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Pelo amor das "fangirls"

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    Há quatro anos,
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    uma adolescente mudou minha vida
    em apenas uma conversa.
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    Ela tinha 13 anos, era a prima
    de um amigo e, um dia, me disse
  • 0:13 - 0:16
    que havia conhecido o homem
    com quem se casaria.
  • 0:17 - 0:19
    Eu disse: "Muito bem, conte-me sobre ele".
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    Ela disse que seu nome era Harry Styles.
  • 0:23 - 0:25
    (Risos)
  • 0:25 - 0:27
    Eu ri também, como vocês,
  • 0:27 - 0:29
    e ela disse: "Eu sei que você
    não me leva a sério,
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    mas vou mesmo ficar com ele.
  • 0:31 - 0:33
    Porque eu o amo tanto
  • 0:33 - 0:36
    que eu cortaria a garganta
    de alguém para ficar com ele".
  • 0:36 - 0:37
    (Risos)
  • 0:39 - 0:45
    Foi naquele momento
    que fiquei obcecada pelas "fangirls".
  • 0:45 - 0:46
    Até então, não sabia,
  • 0:46 - 0:50
    mas aquele momento
    transformaria a minha vida
  • 0:50 - 0:56
    e mudaria tudo o que achava que sabia
    sobre ser adulta, ser mulher
  • 0:56 - 0:58
    e ser verdadeiramente feliz.
  • 0:58 - 1:00
    Mas, antes de começarmos,
  • 1:00 - 1:03
    o que é uma fangirl
    e o que é Harry Styles?
  • 1:03 - 1:07
    Bem, de acordo com o dicionário
    Merriam-Webster,
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    uma fangirl é "uma garota ou mulher
    que é extrema ou exageradamente fã
  • 1:13 - 1:15
    de alguém ou de algo".
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    Tecnicamente, há fangirls
    de qualquer coisa,
  • 1:18 - 1:21
    mas meu interesse foi específico
    em fangirls de "boy bands".
  • 1:21 - 1:24
    Devido à sua reputação um pouco letal.
  • 1:25 - 1:29
    Lembro-me de meu pai contando uma história
    de algumas fãs dos Beatles nos anos 1960
  • 1:29 - 1:33
    que, aparentemente, fizeram
    uma BMW em pedaços
  • 1:33 - 1:36
    porque a banda, supostamente,
    havia sentado nela.
  • 1:36 - 1:40
    Nos anos 1960, os Beatles
    eram a maior boy band do planeta,
  • 1:40 - 1:43
    mas, quando conheci esta garota em 2015,
  • 1:43 - 1:48
    a maior boy band do planeta
    era One Direction.
  • 1:48 - 1:52
    E Harry Styles era um dos membros,
  • 1:53 - 1:58
    conhecido pelo seu comportamento
    amável e seu cabelo perfeito.
  • 1:58 - 2:02
    Descobri isso ao ler
    milhares de tuítes sobre ele,
  • 2:02 - 2:04
    que ele é um docinho,
  • 2:04 - 2:06
    e também um anjo perfeito.
  • 2:06 - 2:10
    Descobri que, uma vez,
    ele vomitou em uma estrada na Califórnia
  • 2:10 - 2:13
    e, em duas horas, as fãs
    transformaram o local do vômito
  • 2:13 - 2:14
    em um santuário sagrado.
  • 2:14 - 2:16
    [Harry Styles vomitou aqui!]
  • 2:16 - 2:18
    (Risos)
  • 2:20 - 2:23
    Vi no meu celular desenhos
    do Harry feito por fãs,
  • 2:23 - 2:24
    fotos dele quando bebê,
  • 2:24 - 2:26
    desenhos de fotos dele quando bebê.
  • 2:26 - 2:30
    Assisti a vídeos que me ensinaram
    a fazer totens de amor para Harry,
  • 2:30 - 2:34
    por exemplo, um abajur
    coberto com as fotos do rosto dele
  • 2:34 - 2:37
    ou chaveiro que mostra
    o horário exato de seu nascimento.
  • 2:37 - 2:41
    Li inúmeras ficções de fãs
    e caí nesta rede específica
  • 2:41 - 2:45
    de histórias que me colocaram
    como uma protagonista
  • 2:45 - 2:47
    dentro de romances fictícios com ele.
  • 2:47 - 2:51
    Em uma delas, digo a ele
    que estou grávida de um filho dele.
  • 2:51 - 2:55
    Em outra, nos conhecemos em um hospital
    e ambos lutamos contra o câncer,
  • 2:55 - 2:57
    e em outra, nos apaixonamos
    tão profundamente
  • 2:57 - 3:00
    que nos tornamos fugitivos
    que matam pessoas.
