Meu pai, a doença mental e a pena de morte | Clive Stafford Smith | TEDxExeter
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0:13 - 0:14Olá.
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0:14 - 0:16Sinto-me em casa aqui,
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0:16 - 0:19porque estive 34 vezes em Guantánamo.
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0:19 - 0:23Por isso, ficar numa área
pequena e fechada, -
0:23 - 0:27com aquelas luzes fortes presentes
nos interrogatório, sem comida nem água, -
0:27 - 0:29é como estar em casa.
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0:29 - 0:30(Risos)
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0:31 - 0:34Não gostaria de ser indelicado
com o pessoal do TEDx, -
0:34 - 0:37mas gostaria de iniciar
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0:37 - 0:40com um pequeno tributo à minha tia,
que morreu recentemente. -
0:40 - 0:44Minha tia Jean estava com 94 anos
e teve uma vida muito boa. -
0:45 - 0:50Mas uma coisa sobre ela é que
escolheu a hora errada de nascer. -
0:50 - 0:52Ela nasceu em 1920.
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0:52 - 0:55Como a filha da nossa família,
ela teve muito poucas oportunidades. -
0:55 - 0:58Era uma mulher brilhante e muito mordaz,
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0:58 - 1:01mas foi meu pai, seu irmão mais novo,
que teve todas as regalias; -
1:01 - 1:05foi para Cambridge primeiro
e desfrutou de tudo. -
1:05 - 1:09Minha tia não conseguiu e eu a provocava
dizendo que, se ela tivesse, -
1:09 - 1:10ela era bastante conservadora,
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1:10 - 1:14provavelmente teria dirigido
o país e empunharia sua bolsa -
1:14 - 1:18mais eficazmente que Margaret Thatcher,
o que eu achava aterrorizante. -
1:19 - 1:22Meu pai, como disse, foi
quem teve as oportunidades -
1:22 - 1:27mas, infelizmente, teve sua vida
destruída pelo transtorno bipolar. -
1:27 - 1:32Mesmo sendo muito inteligente
e tendo todas as oportunidades, -
1:33 - 1:35foi muito difícil para ele levar a vida.
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1:35 - 1:40Gostaria de contar algumas histórias
que aconteceram comigo, recentemente. -
1:40 - 1:44Quando eu tinha sete anos
e isso é apenas para ilustrar, -
1:44 - 1:46amo muito meu pai e não iria
denegri-lo de forma alguma. -
1:46 - 1:50Mas quando tinha sete anos,
ele me chamou à biblioteca e disse: -
1:50 - 1:55"Clive, sua geração
é muito infantil, imatura. -
1:55 - 1:59Francamente, você está com sete
anos e é hora de morar sozinho. -
1:59 - 2:01(Risos)
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2:01 - 2:04Toma 200 libras; agora se manda".
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2:04 - 2:06Claro que fiquei bem confuso.
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2:06 - 2:08Na época eu ganhava um xelim por semana,
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2:08 - 2:12e não tinha ideia de quanto isso valia,
mas calculei antes de vir aqui; -
2:12 - 2:15ele me deu o equivalente
a 80 anos de mesada. -
2:15 - 2:19Naturalmente, não me sentia
preparado para sair de casa, -
2:19 - 2:22e, felizmente, como sempre,
minha mãe veio e resolveu o problema, -
2:22 - 2:24pegando o dinheiro
e me mandando para a cama. -
2:25 - 2:28Esse tipo de coisa aconteceria
com frequência com meu pai. -
2:28 - 2:31Tem outra história que aconteceu
um pouco mais tarde na minha vida, -
2:31 - 2:35eu estava defendendo um caso envolvendo
pena de morte no sul do Mississippi. -
2:35 - 2:39Meu pai veio para me ajudar
e, como sempre, -
2:39 - 2:43falou que eu era um completo inútil
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2:43 - 2:45e, então, ele foi de carona
até Jackson, Mississippi, -
2:45 - 2:48conseguiu entrar no palácio do governador
-
2:48 - 2:52e pediu a ele que não somente
o meu cliente fosse executado, -
2:52 - 2:55como seria um grande favor ao mundo
se me executassem também. -
2:55 - 2:57(Risos)
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2:57 - 3:02Muitas autoridades em Mississippi
concordavam com ele, -
3:03 - 3:06mas foi meio embaraçoso pra mim, na época.
