1 00:00:11,410 --> 00:00:14,139 Boa noite, senhoras e senhores. 2 00:00:15,111 --> 00:00:17,293 Quero começar com uma pergunta: 3 00:00:17,293 --> 00:00:23,953 quem aqui se lembra do momento que descobriu que ia morrer? 4 00:00:23,953 --> 00:00:25,564 Eu me lembro. 5 00:00:25,564 --> 00:00:29,654 Eu era menino, e meu avô tinha acabado de morrer. 6 00:00:29,654 --> 00:00:32,580 E me lembro de, alguns dias depois, 7 00:00:32,580 --> 00:00:36,764 estar deitado na cama à noite, tentando entender o que tinha acontecido. 8 00:00:36,764 --> 00:00:40,111 O que significava ele estar morto? 9 00:00:40,111 --> 00:00:42,346 Para onde ele tinha ido? 10 00:00:42,346 --> 00:00:46,605 É como se ele tivesse sido engolido por um buraco aberto na realidade. 11 00:00:47,623 --> 00:00:49,911 E aí me ocorreu um pensamento realmente chocante: 12 00:00:49,911 --> 00:00:53,660 se ele morreu, pode acontecer comigo também! 13 00:00:53,660 --> 00:00:56,991 Será que aquele buraco na realidade poderia me engolir também? 14 00:00:56,991 --> 00:01:00,716 Será que ia se abrir debaixo da minha cama para me engolir enquanto eu dormia? 15 00:01:01,846 --> 00:01:06,539 Bem, em algum momento todas as crianças tomam consciência da morte. 16 00:01:06,539 --> 00:01:10,033 Acontece de muitas formas, é claro, e costuma ser gradual. 17 00:01:10,033 --> 00:01:13,483 A ideia da morte evolui à medida que envelhecemos 18 00:01:13,483 --> 00:01:17,625 e, se vasculharmos os escaninhos da memória, 19 00:01:17,625 --> 00:01:22,705 vamos nos lembrar de algo semelhante ao que senti quando meu avô morreu 20 00:01:22,705 --> 00:01:25,997 e quando percebi que poderia acontecer comigo também. 21 00:01:25,997 --> 00:01:30,692 Aquela sensação de que, por trás disso tudo, o vazio nos espreita. 22 00:01:31,597 --> 00:01:36,811 E essa percepção na infância reflete a nossa percepção enquanto espécie, 23 00:01:36,811 --> 00:01:41,849 assim como houve um momento no seu desenvolvimento como criança 24 00:01:41,849 --> 00:01:46,250 em que o sentimento do eu e do tempo se tornou sofisticado o suficiente 25 00:01:46,250 --> 00:01:49,412 para vocês perceberem que eram mortais. 26 00:01:50,356 --> 00:01:53,446 Assim, em algum ponto da evolução da nossa espécie, 27 00:01:53,446 --> 00:01:59,332 algum senso humano remoto do eu e do tempo se tornou sofisticado o bastante 28 00:01:59,332 --> 00:02:03,325 para que estes fossem os primeiros seres humanos a perceber: "vou morrer". 29 00:02:05,454 --> 00:02:07,585 Trata-se, se preferirem, de uma maldição: 30 00:02:07,585 --> 00:02:11,395 é o preço que pagamos por sermos tremendamente inteligentes. 31 00:02:11,395 --> 00:02:13,835 Temos de conviver com a consciência 32 00:02:13,835 --> 00:02:18,070 de que a pior coisa que pode nos acontecer certamente vai acontecer um dia. 33 00:02:18,070 --> 00:02:23,142 O fim dos nossos projetos, esperanças, sonhos, do nosso mundo individual. 34 00:02:23,142 --> 00:02:27,567 Cada um de nós vive à sombra de um apocalipse pessoal. 35 00:02:28,601 --> 00:02:33,234 E é assustador! É pavoroso, por isso, procuramos uma saída. 