e aceitamo-las.
  • 4:20 - 4:25
    Outra pista, como o zumbido de uma vespa,
    suscita emoções muito negativas
  • 4:25 - 4:29
    e um comportamento bastante dramático
    nalgumas pessoas.
  • 4:30 - 4:32
    Eu odeio vespas.
  • 4:32 - 4:34
    posso dizer-vos este facto,
  • 4:34 - 4:37
    mas não posso transmitir-vos
    memórias emocionais não declarativas
  • 4:37 - 4:40
    que expliquem a minha reação
    na presença duma vespa.
  • 4:40 - 4:42
    Não posso transmitir-vos
    o coração acelerado,
  • 4:42 - 4:46
    as palmas das mãos suadas,
    a sensação de pânico a aumentar.
  • 4:46 - 4:48
    Posso descrever tudo isso,
  • 4:48 - 4:51
    mas não posso transmiti-los a vocês.
  • 4:52 - 4:55
    É importante saber que,
    na perspetiva da PSPT,
  • 4:55 - 5:00
    o "stress" tem efeitos diferentes em
    memórias declarativas e não declarativas
  • 5:00 - 5:03
    nos circuitos cerebrais
    e nas regiões que as estimulam.
  • 5:03 - 5:07
    A memória emocional é estimulada
    por uma estrutura em formato de amêndoa
  • 5:07 - 5:10
    chamada amígdala, e as suas ligações.
  • 5:10 - 5:12
    A memória declarativa e, especialmente,
  • 5:12 - 5:15
    o quê, onde e quando
    essas memórias aconteceram,
  • 5:15 - 5:18
    é estimulada por uma região no cérebro
    chamada hipocampo.
  • 5:19 - 5:23
    Os altos níveis de "stress"
    sentido durante um trauma
  • 5:23 - 5:26
    têm diferentes efeitos
    nestas duas estruturas.
  • 5:27 - 5:30
    Como podem ver, quando
    o nível de "stress" de alguém se eleva,
  • 5:30 - 5:33
    passando de nenhum "stress"
    a um ligeiro "stress",
  • 5:33 - 5:36
    o hipocampo, que age para estimular
    a memória do acontecimento,
  • 5:36 - 5:37
    aumenta a sua atividade
  • 5:37 - 5:41
    e funciona melhor para sustentar
    a armazenagem dessa memória declarativa.
  • 5:41 - 5:45
    Mas assim que o "stress"
    passa de moderado a intenso,
  • 5:45 - 5:49
    e depois muito intenso,
    como acontece num trauma,
  • 5:49 - 5:53
    o hipocampo desliga-se.
  • 5:53 - 5:56
    Isto significa que sob altos níveis
    de hormonas do "stress"
  • 5:56 - 5:58
    que se registam durante um trauma,
  • 5:58 - 6:01
    não estamos a armazenar os detalhes,
  • 6:01 - 6:04
    os detalhes específicos
    de como, onde e quando.
  • 6:05 - 6:08
    Enquanto o "stress" está
    a fazer isso ao hipocampo,
  • 6:08 - 6:10
    vejam o que ele faz à amígdala,
  • 6:10 - 6:13
    essa importante estrutura para a memória
    emocional, não declarativa.
  • 6:13 - 6:17
    A sua atividade fica cada vez mais forte.
  • 6:18 - 6:20
    O que a PSPT nos deixa
  • 6:20 - 6:24
    é uma memória muito emotiva
    — neste caso, o medo —
  • 6:24 - 6:27
    que não está ligada
    a um tempo ou lugar específico,
  • 6:27 - 6:32
    porque o hipocampo não está
    a armazenar o quê, quando e onde.
  • 6:32 - 6:36
    Neste sentido, os estímulos
    podem controlar o comportamento
  • 6:36 - 6:38
    quando já não é apropriado.
  • 6:38 - 6:41
    É assim que eles se tornam mal adaptados.
  • 6:41 - 6:47
    Então, se sabemos que a PSPT
    é devida a memórias mal adaptadas,
  • 6:47 - 6:50
    poderemos usar esse conhecimento
    para melhorar o tratamento
  • 6:50 - 6:52
    em novos pacientes com PSPT?
