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Todas as luzes acesas: re-imaginar o teatro para incluir toda a gente | Michelle Hensley | TEDxMinneapolis

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    Quando eu andava pelos 20 anos,
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    tentando imaginar como queria
    passar o resto da minha vida,
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    eu sabia que o teatro era a minha paixão,
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    mas havia algumas coisas
    que me perturbavam,
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    especialmente quando olhava
    para o público.
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    O público do teatro é quase todo
    branco e de classe média alta
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    e eu não queria passar a vida
    a fazer arte só para pessoas abastadas.
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    Eu não queria deixar ninguém de fora.
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    Lembrava-me do meu avô.
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    Era agricultor no Iowa
    e perdeu as terras durante a Depressão.
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    Era muito inteligente
    mas nunca frequentou uma faculdade.
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    Nunca o vi sem o seu macacão
    e o boné de sementes de milho.
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    Quando o imaginava a entrar
    nos teatros onde eu tinha estado,
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    pensava que ele se devia
    sentir pouco à vontade
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    e pensar que as coisas
    eram um pouco pretensiosas.
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    Também queria encontrar
    um público que se interessasse.
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    Nessa época, eu vivia em Los Angeles
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    e Los Angeles não é uma cidade
    virada para o teatro,
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    é mais para cinema e para a TV.
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    A maioria das pessoas que lá vão
    fazem-no a contragosto,
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    porque têm um amigo no elenco
    ou são agentes de contratação,
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    e estão sempre a olhar para o relógio
    desejando estar noutro sítio qualquer.
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    Eu tinha uma peça que adorava
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    "A Boa Alma de Setsuan"
    de Bertolt Brecht.
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    Trata duma prostituta que recebe
    dos deuses uma bolsa de prata
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    como recompensa
    por ter feito uma boa ação.
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    Ela quer ajudar todos os seus amigos
    que também eram pobres
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    mantendo-se solvente.
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    Eu achava que as pessoas sem dinheiro
    deviam gostar dessa história.
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    Provavelmente compreenderiam a luta dela.
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    Mas eu sabia que eles nunca
    iriam ao teatro.
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    E o preço do bilhete
    era o que menos contava.
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    Há toda uma série de preconceitos
    culturais que afugentam as pessoas,
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    como pensarem que não sabem
    o que hão de vestir ou como se portarem.
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    As pessoas sentem que não se integrarão.
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    Por isso, decidi,
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    que, em vez de esperar
    que as pessoas aparecessem,
  • 2:44 - 2:45
    eu iria ter com elas.
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    Pensámos que podíamos encontrar pessoas
    sem muito dinheiro, num abrigo.
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    Assim, concentrámo-nos em Santa Monica.
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    Concebemos um pequeno cenário
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    que podíamos pendurar num varão
    com molas de roupa
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    e começámos a ensaiar.
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    Estávamos bastante assustados
    porque é uma peça de duas horas e meia
  • 3:04 - 3:05
    e tem 35 personagens
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    e só tínhamos sete atores
    para desempenhar todos os papéis.
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    Para além disso, pensávamos:
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    "Quem somos nós, para dizer às pessoas
    que vivem na pobreza todos os dias,
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    "o que quer que seja sobre isso?"
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    Mas, por fim, chegou o dia
    da estreia no abrigo.
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    Juntaram-se umas 30 pessoas,
    muito céticas.
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    Mas gosto de dizer às pessoas
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    que aquele público de 30 pessoas
    foi o maior da minha vida
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    porque, quando perceberam
    que não estávamos ali para pregar nada,
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    não estávamos a tentar dizer-lhes
    para deixarem as drogas
  • 3:40 - 3:42
    nem para serem melhores pessoas,
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    estávamos apenas a tentar
    contar uma história,
  • 3:44 - 3:46
    o melhor que podíamos,
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    quando se aperceberam disso,
    abriram os seus corações.
  • 3:50 - 3:52
    Não sei como explicar de outro modo.
