Todas as luzes acesas: re-imaginar o teatro para incluir toda a gente | Michelle Hensley | TEDxMinneapolis
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0:40 - 0:42Quando eu andava pelos 20 anos,
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0:42 - 0:46tentando imaginar como queria
passar o resto da minha vida, -
0:46 - 0:49eu sabia que o teatro era a minha paixão,
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0:49 - 0:51mas havia algumas coisas
que me perturbavam, -
0:52 - 0:54especialmente quando olhava
para o público. -
0:55 - 0:59O público do teatro é quase todo
branco e de classe média alta -
0:59 - 1:04e eu não queria passar a vida
a fazer arte só para pessoas abastadas. -
1:04 - 1:07Eu não queria deixar ninguém de fora.
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1:07 - 1:09Lembrava-me do meu avô.
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1:09 - 1:14Era agricultor no Iowa
e perdeu as terras durante a Depressão. -
1:14 - 1:17Era muito inteligente
mas nunca frequentou uma faculdade. -
1:18 - 1:21Nunca o vi sem o seu macacão
e o boné de sementes de milho. -
1:21 - 1:26Quando o imaginava a entrar
nos teatros onde eu tinha estado, -
1:26 - 1:29pensava que ele se devia
sentir pouco à vontade -
1:29 - 1:32e pensar que as coisas
eram um pouco pretensiosas. -
1:32 - 1:36Também queria encontrar
um público que se interessasse. -
1:36 - 1:38Nessa época, eu vivia em Los Angeles
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1:38 - 1:41e Los Angeles não é uma cidade
virada para o teatro, -
1:41 - 1:43é mais para cinema e para a TV.
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1:43 - 1:46A maioria das pessoas que lá vão
fazem-no a contragosto, -
1:46 - 1:49porque têm um amigo no elenco
ou são agentes de contratação, -
1:49 - 1:53e estão sempre a olhar para o relógio
desejando estar noutro sítio qualquer. -
1:53 - 1:55Eu tinha uma peça que adorava
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1:55 - 1:59"A Boa Alma de Setsuan"
de Bertolt Brecht. -
1:59 - 2:04Trata duma prostituta que recebe
dos deuses uma bolsa de prata -
2:04 - 2:06como recompensa
por ter feito uma boa ação. -
2:06 - 2:11Ela quer ajudar todos os seus amigos
que também eram pobres -
2:11 - 2:14mantendo-se solvente.
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2:14 - 2:18Eu achava que as pessoas sem dinheiro
deviam gostar dessa história. -
2:18 - 2:21Provavelmente compreenderiam a luta dela.
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2:21 - 2:24Mas eu sabia que eles nunca
iriam ao teatro. -
2:24 - 2:27E o preço do bilhete
era o que menos contava. -
2:27 - 2:32Há toda uma série de preconceitos
culturais que afugentam as pessoas, -
2:32 - 2:36como pensarem que não sabem
o que hão de vestir ou como se portarem. -
2:36 - 2:39As pessoas sentem que não se integrarão.
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2:39 - 2:40Por isso, decidi,
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2:40 - 2:44que, em vez de esperar
que as pessoas aparecessem, -
2:44 - 2:45eu iria ter com elas.
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2:45 - 2:49Pensámos que podíamos encontrar pessoas
sem muito dinheiro, num abrigo. -
2:49 - 2:51Assim, concentrámo-nos em Santa Monica.
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2:51 - 2:54Concebemos um pequeno cenário
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2:54 - 2:57que podíamos pendurar num varão
com molas de roupa -
2:57 - 2:59e começámos a ensaiar.
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2:59 - 3:04Estávamos bastante assustados
porque é uma peça de duas horas e meia -
3:04 - 3:05e tem 35 personagens
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3:05 - 3:08e só tínhamos sete atores
para desempenhar todos os papéis. -
3:08 - 3:10Para além disso, pensávamos:
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3:10 - 3:15"Quem somos nós, para dizer às pessoas
que vivem na pobreza todos os dias, -
3:15 - 3:17"o que quer que seja sobre isso?"