  • 3:00 - 3:01
    (Risos)
  • 3:02 - 3:03
    Então,
  • 3:04 - 3:06
    algo inimaginável acontece.
  • 3:07 - 3:13
    One Direction, a maior boy band
    do mundo, perde um membro.
  • 3:14 - 3:20
    Zayn Malik deixa a banda,
    e a internet vai à loucura.
  • 3:21 - 3:25
    Li tuítes nos quais as garotas descrevem
    a dor física desta perda,
  • 3:25 - 3:28
    a ponto de não conseguirem comer,
    dormir ou caminhar.
  • 3:28 - 3:32
    Li o quanto Zayn significava para elas.
  • 3:32 - 3:35
    E vi vídeos de garotas
    de dez anos chorando.
  • 3:36 - 3:38
    Realmente chorando.
  • 3:39 - 3:42
    Então, vi as pessoas postando
    esses vídeos com novos nomes,
  • 3:42 - 3:46
    contendo palavras como
    louca, e apavorante, e insana.
  • 3:46 - 3:49
    E de repente, a barra lateral
    do meu YouTube me sugere:
  • 3:49 - 3:52
    "Compilação: fãs reagindo à saída de Zayn.
  • 3:52 - 3:54
    Alerta de psicopata!"
  • 3:54 - 3:58
    Assisti à cobertura
    desta história pela mídia.
  • 3:58 - 4:01
    Li que descreviam as fãs
    como jovens almas penadas.
  • 4:01 - 4:03
    Um jornalista disse:
  • 4:03 - 4:06
    "É um fato conhecido
    desde a era dos Beatles
  • 4:06 - 4:11
    que não há nada mais assustador no mundo
    do que um grupo de jovens fãs eufóricas".
  • 4:11 - 4:12
    (Risos)
  • 4:12 - 4:16
    E me perguntei algo que nunca
    havia considerado em minha vida.
  • 4:17 - 4:23
    Por que a imagem dessas jovens
    gritando a plenos pulmões de euforia
  • 4:23 - 4:24
    por uma estrela do pop
  • 4:24 - 4:31
    é considerada louca, psicótica,
    assustadora, exagerada?
  • 4:31 - 4:37
    Mas a imagem de jovens garotos
    gritando por um jogador de futebol
  • 4:37 - 4:38
    é perfeitamente normal?
  • 4:39 - 4:43
    Garotos gritando no jogo,
    é o amor ao esporte.
  • 4:43 - 4:46
    Garotas gritando
    em um show de Justin Bieber?
  • 4:46 - 4:47
    É patético.
  • 4:48 - 4:50
    E assim que notei esse duplo padrão,
  • 4:50 - 4:53
    percebi que toda a minha
    curiosidade sobre as fangirls
  • 4:53 - 4:56
    foi desencadeada pelos mesmos julgamentos.
  • 4:56 - 4:59
    Também pensei que fossem um pouco malucas.
  • 5:00 - 5:03
    Vi imagens de garotas
    gritando pelos Beatles,
  • 5:03 - 5:04
    Backstreet Boys, One Direction,
  • 5:04 - 5:09
    e a palavra que me veio à mente
    não foi animação, foi histeria.
  • 5:09 - 5:12
    E o que eu não sabia
    era a história desta palavra.
  • 5:12 - 5:18
    No século 19, a histeria era considerada
    um transtorno mental puramente feminino,
  • 5:18 - 5:21
    que era diagnosticado por médicos
  • 5:21 - 5:25
    se as mulheres manifestassem emoções
    excessivas ou comportamento difícil.
  • 5:26 - 5:29
    A palavra "histérico"
    vem do latim "hystericus",
  • 5:29 - 5:31
    que significa "do útero",
  • 5:31 - 5:35
    porque se achava que a condição
    se dava por uma disfunção do útero.
  • 5:35 - 5:40
    Então, o tratamento da histeria
    era a histerectomia.
  • 5:40 - 5:43
    E é como ainda chamamos
    a remoção do útero.
  • 5:44 - 5:48
    A partir desse ponto,
    decidi reafirmar a minha obsessão.
  • 5:48 - 5:51
    Porque não sou mais obcecada
    apenas pelas fangirls.
  • 5:51 - 5:56
    Agora, sou obcecada pela forma
    como o mundo fala sobre elas
  • 5:57 - 6:03
    e observa o entusiasmo jovem e feminino.
  • 6:04 - 6:09
    Afinal, quero saber,
    se as meninas crescem em um mundo
  • 6:09 - 6:14
    onde palavras como louca, psicótica
    e histérica são normalmente usadas
  • 6:14 - 6:17
    para descrever o entusiasmo feminino,
  • 6:17 - 6:21
    então, como isso molda a forma
    como essas garotas enxergam a si mesmas?
