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Vamos falar sobre a morte | Stephen Cave | TEDxBratislava

  • 0:11 - 0:14
    Boa noite, senhoras e senhores.
  • 0:15 - 0:17
    Quero começar com uma pergunta:
  • 0:17 - 0:24
    quem aqui se lembra do momento
    que descobriu que ia morrer?
  • 0:24 - 0:26
    Eu me lembro.
  • 0:26 - 0:30
    Eu era menino,
    e meu avô tinha acabado de morrer.
  • 0:30 - 0:33
    E me lembro de, alguns dias depois,
  • 0:33 - 0:37
    estar deitado na cama à noite,
    tentando entender o que tinha acontecido.
  • 0:37 - 0:40
    O que significava ele estar morto?
  • 0:40 - 0:42
    Para onde ele tinha ido?
  • 0:42 - 0:47
    É como se ele tivesse sido engolido
    por um buraco aberto na realidade.
  • 0:48 - 0:50
    E aí me ocorreu um pensamento
    realmente chocante:
  • 0:50 - 0:54
    se ele morreu,
    pode acontecer comigo também!
  • 0:54 - 0:57
    Será que aquele buraco na realidade
    poderia me engolir também?
  • 0:57 - 1:01
    Será que ia se abrir debaixo da minha cama
    para me engolir enquanto eu dormia?
  • 1:02 - 1:07
    Bem, em algum momento todas
    as crianças tomam consciência da morte.
  • 1:07 - 1:10
    Acontece de muitas formas,
    é claro, e costuma ser gradual.
  • 1:10 - 1:13
    A ideia da morte evolui
    à medida que envelhecemos
  • 1:13 - 1:18
    e, se vasculharmos
    os escaninhos da memória,
  • 1:18 - 1:23
    vamos nos lembrar de algo semelhante
    ao que senti quando meu avô morreu
  • 1:23 - 1:26
    e quando percebi que poderia
    acontecer comigo também.
  • 1:26 - 1:31
    Aquela sensação de que,
    por trás disso tudo, o vazio nos espreita.
  • 1:32 - 1:37
    E essa percepção na infância reflete
    a nossa percepção enquanto espécie,
  • 1:37 - 1:42
    assim como houve um momento
    no seu desenvolvimento como criança
  • 1:42 - 1:46
    em que o sentimento do eu e do tempo
    se tornou sofisticado o suficiente
  • 1:46 - 1:49
    para vocês perceberem que eram mortais.
  • 1:50 - 1:53
    Assim, em algum ponto da evolução
    da nossa espécie,
  • 1:53 - 1:59
    algum senso humano remoto do eu e do
    tempo se tornou sofisticado o bastante
  • 1:59 - 2:03
    para que estes fossem os primeiros
    seres humanos a perceber: "vou morrer".
  • 2:05 - 2:08
    Trata-se, se preferirem, de uma maldição:
  • 2:08 - 2:11
    é o preço que pagamos por sermos
    tremendamente inteligentes.
  • 2:11 - 2:14
    Temos de conviver com a consciência
  • 2:14 - 2:18
    de que a pior coisa que pode nos acontecer
    certamente vai acontecer um dia.
  • 2:18 - 2:23
    O fim dos nossos projetos, esperanças,
    sonhos, do nosso mundo individual.
  • 2:23 - 2:28
    Cada um de nós vive à sombra
    de um apocalipse pessoal.
  • 2:29 - 2:33
    E é assustador! É pavoroso,
    por isso, procuramos uma saída.
  • 2:33 - 2:36
    No meu caso, quando tinha uns cinco anos,
  • 2:36 - 2:39
    fui perguntar à minha mãe.
  • 2:40 - 2:44
    Bem, quando comecei a perguntar:
    "O que acontece quando a gente morre?",
  • 2:44 - 2:48
    os adultos ao meu redor à época
    responderam num típico misto inglês
  • 2:48 - 2:52
    de estranhamento e cristandade ambígua.
  • 2:52 - 2:55
    E a resposta que mais ouvi
    foi que agora o vovô estava
  • 2:55 - 2:58
    "lá em cima olhando por nós".
  • 2:58 - 3:01
    E, se eu morresse também,
    o que não aconteceria, é claro,
  • 3:01 - 3:03
    eu também iria lá para cima.