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3:17 - 3:21Mas, por fim, chegou o dia
da estreia no abrigo. -
3:22 - 3:27Juntaram-se umas 30 pessoas,
muito céticas. -
3:27 - 3:29Mas gosto de dizer às pessoas
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3:29 - 3:33que aquele público de 30 pessoas
foi o maior da minha vida -
3:33 - 3:37porque, quando perceberam
que não estávamos ali para pregar nada, -
3:37 - 3:40não estávamos a tentar dizer-lhes
para deixarem as drogas -
3:40 - 3:42nem para serem melhores pessoas,
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3:42 - 3:44estávamos apenas a tentar
contar uma história, -
3:44 - 3:46o melhor que podíamos,
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3:46 - 3:50quando se aperceberam disso,
abriram os seus corações. -
3:50 - 3:52Não sei como explicar de outro modo.
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3:52 - 3:55Começaram a gritar
conselhos às personagens. -
3:55 - 3:58Diziam: "Oh, querida.
Afasta-te dele. Ele só traz desgraça". -
3:58 - 4:00(Risos)
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4:00 - 4:03Não há nada mais emocionante
para um ator -
4:03 - 4:06do que um membro do público
tão preocupado com a nossa personagem -
4:06 - 4:08que nos grita conselhos.
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4:08 - 4:09(Risos)
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4:09 - 4:13Eles sabiam mais sobre o mundo
da peça do que nós. -
4:13 - 4:16Mas, como eram tão honestos
e tão vocais nas suas reações, -
4:16 - 4:18nós ouvíamos e aprendíamos com eles.
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4:19 - 4:20Recordo que, no fim da peça,
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4:20 - 4:24o porteiro, que tinha ficado
de pé ao fundo da sala, -
4:24 - 4:26assistindo sempre que podia,
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4:26 - 4:29chegou ao pé de mim
olhou-me nos olhos e disse: -
4:30 - 4:33"Obrigado por nos ter tratado
como se tivéssemos miolos na cabeça". -
4:33 - 4:35Levei aquilo muito a sério.
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4:35 - 4:37Nunca mais o esqueci.
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4:37 - 4:41Porque, embora acredite
que o nosso público não tradicional -
4:41 - 4:44nos dá mais do que nós lhe damos,
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4:44 - 4:47o que lhe podemos dar
é o respeito pela sua inteligência. -
4:48 - 4:50pela sua imaginação.
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4:50 - 4:53e pelas suas experiências de vida
tão dificilmente sofridas. -
4:53 - 4:57O respeito que tantas vezes falta
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4:57 - 5:00na vida das pessoas
que vivem marginalizadas. -
5:01 - 5:03(Aplausos)
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5:05 - 5:06Obrigada.
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5:08 - 5:11Eu nunca tinha experimentado
uma interação como aquela no teatro. -
5:11 - 5:13Por isso, fiquei apanhada.
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5:13 - 5:19Assim decidi iniciar um percurso
de levar as grandes peças de teatro -
5:19 - 5:23— Shakespeare, tragédias gregas,
Beckett, musicais americanos — -
5:23 - 5:25às pessoas que nunca as tinham visto.
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5:25 - 5:30Com isso, aprendemos
coisas espantosas sobre o teatro. -
5:30 - 5:33Pouco depois de fazer
a "A Boa Alma...", -
5:33 - 5:36tive uma filha e decidi
que não queria criá-la em Los Angeles. -
5:36 - 5:40Assim, comecei a procurar um local
onde pudesse comprar uma casa, -
5:40 - 5:42onde pudesse usar a escola pública
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5:42 - 5:44e onde houvesse uma excelente
comunidade teatral. -
5:44 - 5:45Sabem que mais?
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5:45 - 5:49Ainda há uma cidade dessas neste país.
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5:49 - 5:52(Aplausos)
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5:55 - 5:58Eu só quero dizer que as Twin Cities
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5:58 - 6:01são o local mais saudável
para fazer teatro neste país, -
6:01 - 6:04porque podemos viver ali
enquanto artistas -
6:04 - 6:08e porque a comunidade
é muito generosa e amável. -
6:10 - 6:12(Aplausos)
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6:13 - 6:14Assim, 25 anos depois,
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6:14 - 6:17a minha companhia de teatro
"Ten Thousand Things", -
6:17 - 6:19faz três peças por ano.