  • 3:52 - 3:55
    Começaram a gritar
    conselhos às personagens.
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    Diziam: "Oh, querida.
    Afasta-te dele. Ele só traz desgraça".
  • 3:58 - 4:00
    (Risos)
  • 4:00 - 4:03
    Não há nada mais emocionante
    para um ator
  • 4:03 - 4:06
    do que um membro do público
    tão preocupado com a nossa personagem
  • 4:06 - 4:08
    que nos grita conselhos.
  • 4:08 - 4:09
    (Risos)
  • 4:09 - 4:13
    Eles sabiam mais sobre o mundo
    da peça do que nós.
  • 4:13 - 4:16
    Mas, como eram tão honestos
    e tão vocais nas suas reações,
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    nós ouvíamos e aprendíamos com eles.
  • 4:19 - 4:20
    Recordo que, no fim da peça,
  • 4:20 - 4:24
    o porteiro, que tinha ficado
    de pé ao fundo da sala,
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    assistindo sempre que podia,
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    chegou ao pé de mim
    olhou-me nos olhos e disse:
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    "Obrigado por nos ter tratado
    como se tivéssemos miolos na cabeça".
  • 4:33 - 4:35
    Levei aquilo muito a sério.
  • 4:35 - 4:37
    Nunca mais o esqueci.
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    Porque, embora acredite
    que o nosso público não tradicional
  • 4:41 - 4:44
    nos dá mais do que nós lhe damos,
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    o que lhe podemos dar
    é o respeito pela sua inteligência.
  • 4:48 - 4:50
    pela sua imaginação.
  • 4:50 - 4:53
    e pelas suas experiências de vida
    tão dificilmente sofridas.
  • 4:53 - 4:57
    O respeito que tantas vezes falta
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    na vida das pessoas
    que vivem marginalizadas.
  • 5:01 - 5:03
    (Aplausos)
  • 5:05 - 5:06
    Obrigada.
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    Eu nunca tinha experimentado
    uma interação como aquela no teatro.
  • 5:11 - 5:13
    Por isso, fiquei apanhada.
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    Assim decidi iniciar um percurso
    de levar as grandes peças de teatro
  • 5:19 - 5:23
    — Shakespeare, tragédias gregas,
    Beckett, musicais americanos —
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    às pessoas que nunca as tinham visto.
  • 5:25 - 5:30
    Com isso, aprendemos
    coisas espantosas sobre o teatro.
  • 5:30 - 5:33
    Pouco depois de fazer
    a "A Boa Alma...",
  • 5:33 - 5:36
    tive uma filha e decidi
    que não queria criá-la em Los Angeles.
  • 5:36 - 5:40
    Assim, comecei a procurar um local
    onde pudesse comprar uma casa,
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    onde pudesse usar a escola pública
  • 5:42 - 5:44
    e onde houvesse uma excelente
    comunidade teatral.
  • 5:44 - 5:45
    Sabem que mais?
  • 5:45 - 5:49
    Ainda há uma cidade dessas neste país.
  • 5:49 - 5:52
    (Aplausos)
  • 5:55 - 5:58
    Eu só quero dizer que as Twin Cities
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    são o local mais saudável
    para fazer teatro neste país,
  • 6:01 - 6:04
    porque podemos viver ali
    enquanto artistas
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    e porque a comunidade
    é muito generosa e amável.
  • 6:10 - 6:12
    (Aplausos)
  • 6:13 - 6:14
    Assim, 25 anos depois,
  • 6:14 - 6:17
    a minha companhia de teatro
    "Ten Thousand Things",
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    faz três peças por ano.
  • 6:19 - 6:23
    Mas levamos cada peça
    a seis ou sete instalações prisionais
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    quer de homens,
    de mulheres ou de jovens.
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    Levamo-las a nove ou dez
    centros de baixos rendimentos.
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    Podem ser centros de sem-abrigo,
  • 6:31 - 6:33
    projetos de habitação,
    centros de desintoxicação,
  • 6:33 - 6:35
    centros de educação para adultos,
  • 6:35 - 6:39
    reservas de índios,
    pequenas cidades rurais do Minnesota.
