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Jonathan Haidt: Religião, evolução e o êxtase da autotranscendência

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    Eu tenho uma pergunta para vocês:
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    Vocês são religiosos?
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    Levante a mão imediatamente, por favor,
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    se você se considera uma pessoa religiosa.
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    Vejamos, eu diria três ou quatro por cento.
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    Não imaginava que havia tantos crentes em uma conferência TED.
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    (Risos)
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    Ok, aqui está uma outra pergunta:
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    Você se considera espiritual?
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    de qualquer maneira ou formato? Levante a mão.
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    Ok, a maioria se considera.
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    Minha palestra hoje
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    é sobre e razão principal, ou uma das razões principais,
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    do por quê a maioria das pessoas se considera
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    espiritual de alguma maneira, forma ou formato.
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    Minha palestra de hoje é sobre a autotranscendência.
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    Um fato básico acerca do que significa ser humano é
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    que às vezes o ‘eu’ parece simplesmente se dissolver.
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    E quando isso acontece,
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    a sensação é estática
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    e buscamos metáforas de cima a baixo
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    para explicar essas sensações.
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    Falamos em nos sentirmos bem
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    ou elevados.
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    Agora, realmente é difícil pensar sobre algo assim abstrato
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    sem uma boa metáfora, concreta.
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    Essa é a metáfora que ofereço hoje.
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    Pense na mente como se fosse uma casa com muitos cômodos,
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    na maioria dos quais nos sentimos muito familiarizados.
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    Mas, às vezes, é como se uma passagem aparecesse
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    do nada
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    e ela se abre para uma escada.
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    Nós subimos a escada
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    e ficamos em um estado alterado da consciência.
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    Em 1902,
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    o grande psicólogo americano William James
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    escreveu sobre as variedades das experiências religiosas.
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    Ele reuniu todos os tipos de estudos de caso.
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    Ele citou as palavras de todos os tipo de pessoas
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    que tinham tido experiências variadas.
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    Uma das mais emocionantes para mim
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    foi a deste jovem, Stephen Bradley,
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    ele teve um encontro, ele pensava, com Jesus em 1820.
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    E aqui está o que Bradley disse sobre isto.
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    (Música)
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    (Vídeo) Stephen Bradley: Pensei que tinha visto o salvador em forma humana
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    por um segundo no quarto,
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    de braços estendidos,
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    parecia para dizer: “Venha.”
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    No dia seguinte eu me regozijava e tremia.
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    Minha felicidade era tão grande que disse que queria morrer.
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    Não havia espaço neste mundo para meu afeto.
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    Antes desse tempo
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    eu era egoísta e moralista.
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    Mas agora eu desejava o bem estar de toda a humanidade
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    e poderia, com um coração sentido,
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    perdoar meus piores inimigos.
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    JH: Note
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    como o ‘eu’ insignificante, moralista de Bradley
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    simplesmente morre quando ele sobe a escada.
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    E nesse nível mais elevado
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    ele se torna afetuoso e disposto a perdoar.
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    As muitas religiões do mundo encontraram diversas maneiras
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    de ajudar às pessoas a subir a escada.
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    Uns desligam o ‘eu’ com meditação.
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    Outros usam drogas psicodélicas.
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    Isto é um pergaminho asteca do século XVI
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    mostrando um homem prestes a comer um cogumelo psilocybe
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    ao mesmo tempo que é puxado para cima da escada por um deus.
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    Outros usam danças, círculos, giram
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    para estimular a autotranscendência.
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    Mas não precisamos de uma religião para nos ajudar a subir a escada.
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    Muita gente encontra a autotranscendência na natureza.
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    Outros superam seu ‘eu’ em festa raves.
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    Mas aqui está o local mais esquisito de todos:
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    guerra.
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    Muitos livros sobre guerra afirmam o mesmo,
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    que nada junta mais as pessoas
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    do que a guerra.
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    E que trazendo as pessoas juntas oferece a possibilidade
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    de terem experiências de autotranscendência extraordinárias.
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    Vou mostrar para vocês um extrato
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    deste livro de Glenn Gray.
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    Gray foi um soldado no exército americano na Segunda Guerra Mundial.
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    E depois que a guerra acabou ele entrevistou muitos soldados
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    e escreveu sobre as experiências dos homens em combate.