  • 6:22 - 6:26
    E se elas crescem em um mundo que lhes diz
  • 6:26 - 6:30
    que nascem um pouco
    mais loucas que os meninos,
  • 6:30 - 6:33
    então, não seria o mesmo que lhes dizer
  • 6:33 - 6:39
    que nascem menos racionais que os homens,
    menos capazes de serem sensatas
  • 6:39 - 6:43
    e não merecem o mesmo respeito
    intelectual que seus irmãos?
  • 6:45 - 6:48
    Também fiquei obcecada
    pelos gritos femininos.
  • 6:49 - 6:50
    Não de um jeito assustador.
  • 6:50 - 6:54
    Eu me refiro aos gritos agudos
    que as fãs soltam durante os shows.
  • 6:54 - 6:56
    Quero saber por que algumas pessoas
  • 6:56 - 6:59
    naturalmente se encolhem
    quando falo sobre esse som,
  • 6:59 - 7:01
    como se fosse algo
    doloroso só de imaginar.
  • 7:02 - 7:05
    Depois, conheci Amy Hume.
  • 7:05 - 7:09
    Ela é uma treinadora de voz
    que me surpreendeu.
  • 7:09 - 7:14
    Pois me disse que a voz feminina,
    entre os 11 e 13 anos,
  • 7:14 - 7:17
    é uma das coisas mais interessantes
    de serem estudadas.
  • 7:17 - 7:18
    Por quê?
  • 7:18 - 7:20
    Porque há uma pesquisa
    feita por Carol Gilligan
  • 7:20 - 7:22
    que mostra que é nesta idade
  • 7:22 - 7:25
    que as garotas começam
    a atuar e a mudar de voz.
  • 7:25 - 7:28
    Por exemplo, adicionando
    um tom de maturidade,
  • 7:28 - 7:31
    ou usando uma voz crepitante
    para demonstrar apatia.
  • 7:31 - 7:33
    (Risos)
  • 7:33 - 7:36
    Digam-me, baseando-se nesta pesquisa,
  • 7:36 - 7:40
    quando os meninos começam
    a atuar e mudar sua voz?
  • 7:40 - 7:41
    Eu achava que era aos 18,
  • 7:41 - 7:43
    porque "homens amadurecem
    mais tarde", certo?
  • 7:44 - 7:48
    Errado. A resposta é aos quatro anos.
  • 7:48 - 7:52
    Porque é quando os meninos
    aprendem a não chorar ou dar gritinhos.
  • 7:52 - 7:55
    Pois não soa como algo masculino.
  • 7:55 - 8:01
    E foi aí que percebi que o grito
    de uma fangirl é, portanto, um superpoder.
  • 8:01 - 8:02
    (Risos)
  • 8:03 - 8:07
    É uma expressão destemida e honesta
  • 8:07 - 8:09
    de pura comemoração e alegria,
  • 8:09 - 8:14
    e é um som que elas
    não se esqueceram de como fazer.
  • 8:15 - 8:18
    Na verdade, acho que as fangirls
    têm um segundo superpoder,
  • 8:18 - 8:20
    porque elas sabem como fazer algo
  • 8:20 - 8:23
    que a maioria dos meus amigos adultos
    não têm ideia de como fazer.
  • 8:23 - 8:27
    Elas sabem como amar algo
    sem desculpas ou medo.
  • 8:28 - 8:32
    Meus anos de pesquisa sobre as fangirls
    culminaram na determinação
  • 8:32 - 8:35
    de escrever algo que pudesse
    honrá-las e legitimá-las.
  • 8:35 - 8:39
    Então, decidi fazer um musical
    de suspense e comédia
  • 8:39 - 8:42
    que soa como uma mistura
    de show da Beyoncé, "rave" e igreja.
  • 8:42 - 8:47
    E o chamei de Fangirls,
    e o planejei como um cavalo de Troia.
  • 8:47 - 8:51
    Parece fazer piada dessas jovens,
    apenas para que roubem o seu coração.
  • 8:51 - 8:53
    (Risos)
  • 8:54 - 8:55
    Obrigada.
  • 8:55 - 8:58
    (Aplausos)
  • 8:59 - 9:01
    Obrigada.
  • 9:01 - 9:03
    Em certo momento, uma garota canta,
  • 9:03 - 9:05
    "Por que devo esconder meus sentimentos?
  • 9:05 - 9:07
    Por que eles te incomodam?
  • 9:07 - 9:10
    Ou por que não é o que garotos fazem?"
  • 9:10 - 9:16
    E como uma antiga cínica das fangirls,
    esta é a pergunta que faço a vocês.
