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Sinto uma energia forte e doida cá dentro.
Como posso usá-la para o bem?
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Caro Thay, cara Sangha
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Tenho uma pergunta
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Por vezes, bem no fundo da minha alma,
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sinto energias loucas, muito poderosas.
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É algo que não consigo mesmo controlar.
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É como... algo lá bem no fundo....
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tão brilhante, tão profundo, tão forte.
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E não tenho conseguido controlar
estas energias na minha vida.
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E levam-me para lugares e situações
em que não consigo controlar nada.
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Mesmo extremas.
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Porque essa energia é tão forte. Às vezes,
sinto-me como uma vítima dessa energia.
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Por exemplo, se quero saber
algo sobre o mundo
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vou viajar e deixo essa energia guiar-me
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e chego a sítios onde há guerra ou
situações muito extremas.
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E não estou pronta para aceitar isso,
mas obtenho a minha resposta.
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A minha energia dá-me essa resposta.
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Sei que é complicado.
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E agora, quero acompanhar este tema
desta minha energia poderosa.
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Gostava que a minha alma...
Quero ser uma só...
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Quero direccionar essa energia
para um ponto exacto.
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Sinto-me tão pequena para o fazer,
porque esta energia é tão grande.
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Sinto que esta energia está
virada ao contrário em mim.
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E não sei direccioná-la
como ser humano que vive em sociedade
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até um ponto grande e claro,
por exemplo, para fazer alguma coisa...
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alguma coisa realmente concreta.
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Tento aplicar a atenção plena
e tento respirar profundamente
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e deixar as coisas virem.
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Mas gostaria de saber se Thay
tem algum conselho acerca disto.
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Espero ter sido clara. Obrigada.
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Pode repetir?
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Resumir?
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A nossa amiga diz que tem
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uma energia muito profunda e poderosa
dentro dela
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e por vezes acha que
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está à mercê desta energia.
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Faz com que ela faça isto e aquilo
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e nem sempre na melhor direcção
para ela.
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E quer dominar melhor esta energia.
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Quer ter uma capacidade de escolha
mais consciente acerca da direcção
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e concentrar as energias
para fazer algo concreto e positivo.
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E está a tentar praticar
atenção plena e respiração
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mas acha que não consegue ainda
dominar estas energias.
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Esta energia chega a ser muito forte
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e talvez a nossa atenção plena
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não seja suficientemente poderosa
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e nós queremos controlar.
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Mas a prática de Plum Village é
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não controlar
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porque se quiserem controlar
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estão a suprimir, de alguma maneira
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o que querem controlar
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A atenção plena apenas nos permite
reconhecer as coisas tal como são
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sem tentarmos controlar nada.
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Primeiro, usamos a atenção plena
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da respiração e do caminhar
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para reconhecer isso,
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para lhe dizer olá.
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Não tentem controlar,
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suprimir.
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E temos de saber que essa energia
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pode ter sido transmitida pelo nosso pai
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pela nossa mãe ou
pelos nossos antepassados.
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Foi isso que recebemos também dos
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nossos antepassados e da
nossa sociedade também.
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Queremos, portanto, entender
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a origem dessa energia
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de onde veio.
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Estamos interessados em reconhecê-la
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e entendê-la, mais do que
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em controlá-la.
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E essa energia pode ser
uma energia de hábito,
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um hábito que se formou ao longo de
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muitas gerações,
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durante um período superior ao que
decorreu desde o nosso nascimento até hoje
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Esse hábito, esse padrão de pensamento
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de discurso, de acção pode existir
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já há muito tempo.
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Herdámo-lo dos nossos pais
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e antepassados.
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O que temos de fazer é reconhecê-lo e
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aceitá-lo tal como é.
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E se soubermos como o aceitar assim
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sentir-nos-emos imediatamente melhor.
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Não tenham pressa de controlar.
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Reconhecer, como costumamos dizer
"reconhecimento simples"
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inspirando, reconheço-o.
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E quando reconhecemos
esta energia tal como é,
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ela deixa de nos forçar a fazer coisas
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que já não queremos fazer.
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Não temos de a remover,
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não temos de a controlar,
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não temos de a suprimir.
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O facto de a reconhecermos como um hábito
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pode dar-nos logo muita liberdade.
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Há vinte anos,
havia um jovem americano,
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praticante no Upper Hamlet.
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Um dia, os irmãos pediram-lhe para ir
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às compras para a comunidade.
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Estávamos a celebrar
o dia de Acção de Graças.
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E grupos de pessoas de diferentes
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nacionalidades iam cozinhar um prato
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para oferecer no altar dos antepassados.
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O grupo de americanos queria
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fazer tarte de abóbora que é algo
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muito americano.
