Há quatro anos, uma adolescente mudou minha vida em apenas uma conversa. Ela tinha 13 anos, era a prima de um amigo e, um dia, me disse que havia conhecido o homem com quem se casaria. Eu disse: "Muito bem, conte-me sobre ele". Ela disse que seu nome era Harry Styles. (Risos) Eu ri também, como vocês, e ela disse: "Eu sei que você não me leva a sério, mas vou mesmo ficar com ele. Porque eu o amo tanto que eu cortaria a garganta de alguém para ficar com ele". (Risos) Foi naquele momento que fiquei obcecada pelas "fangirls". Até então, não sabia, mas aquele momento transformaria a minha vida e mudaria tudo o que achava que sabia sobre ser adulta, ser mulher e ser verdadeiramente feliz. Mas, antes de começarmos, o que é uma fangirl e o que é Harry Styles? Bem, de acordo com o dicionário Merriam-Webster, uma fangirl é "uma garota ou mulher que é extrema ou exageradamente fã de alguém ou de algo". Tecnicamente, há fangirls de qualquer coisa, mas meu interesse foi específico em fangirls de "boy bands". Devido à sua reputação um pouco letal. Lembro-me de meu pai contando uma história de algumas fãs dos Beatles nos anos 1960 que, aparentemente, fizeram uma BMW em pedaços porque a banda, supostamente, havia sentado nela. Nos anos 1960, os Beatles eram a maior boy band do planeta, mas, quando conheci esta garota em 2015, a maior boy band do planeta era One Direction. E Harry Styles era um dos membros, conhecido pelo seu comportamento amável e seu cabelo perfeito. Descobri isso ao ler milhares de tuítes sobre ele, que ele é um docinho, e também um anjo perfeito. Descobri que, uma vez, ele vomitou em uma estrada na Califórnia e, em duas horas, as fãs transformaram o local do vômito em um santuário sagrado. [Harry Styles vomitou aqui!] (Risos) Vi no meu celular desenhos do Harry feito por fãs, fotos dele quando bebê, desenhos de fotos dele quando bebê. Assisti a vídeos que me ensinaram a fazer totens de amor para Harry, por exemplo, um abajur coberto com as fotos do rosto dele ou chaveiro que mostra o horário exato de seu nascimento. Li inúmeras ficções de fãs e caí nesta rede específica de histórias que me colocaram como uma protagonista dentro de romances fictícios com ele. Em uma delas, digo a ele que estou grávida de um filho dele. Em outra, nos conhecemos em um hospital e ambos lutamos contra o câncer, e em outra, nos apaixonamos tão profundamente que nos tornamos fugitivos que matam pessoas. (Risos) Então, algo inimaginável acontece. One Direction, a maior boy band do mundo, perde um membro. Zayn Malik deixa a banda, e a internet vai à loucura. Li tuítes nos quais as garotas descrevem a dor física desta perda, a ponto de não conseguirem comer, dormir ou caminhar. Li o quanto Zayn significava para elas. E vi vídeos de garotas de dez anos chorando. Realmente chorando. Então, vi as pessoas postando esses vídeos com novos nomes, contendo palavras como louca, e apavorante, e insana. E de repente, a barra lateral do meu YouTube me sugere: "Compilação: fãs reagindo à saída de Zayn. Alerta de psicopata!" Assisti à cobertura desta história pela mídia. Li que descreviam as fãs como jovens almas penadas. Um jornalista disse: "É um fato conhecido desde a era dos Beatles que não há nada mais assustador no mundo do que um grupo de jovens fãs eufóricas". (Risos) E me perguntei algo que nunca havia considerado em minha vida. Por que a imagem dessas jovens gritando a plenos pulmões de euforia por uma estrela do pop é considerada louca, psicótica, assustadora, exagerada? Mas a imagem de jovens garotos gritando por um jogador de futebol é perfeitamente normal? Garotos gritando no jogo, é o amor ao esporte. Garotas gritando em um show de Justin Bieber? É patético. E assim que notei esse duplo padrão, percebi que toda a minha curiosidade sobre as fangirls foi desencadeada pelos mesmos julgamentos. Também pensei que fossem um pouco malucas. Vi imagens de garotas gritando pelos Beatles, Backstreet Boys, One Direction, e a palavra que me veio à mente não foi animação, foi histeria. E o que eu não sabia era a história desta palavra. No século 19, a histeria era considerada um transtorno mental puramente feminino, que era diagnosticado por médicos se as mulheres manifestassem emoções excessivas ou comportamento difícil. A palavra "histérico" vem do latim "hystericus", que significa "do útero", porque se achava que a condição se dava por uma disfunção do útero. Então, o tratamento da histeria era a histerectomia. E é como ainda chamamos a remoção do útero. A partir desse ponto, decidi reafirmar