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    Aqui está uma passagem chave
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    em que ele essencialmente descreve a escada.
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    (Vídeo) Glenn Gray: Muitos veteranos vão admitir
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    que a experiência do esforço comum em combate
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    foi o ponto mais importante das suas vidas.
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    “Eu” desapegadamente passa a ser “nós”,
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    “meu” torna-se “nosso”
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    e a fé pessoal
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    perde a sua importância central.
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    Acredito que isso seja nada mais do
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    que o assegurar da imortalidade
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    que faz o auto-sacrifício nesses momentos
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    relativamente tão fáceis.
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    Posso cair, mas eu não morro,
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    pois aquilo que é real em mim vai a frente
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    e continua a existir nos companheiros
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    por quem dei minha vida.
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    JH: Então, o que esses casos tem em comum
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    é que o ‘eu’ parece diluir, ou derreter,
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    e isso nos faz sentir bem, sentir realmente bem,
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    de uma forma completamente diferente do que sentimos em nossas vidas normais.
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    Nos sentimos, de alguma forma, elevados.
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    Esse conceito de subir era central nas obras
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    do grande sociólogo francês Emile Durkheim.
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    Durkheim até nos chamou de ‘homo duplex’,
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    ou homem de dois níveis.
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    O nível inferior é chamado o nível do profano.
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    Agora, profano é o oposto de sagrado.
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    Isso apenas significa ordinário, comum.
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    E em nossas vidas comuns nós existimos como indivíduos.
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    Queremos satisfazer nossos desejos pessoais.
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    Buscamos nossos objetivos pessoais.
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    Mas, às vezes algo acontece
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    que aciona uma mudança de fase.
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    Indivíduos se unem
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    em um time, um movimento ou uma nação,
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    que é muito mais do que a soma de suas partes.
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    Durkheim chamou esse nível de nível do sagrado
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    porque ele acreditava que a função da religião
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    era unir as pessoas em um grupo,
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    em uma comunidade moral.
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    Durkheim acreditava que qualquer coisa que nos une
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    assume um ar de sacralidade.
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    E uma vez que as pessoas andam em volta
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    de um objeto sagrado ou valor,
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    elas, então, trabalham como uma equipe e lutam para defendê-lo.
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    Durkheim escreveu
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    sobre um conjunto de emoções intensas
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    que alcançou este milagre de ‘E pluribus unum’,
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    que é formar um grupo de indivíduos.
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    Pense na alegria coletiva da Grã-Bretanha
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    no dia em que a Segunda Guerra terminou.
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    Pense na raiva coletiva na Tahrir Square,
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    que derrubou um ditador.
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    E pense na dor coletiva
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    dos Estados Unidos
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    que todos sentimos, que nos uniu a todos,
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    depois do 11/9.
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    Então, permita-me resumir até este ponto:
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    Estou dizendo que a capacidade para a autotranscendência
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    é apenas uma parte básica de se ser humano.
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    Estou apresentando a metáfora
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    de uma escada na mente.
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    Disse que somos homo duplex
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    e esta escada nos leva do nível profano
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    ao nível do sagrado.
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    Quando subimos a escada,
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    o auto-interesse desaparece,
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    nos tornamos muito menos egoístas,
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    e sentimos como se fossemos melhor, mais nobres
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    e, de alguma forma, elevados.
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    Então aqui está a pergunta de um milhão de dólares
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    para os cientistas sociais como eu:
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    A escada é
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    uma característica do nosso processo evolutivo?
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    É um produto da seleção natural,
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    como nossas mãos?
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    Ou é um defeito, um erro do sistema --
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    estas coisas de religião são apenas algo
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    que acontece quando os fios se cruzam no cérebro -
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    Jill tem um derrame e ela tem essa experiência religiosa,
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    isso é apenas um erro?
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    Bem, muitos cientistas que estudam religião são dessa opinião.
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    Os novos ateus, por exemplo,
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    argumentam que a religião é um conjunto de memes,
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    tipo de memes parasitas,
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    que entram dentro das nossas mentes
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    e nos forçam a fazer todo tipo de troço religioso louco,
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    coisas auto-destrutivas como os atentados suicidas.
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    E no final das contas,
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    como poderia ser bom para nós
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    nos perdermos?