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6:19 - 6:23Mas levamos cada peça
a seis ou sete instalações prisionais -
6:23 - 6:26quer de homens,
de mulheres ou de jovens. -
6:26 - 6:29Levamo-las a nove ou dez
centros de baixos rendimentos. -
6:29 - 6:31Podem ser centros de sem-abrigo,
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6:31 - 6:33projetos de habitação,
centros de desintoxicação, -
6:33 - 6:35centros de educação para adultos,
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6:35 - 6:39reservas de índios,
pequenas cidades rurais do Minnesota. -
6:39 - 6:42Fazemos quatro fins de semana
para o público em geral, que paga. -
6:42 - 6:46Levamos cada peça a todo o tipo
de seres humanos imagináveis. -
6:47 - 6:50Trabalhamos com os melhores atores
das Twin Centers, -
6:50 - 6:52pessoas que vemos regularmente
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6:52 - 6:56nos palcos do Guthrie
ou no Jungle ou no Penumbra. -
6:56 - 6:58E garanto-vos
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6:58 - 7:02que a maioria desses atores vos dirá
que se tornaram artistas muito melhores -
7:02 - 7:04por causa do nosso público
não tradicional, -
7:04 - 7:08tal como eu sei que me tornei
numa diretora muito melhor -
7:08 - 7:10do que se tivesse seguido
o caminho convencional -
7:10 - 7:13e tivesse tentado subir a escada
num teatro regional. -
7:17 - 7:20Venho aqui dizer-vos que o teatro
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7:20 - 7:24— e, segundo creio,
todas as formas de arte -
7:24 - 7:26e todas as realizações humanas —
-
7:26 - 7:32é muito mais rico quando conseguimos
incluir toda a gente. -
7:32 - 7:35(Aplausos)
-
7:39 - 7:42Uma das coisas que começa a mudar
-
7:42 - 7:47quando sabemos que vai haver
todo o tipo de pessoas no público, -
7:47 - 7:49é o tipo de histórias que contamos.
-
7:49 - 7:51Se olharem para a Broadway,
neste momento, -
7:51 - 7:54ou para muitos dos grandes
teatros regionais, -
7:54 - 7:56hão de reparar que muitas
das peças que são representadas -
7:56 - 8:01encaixam na categoria de pessoas
ricas que são más umas para as outras. -
8:01 - 8:02(Risos)
-
8:03 - 8:05Assim, um preso ou um sem-abrigo
-
8:05 - 8:07não se vai interessar muito
por uma história dessas. -
8:07 - 8:10E, francamente, não percebo
porque é que as pessoas se interessam, -
8:10 - 8:14Essas histórias são muito tacanhas
e muito limitadas. -
8:14 - 8:18Precisamos de boas histórias que lidem
com lutas humanas fundamentais, -
8:18 - 8:22como o ciúme, a traição,
a vingança, o desejo -
8:23 - 8:27— histórias que incluam pessoas
de todas as classes económicas. -
8:27 - 8:31Precisamos de histórias que se passem
noutra época e noutro local. -
8:32 - 8:36Porque, tal como não faríamos uma peça
sobre uma casa suburbana, -
8:36 - 8:40também não fazemos peças
sobre a pobreza urbana contemporânea, -
8:40 - 8:43porque o nosso público
sabe mais sobre isso do que nós -
8:43 - 8:45e vivem-na todos os dias,
-
8:45 - 8:48por isso não querem ficar
a olhar para verem o mesmo. -
8:48 - 8:49(Risos)
-
8:49 - 8:53Mas um mundo inventado
cria um terreno de representação -
8:53 - 8:55em que todos entramos como iguais.
-
8:55 - 8:57Ninguém pode ser especialista
-
8:57 - 9:00porque estamos todos
a criá-la, no momento. -
9:01 - 9:04A primeira vez
que representámos Shakespeare, -
9:05 - 9:08cujas peças obedecem
a todos estes critérios, -
9:08 - 9:10eu nunca tinha dirigido Shakespeare
-
9:10 - 9:12mas estava a ler "Medida por Medida",
-
9:12 - 9:17que decorre em bordéis e tabernas
e palácios e tribunais. -
9:17 - 9:19Trata da justiça e da injustiça
-
9:19 - 9:21e de ser julgado injustamente por outros.
-
9:21 - 9:23E eu pensei:
-
9:23 - 9:25"Se eu conseguir transmitir
esta história com clareza..." -
9:25 - 9:28E confesso: quase sempre
que assisto a Shakespeare, -
9:28 - 9:30não compreendo
o que se passa no palco. -
9:30 - 9:34Mas pensei que, se pudesse
transmitir a história com clareza, -
9:34 - 9:36o meu público iria gostar dela.
-
9:37 - 9:40Mas quero referir
que não alterei a linguagem. -
9:40 - 9:45A clareza, em Shakespeare,
tem a ver com poder sentir cá dentro -
9:45 - 9:48o que uma personagem
está a fazer a outra. -
9:48 - 9:52Se isso for claro, então o significado
das palavras também é claro. -
9:52 - 9:54A primeira representação
-
9:54 - 9:56foi no Centro de Dia Dorothy
para os sem-abrigo, -
9:56 - 9:58na baixa de St. Paul.