  • 3:03 - 3:07
    O que fazia a morte soar mais
    como um elevador existencial.
  • 3:07 - 3:09
    (Risos)
  • 3:09 - 3:12
    O que não me parecia lá muito plausível.
  • 3:12 - 3:15
    Na época, eu costumava assistir
    a um jornal para crianças,
  • 3:15 - 3:17
    e estávamos vivendo
    a era da exploração espacial.
  • 3:17 - 3:20
    Sempre havia foguetes voando para o céu,
  • 3:20 - 3:22
    subindo ao espaço, indo "lá pra cima".
  • 3:22 - 3:24
    Mas nenhum dos astronautas, ao voltar,
  • 3:24 - 3:27
    jamais mencionou ter encontrado meu avô.
  • 3:27 - 3:29
    Ou qualquer outra pessoa morta.
  • 3:29 - 3:34
    Mas, como eu estava com medo,
    a ideia de pegar o elevador existencial
  • 3:34 - 3:36
    para ver meu avô soava um pouco melhor
  • 3:36 - 3:40
    do que ser engolido pelo vazio
    enquanto dormia.
  • 3:40 - 3:44
    E daí eu acreditei nisso,
    mesmo não fazendo muito sentido.
  • 3:45 - 3:48
    E esse processo de pensamento
    que tive quando criança,
  • 3:48 - 3:51
    e tenho tido muitas vezes
    desde então, até mesmo como adulto,
  • 3:51 - 3:55
    é um produto do que os psicólogos
    chamam de "distorção",
  • 3:55 - 4:00
    Distorção é a forma pela qual entendemos
    algo errado sistematicamente,
  • 4:00 - 4:04
    calculamos mal, interpretamos errado,
    distorcemos a realidade,
  • 4:04 - 4:06
    ou vemos o que queremos ver.
  • 4:06 - 4:10
    E a distorção sobre a qual
    estou falando funciona assim:
  • 4:10 - 4:14
    confronte uma pessoa
    com o fato de que ela vai morrer,
  • 4:14 - 4:18
    e ela vai acreditar em quase qualquer
    coisa que lhe assegure que não é verdade
  • 4:18 - 4:21
    e que, invés disso, vai viver para sempre.
  • 4:21 - 4:25
    Mesmo que signifique pegar
    o elevador existencial.
  • 4:26 - 4:30
    Bem, esta pode ser considerada
    a maior distorção de todas.
  • 4:30 - 4:34
    Isso foi demonstrado
    em cerca de 400 estudos empíricos.
  • 4:34 - 4:38
    Esses estudos são engenhosos,
    mas simples, e funcionam assim:
  • 4:38 - 4:43
    pegamos dois grupos de pessoas
    parecidas em todos os aspectos relevantes
  • 4:43 - 4:47
    e lembramos a um dos grupos
    que eles vão morrer, e ao outro não,
  • 4:47 - 4:49
    e aí comparamos o comportamento deles.
  • 4:49 - 4:52
    Dessa forma, é possível observar
    a influência no comportamento
  • 4:52 - 4:56
    quando as pessoas ficam
    conscientes de sua mortalidade.
  • 4:56 - 4:59
    E sempre se chega ao mesmo resultado:
  • 4:59 - 5:01
    as pessoas lembradas de sua mortalidade
  • 5:01 - 5:06
    são mais propensas a crer em histórias
    que dizem que elas podem escapar da morte
  • 5:06 - 5:07
    e viver para sempre.
  • 5:07 - 5:12
    Eis aqui um exemplo: um estudo recente
    pegou dois grupos de agnósticos,
  • 5:12 - 5:16
    que são pessoas indecisas
    quanto às suas crenças religiosas.
  • 5:16 - 5:20
    Daí, pediu-se a um dos grupos
    para pensar sobre a morte,
  • 5:20 - 5:23
    e pediu-se ao outro grupo
    para pensar sobre a solidão.
  • 5:23 - 5:27
    Perguntou-se a eles novamente
    sobre suas crenças religiosas:
  • 5:27 - 5:29
    aqueles que pensaram sobre a morte
  • 5:29 - 5:35
    estavam duas vezes mais propensos
    a expressar fé em Deus e em Jesus.