36 00:02:33,234 --> 00:02:36,169 No meu caso, quando tinha uns cinco anos, 37 00:02:36,169 --> 00:02:38,725 fui perguntar à minha mãe. 38 00:02:39,700 --> 00:02:43,928 Bem, quando comecei a perguntar: "O que acontece quando a gente morre?", 39 00:02:43,928 --> 00:02:47,983 os adultos ao meu redor à época responderam num típico misto inglês 40 00:02:47,983 --> 00:02:51,714 de estranhamento e cristandade ambígua. 41 00:02:51,714 --> 00:02:55,123 E a resposta que mais ouvi foi que agora o vovô estava 42 00:02:55,123 --> 00:02:58,092 "lá em cima olhando por nós". 43 00:02:58,092 --> 00:03:00,806 E, se eu morresse também, o que não aconteceria, é claro, 44 00:03:00,806 --> 00:03:03,448 eu também iria lá para cima. 45 00:03:03,448 --> 00:03:07,071 O que fazia a morte soar mais como um elevador existencial. 46 00:03:07,071 --> 00:03:08,811 (Risos) 47 00:03:08,811 --> 00:03:11,510 O que não me parecia lá muito plausível. 48 00:03:11,510 --> 00:03:14,939 Na época, eu costumava assistir a um jornal para crianças, 49 00:03:14,939 --> 00:03:17,231 e estávamos vivendo a era da exploração espacial. 50 00:03:17,231 --> 00:03:19,527 Sempre havia foguetes voando para o céu, 51 00:03:19,527 --> 00:03:21,795 subindo ao espaço, indo "lá pra cima". 52 00:03:21,795 --> 00:03:24,230 Mas nenhum dos astronautas, ao voltar, 53 00:03:24,230 --> 00:03:27,076 jamais mencionou ter encontrado meu avô. 54 00:03:27,083 --> 00:03:29,443 Ou qualquer outra pessoa morta. 55 00:03:29,443 --> 00:03:33,692 Mas, como eu estava com medo, a ideia de pegar o elevador existencial 56 00:03:33,692 --> 00:03:36,042 para ver meu avô soava um pouco melhor 57 00:03:36,042 --> 00:03:39,693 do que ser engolido pelo vazio enquanto dormia. 58 00:03:39,693 --> 00:03:43,717 E daí eu acreditei nisso, mesmo não fazendo muito sentido. 59 00:03:44,763 --> 00:03:47,777 E esse processo de pensamento que tive quando criança, 60 00:03:47,777 --> 00:03:50,839 e tenho tido muitas vezes desde então, até mesmo como adulto, 61 00:03:50,839 --> 00:03:55,133 é um produto do que os psicólogos chamam de "distorção", 62 00:03:55,133 --> 00:03:59,961 Distorção é a forma pela qual entendemos algo errado sistematicamente, 63 00:03:59,961 --> 00:04:04,245 calculamos mal, interpretamos errado, distorcemos a realidade, 64 00:04:04,245 --> 00:04:05,990 ou vemos o que queremos ver. 65 00:04:05,990 --> 00:04:09,809 E a distorção sobre a qual estou falando funciona assim: 66 00:04:09,809 --> 00:04:13,780 confronte uma pessoa com o fato de que ela vai morrer, 67 00:04:13,780 --> 00:04:18,326 e ela vai acreditar em quase qualquer coisa que lhe assegure que não é verdade 68 00:04:18,326 --> 00:04:20,772 e que, invés disso, vai viver para sempre. 69 00:04:20,772 --> 00:04:24,898 Mesmo que signifique pegar o elevador existencial. 70 00:04:25,682 --> 00:04:29,568 Bem, esta pode ser considerada a maior distorção de todas. 71 00:04:29,568 --> 00:04:34,021 Isso foi demonstrado em cerca de 400 estudos empíricos. 72 00:04:34,021 --> 00:04:37,949 Esses estudos são engenhosos, mas simples, e funcionam assim: 73 00:04:37,949 --> 00:04:42,617 pegamos dois grupos de pessoas parecidas em todos os aspectos relevantes 74 00:04:42,617 --> 00:04:46,823 e lembramos a um dos grupos que eles vão morrer, e ao outro não, 75 00:04:46,823 --> 00:04:48,775 e aí comparamos o comportamento deles. 