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    Fazemos quatro fins de semana
    para o público em geral, que paga.
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    Levamos cada peça a todo o tipo
    de seres humanos imagináveis.
  • 6:47 - 6:50
    Trabalhamos com os melhores atores
    das Twin Centers,
  • 6:50 - 6:52
    pessoas que vemos regularmente
  • 6:52 - 6:56
    nos palcos do Guthrie
    ou no Jungle ou no Penumbra.
  • 6:56 - 6:58
    E garanto-vos
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    que a maioria desses atores vos dirá
    que se tornaram artistas muito melhores
  • 7:02 - 7:04
    por causa do nosso público
    não tradicional,
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    tal como eu sei que me tornei
    numa diretora muito melhor
  • 7:08 - 7:10
    do que se tivesse seguido
    o caminho convencional
  • 7:10 - 7:13
    e tivesse tentado subir a escada
    num teatro regional.
  • 7:17 - 7:20
    Venho aqui dizer-vos que o teatro
  • 7:20 - 7:24
    — e, segundo creio,
    todas as formas de arte
  • 7:24 - 7:26
    e todas as realizações humanas —
  • 7:26 - 7:32
    é muito mais rico quando conseguimos
    incluir toda a gente.
  • 7:32 - 7:35
    (Aplausos)
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    Uma das coisas que começa a mudar
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    quando sabemos que vai haver
    todo o tipo de pessoas no público,
  • 7:47 - 7:49
    é o tipo de histórias que contamos.
  • 7:49 - 7:51
    Se olharem para a Broadway,
    neste momento,
  • 7:51 - 7:54
    ou para muitos dos grandes
    teatros regionais,
  • 7:54 - 7:56
    hão de reparar que muitas
    das peças que são representadas
  • 7:56 - 8:01
    encaixam na categoria de pessoas
    ricas que são más umas para as outras.
  • 8:01 - 8:02
    (Risos)
  • 8:03 - 8:05
    Assim, um preso ou um sem-abrigo
  • 8:05 - 8:07
    não se vai interessar muito
    por uma história dessas.
  • 8:07 - 8:10
    E, francamente, não percebo
    porque é que as pessoas se interessam,
  • 8:10 - 8:14
    Essas histórias são muito tacanhas
    e muito limitadas.
  • 8:14 - 8:18
    Precisamos de boas histórias que lidem
    com lutas humanas fundamentais,
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    como o ciúme, a traição,
    a vingança, o desejo
  • 8:23 - 8:27
    — histórias que incluam pessoas
    de todas as classes económicas.
  • 8:27 - 8:31
    Precisamos de histórias que se passem
    noutra época e noutro local.
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    Porque, tal como não faríamos uma peça
    sobre uma casa suburbana,
  • 8:36 - 8:40
    também não fazemos peças
    sobre a pobreza urbana contemporânea,
  • 8:40 - 8:43
    porque o nosso público
    sabe mais sobre isso do que nós
  • 8:43 - 8:45
    e vivem-na todos os dias,
  • 8:45 - 8:48
    por isso não querem ficar
    a olhar para verem o mesmo.
  • 8:48 - 8:49
    (Risos)
  • 8:49 - 8:53
    Mas um mundo inventado
    cria um terreno de representação
  • 8:53 - 8:55
    em que todos entramos como iguais.
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    Ninguém pode ser especialista
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    porque estamos todos
    a criá-la, no momento.
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    A primeira vez
    que representámos Shakespeare,
  • 9:05 - 9:08
    cujas peças obedecem
    a todos estes critérios,
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    eu nunca tinha dirigido Shakespeare
  • 9:10 - 9:12
    mas estava a ler "Medida por Medida",
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    que decorre em bordéis e tabernas
    e palácios e tribunais.
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    Trata da justiça e da injustiça
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    e de ser julgado injustamente por outros.