  • 9:16 - 9:18
    Por que as fangirls deveriam se conter?
  • 9:18 - 9:20
    Por que elas são loucas?
  • 9:20 - 9:22
    Ou por que nossa definição de sensatez
  • 9:22 - 9:25
    é baseada no que é aceitável
    para os homens?
  • 9:26 - 9:29
    E se repensássemos os julgamentos
    que somos condicionados a sentir
  • 9:29 - 9:33
    quando vemos jovens mulheres
    berrando de tanta animação?
  • 9:33 - 9:36
    E se decidíssemos a repensar
    as palavras que usamos
  • 9:36 - 9:37
    para descrever essa alegria,
  • 9:37 - 9:41
    e se não nos permitíssemos
    diminuir as garotas
  • 9:41 - 9:45
    com palavras que subestimam
    sua inteligência, seus interesses
  • 9:45 - 9:47
    e sua capacidade?
  • 9:47 - 9:50
    Porque, de acordo com minha pesquisa,
  • 9:50 - 9:54
    elas conseguem construir um santuário
    para o vômito do Harry Styles
  • 9:54 - 9:57
    ao lado de uma estrada em duas horas.
  • 9:57 - 9:58
    (Risos)
  • 9:58 - 10:02
    Isso requer habilidades executivas
    de logística e comunicação.
  • 10:02 - 10:03
    (Risos)
  • 10:03 - 10:06
    Se isso não é ser capaz,
    então, não sei o que é.
  • 10:06 - 10:08
    (Aplausos)
  • 10:12 - 10:16
    Penso que, em vez de julgar as fangirls,
    podemos aprender com elas.
  • 10:17 - 10:18
    Podemos morrer amanhã,
  • 10:18 - 10:21
    então, porque não amar
    enquanto ainda estamos vivos?
  • 10:21 - 10:25
    E com isso, gostaria de pedir a todos
    para experimentarem algo comigo.
  • 10:25 - 10:27
    Vocês podem se levantar?
  • 10:27 - 10:29
    Levantem-se, se puderem!
  • 10:29 - 10:31
    Certo, vamos fazer o seguinte.
  • 10:31 - 10:34
    Vou contar até três e, quando eu terminar,
  • 10:34 - 10:39
    quero que cada um de vocês solte
    o seu melhor grito de fangirl.
  • 10:39 - 10:40
    (Risos)
  • 10:40 - 10:41
    Sim?
  • 10:41 - 10:44
    Peço isso a vocês,
  • 10:44 - 10:48
    porque se os 5 mil e tantos
    de vocês fizerem isso
  • 10:48 - 10:49
    e realmente se empenharem,
  • 10:49 - 10:53
    todos nós teremos a primeira
    chance de ouvir aquele som
  • 10:53 - 10:56
    e decidir se é ou não o som da loucura.
  • 10:57 - 10:58
    É um som esperançoso.
  • 10:59 - 11:00
    Então, vamos?
  • 11:00 - 11:02
    Eu disse, vamos?
  • 11:02 - 11:03
    Plateia: Sim!
  • 11:03 - 11:07
    Certo, vou trapacear e não vou berrar,
  • 11:07 - 11:09
    pois estou com microfone
    e ninguém quer ouvir isso.
  • 11:09 - 11:11
    Então, vocês devem atingir 110%.
  • 11:11 - 11:13
    Prontos? Respirem fundo comigo.
  • 11:13 - 11:15
    Pensem em alguém que amem, vamos,
  • 11:15 - 11:18
    um, dois, três.
  • 11:18 - 11:21
    (Plateia berra)
  • 11:25 - 11:26
    (Risos e aplausos)
  • 11:33 - 11:37
    Vocês foram tão incríveis,
  • 11:38 - 11:43
    nada loucos, e tão inteligentes e dignos
  • 11:43 - 11:45
    como quando entraram neste auditório.
  • 11:45 - 11:46
    (Risos)
  • 11:46 - 11:47
    Obrigada.
  • 11:47 - 11:50
    (Aplausos) (Vivas)
Title:
Pelo amor das "fangirls"
Speaker:
Yve Blake
Description:

Quando se pensa nas “fangirls”, o que vem à mente: uma grande extensão de fãs (geralmente de uma “boy band”), cujos sentimentos culminam em lágrimas e gritos de alegria? Talvez você faça uma careta ou revire os olhos só de pensar. Nesta palestra divertida e animada, a dramaturga Yve Blake nos convida a repensar nosso julgamento sobre a paixão e o poder incompreendidos das “fangirls”, destacando por que todos nós devemos abraçar esse nosso entusiasmo incontido.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
12:03

Portuguese, Brazilian subtitles

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