  • 5:35 - 5:37
    Duas vezes mais.
  • 5:37 - 5:39
    Mesmo sendo ambos
    os grupos igualmente agnósticos.
  • 5:39 - 5:43
    Mas, coloque o medo da morte
    neles, e eles correm para Jesus.
  • 5:45 - 5:50
    Bem, isso demonstra que lembrar a morte
    às pessoas as deixa propensas a crer,
  • 5:50 - 5:52
    independentemente de evidência.
  • 5:52 - 5:56
    E isso não funciona só para a religião,
    mas em qualquer tipo de sistema de crença
  • 5:56 - 5:59
    que prometa a imortalidade
    sob qualquer forma:
  • 5:59 - 6:04
    seja ficando famoso, seja tendo filhos,
    ou mesmo o nacionalismo
  • 6:04 - 6:07
    que promete que você pode viver
    como parte de um grande todo.
  • 6:07 - 6:11
    Essa é uma distorção que moldou
    o curso da história humana.
  • 6:12 - 6:17
    A teoria subjacente à distorção
    nesses quase 400 estudos é chamada
  • 6:17 - 6:19
    de teoria do gerenciamento do terror.
  • 6:19 - 6:21
    E a ideia é simples assim:
  • 6:21 - 6:26
    desenvolvemos nossa visão de mundo,
    que são as histórias que nos contamos
  • 6:26 - 6:28
    sobre o mundo e nosso lugar nele,
  • 6:28 - 6:32
    para nos ajudar a lidar
    com o pavor da morte.
  • 6:33 - 6:38
    E essas histórias de imortalidade têm
    milhares de diferentes manifestações.
  • 6:38 - 6:43
    Mas acredito que, por trás dessa
    aparente diversidade, existam, na verdade,
  • 6:43 - 6:49
    apenas quatro formas básicas que essas
    histórias de imortalidade podem tomar.
  • 6:50 - 6:53
    E percebemos que elas se repetem
    ao longo da história
  • 6:53 - 6:57
    com apenas leves variações
    para refletir a linguagem em voga.
  • 6:57 - 7:02
    Vou abordar rapidamente essas quatro
    formas básicas de história de imortalidade
  • 7:02 - 7:06
    e tentar dar algum sentido
    para a forma como elas são recontadas
  • 7:06 - 7:08
    por cada cultura ou geração
  • 7:08 - 7:10
    usando o vocabulário de cada época.
  • 7:10 - 7:16
    Bem, a primeira história é a mais simples:
    queremos evitar a morte.
  • 7:17 - 7:20
    E o sonho de fazer isso neste corpo,
    neste mundo, para sempre,
  • 7:20 - 7:23
    é o primeiro e mais simples tipo
    de história de imortalidade.
  • 7:23 - 7:26
    E pode, à primeira vista,
    parecer pouco plausível,
  • 7:26 - 7:29
    mas, na verdade, quase todas
    as culturas da história humana
  • 7:29 - 7:34
    tiveram algum mito ou lenda
    sobre o elixir da longa vida
  • 7:34 - 7:37
    ou da fonte da juventude
    ou de algo que prometa
  • 7:37 - 7:39
    nos manter vivos para sempre.
  • 7:41 - 7:44
    No Egito antigo, havia tais mitos,
    na Babilônia antiga, na antiga Índia,
  • 7:44 - 7:48
    na história europeia, nós os encontramos
    no trabalho dos alquimistas
  • 7:48 - 7:50
    e, é claro, ainda hoje acreditamos neles.
  • 7:50 - 7:54
    A diferença é que contamos esta
    história usando a linguagem da ciência.
  • 7:54 - 7:58
    Assim, centenas de anos atrás,
    com os hormônios recém-descobertos,
  • 7:58 - 8:02
    esperava-se que os tratamentos hormonais
    fossem curar a velhice e a doença.
  • 8:02 - 8:06
    Em vez disso, hoje nossa esperança está
    nas células-tronco, na engenharia genética
  • 8:06 - 8:08
    e na nanotecnologia.
  • 8:08 - 8:11
    Mas a ideia de que a ciência
    possa "curar" a morte
  • 8:11 - 8:16
    é apenas mais um capítulo
    na história do elixir mágico,
  • 8:16 - 8:20
    uma história tão velha
    quanto a civilização.