a minha obsessão. Porque não sou mais obcecada apenas pelas fangirls. Agora, sou obcecada pela forma como o mundo fala sobre elas e observa o entusiasmo jovem e feminino. Afinal, quero saber, se as meninas crescem em um mundo onde palavras como louca, psicótica e histérica são normalmente usadas para descrever o entusiasmo feminino, então, como isso molda a forma como essas garotas enxergam a si mesmas? E se elas crescem em um mundo que lhes diz que nascem um pouco mais loucas que os meninos, então, não seria o mesmo que lhes dizer que nascem menos racionais que os homens, menos capazes de serem sensatas e não merecem o mesmo respeito intelectual que seus irmãos? Também fiquei obcecada pelos gritos femininos. Não de um jeito assustador. Eu me refiro aos gritos agudos que as fãs soltam durante os shows. Quero saber por que algumas pessoas naturalmente se encolhem quando falo sobre esse som, como se fosse algo doloroso só de imaginar. Depois, conheci Amy Hume. Ela é uma treinadora de voz que me surpreendeu. Pois me disse que a voz feminina, entre os 11 e 13 anos, é uma das coisas mais interessantes de serem estudadas. Por quê? Porque há uma pesquisa feita por Carol Gilligan que mostra que é nesta idade que as garotas começam a atuar e a mudar de voz. Por exemplo, adicionando um tom de maturidade, ou usando uma voz crepitante para demonstrar apatia. (Risos) Digam-me, baseando-se nesta pesquisa, quando os meninos começam a atuar e mudar sua voz? Eu achava que era aos 18, porque "homens amadurecem mais tarde", certo? Errado. A resposta é aos quatro anos. Porque é quando os meninos aprendem a não chorar ou dar gritinhos. Pois não soa como algo masculino. E foi aí que percebi que o grito de uma fangirl é, portanto, um superpoder. (Risos) É uma expressão destemida e honesta de pura comemoração e alegria, e é um som que elas não se esqueceram de como fazer. Na verdade, acho que as fangirls têm um segundo superpoder, porque elas sabem como fazer algo que a maioria dos meus amigos adultos não têm ideia de como fazer. Elas sabem como amar algo sem desculpas ou medo. Meus anos de pesquisa sobre as fangirls culminaram na determinação de escrever algo que pudesse honrá-las e legitimá-las. Então, decidi fazer um musical de suspense e comédia que soa como uma mistura de show da Beyoncé, "rave" e igreja. E o chamei de Fangirls, e o planejei como um cavalo de Troia. Parece fazer piada dessas jovens, apenas para que roubem o seu coração. (Risos) Obrigada. (Aplausos) Obrigada. Em certo momento, uma garota canta, "Por que devo esconder meus sentimentos? Por que eles te incomodam? Ou por que não é o que garotos fazem?" E como uma antiga cínica das fangirls, esta é a pergunta que faço a vocês. Por que as fangirls deveriam se conter? Por que elas são loucas? Ou por que nossa definição de sensatez é baseada no que é aceitável para os homens? E se repensássemos os julgamentos que somos condicionados a sentir quando vemos jovens mulheres berrando de tanta animação? E se decidíssemos a repensar as palavras que usamos para descrever essa alegria, e se não nos permitíssemos diminuir as garotas com palavras que subestimam sua inteligência, seus interesses e sua capacidade? Porque, de acordo com minha pesquisa, elas conseguem construir um santuário para o vômito do Harry Styles ao lado de uma estrada em duas horas. (Risos) Isso requer habilidades executivas de logística e comunicação. (Risos) Se isso não é ser capaz, então, não sei o que é. (Aplausos) Penso que, em vez de julgar as fangirls, podemos aprender com elas. Podemos morrer amanhã, então, porque não amar enquanto ainda estamos vivos? E com isso, gostaria de pedir a todos para experimentarem algo comigo. Vocês podem se levantar? Levantem-se, se puderem! Certo, vamos fazer o seguinte. Vou contar até três e, quando eu terminar, quero que cada um de vocês solte o seu melhor grito de fangirl. (Risos) Sim? Peço isso a vocês, porque se os 5 mil e tantos de vocês fizerem isso e realmente se empenharem, todos nós teremos a primeira chance de ouvir aquele som e decidir se é ou não o som da loucura. É um som esperançoso. Então, vamos? Eu disse, vamos? Plateia: Sim! Certo, vou trapacear e não vou berrar, pois estou com microfone e ninguém quer ouvir isso. Então, vocês devem atingir 110%. Prontos? Respirem fundo comigo. Pensem em alguém que amem, vamos, um, dois, três. (Plateia berra) (Risos e aplausos) Vocês foram tão incríveis, nada loucos, e tão inteligentes e dignos como quando entraram neste auditório. (Risos) Obrigada. (Aplausos) (Vivas)