76 00:04:48,775 --> 00:04:52,336 Dessa forma, é possível observar a influência no comportamento 77 00:04:52,336 --> 00:04:55,750 quando as pessoas ficam conscientes de sua mortalidade. 78 00:04:55,750 --> 00:04:58,916 E sempre se chega ao mesmo resultado: 79 00:04:58,916 --> 00:05:00,977 as pessoas lembradas de sua mortalidade 80 00:05:00,977 --> 00:05:05,663 são mais propensas a crer em histórias que dizem que elas podem escapar da morte 81 00:05:05,663 --> 00:05:07,199 e viver para sempre. 82 00:05:07,199 --> 00:05:12,115 Eis aqui um exemplo: um estudo recente pegou dois grupos de agnósticos, 83 00:05:12,115 --> 00:05:16,172 que são pessoas indecisas quanto às suas crenças religiosas. 84 00:05:16,172 --> 00:05:20,442 Daí, pediu-se a um dos grupos para pensar sobre a morte, 85 00:05:20,442 --> 00:05:23,487 e pediu-se ao outro grupo para pensar sobre a solidão. 86 00:05:23,487 --> 00:05:27,210 Perguntou-se a eles novamente sobre suas crenças religiosas: 87 00:05:27,210 --> 00:05:29,350 aqueles que pensaram sobre a morte 88 00:05:29,350 --> 00:05:34,598 estavam duas vezes mais propensos a expressar fé em Deus e em Jesus. 89 00:05:34,598 --> 00:05:36,548 Duas vezes mais. 90 00:05:36,548 --> 00:05:39,454 Mesmo sendo ambos os grupos igualmente agnósticos. 91 00:05:39,454 --> 00:05:43,153 Mas, coloque o medo da morte neles, e eles correm para Jesus. 92 00:05:45,140 --> 00:05:50,054 Bem, isso demonstra que lembrar a morte às pessoas as deixa propensas a crer, 93 00:05:50,054 --> 00:05:51,952 independentemente de evidência. 94 00:05:51,952 --> 00:05:55,767 E isso não funciona só para a religião, mas em qualquer tipo de sistema de crença 95 00:05:55,767 --> 00:05:59,037 que prometa a imortalidade sob qualquer forma: 96 00:05:59,037 --> 00:06:03,912 seja ficando famoso, seja tendo filhos, ou mesmo o nacionalismo 97 00:06:03,912 --> 00:06:07,093 que promete que você pode viver como parte de um grande todo. 98 00:06:07,093 --> 00:06:10,719 Essa é uma distorção que moldou o curso da história humana. 99 00:06:12,392 --> 00:06:16,580 A teoria subjacente à distorção nesses quase 400 estudos é chamada 100 00:06:16,580 --> 00:06:18,550 de teoria do gerenciamento do terror. 101 00:06:18,550 --> 00:06:20,640 E a ideia é simples assim: 102 00:06:20,640 --> 00:06:25,673 desenvolvemos nossa visão de mundo, que são as histórias que nos contamos 103 00:06:25,673 --> 00:06:28,396 sobre o mundo e nosso lugar nele, 104 00:06:28,396 --> 00:06:32,433 para nos ajudar a lidar com o pavor da morte. 105 00:06:33,315 --> 00:06:37,637 E essas histórias de imortalidade têm milhares de diferentes manifestações. 106 00:06:37,637 --> 00:06:42,841 Mas acredito que, por trás dessa aparente diversidade, existam, na verdade, 107 00:06:42,841 --> 00:06:48,836 apenas quatro formas básicas que essas histórias de imortalidade podem tomar. 108 00:06:49,709 --> 00:06:53,342 E percebemos que elas se repetem ao longo da história 109 00:06:53,342 --> 00:06:57,483 com apenas leves variações para refletir a linguagem em voga. 110 00:06:57,483 --> 00:07:02,099 Vou abordar rapidamente essas quatro formas básicas de história de imortalidade 111 00:07:02,099 --> 00:07:05,609 e tentar dar algum sentido para a forma como elas são recontadas 112 00:07:05,609 --> 00:07:07,661 por cada cultura ou geração 113 00:07:07,661 --> 00:07:10,123 usando o vocabulário de cada época. 