  • 6:54 - 6:56
    Uma abordagem nova e radical
    que está em desenvolvimento
  • 6:56 - 6:59
    para tratar a perturbação
    de "stress" pós traumático
  • 6:59 - 7:02
    visa a destruição destas
    memórias mal adaptadas
  • 7:02 - 7:04
    que estão na base desta perturbação.
  • 7:04 - 7:07
    Esta abordagem só está a ser
    considerada como uma possibilidade
  • 7:07 - 7:10
    dadas as profundas mudanças
    na compreensão da memória
  • 7:10 - 7:12
    nos últimos anos.
  • 7:13 - 7:15
    Tradicionalmente, pensava-se
    que criar uma memória
  • 7:15 - 7:18
    era como escrever
    com uma caneta num papel:
  • 7:18 - 7:21
    assim que a tinta secasse,
    não podíamos mudar as informações.
  • 7:22 - 7:24
    Pensava-se que todas
    as mudanças estruturais
  • 7:24 - 7:27
    que acontecem no cérebro para
    auxiliar a armazenagem da memória
  • 7:27 - 7:29
    estavam terminadas ao fim de seis horas,
  • 7:29 - 7:31
    e, depois disso, passavam a permanentes.
  • 7:31 - 7:35
    Isto é conhecido como a visão consolidada.
  • 7:35 - 7:39
    No entanto, recentemente a investigação
    sugere que criar uma memória
  • 7:39 - 7:42
    é sobretudo, como escrever
    num processador de texto.
  • 7:42 - 7:46
    Inicialmente criamos a memória
    e só depois a gravamos ou armazenamos.
  • 7:46 - 7:49
    Mas sob certas circunstâncias,
    podemos emendar essa memória.
  • 7:50 - 7:54
    Esta visão reconsolidada sugere
    que as mudanças estruturais
  • 7:54 - 7:56
    que acontecem no cérebro
    para apoiar a memória
  • 7:56 - 7:58
    podem ser desfeitas,
  • 7:58 - 8:01
    mesmo para memórias antigas.
  • 8:02 - 8:06
    Este processo de edição
    não está sempre a acontecer.
  • 8:06 - 8:09
    Apenas acontece
    em circunstâncias muito específicas
  • 8:09 - 8:11
    da recuperação de memória.
  • 8:11 - 8:15
    Vamos considerar a recuperação da memória
    como chamar a memória de novo
  • 8:15 - 8:18
    ou como abrir um ficheiro.
  • 8:18 - 8:21
    Geralmente, estamos simplesmente
    a recuperar a memória.
  • 8:21 - 8:24
    Estamos a abrir o ficheiro
    como apenas para leitura.
  • 8:24 - 8:26
    Mas sob as condições certas,
  • 8:26 - 8:28
    podemos abrir o ficheiro
    em modo de edição,
  • 8:28 - 8:30
    e assim podemos alterar a informação.
  • 8:30 - 8:34
    Em teoria, podemos apagar
    o conteúdo desse ficheiro,
  • 8:34 - 8:36
    e quando premimos "gravar",
  • 8:36 - 8:41
    é como o ficheiro — a memória —
    persiste.
  • 8:43 - 8:45
    Esta visão de reconsolidação
  • 8:45 - 8:49
    não só nos permite explicar
    alguns caprichos da memória
  • 8:49 - 8:52
    — como quando nós, de vez em quando,
    recordamos o passado incorretamente —
  • 8:52 - 8:56
    mas também nos dá um meio de destruir
    as memórias mal adaptadas
  • 8:56 - 8:58
    que estão na base da PSPT.
  • 8:58 - 9:01
    Só precisamos de duas coisas:
  • 9:01 - 9:03
    um modo de tornar a memória instável
  • 9:03 - 9:06
    — abrindo esse ficheiro
    em modo de edição —
  • 9:06 - 9:09
    e um modo de apagar as informações.
  • 9:09 - 9:11
    Temos feito os maiores progressos
  • 9:11 - 9:14
    trabalhando em como
    apagar as informações.