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3:06 - 3:08O que me ajudou, em última análise,
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3:08 - 3:11ele acabou trabalhando com pena de morte,
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3:11 - 3:15foi um entendimento do meu pai
e algumas das coisas que ele fazia -
3:15 - 3:18e não eram necessariamente
o produto de uma mente racional. -
3:19 - 3:22Infelizmente, muitas pessoas
viam coisas que meu pai fazia -
3:22 - 3:26e o odiavam por isso e achavam
que ele era trapaceiro ou coisa pior. -
3:26 - 3:30Ele fez coisas extraordinariamente
bizarras ao longo dos anos. -
3:31 - 3:33Uma delas foi com a minha tia.
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3:33 - 3:36Minha tia Jean era uma mulher
extremamente solidária, -
3:36 - 3:41mas não conseguiu entender, ou aceitar,
talvez seja uma palavra melhor, -
3:41 - 3:45que seu irmão mais novo de olhos
azuis fosse mentalmente doente. -
3:45 - 3:48Então, ela sempre achava que ele era mau,
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3:48 - 3:51e não simplesmente
uma pessoa mentalmente doente. -
3:51 - 3:55Isso é muito triste,
porque acho que se ele -
3:55 - 3:57tivesse sido diagnosticado
antes, teria obtido ajuda. -
3:57 - 4:01Ele foi atendido e recebeu
tratamento apenas uma vez. -
4:01 - 4:02Isso meio que arruinou sua vida.
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4:02 - 4:06O que me leva a Ricky Langley.
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4:06 - 4:12Eu o defendi num processo na Louisiana.
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4:12 - 4:16Ricky Langley é um pedófilo
que molestou muitas crianças, -
4:16 - 4:20e que acabou matando um menino
de seis anos chamado Jeremy Guillory. -
4:21 - 4:26Assumi o seu caso
em 1993 pela primeira vez. -
4:26 - 4:31A história dele começa
muito antes de ele nascer. -
4:32 - 4:34Gostaria de contar sua história
-
4:34 - 4:36porque ela nos leva a uma mulher
chamada Lorelei Guillory, -
4:36 - 4:39que era a mãe do menino que morreu,
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4:39 - 4:42e ela é um dos meus grandes heróis.
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4:42 - 4:47Antes de Ricky nascer, sua mãe e seu pai
estavam viajando de carro por uma estrada, -
4:47 - 4:49com os dois filhos atrás.
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4:49 - 4:51Alcide estava dirigindo bêbado,
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4:51 - 4:53quando saiu da estrada e bateu num poste.
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4:53 - 4:55Uma das crianças no assento de trás
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4:55 - 5:00era loiro, desgrenhado, tinha
seis anos e se chamava Oscar-Lee. -
5:00 - 5:03Criança adorável,
era o queridinho de seus pais. -
5:03 - 5:05Ele morreu instantaneamente
-
5:05 - 5:08e sua irmã, um pouco mais jovem,
foi decapitada e morreu também. -
5:08 - 5:10Coisa pavorosa.
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5:10 - 5:15Betsy, a mãe, foi arremessada pelo
para-brisas e ficou gravemente ferida. -
5:15 - 5:19Ela ficou no Hospital de Caridade
durante os dois anos seguintes. -
5:19 - 5:23Ela ficou imobilizada
do pescoço aos tornozelos. -
5:23 - 5:27No julgamento, eu tinha um voluntário
australiano que servia de modelo disso, -
5:27 - 5:30que deveria advertir para nunca
se trabalhar como voluntário -
5:30 - 5:32como um indulto, ousaria dizer.
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5:32 - 5:36Mesmo imobilizada, ela engravidou.
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5:36 - 5:39Naturalmente isso tinha a ver com Alcide,
-
5:39 - 5:44seu marido que tinha uma visão retrógrada
sobre os papéis de marido e mulher. -
5:45 - 5:48Ninguém acreditava que ela
estivesse grávida, como poderia? -
5:48 - 5:51Embora isso seja uma outra coisa
demostrada no julgamento, -
5:51 - 5:54pelo menos para a diversão do juiz,
que era um pouco pervertido. -
5:54 - 5:55(Risos)
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5:55 - 5:57Gente boa, esse juiz.