114 00:07:10,123 --> 00:07:15,965 Bem, a primeira história é a mais simples: queremos evitar a morte. 115 00:07:16,561 --> 00:07:20,041 E o sonho de fazer isso neste corpo, neste mundo, para sempre, 116 00:07:20,041 --> 00:07:23,309 é o primeiro e mais simples tipo de história de imortalidade. 117 00:07:23,309 --> 00:07:25,772 E pode, à primeira vista, parecer pouco plausível, 118 00:07:25,772 --> 00:07:29,419 mas, na verdade, quase todas as culturas da história humana 119 00:07:29,419 --> 00:07:33,594 tiveram algum mito ou lenda sobre o elixir da longa vida 120 00:07:33,594 --> 00:07:36,624 ou da fonte da juventude ou de algo que prometa 121 00:07:36,624 --> 00:07:38,941 nos manter vivos para sempre. 122 00:07:40,730 --> 00:07:44,156 No Egito antigo, havia tais mitos, na Babilônia antiga, na antiga Índia, 123 00:07:44,156 --> 00:07:47,574 na história europeia, nós os encontramos no trabalho dos alquimistas 124 00:07:47,574 --> 00:07:50,376 e, é claro, ainda hoje acreditamos neles. 125 00:07:50,376 --> 00:07:54,444 A diferença é que contamos esta história usando a linguagem da ciência. 126 00:07:54,444 --> 00:07:58,042 Assim, centenas de anos atrás, com os hormônios recém-descobertos, 127 00:07:58,042 --> 00:08:02,055 esperava-se que os tratamentos hormonais fossem curar a velhice e a doença. 128 00:08:02,055 --> 00:08:06,415 Em vez disso, hoje nossa esperança está nas células-tronco, na engenharia genética 129 00:08:06,415 --> 00:08:07,646 e na nanotecnologia. 130 00:08:07,646 --> 00:08:11,136 Mas a ideia de que a ciência possa "curar" a morte 131 00:08:11,136 --> 00:08:15,802 é apenas mais um capítulo na história do elixir mágico, 132 00:08:15,802 --> 00:08:19,612 uma história tão velha quanto a civilização. 133 00:08:19,612 --> 00:08:23,393 No entanto, apostar tudo na ideia de encontrar o elixir 134 00:08:23,393 --> 00:08:26,219 e viver para sempre é uma estratégia arriscada. 135 00:08:26,219 --> 00:08:28,237 Quando voltamos na história 136 00:08:28,237 --> 00:08:31,444 procurando aqueles que buscaram um elixir no passado, 137 00:08:31,444 --> 00:08:35,004 descobrimos que a única coisa em comum entre eles é que estão todos mortos. 138 00:08:35,004 --> 00:08:36,124 (Risos). 139 00:08:36,124 --> 00:08:39,490 Daí, precisamos de um plano reserva, e é exatamente esse plano B 140 00:08:39,490 --> 00:08:43,429 que o segundo tipo de história de imortalidade oferece, 141 00:08:43,429 --> 00:08:44,969 que é a ressurreição. 142 00:08:44,969 --> 00:08:47,548 E se assenta na ideia de que eu sou este corpo, 143 00:08:47,548 --> 00:08:51,552 eu sou este organismo físico, aceita a ideia de que vou ter de morrer, 144 00:08:51,561 --> 00:08:55,725 mas sustenta que, apesar disso, posso me levantar e viver novamente. 145 00:08:55,725 --> 00:08:58,246 Em suma, posso fazer o que Jesus fez. 146 00:08:58,246 --> 00:09:02,320 Jesus morreu, ficou três dias no sepulcro, se levantou e viveu novamente. 147 00:09:03,127 --> 00:09:07,704 E a ideia de podermos ressuscitar e viver novamente é uma crença ortodoxa, 148 00:09:07,704 --> 00:09:11,048 não apenas para os cristãos, mas para os judeus e os muçulmanos. 