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    Como poderia ser adaptativo
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    para qualquer organismo
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    superar o auto-interesse?
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    Bem, deixe-me mostrar-lhe.
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    Na obra “A Descendência do Homem”
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    Charles Darwin escreveu extensivamente
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    sobre a evolução da moralidade --
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    de onde ela veio, por que a possuímos.
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    Darwin notou que muitas das nossas virtudes
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    são de pouquíssimo uso para nós mesmos,
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    mas são de grande uso para os nossos grupos.
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    Ele escreveu sobre o cenário
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    em que duas tribos dos primeiros seres humanos
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    teriam tido contato e teriam competido.
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    Ele disse: “Se uma tribo incluiu
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    um grande número de membros corajosos,
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    compreensivos e fiéis
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    que estão sempre prontos para ajudar e defender um ao outro,
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    esta tribo será mais bem-sucedida
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    e conquistará a outra.”
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    Ele chegou a dizer que: “Pessoas egoístas e contenciosas
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    não se unirão
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    e que sem união
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    nada pode ser realizado.”
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    Ou seja,
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    Charles Darwin acreditava
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    em seleção de grupo.
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    Agora, essa ideia tem sido controversa há 40 anos,
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    mas está prestes a retornar esse ano,
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    especialmente depois que o livro de E.O. Wilson for lançado em abril,
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    trazendo um argumento muito forte
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    de que nós e muitas outras espécies,
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    somos produtos da seleção de grupos.
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    Mas, na verdade, a forma de pensarmos sobre isso
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    é como uma seleção de nível múltiplo.
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    Então veja assim:
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    Você tem competição acontecendo dentro e entre grupos.
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    Então aqui está um grupo de caras num time da faculdade.
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    Dentro desse time
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    existe competição.
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    Os caras competem uns com os outros.
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    Os remadores mais lentos, os mais fracos, vão ser eliminados do time.
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    E somente alguns deles vão permanecer no esporte.
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    Talvez um deles chegará às Olimpíadas.
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    Então, dentro do time,
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    os remadores, na verdade, se confrontam.
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    E, às vezes, pode até ser vantajoso
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    para um deles,
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    tentar sabotar os outros caras.
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    Quem sabe, ele poderia falar mal do seu maior adversário
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    com o treinador.
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    Mas ao mesmo tempo que esta competição ocorre
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    dentro do barco,
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    ela está ocorrendo entres os barcos.
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    E uma vez que os caras se encontram num barco competindo com outro barco,
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    aí eles não têm outra escolha a não ser cooperar,
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    porque estão todos no mesmo barco.
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    Eles só poderão vencer
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    se se esforçarem como um time.
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    Quero dizer, essas coisas parecem banais,
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    mas elas são verdades evolucionárias profundas.
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    O argumento principal contra seleção de grupo
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    têm sido sempre que,
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    claro, seria legal ter um grupo de colaboradores,
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    mas, assim que temos um grupo de colaboradores,
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    eles simplesmente serão controlados por oportunistas,
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    indivíduos que exploraram o trabalho árduo dos outros.
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    Aqui está uma ilustração para vocês.
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    Suponham que temos um conjunto de organismos minúsculos --
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    podem ser bactérias, hamsters; não importa o que --
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    e vamos supor que este grupinho aqui evoluiu para ser cooperativo.
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    Bom, isso é ótimo. Eles se alimentam, defendem uns aos outros,
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    trabalham juntos, geram riqueza.
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    E como podem ver nessa simulação,
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    quando eles interagem eles ganham pontos, crescem,
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    e quando eles dobram em tamanho, você verá que eles se separam,
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    que é como eles se reproduzem e a população cresce.
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    Mas vamos supor que um deles então se altere.
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    Há uma mutação no gene
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    e um deles se altera para seguir uma estratégia egoísta.
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    Ele se aproveita dos outros.
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    E então quando um verde interage com um azul,
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    você verá que o verde fica maior e o azul menor.
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    Então é assim que as coisas acontecem.
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    Começamos com apenas um verde
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    e ao mesmo tempo que ele interage
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    ele obtém riqueza, ou pontos, ou alimento.
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    E, em pouco tempo os colaboradores ficam desgastados.
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    Os oportunistas assumem o controle.