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5:57 - 6:01Ela estava grávida e ninguém
acreditou nisso por cinco meses. -
6:01 - 6:05Durante esses cinco meses,
Ricky, que era o feto, -
6:06 - 6:09foi submetido à sua própria
Hiroshima de raios-x, -
6:09 - 6:11todas aquelas drogas que ela tomava
-
6:11 - 6:14e que jamais deveriam ser
dadas a uma mulher grávida; -
6:14 - 6:18uma das drogas, estranhamente,
tem sido associada à pedofilia. -
6:18 - 6:20Quando se expõe um feto a essa droga,
-
6:20 - 6:24o indivíduo fica muito mais suscetível
a se tornar um pedófilo mais tarde, -
6:24 - 6:27e, de tão bizarro que era,
não apresentamos ao júri, -
6:27 - 6:30porque eles pensariam que tínhamos
inventado isso, mas é a verdade. -
6:30 - 6:36Cinco meses depois, os médicos
finalmente acreditaram que estava grávida, -
6:36 - 6:39cortaram o gesso que a imobilizava
-
6:39 - 6:42e disseram: "Você precisa fazer um aborto.
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6:42 - 6:45Não existe outra alternativa,
porque engessamos você e o bebê". -
6:45 - 6:51Alcide, o marido, falou: "Não vou deixar.
Sou católico e não permito abortos". -
6:51 - 6:54Betsy seguiu com a gravidez.
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6:54 - 6:58Quando ele nasceu, obviamente
não era loiro com olhos azuis -
6:58 - 7:00como o pequeno Oscar-Lee.
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7:00 - 7:04Ele era meio estranho,
é só o que se podia dizer. -
7:04 - 7:08Acredito que disseram isso de mim
quando era criança e ainda dizem. -
7:08 - 7:12Mas Ricky tinha sofrido imensamente
-
7:12 - 7:16e era bem óbvio que alguma
coisa iria acontecer. -
7:17 - 7:18Ele não era Oscar-Lee
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7:18 - 7:22e seu pai zombava muito dele
porque ele não era o Oscar-Lee. -
7:22 - 7:25Ele começou a se molestar.
-
7:25 - 7:29Aos oito anos ele começou
a dormir em túmulos no cemitério. -
7:29 - 7:34Aos dez, colocou um bilhete
no quadro de avisos da escola: -
7:34 - 7:36"Não sou Ricky Langley, sou Oscar-Lee",
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7:36 - 7:39que era o irmão que havia morrido.
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7:39 - 7:42Ricky já estava desenvolvendo uma psicose
-
7:42 - 7:44de que ele era seu irmão morto, Oscar-Lee,
-
7:44 - 7:48ou Oscar-Lee era seu alter ego, seu algoz,
-
7:48 - 7:51que o forçava a fazer coisas
que ele não queria fazer. -
7:51 - 7:55Ricky começou a molestar
outras crianças também, claro. -
7:55 - 8:00Ele não entendia naquela época
o que estava acontecendo, -
8:00 - 8:03mas ele acabou
no sistema prisional na Geórgia, -
8:03 - 8:08por molestar uma criança,
que era filho do seu primo. -
8:08 - 8:10Foi a primeira vez
que ele recebeu orientação. -
8:10 - 8:15Os conselheiros falaram: "Você é pedófilo,
mentalmente doente, não podemos tratá-lo, -
8:15 - 8:18não tem cura, você continuará molestando".
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8:18 - 8:21E, de fato, sob esse ponto de vista,
que é meio estranho -
8:21 - 8:27"se nós o libertarmos, após um ano, você
fatalmente irá molestar outra criança." -
8:27 - 8:30Ricky, como meu pai, era
uma pessoa muito inteligente. -
8:30 - 8:34Normalmente, há um estereótipo
que, se você for uma pessoa brilhante, -
8:34 - 8:38não terá transtornos mentais,
o que é obviamente uma coisa boba. -
8:38 - 8:41Quando disseram isso ao Ricky,
ele falou: "Vocês me convenceram". -
8:41 - 8:44Ele escreveu uma carta ao Conselho
de Indulto e Condicional da Geórgia -
8:44 - 8:47dizendo: "Não me libertem
pelo amor de Deus. -
8:47 - 8:50Coloquem-me num hospital psiquiátrico".