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    E eu pensei:
  • 9:23 - 9:25
    "Se eu conseguir transmitir
    esta história com clareza..."
  • 9:25 - 9:28
    E confesso: quase sempre
    que assisto a Shakespeare,
  • 9:28 - 9:30
    não compreendo
    o que se passa no palco.
  • 9:30 - 9:34
    Mas pensei que, se pudesse
    transmitir a história com clareza,
  • 9:34 - 9:36
    o meu público iria gostar dela.
  • 9:37 - 9:40
    Mas quero referir
    que não alterei a linguagem.
  • 9:40 - 9:45
    A clareza, em Shakespeare,
    tem a ver com poder sentir cá dentro
  • 9:45 - 9:48
    o que uma personagem
    está a fazer a outra.
  • 9:48 - 9:52
    Se isso for claro, então o significado
    das palavras também é claro.
  • 9:52 - 9:54
    A primeira representação
  • 9:54 - 9:56
    foi no Centro de Dia Dorothy
    para os sem-abrigo,
  • 9:56 - 9:58
    na baixa de St. Paul.
  • 9:58 - 10:02
    Tínhamos um ator de Shakespeare
    muito experiente
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    a representar Lord Angelo.
  • 10:04 - 10:07
    Há aquela cena em que a freira Isabella
  • 10:07 - 10:12
    vai ter com Angelo e lhe implora
    que poupe a vida do irmão.
  • 10:12 - 10:16
    Depois, Isabella sai e Angelo
    começa a desejar Isabella.
  • 10:17 - 10:19
    Fica sozinho no palco e diz:
  • 10:19 - 10:21
    "O que é isto? O que é isto?
  • 10:21 - 10:25
    "Quem peca mais?
    Quem tenta ou quem é tentado?"
  • 10:25 - 10:28
    Há uma mulher sem abrigo sentada
    perto de onde ele está
  • 10:28 - 10:30
    que olha para ele e diz:
  • 10:30 - 10:33
    "Acho que a culpa é tua,
    cabeça de merda".
  • 10:33 - 10:35
    (Risos)
  • 10:37 - 10:42
    Então, um tipo ao fundo da sala
  • 10:42 - 10:43
    grita em voz alta:
  • 10:43 - 10:45
    "Vai em frente e fode-a".
  • 10:45 - 10:47
    (Risos)
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    Todo o público desata às gargalhadas.
  • 10:51 - 10:54
    O ator disse que a alma
    lhe tinha caído aos pés e pensara:
  • 10:54 - 10:56
    "Oh, meu Deus, perdi
    completamente o público.
  • 10:56 - 10:58
    "O que é que eu vou fazer?"
  • 10:58 - 11:03
    Depois percebeu que só precisava
    de dizer os versos seguintes, que eram:
  • 11:03 - 11:06
    "Não é ela, não é ela, sou eu",
  • 11:06 - 11:08
    Era uma resposta perfeita
  • 11:08 - 11:10
    ao que o público
    tinha acabado de gritar.
  • 11:10 - 11:14
    Foi assim que tivemos
    uma revelação de Shakespeare.
  • 11:14 - 11:16
    Shakespeare escrevia
    para as pessoas comuns.
  • 11:16 - 11:18
    Escrevia para as pessoas
  • 11:18 - 11:21
    que pagavam pouco para entrarem
    e ficarem, de pé, em frente do palco.
  • 11:21 - 11:24
    Estavam sempre a gritar
    coisas para os atores.
  • 11:24 - 11:26
    Shakespeare não escrevia
    para um público
  • 11:26 - 11:30
    rico e instruído, calado e polido.
  • 11:31 - 11:33
    A partir daí,
  • 11:33 - 11:37
    Shakespeare tem sido
    um dos nossos dramaturgos preferidos.
  • 11:37 - 11:39
    Porque ele escrevia,
    sabendo que, no público,
  • 11:39 - 11:43
    estariam pessoas de todas
    as classes económicas,
  • 11:43 - 11:45
    tal como estão no nosso público.