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E o grupo de italianos cozinhariam
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um prato italiano.
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E colocaríamos as oferendas no
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altar dos antepassados.
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Durante a cerimónia, entramos em contacto
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com os nossos antepassados dentro de nós.
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Então o jovem foi enviado pela Sangha
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à cidade mais próxima
para fazer as compras.
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Mais tarde, contou-nos que
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quando foi a Saint Foy La Grande
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estava nas compras, quando,
de repente percebeu que estava
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a tentar despachar-se com as compras,
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para acabar rapidamente a tarefa,
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desejoso de fazer as compras
rapidamente e
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acabar o que tinha para fazer.
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Mas nas semanas anteriores
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não tinha sentido aquilo
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porque estava no Upper Hamlet
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no seio da energia colectiva dos irmãos,
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fazendo tudo lentamente,
com atenção plena
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e desfrutando disso.
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Nessas duas semanas, sentira-se bem
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caminhando, sentando-se, cozinhando
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com os irmãos no Upper Hamlet,
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tinha conseguido fazer tudo
lentamente, com atenção plena.
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Tudo correra bem.
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Mas quando foi enviado
a Sainte Foy La Grande
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ficou sozinho.
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Não foi guiado, envolvido,
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nem apoiado pela energia colectiva
da atenção plena.
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Foi por isso que se perdeu.
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A velha energia dos hábitos voltou
e forçou-o
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a despachar-se com as compras
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para acabar a tarefa rapidamente.
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E, de repente, lembrou-se,
reconheceu,
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essa energia de se apressar
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e entendeu que
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a sua mãe era assim.
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Ela era sempre assim.
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No momento em que inspirou e
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reconheceu a energia do hábito, disse:
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"Olá Mãe"
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"Sei que estás aí, com os teus hábitos."
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E subitamente, voltou a ficar calmo
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e continuou com as compras
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de novo com atenção plena e alegria.
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Isto quer dizer que
essa energia dos hábitos,
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quando é reconhecida, deixa de conseguir
empurrar-nos
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para fazermos o que não queremos fazer,
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para dizer o que não queremos dizer.
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Porque muitos de nós somos vítimas
desse tipo de hábitos.
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Há coisas que não queremos dizer.
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Há coisas que não queremos fazer.
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Sabemos que dizer isso, fazer isso
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trará sofrimento para nós e para
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a outra pessoa.
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Sabemos isso muito bem.
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Não queremos dizer nem fazer isso.
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Mas quando a situação se apresenta
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a energia do hábito força-nos
a fazer ou dizer isso mesmo.
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E depois de o termos feito,
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depois de o termos dito,
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arrependemo-nos.
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Batemos no peito,
arrancamos cabelos e dizemos:
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"Eu já sabia que não devia fazer aquilo."
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"Não devia dizer aquilo, mas então
por que o disse?"
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E prometo a mim mesmo que
da próxima vez,
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na mesma situação,
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não vou proceder assim,
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não vou falar assim
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e estou a ser muito sincero.
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Contudo, quando a situação se apresenta
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faço exactamente o mesmo,
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uma e outra vez.
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Esta é a energia do hábito.
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A prática em Plum Village é usar
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a respiração com atenção plena,
o caminhar com atenção plena
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para reconhecer essa energia.
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Não tentem controlá-la,
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não tentem destruí-la,
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sorriam-lhe e digam:
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"Olá!"
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"Minha velha amiga, sei que estás aí"
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"Já não me obrigas a fazer o mesmo"
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"Já não me obrigas a dizer o mesmo"
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Por isso, o simples reconhecimento
traz-nos liberdade
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e se continuarmos assim
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a nossa energia dos hábitos
transformar-se-á
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muito lentamente.
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Se forem boas energias,
boas energias de hábitos
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podemos ajudá-las a crescer.
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E se tivermos um propósito na vida,
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se tivermos uma boa vontade, um desejo
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de nos transformarmos e ajudar os outros
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a sofrerem menos,
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se soubermos exactamente
o que queremos fazer,
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então alimentamos esse tipo de inclinação.
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E se mantivermos essa intenção viva,
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se todos os dias recordarmos
essa intenção,
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o outro tipo de energias pode ser usado
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para alimentar este tipo de intenção.
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Este é um tipo de alimento,
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chamado vontade,
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boa intenção.
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Uma pessoa com uma boa intenção
de... criar
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uma boa energia para si e
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para o mundo,
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conseguirá utilizar
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todo o tipo de energias
que tem dentro de si
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para servir esse propósito.
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A resposta tem dois aspectos:
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o primeiro é reconhecer a energia
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e o segundo é canalizá-la
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no sentido em que queremos
que ela seja útil.
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ligue-se, nutra-se, inspire-se
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