149 00:09:11,048 --> 00:09:14,934 Mas nossa vontade de acreditar nesta história está tão profundamente arraigada 150 00:09:14,934 --> 00:09:18,912 que a estamos reinventando novamente na era científica, 151 00:09:18,912 --> 00:09:21,785 por exemplo, com a ideia dos criônicos. 152 00:09:21,785 --> 00:09:25,537 É a ideia de que, ao morrer, você pode ser congelado, 153 00:09:25,537 --> 00:09:29,431 e aí, eventualmente, quando a tecnologia for avançada o suficiente, 154 00:09:29,431 --> 00:09:32,595 você pode ser descongelado e consertado, revivido e ressuscitado. 155 00:09:32,595 --> 00:09:37,455 Assim, alguns acreditam num Deus onipotente que os ressuscitará, 156 00:09:37,455 --> 00:09:40,880 e outros acreditam que um cientista onipotente assim o fará. 157 00:09:41,324 --> 00:09:44,344 Mas, para outros, a ideia toda da ressurreição, 158 00:09:44,344 --> 00:09:48,400 de se levantar do sepulcro, é parecida demais com um filme B sobre zumbis. 159 00:09:48,400 --> 00:09:53,349 Consideram o corpo detonado demais, pouco confiável para garantir a vida eterna. 160 00:09:53,349 --> 00:09:56,485 Assim, eles jogam suas esperanças na terceira história, 161 00:09:56,485 --> 00:09:58,925 a mais espiritual de todas, 162 00:09:58,925 --> 00:10:03,287 a ideia de que deixamos nosso corpo para trás para viver como uma alma. 163 00:10:03,287 --> 00:10:07,025 A maioria das pessoas do planeta acreditam que têm uma alma, 164 00:10:07,025 --> 00:10:09,870 uma ideia central em muitas religiões. 165 00:10:09,870 --> 00:10:13,907 Mas, mesmo em sua forma atual e em sua forma tradicional, 166 00:10:13,907 --> 00:10:16,229 a ideia da alma ainda é altamente popular, 167 00:10:16,229 --> 00:10:19,712 apesar de estarmos novamente a reinventando na era digital, 168 00:10:19,712 --> 00:10:23,050 por exemplo, com a ideia de deixar o corpo para trás 169 00:10:23,050 --> 00:10:27,333 e transferir sua mente, sua essência, o seu verdadeiro eu para um computador, 170 00:10:27,333 --> 00:10:31,468 e viver daí por diante como um avatar no éter. 171 00:10:32,242 --> 00:10:35,953 Mas, claro, há céticos que dizem que, se olharmos para a evidência da ciência, 172 00:10:35,953 --> 00:10:41,075 particularmente a neurociência, ela sugere que a mente, sua essência, o eu real, 173 00:10:41,075 --> 00:10:44,144 é bastante dependente de uma parte particular do corpo, 174 00:10:44,144 --> 00:10:45,475 que é o cérebro. 175 00:10:45,475 --> 00:10:50,492 E tais céticos conseguem encontrar alento no quarto tipo de história, 176 00:10:50,492 --> 00:10:52,252 que é o legado. 177 00:10:52,252 --> 00:10:56,527 A ideia de continuar a viver por meio do eco deixado no mundo. 178 00:10:56,527 --> 00:11:01,180 Como o grande lutador grego Aquiles, que sacrificou sua vida lutando em Troia, 179 00:11:01,180 --> 00:11:04,150 para ganhar fama imortal. 180 00:11:04,676 --> 00:11:07,477 E a busca pela fama nunca foi tão disseminada e popular 181 00:11:07,477 --> 00:11:08,829 como hoje em dia. 182 00:11:08,829 --> 00:11:12,145 E, em nossa era digital, é até mais fácil de alcançar. 