  • 11:49 - 11:51
    Penso que podemos começar a ver
  • 11:51 - 11:57
    como fazer teatro deste modo
    começa a tornar-nos num artista melhor.
  • 11:57 - 12:02
    Porque o nosso público vive a sua vida
    em condições igualmente extremas,
  • 12:02 - 12:03
    muitos deles,
  • 12:03 - 12:06
    as mesmas condições extremas
    da existência humana
  • 12:06 - 12:08
    que as personagens
    das peças de Shakespeare
  • 12:08 - 12:10
    ou das tragédias gregas.
  • 12:10 - 12:13
    Os atores têm de aprofundar muito mais
  • 12:13 - 12:16
    para garantirem que
    se assemelham à realidade
  • 12:16 - 12:19
    das experiências do público
    quanto às situações.
  • 12:19 - 12:22
    Se fizermos Ricardo III,
  • 12:22 - 12:25
    para um público que inclui pessoas
    que, provavelmente, mataram alguém,
  • 12:25 - 12:28
    é melhor saber do que é
    que estamos a falar.
  • 12:28 - 12:30
    (Risos)
  • 12:30 - 12:34
    Como é a primeira vez
    que o nosso público vai ao teatro,
  • 12:34 - 12:38
    exigem que sejamos muito claros,
    muito rápidos,
  • 12:38 - 12:42
    muito sinceros e muito reais
    em tudo o que fazemos.
  • 12:43 - 12:44
    Outra coisa que acontece
  • 12:45 - 12:47
    quando sabemos que vamos
    ter toda a gente no nosso público,
  • 12:48 - 12:51
    é que o elenco torna-se
    muito diversificado.
  • 12:51 - 12:55
    Quero que toda a gente do público
    consiga rever-se no palco
  • 12:55 - 12:59
    de uma forma que nunca
    lhes foi possível reverem-se,
  • 12:59 - 13:04
    Temos Marian, a bibliotecária,
    e Harold Hill em "O Homem da Música".
  • 13:04 - 13:08
    Temos Stella e Blanche
    em "Um Carro-elétrico Chamado Desejo.
  • 13:08 - 13:12
    E temos a Rainha Titania
    representada por um homem
  • 13:12 - 13:14
    e Bottom representado por uma mulher
  • 13:14 - 13:16
    em "Um Sonho duma Noite de Verão".
  • 13:16 - 13:21
    Garanto-vos que os atores,
    tal como o público, gostam imenso
  • 13:21 - 13:24
    de poderem desempenhar
    papéis importantes nas histórias
  • 13:24 - 13:27
    que habitualmente ficaram esquecidos.
  • 13:27 - 13:30
    A alegria irradia pelo palco.
  • 13:31 - 13:33
    Outra grande descoberta que fizemos
  • 13:33 - 13:37
    é que não precisamos de muita coisa
    para fazermos teatro.
  • 13:37 - 13:39
    Não usamos um palco.
  • 13:39 - 13:42
    Só precisamos de uma sala grande,
  • 13:43 - 13:46
    suficientemente grande para fazermos
    um círculo de cadeiras,
  • 13:46 - 13:48
    com 5 metros de diâmetro
  • 13:48 - 13:50
    e representamos no meio.
  • 13:50 - 13:51
    Não podíamos usar um palco
  • 13:51 - 13:55
    porque isso iria limitar o número
    de locais onde podíamos representar.
  • 13:55 - 13:58
    O princípio do "design"
    de Ten Thousand Things é:
  • 13:58 - 14:00
    "Ok, mas querem andar com isso às costas?"
  • 14:00 - 14:02
    (Risos)
  • 14:05 - 14:10
    Os atores e eu própria temos
    de carregar e descarregar a carrinha,
  • 14:10 - 14:12
    transportar as coisas escadas acima,
  • 14:12 - 14:14
    percorrer corredores,
    apertarmo-nos em elevadores.