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    Se um grupo não consegue resolver o problema dos oportunistas
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    ele então não consegue colher os benefícios da cooperação
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    e a seleção de grupo não pode começar.
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    Mas existem soluções para o problema do oportunismo.
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    Não é um problema tão difícil.
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    De fato, a natureza o resolveu muitas e muitas vezes.
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    E a solução predileta da natureza
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    é colocar todo mundo no mesmo barco.
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    Por exemplo,
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    por que as mitocôndrias de cada célula
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    têm seu próprio DNA,
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    totalmente separado do DNA do núcleo?
  • 11:28 - 11:30
    Isso ocorre porque costumavam ser
  • 11:30 - 11:32
    separadas da bactéria de vida livre
  • 11:32 - 11:34
    e elas se juntaram
  • 11:34 - 11:36
    e tornaram-se um superorganismo.
  • 11:36 - 11:39
    De uma forma ou outra -- talvez uma tenha engolido a outra; nunca saberemos o porquê exato --
  • 11:39 - 11:41
    mas uma vez que tenham uma membrana em volta delas,
  • 11:41 - 11:43
    elas estavam todas na mesma membrana,
  • 11:43 - 11:46
    agora, toda a riqueza gerada pela divisão de trabalho,
  • 11:46 - 11:48
    toda a grandeza gerada pela cooperação,
  • 11:48 - 11:50
    permanece presa no interior da membrana
  • 11:50 - 11:53
    e temos um superorganismo.
  • 11:53 - 11:55
    Agora vamos mostrar a simulação de novo
  • 11:55 - 11:57
    colocando um desses superorganismos
  • 11:57 - 12:00
    em uma população de oportunistas, de desertores, de vigaristas
  • 12:00 - 12:03
    e ver o que acontece.
  • 12:03 - 12:05
    Um superorganismo, basicamente, pode fazer o que quiser.
  • 12:05 - 12:08
    Ele é tão grande, poderoso e eficaz
  • 12:08 - 12:10
    que ele pode pegar os recursos
  • 12:10 - 12:14
    dos verdes, dos desertores e dos trapaceiros.
  • 12:14 - 12:16
    E brevemente a população inteira será
  • 12:16 - 12:19
    na verdade composta desses novos superorganismos.
  • 12:19 - 12:21
    O que acabei de demonstrar aqui
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    é, às vezes, chamado de grande transição
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    na história da evolução.
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    As leis de Darwin não mudam,
  • 12:28 - 12:31
    mas agora há um novo tipo de jogador em campo
  • 12:31 - 12:34
    e as coisas começam a parecer diferentes.
  • 12:34 - 12:36
    Agora esta transição não foi a única aberração da natureza
  • 12:36 - 12:38
    que simplesmente ocorreu com alguma bactéria.
  • 12:38 - 12:40
    Isso aconteceu novamente
  • 12:40 - 12:42
    há cerca de 120 ou 140 milhões de anos
  • 12:42 - 12:45
    quando algumas vespas solitárias
  • 12:45 - 12:47
    começaram a construir ninhos simples,
  • 12:47 - 12:50
    primitivos ou colmeias.
  • 12:50 - 12:53
    Uma vez que muitas vespas compartilhavam a mesma colmeia,
  • 12:53 - 12:55
    elas não tiveram mais escolha senão cooperar
  • 12:55 - 12:57
    porque muito breve elas teriam que competir
  • 12:57 - 12:59
    com as outras colmeias.
  • 12:59 - 13:01
    E as colmeias mais unidas venceram,
  • 13:01 - 13:03
    justamente como dizia Darwin.
  • 13:03 - 13:05
    Essas vespas primitivas
  • 13:05 - 13:07
    deram origem às abelhas e formigas
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    que colonizaram o mundo
  • 13:09 - 13:11
    e mudaram a biosfera.
  • 13:11 - 13:13
    E isso ocorreu novamente,
  • 13:13 - 13:15
    mais espetacularmente ainda,
  • 13:15 - 13:17
    nos últimos meio milhão de anos
  • 13:17 - 13:19
    quando nossos ancestrais
  • 13:19 - 13:21
    tornaram–se criaturas culturais,
  • 13:21 - 13:24
    eles se reuniam em volta de uma fogueira,
  • 13:24 - 13:26
    dividiam as tarefas do trabalho,
  • 13:26 - 13:29
    começaram a pintar seus corpos, falavam seus próprios dialetos,
  • 13:29 - 13:32
    e, eventualmente, adoraram seus próprios deuses.