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9:58 - 10:02Tínhamos um ator de Shakespeare
muito experiente -
10:02 - 10:04a representar Lord Angelo.
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10:04 - 10:07Há aquela cena em que a freira Isabella
-
10:07 - 10:12vai ter com Angelo e lhe implora
que poupe a vida do irmão. -
10:12 - 10:16Depois, Isabella sai e Angelo
começa a desejar Isabella. -
10:17 - 10:19Fica sozinho no palco e diz:
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10:19 - 10:21"O que é isto? O que é isto?
-
10:21 - 10:25"Quem peca mais?
Quem tenta ou quem é tentado?" -
10:25 - 10:28Há uma mulher sem abrigo sentada
perto de onde ele está -
10:28 - 10:30que olha para ele e diz:
-
10:30 - 10:33"Acho que a culpa é tua,
cabeça de merda". -
10:33 - 10:35(Risos)
-
10:37 - 10:42Então, um tipo ao fundo da sala
-
10:42 - 10:43grita em voz alta:
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10:43 - 10:45"Vai em frente e fode-a".
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10:45 - 10:47(Risos)
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10:47 - 10:51Todo o público desata às gargalhadas.
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10:51 - 10:54O ator disse que a alma
lhe tinha caído aos pés e pensara: -
10:54 - 10:56"Oh, meu Deus, perdi
completamente o público. -
10:56 - 10:58"O que é que eu vou fazer?"
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10:58 - 11:03Depois percebeu que só precisava
de dizer os versos seguintes, que eram: -
11:03 - 11:06"Não é ela, não é ela, sou eu",
-
11:06 - 11:08Era uma resposta perfeita
-
11:08 - 11:10ao que o público
tinha acabado de gritar. -
11:10 - 11:14Foi assim que tivemos
uma revelação de Shakespeare. -
11:14 - 11:16Shakespeare escrevia
para as pessoas comuns. -
11:16 - 11:18Escrevia para as pessoas
-
11:18 - 11:21que pagavam pouco para entrarem
e ficarem, de pé, em frente do palco. -
11:21 - 11:24Estavam sempre a gritar
coisas para os atores. -
11:24 - 11:26Shakespeare não escrevia
para um público -
11:26 - 11:30rico e instruído, calado e polido.
-
11:31 - 11:33A partir daí,
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11:33 - 11:37Shakespeare tem sido
um dos nossos dramaturgos preferidos. -
11:37 - 11:39Porque ele escrevia,
sabendo que, no público, -
11:39 - 11:43estariam pessoas de todas
as classes económicas, -
11:43 - 11:45tal como estão no nosso público.
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11:49 - 11:51Penso que podemos começar a ver
-
11:51 - 11:57como fazer teatro deste modo
começa a tornar-nos num artista melhor. -
11:57 - 12:02Porque o nosso público vive a sua vida
em condições igualmente extremas, -
12:02 - 12:03muitos deles,
-
12:03 - 12:06as mesmas condições extremas
da existência humana -
12:06 - 12:08que as personagens
das peças de Shakespeare -
12:08 - 12:10ou das tragédias gregas.
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12:10 - 12:13Os atores têm de aprofundar muito mais
-
12:13 - 12:16para garantirem que
se assemelham à realidade -
12:16 - 12:19das experiências do público
quanto às situações. -
12:19 - 12:22Se fizermos Ricardo III,
-
12:22 - 12:25para um público que inclui pessoas
que, provavelmente, mataram alguém, -
12:25 - 12:28é melhor saber do que é
que estamos a falar. -
12:28 - 12:30(Risos)
-
12:30 - 12:34Como é a primeira vez
que o nosso público vai ao teatro, -
12:34 - 12:38exigem que sejamos muito claros,
muito rápidos, -
12:38 - 12:42muito sinceros e muito reais
em tudo o que fazemos. -
12:43 - 12:44Outra coisa que acontece
-
12:45 - 12:47quando sabemos que vamos
ter toda a gente no nosso público, -
12:48 - 12:51é que o elenco torna-se
muito diversificado. -
12:51 - 12:55Quero que toda a gente do público
consiga rever-se no palco -
12:55 - 12:59de uma forma que nunca
lhes foi possível reverem-se, -
12:59 - 13:04Temos Marian, a bibliotecária,
e Harold Hill em "O Homem da Música". -
13:04 - 13:08Temos Stella e Blanche
em "Um Carro-elétrico Chamado Desejo. -
13:08 - 13:12E temos a Rainha Titania
representada por um homem -
13:12 - 13:14e Bottom representado por uma mulher
-
13:14 - 13:16em "Um Sonho duma Noite de Verão".