183 00:11:12,145 --> 00:11:16,364 Não precisa ser um grande guerreiro como Aquiles ou um grande rei ou herói, 184 00:11:16,364 --> 00:11:19,504 basta ter uma conexão de internet e um gato engraçado. 185 00:11:19,504 --> 00:11:21,167 (Risos) 186 00:11:21,167 --> 00:11:26,196 Algumas pessoas preferem deixar um legado mais tangível, biológico, como filhos. 187 00:11:26,196 --> 00:11:29,989 Ou elas meio que esperam viver como parte de um todo maior 188 00:11:29,989 --> 00:11:33,764 uma nação, ou família, ou tribo ou seu patrimônio genético. 189 00:11:35,072 --> 00:11:39,915 Mas, de novo, existem céticos que duvidam se o legado é mesmo a imortalidade. 190 00:11:39,915 --> 00:11:42,086 Woody Allen, por exemplo, disse: 191 00:11:42,086 --> 00:11:44,996 "Não quero continuar vivo nos corações dos meus compatriotas. 192 00:11:44,996 --> 00:11:47,066 Prefiro continuar vivo no meu apartamento". 193 00:11:47,066 --> 00:11:48,304 (Risos) 194 00:11:48,304 --> 00:11:51,669 E, para continuar vivo no apartamento, precisará de um elixir, é claro. 195 00:11:51,669 --> 00:11:55,716 Que foi nosso primeiro tipo de história de imortalidade. 196 00:11:55,716 --> 00:11:59,158 Assim, eis os quatro tipos básicos de histórias de imortalidade 197 00:11:59,158 --> 00:12:03,210 e eu simplesmente tentei explicar como são recontadas por cada geração, 198 00:12:03,210 --> 00:12:06,923 com apenas pequenas variações para se ajustar à moda da época. 199 00:12:06,923 --> 00:12:11,670 E o fato de serem recorrentes de uma forma tão semelhante, 200 00:12:11,670 --> 00:12:14,816 mas em sistemas tão diferentes de crenças, sugerem, penso eu, 201 00:12:14,816 --> 00:12:16,395 que devemos ser céticos 202 00:12:16,395 --> 00:12:20,475 sobre a verdade de qualquer versão particular dessas histórias. 203 00:12:21,485 --> 00:12:23,114 O fato de alguns acreditarem 204 00:12:23,114 --> 00:12:26,119 que um Deus onipotente vai ressuscitá-los para viver novamente, 205 00:12:26,119 --> 00:12:29,559 e outros acreditaram que um cientista onipotente vai fazer isso, 206 00:12:29,559 --> 00:12:35,390 sugere que nenhum deles está realmente se baseando na força da evidência. 207 00:12:35,390 --> 00:12:39,925 Na verdade, acreditamos nessas histórias por sermos influenciados a fazê-lo, 208 00:12:39,925 --> 00:12:45,494 e somos influenciados a acreditar nelas porque temos muito medo da morte. 209 00:12:45,967 --> 00:12:51,337 Assim, a pergunta é: estamos fadados a viver a única vida que temos 210 00:12:51,337 --> 00:12:55,390 de uma maneira forjada pelo medo e pela negação? 211 00:12:55,390 --> 00:12:58,253 Ou podemos superar esta distorção? 212 00:12:58,253 --> 00:13:02,143 Bem, o filósofo grego Epicuro achava que sim. 213 00:13:02,573 --> 00:13:08,433 Ele sustenta que o medo da morte é natural, mas não é racional. 214 00:13:09,243 --> 00:13:11,803 A morte, ele disse, não é nada para nós, 215 00:13:11,803 --> 00:13:14,481 pois, quando estamos aqui, a morte não está, 216 00:13:14,481 --> 00:13:17,177 e, quando a morte estiver aqui, já teremos ido. 217 00:13:18,693 --> 00:13:22,753 Isso sempre é citado, mas é difícil de entender de verdade, internalizar, 218 00:13:22,753 --> 00:13:27,169 exatamente por ser muito difícil lidar com essa ideia de desaparecer. 