  • 14:14 - 14:16
    Esforçamo-nos muito
  • 14:16 - 14:18
    a imaginar qual é
    a menor quantidade de coisas
  • 14:18 - 14:21
    de que precisamos para contar a história.
  • 14:21 - 14:25
    O nosso público adora ser convidado
    a usar a imaginação.
  • 14:25 - 14:27
    É muito mais divertido,
    como dançar o "hula hoop" e dizer:
  • 14:27 - 14:29
    "Esta é a lua"
  • 14:29 - 14:32
    em vez de termos uma recriação a laser
    de uns 20 000 dólares
  • 14:32 - 14:34
    de uma encenação da lua.
  • 14:35 - 14:40
    Acredito que o teatro funciona melhor
    quando há muitos espaços vazios
  • 14:40 - 14:43
    para a nossa imaginação preencher.
  • 14:43 - 14:46
    Este é Don Quixote
    em "O Homem de La Mancha".
  • 14:46 - 14:48
    (Risos)
  • 14:48 - 14:52
    E aqui temos Seymour
    em "A Pequena Loja dos Horrores",
  • 14:53 - 14:55
    com a planta gigante
    devoradora de homens.
  • 14:55 - 14:56
    (Risos)
  • 14:56 - 14:58
    Aquela é a mão dele.
  • 14:58 - 15:01
    Só precisa de a colar
    à pega de metal do vaso da flor
  • 15:01 - 15:02
    e ela fala com ele.
  • 15:02 - 15:04
    O público adora isso.
  • 15:08 - 15:11
    Se não precisarmos de edifícios,
    de cenários requintados
  • 15:11 - 15:13
    e de fatos elaborados,
  • 15:13 - 15:19
    o dinheiro pode ir para pagar
    aos atores devidamente.
  • 15:19 - 15:21
    Isso acontece com frequência
    no nosso mundo.
  • 15:21 - 15:23
    (Aplausos)
  • 15:24 - 15:29
    O vosso dinheiro pode recompensar
    as energias humanas criativas envolvidas.
  • 15:29 - 15:33
    Quando os atores se sentem respeitados
    por receberem uma remuneração visível,
  • 15:33 - 15:37
    essa energia também percorre o palco.
  • 15:38 - 15:40
    Também não precisamos de luzes.
  • 15:41 - 15:45
    Usamos as luzes fluorescentes
    que haja na sala porque somos obrigados.
  • 15:45 - 15:48
    Mas, em resultado disso,
    acontecem coisas maravilhosas,
  • 15:48 - 15:51
    Primeiro, os atores veem o público,
  • 15:51 - 15:53
    que normalmente não veem
    numa sala escura,
  • 15:53 - 15:55
    como neste momento eu não vos vejo.
  • 15:55 - 15:59
    As oportunidades para a vivacidade
    aumentam drasticamente.
  • 16:00 - 16:02
    Não há sítio onde se esconder.
  • 16:03 - 16:06
    Se estivermos a meio metro de um preso
  • 16:06 - 16:08
    que está a ficar aborrecido e impaciente,
  • 16:08 - 16:12
    o ator dá por isso e pode tentar ajustar
  • 16:12 - 16:15
    e garantir que aquela cena
    se torna mais interessante.
  • 16:15 - 16:20
    Quando as luzes estão acesas
    e o público está sentado à roda,
  • 16:20 - 16:22
    podem ver-se uns aos outros.
  • 16:22 - 16:24
    Isto é muito giro, sobretudo,
    quando representamos
  • 16:24 - 16:26
    em centros de baixos rendimentos,
  • 16:26 - 16:28
    em que também há
    pessoas do público em geral.
  • 16:28 - 16:30
    Porque é aí que, com frequência,
  • 16:30 - 16:34
    temos um administrador
    sentado ao lado de um sem-abrigo.
  • 16:34 - 16:36
    O sem-abrigo ri-se de qualquer coisa
  • 16:36 - 16:40
    e o administrador pensa:
    "Sim, aquilo é engraçado".