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8:50 - 8:53Mas burocracia é burocracia,
-
8:53 - 8:55eles ignoraram seu pedido e o libertaram.
-
8:55 - 9:00Cerca de um ano depois,
ele viria a matar uma criança, -
9:00 - 9:04Jeremy Guillory, de seis anos de idade,
que era filho de Lorelei Guillory, -
9:04 - 9:06a mulher que mencionei anteriormente.
-
9:07 - 9:11Quando falei inicialmente com ele,
ele me contou o seguinte: -
9:11 - 9:16"Pensei que era Oscar-Lee, meu algoz,
e eu estava tentando me livrar dele!" -
9:16 - 9:20Um dos grandes desafios
ao se lidar com um caso como este -
9:20 - 9:23é dizer a pessoas razoavelmente racionais,
-
9:25 - 9:28uma coisa totalmente irracional;
incrivelmente difícil de entender. -
9:28 - 9:31Um pequeno exemplo
que tínhamos em relação ao Ricky -
9:31 - 9:35era uma foto de Oscar-Lee
e uma outra de Jeremy Guillory -
9:35 - 9:37e a própria tia de Oscar-Lee
não conseguia diferenciá-los. -
9:37 - 9:41Talvez fosse uma pequena visão
dos sentimentos do Ricky. -
9:41 - 9:44Não havia dúvidas que ele
havia matado a criança. -
9:44 - 9:46Ele foi condenado à morte
no primeiro julgamento. -
9:46 - 9:48Os jurados viram que ele era doente.
-
9:48 - 9:51Disseram: "Sim, mas ele
é perigoso, é melhor matá-lo". -
9:51 - 9:55Conseguimos um novo julgamento e antes
dele, passei a conhecer Ricky melhor -
9:55 - 9:59e foi quando conheci Lorelei,
a mãe da criança assassinada. -
9:59 - 10:02Lorelei era uma pessoa fascinante.
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10:02 - 10:05Era uma alcoólatra em tratamento,
de pouca educação formal, -
10:05 - 10:08mas cheia de muita compaixão.
-
10:08 - 10:11Como mãe da vítima, o que ela mais queria
-
10:11 - 10:16era entender por que aquilo
havia acontecido. -
10:16 - 10:17Estava falando com ela e eu disse:
-
10:17 - 10:21"Se você realmente quiser entender,
seria importante falar com Ricky. -
10:21 - 10:24Sei que isso é difícil, mas Ricky
adoraria conversar com você; -
10:24 - 10:28para se desculpar porque sabe
que tirou a vida do seu filho -
10:28 - 10:31e para explicar um pouco mais
sobre sua doença mental. -
10:32 - 10:35Isso não vai explicar tudo,
-
10:35 - 10:39porque foi um ato irracional, mas
poderia ajudá-la, de alguma forma". -
10:39 - 10:42Acho que era uma grande
oportunidade e a Lorelei falou: -
10:42 - 10:43"Sim, farei isso".
-
10:43 - 10:47Ela foi até a prisão,
sozinha, para ver Ricky. -
10:47 - 10:50Disse: "Fale com Ricky
e, se não gostar do que ele disser, -
10:50 - 10:53pode testemunhar contra ele,
não me importo, isso é com você". -
10:53 - 10:57Ela entra na sala, sempre
chamando-o de "Langley". -
10:57 - 11:00Obviamente, no início, ela tinha
sentimentos ruins em relação a ele. -
11:00 - 11:04Ela se sentou e Ricky explicou toda
a história da sua vida e se desculpou. -
11:05 - 11:07Ao final de três horas
-
11:07 - 11:10falando com a pessoa que havia
matado seu filho de seis anos, -
11:10 - 11:13ela diz, chamando-o
de "Ricky" pela primeira vez: -
11:13 - 11:16"Ricky vou ajudar você!"
-
11:16 - 11:19Da prisão, ela foi direto
ao escritório do promotor, -
11:19 - 11:22não vou dizer quem era
porque não gostava dele, -
11:22 - 11:26ela entra no escritório e explica tudo.
-
11:26 - 11:29"Acho que Ricky Langley é doente mental,
-
11:29 - 11:32e a pena de morte não se justifica.