  • 8:20 - 8:23
    No entanto, apostar tudo na ideia
    de encontrar o elixir
  • 8:23 - 8:26
    e viver para sempre
    é uma estratégia arriscada.
  • 8:26 - 8:28
    Quando voltamos na história
  • 8:28 - 8:31
    procurando aqueles que buscaram
    um elixir no passado,
  • 8:31 - 8:35
    descobrimos que a única coisa em comum
    entre eles é que estão todos mortos.
  • 8:35 - 8:36
    (Risos).
  • 8:36 - 8:39
    Daí, precisamos de um plano reserva,
    e é exatamente esse plano B
  • 8:39 - 8:43
    que o segundo tipo de história
    de imortalidade oferece,
  • 8:43 - 8:45
    que é a ressurreição.
  • 8:45 - 8:48
    E se assenta na ideia
    de que eu sou este corpo,
  • 8:48 - 8:52
    eu sou este organismo físico,
    aceita a ideia de que vou ter de morrer,
  • 8:52 - 8:56
    mas sustenta que, apesar disso,
    posso me levantar e viver novamente.
  • 8:56 - 8:58
    Em suma, posso fazer o que Jesus fez.
  • 8:58 - 9:02
    Jesus morreu, ficou três dias no sepulcro,
    se levantou e viveu novamente.
  • 9:03 - 9:08
    E a ideia de podermos ressuscitar
    e viver novamente é uma crença ortodoxa,
  • 9:08 - 9:11
    não apenas para os cristãos,
    mas para os judeus e os muçulmanos.
  • 9:11 - 9:15
    Mas nossa vontade de acreditar nesta
    história está tão profundamente arraigada
  • 9:15 - 9:19
    que a estamos reinventando
    novamente na era científica,
  • 9:19 - 9:22
    por exemplo, com a ideia dos criônicos.
  • 9:22 - 9:26
    É a ideia de que, ao morrer,
    você pode ser congelado,
  • 9:26 - 9:29
    e aí, eventualmente, quando a tecnologia
    for avançada o suficiente,
  • 9:29 - 9:33
    você pode ser descongelado
    e consertado, revivido e ressuscitado.
  • 9:33 - 9:37
    Assim, alguns acreditam
    num Deus onipotente que os ressuscitará,
  • 9:37 - 9:41
    e outros acreditam que um cientista
    onipotente assim o fará.
  • 9:41 - 9:44
    Mas, para outros,
    a ideia toda da ressurreição,
  • 9:44 - 9:48
    de se levantar do sepulcro, é parecida
    demais com um filme B sobre zumbis.
  • 9:48 - 9:53
    Consideram o corpo detonado demais, pouco
    confiável para garantir a vida eterna.
  • 9:53 - 9:56
    Assim, eles jogam suas esperanças
    na terceira história,
  • 9:56 - 9:59
    a mais espiritual de todas,
  • 9:59 - 10:03
    a ideia de que deixamos nosso corpo
    para trás para viver como uma alma.
  • 10:03 - 10:07
    A maioria das pessoas do planeta
    acreditam que têm uma alma,
  • 10:07 - 10:10
    uma ideia central em muitas religiões.
  • 10:10 - 10:14
    Mas, mesmo em sua forma atual
    e em sua forma tradicional,
  • 10:14 - 10:16
    a ideia da alma ainda é altamente popular,
  • 10:16 - 10:20
    apesar de estarmos novamente
    a reinventando na era digital,
  • 10:20 - 10:23
    por exemplo, com a ideia
    de deixar o corpo para trás
  • 10:23 - 10:27
    e transferir sua mente, sua essência,
    o seu verdadeiro eu para um computador,
  • 10:27 - 10:31
    e viver daí por diante
    como um avatar no éter.
  • 10:32 - 10:36
    Mas, claro, há céticos que dizem que,
    se olharmos para a evidência da ciência,
  • 10:36 - 10:41
    particularmente a neurociência, ela sugere
    que a mente, sua essência, o eu real,
  • 10:41 - 10:44
    é bastante dependente
    de uma parte particular do corpo,
  • 10:44 - 10:45
    que é o cérebro.