  • 13:32 - 13:34
    Uma vez que pertenciam a mesma tribo,
  • 13:34 - 13:37
    eles podiam manter os beneficios da cooperação entre eles.
  • 13:37 - 13:39
    E eles desencadearam a força mais poderosa
  • 13:39 - 13:41
    já vista neste planeta,
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    que é a cooperação humana --
  • 13:43 - 13:45
    uma força para construção
  • 13:45 - 13:48
    e destruição.
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    Claro que grupos humanos nunca serão tão coesos
  • 13:50 - 13:52
    como as colmeias.
  • 13:52 - 13:55
    Grupos humanos se assemelham às colmeias por um tempo,
  • 13:55 - 13:57
    mas depois eles tendem a se dividir.
  • 13:57 - 14:00
    Não somos forçados a trabalhar como as abelhas e as formigas o são.
  • 14:00 - 14:02
    De fato, na verdade,
  • 14:02 - 14:04
    como vimos acontecer muito nos distúrbios da Primavera Árabe,
  • 14:04 - 14:08
    as divisões são muitas vezes causadas pelas religiões.
  • 14:08 - 14:11
    Todavia, quando as pessoas se unem
  • 14:11 - 14:13
    e todas elas participam de um mesmo movimento,
  • 14:13 - 14:16
    elas podem mover montanhas.
  • 14:16 - 14:19
    Observe as pessoas nas fotos que mostrei.
  • 14:19 - 14:21
    Você pensa que estão
  • 14:21 - 14:23
    em busca do seu interesse próprio?
  • 14:23 - 14:26
    Ou estão buscando um interesse comum
  • 14:26 - 14:29
    que requer que elas se deixem levar
  • 14:29 - 14:33
    e tornem-se simplesmente uma parte do todo?
  • 14:34 - 14:36
    Ok, esta é a minha palestra
  • 14:36 - 14:38
    apresentada no estilo TED.
  • 14:38 - 14:40
    E agora vou repetir a palestra inteira novamente
  • 14:40 - 14:42
    em três minutos
  • 14:42 - 14:45
    numa espécie de perspectiva mais ampla.
  • 14:45 - 14:47
    (Música)
  • 14:47 - 14:49
    (Vídeo) Jonathan Haidt: Nós humanos temos muitas variedades
  • 14:49 - 14:51
    de experiência religiosa,
  • 14:51 - 14:53
    como William James explicou.
  • 14:53 - 14:56
    Uma das mais comuns é subir a escada secreta
  • 14:56 - 14:58
    e nos perder a nós mesmos.
  • 14:58 - 15:00
    A escada nos leva
  • 15:00 - 15:03
    de uma experiência de vida ordinária ou profana
  • 15:03 - 15:05
    para uma experiência de vida sagrada
  • 15:05 - 15:07
    ou profundamente interligada.
  • 15:07 - 15:09
    Somos homo duplex,
  • 15:09 - 15:11
    como explicou Durkheim.
  • 15:11 - 15:13
    E somos homo duplex
  • 15:13 - 15:15
    porque evoluímos pela seleção de nível múltiplo,
  • 15:15 - 15:18
    como explicou Darwin.
  • 15:18 - 15:20
    Não sei ao certo se a escada é uma adaptação
  • 15:20 - 15:22
    em vez de um erro,
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    mas se é uma adaptação,
  • 15:24 - 15:26
    então as implicações são profundas.
  • 15:26 - 15:28
    Se for uma adaptação,
  • 15:28 - 15:31
    então evoluímos para ser religiosos.
  • 15:31 - 15:33
    Não quero dizer com isso que evoluímos
  • 15:33 - 15:35
    para aderirmos às religiões organizadas.
  • 15:35 - 15:37
    Isso começou a se desenvolver muito recentemente.
  • 15:37 - 15:39
    Estou dizendo que evoluímos
  • 15:39 - 15:41
    para ver o sagrado à nossa volta
  • 15:41 - 15:43
    e nos unir a outros em times
  • 15:43 - 15:45
    e circundar objetos sagrados,
  • 15:45 - 15:47
    pessoas e ideias.