-
11:32 - 11:36Somente me fará sofrer, novamente,
coisas terríveis, e não resolverá nada". -
11:36 - 11:39Então, o promotor fala:
-
11:39 - 11:44"Senhora Guillory, você é uma ré
muito estranha, quero dizer, uma vítima". -
11:44 - 11:48Ele queria a pena de morte,
de qualquer forma. -
11:48 - 11:52Na verdade, as autoridades
tentaram tirar o outro filho dela, -
11:52 - 11:55porque era uma mãe incapaz,
que teve um comportamento estranho -
11:55 - 11:58em relação à pessoa que matara seu filho.
-
11:58 - 12:01Fomos ao julgamento
e uma das coisas adoráveis, -
12:01 - 12:03adoro julgamentos com pena
de morte nos EUA, -
12:03 - 12:05é que pode-se perguntar
qualquer coisa às pessoas. -
12:05 - 12:07Adoraria fazer isso com vocês:
-
12:07 - 12:10"Estão sob juramento, devem
responder tudo o que eu perguntar". -
12:10 - 12:11Muito divertido.
-
12:11 - 12:12(Risos)
-
12:12 - 12:16Muito divertido para mim,
não para as outras pessoas. -
12:17 - 12:21Fui escolher o júri
e eram pessoas adoráveis. -
12:21 - 12:23Escolhemos 12 pessoas
que tinham parentes próximos -
12:23 - 12:27com graves transtornos mentais
e entendiam bem a situação. -
12:27 - 12:31Eles riam das minhas piadas patéticas
-
12:31 - 12:35então, estava confiante que conseguiria
um bom resultado neste julgamento, -
12:35 - 12:38porque eles realmente
não gostavam do promotor. -
12:38 - 12:40Falei com a Lorelei;
-
12:40 - 12:43num caso de pena de morte
nos EUA, há dois julgamentos. -
12:43 - 12:45O primeiro é para ver se você
é ou não culpado de assassinato -
12:45 - 12:48e, somente se for culpado de assassinato,
-
12:48 - 12:50há um segundo que
define se é vida ou morte; -
12:50 - 12:53se é prisão perpétua ou pena de morte.
-
12:53 - 12:57Disse a Lorelei: "Essas são pessoas boas
e não vão condená-lo à morte. -
12:57 - 13:02Você não terá a chance de testemunhar
num segundo julgamento -
13:02 - 13:06para dizer como a pena
de morte seria horrível para você. -
13:06 - 13:08Você simplesmente não terá essa chance.
-
13:08 - 13:12Preciso dizer isso a você, porque
acho que é o que vai acontecer. -
13:12 - 13:15Estou muito feliz,
mas sinto muito por você". -
13:15 - 13:19Ela foi embora e, como
era muito religiosa, rezou, -
13:19 - 13:21voltou na manhã seguinte e disse:
-
13:21 - 13:24"A lógica da minha posição é ..."
-
13:24 - 13:27Ela disse isso com sotaque
carregado do sul da Louisiana -
13:27 - 13:32"A lógica da minha posição
é que ele tem um distúrbio mental, -
13:32 - 13:35ele não deveria ir para a prisão
e sim para um hospital psiquiátrico. -
13:35 - 13:39Quero testemunhar para que ele seja
considerado 'inocente por insanidade', -
13:39 - 13:42porque ele estava perturbado
quando matou meu filho". -
13:42 - 13:44Falei, então: "Tudo bem".
-
13:45 - 13:48Ela disse: "No entanto, gostaria
de ter a garantia de que ele -
13:48 - 13:52nunca mais seja libertado do hospital
psiquiátrico para molestar outra criança". -
13:52 - 13:54Falei: "Isso é fácil".
-
13:54 - 13:55É o que Ricky quer.