  • 9:14 - 9:16
    Muito cedo se descobriu
  • 9:16 - 9:18
    que um medicamento muito receitado
  • 9:18 - 9:20
    para controlar
    a pressão sanguínea nas pessoas
  • 9:20 - 9:22
    — o bloqueador beta
    chamado Propranolol —
  • 9:22 - 9:25
    pode ser usado
    para impedir a reconsolidação
  • 9:25 - 9:27
    de memórias de medo em ratos.
  • 9:27 - 9:31
    Se o Propranolol for dado enquanto
    a memória estiver em modo de edição,
  • 9:31 - 9:35
    os ratos portam-se como se já não
    tivessem medo de um estímulo assustador.
  • 9:36 - 9:40
    Era como se eles nunca tivessem aprendido
    a ter medo daquele estímulo.
  • 9:40 - 9:44
    Isto foi com uma droga
    de utilização segura para seres humanos.
  • 9:45 - 9:47
    Pouco tempo depois disso,
  • 9:47 - 9:48
    demonstrou-se que o Propranolol
  • 9:48 - 9:51
    também pode destruir memórias
    de medo em seres humanos,
  • 9:51 - 9:55
    mas só funciona se a memória
    estiver em modo de edição.
  • 9:56 - 9:59
    Os estudos foram feitos
    com voluntários humanos saudáveis,
  • 9:59 - 10:02
    mas é importante porque mostra
    que as conclusões nos ratos
  • 10:02 - 10:06
    podem aplicar-se aos seres humanos
    e finalmente aos pacientes humanos.
  • 10:07 - 10:09
    E com seres humanos,
  • 10:09 - 10:14
    podemos testar se a destruição
    da memória emotiva não declarativa
  • 10:14 - 10:17
    tem algum efeito
    sobre a memória declarativa.
  • 10:18 - 10:20
    Isto é muito interessante.
  • 10:20 - 10:23
    Apesar de pessoas a quem
    foi receitado o Propranolol
  • 10:23 - 10:25
    enquanto a memória estava
    em modo de edição
  • 10:25 - 10:28
    deixarem de ter medo
    daquele estímulo assustador,
  • 10:28 - 10:30
    eles ainda conseguiam descrever a relação
  • 10:30 - 10:34
    entre o estímulo e o desfecho assustador.
  • 10:35 - 10:39
    Era como se eles soubessem
    que deviam sentir medo,
  • 10:40 - 10:42
    mas apesar disso, não sentiam.
  • 10:42 - 10:45
    Isto sugere que o Propranolol
    pode visar seletivamente
  • 10:45 - 10:48
    as memórias emocionais não declarativas
  • 10:48 - 10:52
    mas deixar intacta
    a parte declarativa da memória.
  • 10:52 - 10:56
    Mas, provavelmente, o Propranolol
    pode apenas ter efeito
  • 10:56 - 10:58
    na memória em modo de edição.
  • 10:59 - 11:01
    Então, como tornamos instável a memória?
  • 11:01 - 11:04
    Como a colocamos em modo de edição?
  • 11:04 - 11:06
    O meu laboratório tem feito
    muito trabalho nisso.
  • 11:07 - 11:11
    Sabemos que isso depende da introdução
    a incorporar na memória
  • 11:11 - 11:14
    de novas informações
    — mas não em quantidade demasiada.
  • 11:14 - 11:16
    Conhecemos os diferentes químicos
    que o cérebro usa
  • 11:16 - 11:19
    para assinalar que uma memória
    deve ser atualizada
  • 11:19 - 11:21
    e o ficheiro editado.
  • 11:21 - 11:24
    O nosso trabalho é
    basicamente com ratos,
  • 11:24 - 11:26
    mas outros laboratórios
    que têm descoberto os mesmos fatores
  • 11:26 - 11:29
    permitem que as memórias
    sejam editadas em seres humanos,
  • 11:29 - 11:33
    mesmo memórias mal adaptadas
    como as que estão na base da PSPT.
  • 11:33 - 11:36
    Na verdade, numerosos laboratórios
    em vários países
  • 11:36 - 11:38
    têm começado testes clínicos
    de pequena escala
  • 11:38 - 11:42
    destes tratamentos de destruição
    de memória, para a PSPT.