  • 16:40 - 16:43
    Depois, o administrador
    ri-se de qualquer coisa
  • 16:43 - 16:46
    e o sem-abrigo pensa:
    "Sim, sim, sim! Já percebi".
  • 16:46 - 16:49
    Quantas vezes acontece no nosso mundo
  • 16:49 - 16:52
    que alguém extremamente rico
    e alguém extremamente pobre
  • 16:52 - 16:55
    se sentam ao lado um do outro,
    em pé de igualdade
  • 16:55 - 16:58
    misturando as suas imaginações
  • 16:58 - 17:02
    numa história sobre as lutas
    que os seres humanos partilham?
  • 17:02 - 17:05
    Não é muito frequente neste mundo.
  • 17:06 - 17:10
    Há mais uma coisa que acontece
    quando fazemos este tipo de teatro.
  • 17:10 - 17:13
    É muito apreciado
    pelos jovens de 20 ou 30 anos.
  • 17:13 - 17:17
    Não é uma coisa velha,
    distante, bafienta, formal.
  • 17:17 - 17:20
    É uma coisa íntima, é imediata, é crua.
  • 17:20 - 17:22
    Envolve-nos.
  • 17:22 - 17:25
    Como alguém disse,
    é como o teatro no seu melhor.
  • 17:25 - 17:29
    É uma forma muito divertida de ver teatro.
  • 17:30 - 17:34
    O que é que tudo isto tem a ver
    com o mundo fora do teatro?
  • 17:35 - 17:38
    Espero que isto vos traga inspiração
  • 17:38 - 17:43
    para descobrirem por vocês mesmos
    as riquezas e as recompensas que esperam
  • 17:43 - 17:46
    quando nos dedicamos inteiramente
  • 17:46 - 17:51
    a imaginar como incluir toda a gente
    no que quer que façamos,
  • 17:51 - 17:56
    pessoas de todas as classes económicas,
    de todas as etnias e sexos,
  • 17:56 - 17:59
    com todas as experiências da vida.
  • 17:59 - 18:01
    Não esperem que elas vão ter convosco.
  • 18:01 - 18:04
    Se não conseguem imaginar
    como levar até elas o que vocês fazem,
  • 18:04 - 18:07
    vão ter de passar muito tempo
    a criar relações
  • 18:07 - 18:10
    que vos ensinem a acreditar
    que estão dispostos a isso.
  • 18:10 - 18:13
    Vão ter de encontrar uma forma
    de os considerar como iguais
  • 18:14 - 18:18
    e abrirem-se com humildade
    para escutarem profundamente.
  • 18:19 - 18:23
    Quando conseguirem, descobrirão
    que os vossos preconceitos desapareceram,
  • 18:24 - 18:28
    que a vossa forma habitual de fazer coisas
    se alterou radicalmente
  • 18:28 - 18:32
    e que o vosso mundo mudou totalmente.
  • 18:32 - 18:37
    Encontrem uma forma, imaginem
    como podem incluir toda a gente.
  • 18:37 - 18:40
    Descubram como fazer isso.
  • 18:40 - 18:43
    A vossa vida será muito mais rica
  • 18:43 - 18:46
    nas coisas que são
    realmente importantes neste mundo.
  • 18:46 - 18:47
    Obrigada.
  • 18:47 - 18:50
    (Aplausos)
Title:
Todas as luzes acesas: re-imaginar o teatro para incluir toda a gente | Michelle Hensley | TEDxMinneapolis
Description:

Michelle Hensley descreve a motivação por detrás do início da sua companhia teatral, Ten Thousand Things, que leva teatro profissional de categoria — Shakespeare, tragédias gregas, Brecht — a um público que vive marginalizado, em abrigos e prisões e centros de imigração, assim como a um público esclarecido quanto a teatro. Descreve as descobertas que a companhia tem feito sobre o teatro, ao proceder desta forma e realça fortemente a mudança radical e positiva que pode ocorrer a qualquer atividade humana quando a inclusão passa a ser uma prioridade.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
18:55

Portuguese subtitles

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