-
13:55 - 14:01Ele queria ser uma cobaia porque
ele se conhecia e sabia o que havia feito. -
14:02 - 14:07Uma das coisas que posso dizer,
que o "News of The World" sempre fazia, -
14:07 - 14:11era dizer que não há quem odeie
mais Ricky Langley do que ele próprio. -
14:12 - 14:15E ele queria ser uma cobaia
para que pudesse ser estudado, -
14:15 - 14:18para que outras pessoas
não sofressem o que ele sofreu -
14:18 - 14:21e para que outras crianças
não passassem por isso. -
14:21 - 14:24Ele assinou tudo o que era necessário
-
14:24 - 14:28e perguntei a Lorelei: "O que quer
que pergunte a você, como testemunha?" -
14:28 - 14:31Ela falou: "Basta me fazer
uma pergunta", e eu fiz. -
14:31 - 14:34Desculpe-me, sempre fico
um pouco perturbado -
14:34 - 14:38quando falo sobre isso, porque foi
um momento extraordinário com a Lorelei. -
14:38 - 14:41Ela estava no banco
de testemunhas, perguntei: -
14:41 - 14:46"Senhora Guillory, o que tem a dizer
sobre aquele homem que matou -
14:46 - 14:49seu filho de seis anos: ele estava
mentalmente perturbado naquele momento?" -
14:50 - 14:54Ela se volta para os jurados
e diz: "Sim, acho que ele estava. -
14:54 - 14:59Acho que Ricky Langley tem pedido
ajuda desde o dia em que nasceu. -
14:59 - 15:04Por várias razões, sua família,
a sociedade e o sistema legal -
15:04 - 15:06simplesmente não o ajudaram.
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15:06 - 15:11Nesta cadeira de testemunhas, ouço
os gritos de socorro do meu filho, Jeremy. -
15:11 - 15:14Ainda assim, ouço os gritos
de socorro desse homem. -
15:14 - 15:18Acho que ele estava mentalmente
perturbado quando matou meu filho". -
15:18 - 15:21Quando se está nas considerações
finais de um caso de pena de morte, -
15:21 - 15:25e tive muitos casos, é difícil;
uma grande responsabilidade. -
15:25 - 15:29Não é tão divertido quanto a primeira
parte, quando é só interrogatório. -
15:29 - 15:31Mas, foi fácil, certo?
-
15:31 - 15:36Disse ao juri: "Ouçam o que a senhora diz,
não posso fazer melhor que isso". -
15:36 - 15:38Eles o absolveram do assassinato
em primeiro grau, -
15:38 - 15:44embora estejamos lutando por uma justiça
verdadeira para ele e para Lorelei. -
15:45 - 15:46Existem duas razões para isso.
-
15:46 - 15:49A primeira é que ela é uma vítima.
-
15:49 - 15:52Uma das coisas aterradoras
sobre a nossa sociedade -
15:52 - 15:53é a forma como o governo,
-
15:53 - 15:58o grande guardião do bem e do mal,
tenta ensinar às vítimas como odiar. -
15:58 - 16:02Lorelei é um dos meus grandes
heróis, porque ela tentou entender -
16:02 - 16:05e, na verdade, é a coisa certa a se fazer.
-
16:05 - 16:08A segunda coisa é sobre doenças mentais.
-
16:10 - 16:13Ricky entende que é mentalmente doente,
-
16:13 - 16:16o que é mais do que o meu
pobre pai nunca conseguiu. -
16:16 - 16:21Mas o que realmente importa, é que, mesmo
minha tia sendo solidária e inteligente, -
16:21 - 16:24ela nunca conseguiu entender
verdadeiramente meu pai, -
16:24 - 16:26que ele tinha um distúrbio mental.
-
16:26 - 16:27Mas, Lorelei Guillory conseguiu.
-
16:27 - 16:32Lorelei Guillory podia ver, não só
que Ricky era mentalmente doente, -
16:32 - 16:36como que precisávamos
entendê-lo e não odiá-lo. -
16:36 - 16:40Essa é a base para se entender as pessoas,
-
16:40 - 16:44e, talvez, para que possamos prevenir
-
16:44 - 16:47que aconteçam coisas como essas no futuro.
-
16:47 - 16:49É a razão pela qual
quis contar esta história, -
16:49 - 16:53porque Lorelei Guillory é um dos
grandes heróis desconhecidos, -
16:53 - 16:55ou heroínas do mundo,
-
16:55 - 16:57e aproveitei a oportunidade
para contar sua história. -
16:57 - 16:59Muito obrigado.
-
16:59 - 17:00(Aplausos)
- Title:
- Meu pai, a doença mental e a pena de morte | Clive Stafford Smith | TEDxExeter
- Description:
-
Esta é a história de Ricky, um agressor e assassino condenado, e da mãe da criança que ele matou; também é uma história sobre doença mental, pena de morte, vitimização e a busca da compreensão de tudo isso.
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 17:13