Como ouvir e falar com pessoas transgénero

O género deveria ser a coisa menos marcante acerca de alguém, mas as pessoas transgénero continuam a ser frequentemente incompreendidas. Para ajudar aqueles que sentem receio de fazer perguntas ou de dizer algo errado, Jackson Bird partilha algumas maneiras de como abordar questões transexuais. E nesta palestra sincera e engraçada, ele esclarece alguns dos pressupostos errados sobre os pronomes, a transição, casas de banho e mais coisas.

Olá, eu sou o Jack,

e eu sou transgénero.

Deixem-me adivinhar
alguns dos pensamentos

que devem estar a passar
pela vossa cabeça agora.

"Transgénero?

"Espera lá, isso quer dizer
que ele é um homem ou uma mulher?"

"Será que já terá feito a cirurgia...
Agora estou a olhar para a virilha dele.

"Olha para a direita, é mais prudente."

"Sim! Eu sabia! Nenhum homem
tem umas ancas assim."

"A filha do meu amigo é transgénero...

"Será que eles se conhecem?"

"Meu Deus, ele é tão corajoso.

"Apoio totalmente o direito de ele usar
a casa de banho masculina.

"Mas como é que ele usa a casa de banho?

"Como é que ele faz sexo?"

Ok, vamos parar com
estas perguntas hipotéticas

antes que fiquemos
desconfortavelmente íntimos.

Quer dizer, não levem a mal,

eu estou aqui hoje para partilhar
as minhas experiências como transgénero,

mas não acordei de manhã

com o desejo de partilhar
a minha vida sexual com vocês.

Esse é o problema
de ser trans, não é?

As pessoas perguntam-se sempre
como é que fazemos sexo

e que tipo de "equipamento"
é que temos abaixo da cintura.

Ser transgénero é constrangedor.

E não só porque o sexo
que me foi designado à nascença

difere do que realmente sou.

Ser trans é constrangedor

porque todos se sentem desconfortáveis
quando estão ao pé de mim.

As pessoas que me apoiam
incondicionalmente

a mim e à comunidade trans

frequentemente receiam tanto
dizer algo errado,

ficam tão envergonhadas por não saberem
o que acham que deviam saber,

que nunca perguntam.

Parte da razão de ter ficado tão nervoso
em dizer que era transgénero

foi por saber que as pessoas
não sabem aquilo que quero dizer.

Quando alguém se assume como "gay",

as pessoas sabem o que isso significa,

mas se ele se assumir como trans,

ele tem de enfrentar
os pressupostos errados

que as outras pessoas têm dele,

mesmo depois de as ter ensinado...

E vai ser preciso ensiná-las.

Depois de me assumir,

escrevi uma enciclopédia com 10 páginas

anexada a músicas e vídeos

que enviei a quem
eu tinha dito que era transgénero.

(Risos)

Mantive-a como assinatura de "email"
durante meses,

porque nunca se deixa
de ter de se dizer.

Até o disse ao meu contabilista,
que me estava a ajudar com os impostos,

e aos seguranças do aeroporto,
que não sabiam quem me deveria revistar,

um homem ou uma mulher.

Eu acabei de dizer a toda
a gente que está a ver isto.

Quando eu disse ao meu pai,

para meu alívio, ele aceitou
o facto de eu ser trans,

mas mal mencionei a transição física,

ele passou-se.

Rapidamente me apercebi que ele,
assim como muitas outras pessoas,

pensam que a transição física
significa uma única coisa:

a cirurgia.

Oiçam,

se existisse uma cirurgia mágica

que me transformasse
numa imagem social perfeita

de um homem alto e em forma,
da noite para o dia,

eu fá-la-ia sem pensar duas vezes.

Infelizmente, não é assim tão simples.

Existem dúzias de diferentes cirurgias
de redesignação sexual

desde cirurgias ao peito e aos glúteos

até à feminização facial
e alteração corporal masculina.

Muitos transexuais só farão uma cirurgia
durante toda a sua vida, ou nem isso.

Talvez por pensarem
que não são necessárias

ou também porque são dispendiosas,

e o seguro de saúde
só começou a cobri-las há pouco tempo.

Em vez disso, o primeiro passo para
quem procura fazer uma transição física,

é, habitualmente,
a terapia da reposição hormonal.

São as hormonas que me fazem ter uma voz
mais grave e alguns pelos no pescoço

e uma borbulha gigante no meu queixo.

Basicamente, elas fazem-nos
passar por uma segunda puberdade...

é simplesmente fantástico.

(Risos)

Devido a que as nossas transições
são mais lentas e constantes

do que aquilo que as pessoas pensam,

pode haver uma certa confusão

sobre quando chamar alguém
pelo seu novo nome e os pronomes.

Não existe um ponto específico
na transição física

no qual uma pessoa transexual
se torna no seu verdadeiro sexo.

Mal vos digam o novo nome deles
e os pronomes,

é nesse momento
que vocês os começam a usar.

Pode ser difícil ajustar-se a tal mudança.

Podem cometer "gaffes" aqui e ali.

Eu próprio errei
com outras pessoas trans.

Mas, eu penso sempre que,

se fomos capazes de chamar
ao Puff Daddy de P. Diddy,

e se pedimos imensa desculpa
quando usamos o pronome errado

com o gato de alguém,

acho que podemos fazer o mesmo esforço

com as pessoas presentes nas nossas vidas.

Não há outro tópico acerca dos trans
que embarace mais as pessoas

do que as casas de banho públicas.

Ah, as casas de banho

— o tema político controverso
usado pelos opositores do LGBT.

Uma curiosidade sobre as casas de banho:

há mais congressistas dos EUA condenados
por assédio numa casa de banho pública

do que pessoas trans.

(Risos)

A verdade é que nós sentimos muito
mais medo de vocês do que vocês de nós.

É um grande tema de discussão
na comunidade trans,

sobre que casa de banho usar e quando,

para não atrairmos atenção
que pode desencadear violência contra nós.

Pessoalmente, comecei a usar a dos homens

quando reparei nos olhares confusos
e receosos na casa de banho das mulheres,

mesmo estando aterrorizado de ir
à casa de banho dos homens.

E às vezes, acabamos por nem ir
à casa de banho, de todo.

Um inquérito nacional de 2015,
sobre pessoas trans,

mostrou que 8% já tinham tido
uma infeção do trato urinário

no último ano,

em consequência de
evitarem as casas de banho.

Estas leis sobre as casas de banho
não estão a proteger ninguém.

Tudo o que estão a fazer

é a garantir que, quando somos agredidos
em casas de banho,

a lei deixará de estar do nosso
lado quando fizermos queixa.

Ser trans significa ser atacado
diariamente devido a pressupostos errados.

E para mim, é mais fácil.

Sou branco, fisicamente apto,

quase sentado no topo
da montanha do privilégio.

Para as pessoas não binárias,

para as mulheres trans,

para as pessoas trans de cor,

é muito mais árduo.

Eu ofereci-vos um pacote de iniciação
de conhecimento trans

que espero que vos leve a aprender mais.

Falem com pessoas trans.

Ouçam-nos.

Amplifiquem as nossas vozes.

Tirem-nos alguma pressão
e eduquem quem vos rodeia

para não estarmos sempre a fazer isto.

Talvez um dia, quando eu disser:

"Olá, sou o Jack e sou transgénero",

a única resposta que terei é:

"Olá, tenho muito gosto em conhecer-te."

Obrigado.

(Aplausos)