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13:16 - 13:21Garanto-vos que os atores,
tal como o público, gostam imenso -
13:21 - 13:24de poderem desempenhar
papéis importantes nas histórias -
13:24 - 13:27que habitualmente ficaram esquecidos.
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13:27 - 13:30A alegria irradia pelo palco.
-
13:31 - 13:33Outra grande descoberta que fizemos
-
13:33 - 13:37é que não precisamos de muita coisa
para fazermos teatro. -
13:37 - 13:39Não usamos um palco.
-
13:39 - 13:42Só precisamos de uma sala grande,
-
13:43 - 13:46suficientemente grande para fazermos
um círculo de cadeiras, -
13:46 - 13:48com 5 metros de diâmetro
-
13:48 - 13:50e representamos no meio.
-
13:50 - 13:51Não podíamos usar um palco
-
13:51 - 13:55porque isso iria limitar o número
de locais onde podíamos representar. -
13:55 - 13:58O princípio do "design"
de Ten Thousand Things é: -
13:58 - 14:00"Ok, mas querem andar com isso às costas?"
-
14:00 - 14:02(Risos)
-
14:05 - 14:10Os atores e eu própria temos
de carregar e descarregar a carrinha, -
14:10 - 14:12transportar as coisas escadas acima,
-
14:12 - 14:14percorrer corredores,
apertarmo-nos em elevadores. -
14:14 - 14:16Esforçamo-nos muito
-
14:16 - 14:18a imaginar qual é
a menor quantidade de coisas -
14:18 - 14:21de que precisamos para contar a história.
-
14:21 - 14:25O nosso público adora ser convidado
a usar a imaginação. -
14:25 - 14:27É muito mais divertido,
como dançar o "hula hoop" e dizer: -
14:27 - 14:29"Esta é a lua"
-
14:29 - 14:32em vez de termos uma recriação a laser
de uns 20 000 dólares -
14:32 - 14:34de uma encenação da lua.
-
14:35 - 14:40Acredito que o teatro funciona melhor
quando há muitos espaços vazios -
14:40 - 14:43para a nossa imaginação preencher.
-
14:43 - 14:46Este é Don Quixote
em "O Homem de La Mancha". -
14:46 - 14:48(Risos)
-
14:48 - 14:52E aqui temos Seymour
em "A Pequena Loja dos Horrores", -
14:53 - 14:55com a planta gigante
devoradora de homens. -
14:55 - 14:56(Risos)
-
14:56 - 14:58Aquela é a mão dele.
-
14:58 - 15:01Só precisa de a colar
à pega de metal do vaso da flor -
15:01 - 15:02e ela fala com ele.
-
15:02 - 15:04O público adora isso.
-
15:08 - 15:11Se não precisarmos de edifícios,
de cenários requintados -
15:11 - 15:13e de fatos elaborados,
-
15:13 - 15:19o dinheiro pode ir para pagar
aos atores devidamente. -
15:19 - 15:21Isso acontece com frequência
no nosso mundo. -
15:21 - 15:23(Aplausos)
-
15:24 - 15:29O vosso dinheiro pode recompensar
as energias humanas criativas envolvidas. -
15:29 - 15:33Quando os atores se sentem respeitados
por receberem uma remuneração visível, -
15:33 - 15:37essa energia também percorre o palco.
-
15:38 - 15:40Também não precisamos de luzes.
-
15:41 - 15:45Usamos as luzes fluorescentes
que haja na sala porque somos obrigados. -
15:45 - 15:48Mas, em resultado disso,
acontecem coisas maravilhosas, -
15:48 - 15:51Primeiro, os atores veem o público,
-
15:51 - 15:53que normalmente não veem
numa sala escura, -
15:53 - 15:55como neste momento eu não vos vejo.
-
15:55 - 15:59As oportunidades para a vivacidade
aumentam drasticamente. -
16:00 - 16:02Não há sítio onde se esconder.