219 00:13:27,169 --> 00:13:30,719 Assim, dois mil anos depois, outro filósofo, Ludovic Wittgenstein, 220 00:13:30,719 --> 00:13:32,300 colocou desta forma: 221 00:13:32,300 --> 00:13:35,256 a morte não é um evento da vida, 222 00:13:35,256 --> 00:13:38,578 não vivemos para experimentar a morte. 223 00:13:39,578 --> 00:13:42,523 E disse mais: neste sentido, a vida não tem fim. 224 00:13:43,559 --> 00:13:48,680 Assim, era natural para mim, como criança, temer ser engolido pelo vazio, 225 00:13:48,680 --> 00:13:52,981 mas não era racional, pois ser engolido pelo vazio 226 00:13:52,981 --> 00:13:57,069 não é algo que nenhum de nós vai viver para experimentar. 227 00:13:58,059 --> 00:14:00,350 Mas superar esta distorção não é fácil, 228 00:14:00,350 --> 00:14:03,124 pois o medo da morte está profundamente enraizado na gente. 229 00:14:03,124 --> 00:14:07,569 Por isso, quando percebemos que o próprio medo não é racional 230 00:14:08,729 --> 00:14:10,595 e trazemos à luz 231 00:14:10,595 --> 00:14:12,978 como isso pode inconscientemente nos influenciar, 232 00:14:12,978 --> 00:14:15,566 podemos, então, pelo menos, começar a tentar 233 00:14:15,566 --> 00:14:18,634 minimizar a influência que tem em nossas vidas. 234 00:14:18,634 --> 00:14:23,816 Acho que ajuda se enxergarmos a vida como um livro. 235 00:14:23,816 --> 00:14:27,565 Assim como um livro está limitado por suas capas, pelo começo e pelo fim, 236 00:14:27,565 --> 00:14:30,753 assim também nossas vidas estão limitadas por nascimento e morte. 237 00:14:30,753 --> 00:14:34,754 E, mesmo o livro estando limitado pelo começo e pelo fim, 238 00:14:34,754 --> 00:14:39,821 ele consegue abarcar paisagens distantes, figuras exóticas, aventuras fantásticas. 239 00:14:39,821 --> 00:14:43,850 E, mesmo o livro estando limitado pelo começo e pelo fim, 240 00:14:43,850 --> 00:14:47,836 seus personagens não conhecem horizontes. 241 00:14:47,836 --> 00:14:51,629 Eles conhecem apenas os momentos que constroem sua história, 242 00:14:51,639 --> 00:14:54,472 mesmo quando o livro está fechado. 243 00:14:54,472 --> 00:14:59,600 E, assim, os personagens do livro não têm medo de chegar à última página. 244 00:15:00,300 --> 00:15:04,459 Long John Silver não tem medo do leitor chegar ao fim de "A Ilha do Tesouro". 245 00:15:04,899 --> 00:15:06,931 E devia ser assim também com a gente. 246 00:15:06,931 --> 00:15:10,892 Imaginem o livro da sua vida, a capa dele, o início e o fim sendo, respectivamente, 247 00:15:10,892 --> 00:15:12,030 o nascimento e a morte. 248 00:15:12,030 --> 00:15:14,210 Vocês conhecem apenas o que acontece no meio, 249 00:15:14,210 --> 00:15:16,076 os momentos que constroem sua vida. 250 00:15:16,076 --> 00:15:19,945 Não faz sentido ter medo do que acontece fora dessas capas, 251 00:15:19,945 --> 00:15:23,308 tanto antes do seu nascimento, quanto depois da sua morte. 252 00:15:23,308 --> 00:15:26,063 E não precisam se preocupar com o tamanho do livro, 253 00:15:26,063 --> 00:15:29,376 se é uma tirinha de quadrinhos ou se é um épico. 254 00:15:29,376 --> 00:15:34,022 O que realmente importa é que vocês façam dele uma boa história. 255 00:15:34,022 --> 00:15:35,593 Obrigado. 256 00:15:35,593 --> 00:15:38,583 (Aplausos).