  • 11:42 - 11:45
    e descobrimos resultados promissores.
  • 11:46 - 11:49
    Estes estudos precisam
    de se repetidos em grande escala,
  • 11:49 - 11:51
    mas mostram a promessa
  • 11:51 - 11:55
    desses tratamentos de destruição
    da memória, para a PSPT.
  • 11:55 - 11:57
    Talvez as memórias traumáticas
  • 11:57 - 12:01
    não precisem de ser o inferno
    a que não conseguimos fugir.
  • 12:03 - 12:06
    Apesar de esta abordagem
    de destruição de memórias seja promissora,
  • 12:06 - 12:08
    não podemos dizer que está
    a avançar em linha reta
  • 12:09 - 12:11
    ou sem controvérsias.
  • 12:11 - 12:13
    Será ético destruir memórias?
  • 12:13 - 12:15
    E o que se passa com coisas
    como testemunhas oculares?
  • 12:16 - 12:18
    E se não pudermos
    dar Propranolol a alguém
  • 12:18 - 12:19
    porque isso pode interferir
  • 12:19 - 12:21
    com outras medicações
    que estejam a tomar?
  • 12:22 - 12:24
    No que diz respeito à ética
    e a testemunhas oculares,
  • 12:24 - 12:27
    eu diria que o ponto
    importante a ser lembrado
  • 12:27 - 12:30
    é a conclusão proveniente
    deste estudo humano.
  • 12:30 - 12:34
    Como o Propranolol apenas age
    nas memórias emocionais não declarativas.
  • 12:34 - 12:38
    parece improvável que afete
    um testemunho ocular,
  • 12:38 - 12:40
    que se baseia na memória declarativa.
  • 12:41 - 12:45
    O que esses tratamentos
    de destruição de memória pretendem fazer
  • 12:45 - 12:47
    é reduzir a memória emocional,
  • 12:47 - 12:50
    não é livrar-se da memória
    traumática por completo.
  • 12:50 - 12:53
    Isto deve tornar
    as reações dos que sofrem de PSPT
  • 12:53 - 12:56
    mais parecidas com aqueles que
    passaram por algo traumático
  • 12:56 - 12:58
    mas que não desenvolveram PSPT,
  • 12:58 - 13:02
    do que as pessoas que nunca
    sofreram quaisquer traumas.
  • 13:02 - 13:06
    Penso que a maioria das pessoas
    acharia isto eticamente mais aceitável
  • 13:06 - 13:10
    do que um tratamento que visasse
    a criação de uma mente sem lembranças.
  • 13:12 - 13:13
    E quanto ao Propranolol?
  • 13:13 - 13:15
    Não podemos dar Propranolol a toda a gente
  • 13:15 - 13:19
    e nem toda a gente quer tomar drogas
    para tratar um problema de saúde mental.
  • 13:19 - 13:22
    Aqui, o Tetris poderá ser útil.
  • 13:23 - 13:24
    Sim, o Tetris.
  • 13:25 - 13:28
    Quando trabalhamos
    com colaboradores clínicos,
  • 13:28 - 13:30
    vamos observando
    se as intervenções comportamentais
  • 13:30 - 13:34
    também podem interferir com
    a reconsolidação de memórias.
  • 13:34 - 13:36
    Como é que isso funcionaria?
  • 13:36 - 13:38
    Nós sabemos que é basicamente impossível
  • 13:38 - 13:40
    fazer duas tarefas ao mesmo tempo
  • 13:40 - 13:44
    se as duas dependem da mesma área
    do cérebro para as processar.
  • 13:44 - 13:46
    Experimentem cantar
    ao mesmo tempo que a rádio
  • 13:46 - 13:48
    enquanto tentam compor um "email".
  • 13:48 - 13:52
    O processo para um
    interfere com o outro.
  • 13:52 - 13:55
    O mesmo acontece quando
    recuperamos uma memória.
  • 13:55 - 13:56
    especialmente em modo de edição.