-
16:03 - 16:06Se estivermos a meio metro de um preso
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16:06 - 16:08que está a ficar aborrecido e impaciente,
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16:08 - 16:12o ator dá por isso e pode tentar ajustar
-
16:12 - 16:15e garantir que aquela cena
se torna mais interessante. -
16:15 - 16:20Quando as luzes estão acesas
e o público está sentado à roda, -
16:20 - 16:22podem ver-se uns aos outros.
-
16:22 - 16:24Isto é muito giro, sobretudo,
quando representamos -
16:24 - 16:26em centros de baixos rendimentos,
-
16:26 - 16:28em que também há
pessoas do público em geral. -
16:28 - 16:30Porque é aí que, com frequência,
-
16:30 - 16:34temos um administrador
sentado ao lado de um sem-abrigo. -
16:34 - 16:36O sem-abrigo ri-se de qualquer coisa
-
16:36 - 16:40e o administrador pensa:
"Sim, aquilo é engraçado". -
16:40 - 16:43Depois, o administrador
ri-se de qualquer coisa -
16:43 - 16:46e o sem-abrigo pensa:
"Sim, sim, sim! Já percebi". -
16:46 - 16:49Quantas vezes acontece no nosso mundo
-
16:49 - 16:52que alguém extremamente rico
e alguém extremamente pobre -
16:52 - 16:55se sentam ao lado um do outro,
em pé de igualdade -
16:55 - 16:58misturando as suas imaginações
-
16:58 - 17:02numa história sobre as lutas
que os seres humanos partilham? -
17:02 - 17:05Não é muito frequente neste mundo.
-
17:06 - 17:10Há mais uma coisa que acontece
quando fazemos este tipo de teatro. -
17:10 - 17:13É muito apreciado
pelos jovens de 20 ou 30 anos. -
17:13 - 17:17Não é uma coisa velha,
distante, bafienta, formal. -
17:17 - 17:20É uma coisa íntima, é imediata, é crua.
-
17:20 - 17:22Envolve-nos.
-
17:22 - 17:25Como alguém disse,
é como o teatro no seu melhor. -
17:25 - 17:29É uma forma muito divertida de ver teatro.
-
17:30 - 17:34O que é que tudo isto tem a ver
com o mundo fora do teatro? -
17:35 - 17:38Espero que isto vos traga inspiração
-
17:38 - 17:43para descobrirem por vocês mesmos
as riquezas e as recompensas que esperam -
17:43 - 17:46quando nos dedicamos inteiramente
-
17:46 - 17:51a imaginar como incluir toda a gente
no que quer que façamos, -
17:51 - 17:56pessoas de todas as classes económicas,
de todas as etnias e sexos, -
17:56 - 17:59com todas as experiências da vida.
-
17:59 - 18:01Não esperem que elas vão ter convosco.
-
18:01 - 18:04Se não conseguem imaginar
como levar até elas o que vocês fazem, -
18:04 - 18:07vão ter de passar muito tempo
a criar relações -
18:07 - 18:10que vos ensinem a acreditar
que estão dispostos a isso. -
18:10 - 18:13Vão ter de encontrar uma forma
de os considerar como iguais -
18:14 - 18:18e abrirem-se com humildade
para escutarem profundamente. -
18:19 - 18:23Quando conseguirem, descobrirão
que os vossos preconceitos desapareceram, -
18:24 - 18:28que a vossa forma habitual de fazer coisas
se alterou radicalmente -
18:28 - 18:32e que o vosso mundo mudou totalmente.
-
18:32 - 18:37Encontrem uma forma, imaginem
como podem incluir toda a gente. -
18:37 - 18:40Descubram como fazer isso.
-
18:40 - 18:43A vossa vida será muito mais rica
-
18:43 - 18:46nas coisas que são
realmente importantes neste mundo. -
18:46 - 18:47Obrigada.
-
18:47 - 18:50(Aplausos)
- Title:
- Todas as luzes acesas: re-imaginar o teatro para incluir toda a gente | Michelle Hensley | TEDxMinneapolis
- Description:
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Michelle Hensley descreve a motivação por detrás do início da sua companhia teatral, Ten Thousand Things, que leva teatro profissional de categoria — Shakespeare, tragédias gregas, Brecht — a um público que vive marginalizado, em abrigos e prisões e centros de imigração, assim como a um público esclarecido quanto a teatro. Descreve as descobertas que a companhia tem feito sobre o teatro, ao proceder desta forma e realça fortemente a mudança radical e positiva que pode ocorrer a qualquer atividade humana quando a inclusão passa a ser uma prioridade.
Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 18:55