  • 15:47 - 15:50
    É por isso que a política é tão tribal.
  • 15:50 - 15:53
    A política é em parte profana e em parte de interesse próprio,
  • 15:53 - 15:56
    mas ela também se relaciona com o sagrado.
  • 15:56 - 15:58
    Ela consiste em nos associarmos a outros
  • 15:58 - 16:00
    para buscar ideias morais.
  • 16:00 - 16:03
    Trata-se da eterna luta entre o bem e o mal
  • 16:03 - 16:06
    e nós acreditamos que estamos no time do bem.
  • 16:06 - 16:08
    E principalmente,
  • 16:08 - 16:10
    se a escada é real,
  • 16:10 - 16:12
    ela explica a persistente conotação
  • 16:12 - 16:14
    de insatisfação da vida moderna.
  • 16:14 - 16:17
    Porque seres humanos são, até certo ponto,
  • 16:17 - 16:19
    como abelhas.
  • 16:19 - 16:22
    Somos abelhas. Escapamos da colmeia durante o Iluminismo.
  • 16:22 - 16:25
    Nós demolimos as antigas instituições
  • 16:25 - 16:27
    e trouxemos liberdade para os oprimidos.
  • 16:27 - 16:29
    Nós desencadeamos a criatividade das mudanças na Terra
  • 16:29 - 16:32
    e geramos vasta riqueza e conforto.
  • 16:32 - 16:34
    Hoje voamos em círculos
  • 16:34 - 16:36
    como abelhas, entusiasmados com nossa liberdade.
  • 16:36 - 16:38
    Mas, às vezes nos perguntamos:
  • 16:38 - 16:40
    Isso é tudo?
  • 16:40 - 16:42
    O que devo fazer da minha vida?
  • 16:42 - 16:44
    O que está faltando?
  • 16:44 - 16:46
    O que está faltando é que somos homo duplex,
  • 16:46 - 16:49
    mas a sociedade moderna e secular foi construída
  • 16:49 - 16:52
    para satisfazer o nosso ‘eu’ inferior, profano.
  • 16:52 - 16:55
    É realmente confortável aqui em baixo no nível inferior.
  • 16:55 - 16:58
    Venha, sente aqui no meu centro de entretenimento na minha casa.
  • 16:58 - 17:00
    Um grande desafio da vida moderna
  • 17:00 - 17:03
    é encontrar a escada no meio de tanta confusão
  • 17:03 - 17:06
    e então fazer algo bom e nobre
  • 17:06 - 17:09
    uma vez que você atinge o topo.
  • 17:09 - 17:12
    Eu vejo este desejo nos meus alunos na Universidade de Virginia.
  • 17:12 - 17:14
    Todos querem encontrar uma causa ou uma vocação
  • 17:14 - 17:16
    a que possam se entregar.
  • 17:16 - 17:19
    Eles todos buscam a sua escada.
  • 17:19 - 17:21
    E isso me dá esperança
  • 17:21 - 17:23
    porque as pessoas não são puramente egoístas.
  • 17:23 - 17:25
    A maioria das pessoas anseia superar a mesquinhez
  • 17:25 - 17:27
    e tornar-se parte de algo maior.
  • 17:27 - 17:30
    Isso explica a ressonância extraordinária
  • 17:30 - 17:32
    desta simples metáfora
  • 17:32 - 17:35
    manifestada por volta de 400 anos atrás.
  • 17:35 - 17:37
    “Nenhum homem é uma ilha.
  • 17:37 - 17:39
    isolada.
  • 17:39 - 17:42
    Cada homem é uma partícula do continente,
  • 17:42 - 17:45
    uma parte da Terra.”
  • 17:45 - 17:47
    JH: Obrigado.
  • 17:47 - 17:55
    (Aplausos)
Title:
Jonathan Haidt: Religião, evolução e o êxtase da autotranscendência
Speaker:
Jonathan Haidt
Description:

O psicólogo Jonathan Haidt faz uma pergunta simples porém difícil: Por que procuramos a autotranscendência? Por que tentamos nos perder? Em um tour, através da ciência da evolução por seleção de grupo, ele propõe uma resposta provocativa.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
17:56
Nadja Nathan added a translation

Portuguese, Brazilian subtitles

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