  • 10:45 - 10:50
    E tais céticos conseguem encontrar
    alento no quarto tipo de história,
  • 10:50 - 10:52
    que é o legado.
  • 10:52 - 10:57
    A ideia de continuar a viver
    por meio do eco deixado no mundo.
  • 10:57 - 11:01
    Como o grande lutador grego Aquiles,
    que sacrificou sua vida lutando em Troia,
  • 11:01 - 11:04
    para ganhar fama imortal.
  • 11:05 - 11:07
    E a busca pela fama nunca
    foi tão disseminada e popular
  • 11:07 - 11:09
    como hoje em dia.
  • 11:09 - 11:12
    E, em nossa era digital,
    é até mais fácil de alcançar.
  • 11:12 - 11:16
    Não precisa ser um grande guerreiro
    como Aquiles ou um grande rei ou herói,
  • 11:16 - 11:20
    basta ter uma conexão de internet
    e um gato engraçado.
  • 11:20 - 11:21
    (Risos)
  • 11:21 - 11:26
    Algumas pessoas preferem deixar um legado
    mais tangível, biológico, como filhos.
  • 11:26 - 11:30
    Ou elas meio que esperam viver
    como parte de um todo maior
  • 11:30 - 11:34
    uma nação, ou família, ou tribo
    ou seu patrimônio genético.
  • 11:35 - 11:40
    Mas, de novo, existem céticos que duvidam
    se o legado é mesmo a imortalidade.
  • 11:40 - 11:42
    Woody Allen, por exemplo, disse:
  • 11:42 - 11:45
    "Não quero continuar vivo
    nos corações dos meus compatriotas.
  • 11:45 - 11:47
    Prefiro continuar vivo
    no meu apartamento".
  • 11:47 - 11:48
    (Risos)
  • 11:48 - 11:52
    E, para continuar vivo no apartamento,
    precisará de um elixir, é claro.
  • 11:52 - 11:56
    Que foi nosso primeiro tipo
    de história de imortalidade.
  • 11:56 - 11:59
    Assim, eis os quatro tipos básicos
    de histórias de imortalidade
  • 11:59 - 12:03
    e eu simplesmente tentei explicar
    como são recontadas por cada geração,
  • 12:03 - 12:07
    com apenas pequenas variações
    para se ajustar à moda da época.
  • 12:07 - 12:12
    E o fato de serem recorrentes
    de uma forma tão semelhante,
  • 12:12 - 12:15
    mas em sistemas tão diferentes
    de crenças, sugerem, penso eu,
  • 12:15 - 12:16
    que devemos ser céticos
  • 12:16 - 12:20
    sobre a verdade de qualquer
    versão particular dessas histórias.
  • 12:21 - 12:23
    O fato de alguns acreditarem
  • 12:23 - 12:26
    que um Deus onipotente
    vai ressuscitá-los para viver novamente,
  • 12:26 - 12:30
    e outros acreditaram que um cientista
    onipotente vai fazer isso,
  • 12:30 - 12:35
    sugere que nenhum deles está realmente
    se baseando na força da evidência.
  • 12:35 - 12:40
    Na verdade, acreditamos nessas histórias
    por sermos influenciados a fazê-lo,
  • 12:40 - 12:45
    e somos influenciados a acreditar nelas
    porque temos muito medo da morte.
  • 12:46 - 12:51
    Assim, a pergunta é: estamos fadados
    a viver a única vida que temos
  • 12:51 - 12:55
    de uma maneira forjada
    pelo medo e pela negação?
  • 12:55 - 12:58
    Ou podemos superar esta distorção?
  • 12:58 - 13:02
    Bem, o filósofo grego Epicuro
    achava que sim.
  • 13:03 - 13:08
    Ele sustenta que o medo da morte
    é natural, mas não é racional.
  • 13:09 - 13:12
    A morte, ele disse, não é nada para nós,
  • 13:12 - 13:14
    pois, quando estamos aqui,
    a morte não está,
  • 13:14 - 13:17
    e, quando a morte estiver aqui,
    já teremos ido.
  • 13:19 - 13:23
    Isso sempre é citado, mas é difícil
    de entender de verdade, internalizar,
  • 13:23 - 13:27
    exatamente por ser muito difícil
    lidar com essa ideia de desaparecer.