  • 13:56 - 14:00
    Se pegarmos num sintoma altamente visual
    como as retrospetivas da PSPT
  • 14:00 - 14:03
    e pedirmos às pessoas que recordem
    as memórias em modo de edição
  • 14:03 - 14:06
    e depois pô-las fazer
    uma tarefa altamente visual,
  • 14:06 - 14:08
    como jogar Tetris,
  • 14:08 - 14:12
    devia ser possível introduzir
    tantas informações de interferência
  • 14:12 - 14:14
    nessa memória
  • 14:14 - 14:17
    que essencialmente
    deixassem de ter sentido.
  • 14:18 - 14:19
    Esta é a teoria,
  • 14:19 - 14:23
    e é sustentada por dados
    de humanos saudáveis voluntários.
  • 14:23 - 14:27
    Os nossos voluntários
    assistiram a vídeos desagradáveis
  • 14:27 - 14:30
    — pensem em cirurgia aos olhos,
    alertas de segurança no trânsito,
  • 14:30 - 14:33
    "The Big Shave" de Scorsese.
  • 14:33 - 14:37
    Esses vídeos de traumas produzem
    algo como retrospetivas
  • 14:37 - 14:41
    em pacientes saudáveis
    uma semana depois de os verem.
  • 14:42 - 14:45
    Descobrimos que pedindo às pessoas
    que recordem estas memórias,
  • 14:45 - 14:48
    os piores momentos
    desses vídeos desagradáveis,
  • 14:48 - 14:51
    e jogando Tetris ao mesmo tempo,
  • 14:51 - 14:55
    reduz imenso
    a frequência das retrospetivas.
  • 14:55 - 14:59
    De novo: a memória tinha de estar
    em modo de edição para isso funcionar.
  • 15:00 - 15:04
    Os meus colaboradores têm
    levado isto para a população clínica.
  • 15:04 - 15:07
    Testaram isto em sobreviventes
    de acidentes de trânsito
  • 15:07 - 15:10
    e mães que fizeram cesarianas
    de emergência,
  • 15:10 - 15:14
    — dois tipos de trauma
    frequentemente associados à PSPT —
  • 15:14 - 15:17
    e descobriram coisas promissoras
    sobre a redução de sintomas
  • 15:17 - 15:20
    em ambos os casos clínicos.
  • 15:21 - 15:26
    Embora ainda haja muito que aprender
    e procedimentos a serem otimizados,
  • 15:26 - 15:29
    estes tratamentos de destruição de memória
    têm um potencial enorme
  • 15:29 - 15:33
    para o tratamento de perturbações mentais
    como a PSPT.
  • 15:33 - 15:35
    Talvez as memórias traumáticas
  • 15:35 - 15:39
    não precisem de ser um inferno
    do qual não podemos fugir.
  • 15:39 - 15:41
    Acredito que esta abordagem
  • 15:41 - 15:43
    permitirá àqueles que quiserem
  • 15:43 - 15:45
    virar a página
    de certos capítulos da sua vida
  • 15:45 - 15:48
    que preferiam nunca terem vivido
  • 15:48 - 15:51
    e melhorar assim a saúde mental.
  • 15:51 - 15:52
    Obrigada.
  • 15:52 - 15:53
    (Aplausos)
Title:
Podemos corrigir as memórias?
Speaker:
Amy Milton
Description:

A PSPT e os traumas reconfiguram o nosso cérebro — especialmente a nossa memória — e podem desenterrar respostas emocionalmente destrutivas quando remexidas. Podemos então eliminar estes gatilhos, sem apagar a memória do acontecimento? Amy Milton, neurologista, apresenta a investigação fora de série sobre a correção da memória com a intenção de aliviar os danos causados por lembranças dolorosas e traumáticas, e oferece um possível caminho para uma melhor saúde mental.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
16:06
Isabel Vaz Belchior approved Portuguese subtitles for Can we edit memories?
Isabel Vaz Belchior edited Portuguese subtitles for Can we edit memories?
Margarida Ferreira accepted Portuguese subtitles for Can we edit memories?
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Can we edit memories?
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Diogo Trade Oliveira Gomes edited Portuguese subtitles for Can we edit memories?
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