  • 13:27 - 13:31
    Assim, dois mil anos depois,
    outro filósofo, Ludovic Wittgenstein,
  • 13:31 - 13:32
    colocou desta forma:
  • 13:32 - 13:35
    a morte não é um evento da vida,
  • 13:35 - 13:39
    não vivemos para experimentar a morte.
  • 13:40 - 13:43
    E disse mais: neste sentido, a vida
    não tem fim.
  • 13:44 - 13:49
    Assim, era natural para mim, como criança,
    temer ser engolido pelo vazio,
  • 13:49 - 13:53
    mas não era racional,
    pois ser engolido pelo vazio
  • 13:53 - 13:57
    não é algo que nenhum de nós
    vai viver para experimentar.
  • 13:58 - 14:00
    Mas superar esta distorção não é fácil,
  • 14:00 - 14:03
    pois o medo da morte está
    profundamente enraizado na gente.
  • 14:03 - 14:08
    Por isso, quando percebemos
    que o próprio medo não é racional
  • 14:09 - 14:11
    e trazemos à luz
  • 14:11 - 14:13
    como isso pode inconscientemente
    nos influenciar,
  • 14:13 - 14:16
    podemos, então, pelo menos,
    começar a tentar
  • 14:16 - 14:19
    minimizar a influência
    que tem em nossas vidas.
  • 14:19 - 14:24
    Acho que ajuda se enxergarmos
    a vida como um livro.
  • 14:24 - 14:28
    Assim como um livro está limitado
    por suas capas, pelo começo e pelo fim,
  • 14:28 - 14:31
    assim também nossas vidas estão
    limitadas por nascimento e morte.
  • 14:31 - 14:35
    E, mesmo o livro estando limitado
    pelo começo e pelo fim,
  • 14:35 - 14:40
    ele consegue abarcar paisagens distantes,
    figuras exóticas, aventuras fantásticas.
  • 14:40 - 14:44
    E, mesmo o livro estando limitado
    pelo começo e pelo fim,
  • 14:44 - 14:48
    seus personagens não conhecem horizontes.
  • 14:48 - 14:52
    Eles conhecem apenas os momentos
    que constroem sua história,
  • 14:52 - 14:54
    mesmo quando o livro está fechado.
  • 14:54 - 15:00
    E, assim, os personagens do livro
    não têm medo de chegar à última página.
  • 15:00 - 15:04
    Long John Silver não tem medo do leitor
    chegar ao fim de "A Ilha do Tesouro".
  • 15:05 - 15:07
    E devia ser assim também com a gente.
  • 15:07 - 15:11
    Imaginem o livro da sua vida, a capa dele,
    o início e o fim sendo, respectivamente,
  • 15:11 - 15:12
    o nascimento e a morte.
  • 15:12 - 15:14
    Vocês conhecem apenas
    o que acontece no meio,
  • 15:14 - 15:16
    os momentos que constroem sua vida.
  • 15:16 - 15:20
    Não faz sentido ter medo
    do que acontece fora dessas capas,
  • 15:20 - 15:23
    tanto antes do seu nascimento,
    quanto depois da sua morte.
  • 15:23 - 15:26
    E não precisam se preocupar
    com o tamanho do livro,
  • 15:26 - 15:29
    se é uma tirinha de quadrinhos
    ou se é um épico.
  • 15:29 - 15:34
    O que realmente importa é
    que vocês façam dele uma boa história.
  • 15:34 - 15:36
    Obrigado.
  • 15:36 - 15:39
    (Aplausos).
Title:
Vamos falar sobre a morte | Stephen Cave | TEDxBratislava
Description:

Esta palestra foi dada num evento TEDx local, produzido independentemente das Conferências TED.

Morte. Assunto meio pesado. E, de acordo com Stephen Cave, temos tanto medo da morte que evitamos a todo custo pensar sobre ela, mesmo quando a morte é exatamente o tema sobre o qual pensamos estar falando. No TEDxBratislava, ele delineia as quatro narrativas mais comuns que as culturas, ao longo da história, usaram para se esquivar de pensar na morte, e nos dá uma razão para evitar a armadilha de nos preocuparmos com a morte e começarmos a pôr o foco na vida.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
15:59

Portuguese, Brazilian subtitles

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